terça-feira, 6 de setembro de 2011

Carta do General Bernardim Freire de Andrade ao Bispo do Porto (6 de Setembro 1808)



Ilustríssimo e Excelentíssimo:

Tenho a honra de pôr na respeitável presença de Vossa Excelência uma cópia da carta do General Murray, que agora mesmo venho de receber, e que certamente corresponde ao que sempre pensei sobre a conduta dos nossos Aliados. A nossa bandeira está arvorada na torre de S. Julião, e o Regimento de Artilharia da Corte a guarnece. O Almirante da Esquadra russa vem de o fazer cumprimentar por este mesmo respeito. Enfim, Senhor, esperemos em Deus, que não deixará de abençoar os nossos esforços e a sinceridade das intenções com que tanta gente de honra e de probidade se empenhou no serviço do Príncipe e da Pátria.
Deus guarde a Vossa Excelência.
Quartel-General de Mafra, 6 de Setembro de 1808.

P.S. Remeto a Vossa Excelência uma cópia da carta do General Dalrymple para o Major Aires Pinto de Sousa, pela qual Vossa Excelência verá confirmada a ideia da boa vontade com que os ingleses se prestam a todo o acordo.

Bernardim Freire de Andrada [sic].


[Fonte: Luís Henrique Pacheco Simões (org.), "Serie chronologica da correspondencia diplomatica militar mais importante do General Bernardim Freire de Andrade, Commandante em Chefe do Exercito Portuguez destinado ao resgate de Lisboa com a Junta Provisional do Governo Supremo estabelecido na cidade do Porto e o Quartel General do Exercito Auxiliar de S. Magestade Britanica em Portugal", in Boletim do Arquivo Histórico Militar - Vol. II, 1931, pp. 3-77, p. 46 (doc. 87). Existe uma outra versão desta carta (que não inclui o P.S.), provavelmente traduzida a partir duma tradução inglesa, publicada in Correio Braziliense, Londres, Outubro de 1808, p. 402].

Carta do General Bernardim Freire de Andrade ao Bispo do Porto (6 de Setembro de 1808)




Quartel-General de Mafra, 6 de Setembro de 1808.



Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor: 


Ontem, pelas 10 horas da noite, recebi a carta de Vossa Excelência do 1.º do corrente, em que Vossa Excelência se faz cargo de haver recebido as minhas participações acerca do Armistício estipulado em 22 [de Agosto], e é esta a primeira carta que de Vossa Excelência ou do Governo tenho recebido há 20 dias, quando parece que os negócios mais instam, e que eu mesmo insto por instruções e respostas aos meus repetidos ofícios; vendo-me portanto em circunstâncias de obrar por meu arbítrio, o que poderá convir a quem não se quer comprometer, mas que a mim não me convém. Aqui me chegou a notícia de que se vai formar uma Legião ao serviço ou disposição de Inglaterra; declaro a Vossa Excelência que enquanto não se tratar da organização definitiva do Exército, não convém levantar novos corpos, e muito menos dispor dos indivíduos que se acham debaixo do meu comando, como talvez se intentava.
Vossa Excelência se servirá de dizer-me se lhe parece conveniente que eu mande licenciar os Corpos de Milícias de Moncorvo e Porto, que aqui se achavam servindo, e que não serão necessários para as guarnições das praças e de Lisboa, e do mesmo modo as que estão no Exército de Bacelar, o qual deve entrar comigo em Lisboa, porquanto estas Milícias estão aqui fazendo peso e despesa, e falta nas suas províncias. Consta por aqui que nas províncias do norte se tem procedido a um grande recrutamento, medida que me faz muita novidade, pois que deve ser necessitada por alguma causa urgente, e se eu tivesse sido informado dessa resolução, não teria certamente deixado de aceitar os oficiais e soldados dos antigos Regimentos que aqui se têm vindo reunir, o que tenho recusado até à organização definitiva do Exército. 
Pelo que pertence às ordenanças que requer o Coronel Pizarro, como tenho 140 cavalos reunidos ao Exército inglês, lhe mandarei ordem para que os tire daquele corpo. O General Dalrymple me pede [através do Major Aires Pinto de Sousaneste momento de remeter a inclusa com a maior brevidade, e portanto rogo a Vossa Excelência [para que] queira ordenar que ela seja prontamente entregue à sua direcção. Tenho muita razão de persuadir-me que os ingleses desejam neste momento quanto sempre desejaram, que a maior harmonia se conserve entre nós; depois de ter feito as protestações que me pareceram do meu dever, não procuro outra coisa tanto como promover e fomentar a melhor inteligência, quanto de mim depender. 
Estou certo que Vossa Excelência será da mesma opinião, persuadido sem dúvida de que o nosso mais fatal, mais funesto e mais iminente perigo, e para a causa pública, será se entre nós ou a respeito dos nossos aliados houver dissensões de que se possam aproveitar os nossos cruéis inimigos, cujos fautores e sequazes me cercam talvez, e procuram cercar todas as autoridades, e mesmo a sagrada pessoa de Vossa Excelência, de quem sou de Vossa Excelência, etc.


Bernardim Freire de Andrada [sic].


[Fonte: Luís Henrique Pacheco Simões (org.), "Serie chronologica da correspondencia diplomatica militar mais importante do General Bernardim Freire de Andrade, Commandante em Chefe do Exercito Portuguez destinado ao resgate de Lisboa com a Junta Provisional do Governo Supremo estabelecido na cidade do Porto e o Quartel General do Exercito Auxiliar de S. Magestade Britanica em Portugal", in Boletim do Arquivo Histórico Militar - Vol. II, 1931, pp. 3-77, pp. 45-46 (doc. 86)].

Excerto duma carta do Tenente-Coronel Murray ao General Wellesley (6 de Setembro de 1808)


Oeiras, 6 de Setembro de 1808.


Meu caro Sir Arthur:


[...]


Se me é permitido dar uma opinião sobre as nossas operações futuras, seja nas Astúrias ou noutro sítio, [penso] que era necessário que o governo [britânico] tivesse fixado qual deveria ser o teatro de guerra depois de restaurarmos Portugal. Se o exército fosse comandado por vós, tal seria menos necessário; contudo, nas presentes circunstâncias, uma carta consistindo sobretudo em questões e especulações não é o tipo de ofício que se deveria ter enviado a Sir Hew Dalrymple. O momento é precioso, e se os espanhóis estiverem dispostos a permitir que ajamos com eles, não se deve perder tempo algum. De facto, começamos agora a perceber que a nossa força está embaraçada, quando poderia estar a ser útil para a causa comum na crise mais importante que ocorreu durante a guerra
Estou inclinado a pensar que o melhor que podemos fazer é levar a nossa força para as Astúrias, se o exército chegar somente a 15.000 homens; contudo, com a força que agora tem, parece-me que podemos ampliar o nosso campo. Assim, se pudesse dar o meu voto sobre o modo como deveríamos agir no momento presente, proporia que se começassem sem perda de tempo as nossas disposições para mover consecutivamente os corpos sobre o Tejo, e também por Almeida, em direcção à província de Leão; tendo o cuidado de enviar à volta, por mar, um corpo de 10.000 ou 12.000 homens para as Astúrias, ou talvez, em vez disso, desembarcar ali as tropas que vêm da Inglaterra, donde também se deveria enviar um General para comandá-las.
As operações do exército britânico serão então no norte de Leão, vigiando Burgos e os Pirenéus Ocidentais, se as coisas correrem bem, e retroceder para a costa e para Portugal se as circunstâncias na Espanha não prosperarem, ou se a inferioridade da nossa força requerer que abdiquemos um pouco daquela parte. As operações do principal exército espanhol podem ser dirigidas para a parte norte do Ebro e de Navarra, enquanto agem defensivamente sobre o lado da Catalunha, onde talvez possamos encorajá-los com algumas tropas vindas da Sicília.


[...]


George Murray 

Carta do General Wellesley ao Bispo do Porto (6 de Setembro de 1808)



Zambujal, perto de S. António de Tojal, 6 de Setembro de 1808.


Com a licença de Vossa Senhoria:

Tive a honra de receber a carta de Vossa Senhoria datada de       *, e não deixei de apresentar ao Comandante em Chefe, Sir Hew Dalrymple, o papel contendo um memorando sobre aqueles pontos que Vossa Senhoria queria que ele considerasse na negociação de qualquer convenção com o exército francês. Resta-me dizer que Sua Excelência [Dalrymple] escreverá a Vossa Senhoria sobre este assunto.
Devo informar Vossa Senhoria que o meu comando das forças inglesas em Portugal concluiu-se com a batalha de 21 de Agosto. De facto, um oficial mais antigo, Sir Harry Burrard, chegou ao campo da batalha perto do fim da acção, e dirigiu as operações que se levaram a cabo depois daquela batalha. Sir Hew Dalrymple, o actual Comandante em Chefe, desembarcou na manhã de 22 de Agosto; e naquela tarde negociou pessoalmente com o General francês Kellermann um acordo para suspensão das hostilidades. Estive presente durante a negociação deste acordo; e, conforme a vontade do Comandante em Chefe, assinei-o. Porém, como acabo de referir a Vossa Senhoria, não o negociei; e não posso de maneira alguma ser responsável pelo seu conteúdo.
Este acordo foi seguido por uma negociação com o Comandante em Chefe francês, duma convenção para a evacuação de Portugal pelo exército francês, através da mediação do Coronel Murray, Quartel-Mestre-General do exército, convenção esta que foi concluída e ratificada pelos Comandantes em Chefe de ambos os exércitos, e que está actualmente a ser executada. Não vi esta convenção, e não posso informar Vossa Senhoria acerca do seu conteúdo; mas não duvido que o Comandante em Chefe vos envie uma cópia.
Julguei que era apropriado incomodar Vossa Senhoria com esta notícia detalhada da parte que tive nestes negócios, de forma a que Vossa Senhoria não me atribua a omissão de não vos ter informado acerca da sua natureza, a qual estou convencido que é apenas acidental. Mas como me considero, bem como o exército que comandei, particularmente obrigado a Vossa Senhoria, tal omissão da minha parte seria imperdoável; e estou feliz para tomar esta oportunidade de me aliviar de tal imputação, instruindo Vossa Senhoria acerca do modo como as negociações foram levadas a cabo, e da parte que nelas tive.
Tenho a honra de ser, etc.,

Arthur Welllesley

[Fonte: Lieut. Colonel Gurwood (org.), The Dispatches of Field Marshal the Duke of Wellington, K. G. during his various campaigns in India, Denmark, Portugal, Spain, the Low Countries, and France, from 1799 to 1818 – Volume Fourth, London, John Murray, 1835, pp. 126-132; uma tradução parcial desta carta em português foi publicada por Simão José da Luz Soriano, História da Guerra Civil e do Estabelecimento do Governo Parlamentar em Portugal. Compreendendo a História Diplomática, Militar e Política deste Reino, desde 1777 até 1834 – Segunda Época - Tomo V – Parte I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1893, pp. 182-183].

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Nota:

* O espaço em branco encontra-se no texto original.

Carta do General Dalrymple ao General Bernardim Freire de Andrade (6 de Setembro de 1808)





Quartel-General, Oeiras, 6 de Setembro de 1808.


Senhor:

Tendo o Bispo do Porto declarado-me, através do Oficial General britânico que está estacionado naquele lugar, que quer o Brigadeiro A.[sic] P. Bacelar a comandar os destacamentos de tropas portuguesas que será necessário enviar para Lisboa com a divisão do exército britânico que, na primeira oportunidade, tomará dos franceses a posse daquela capital, tenho de requerer que o oficial acima mencionado, com uma força que não exceda trezentos homens bem escolhidos, esteja pronto para entrar em Lisboa à menor notícia, sendo tal o estado da fermentação popular como que ameaçando muitos efeitos fatais.
A divisão do Tenente-General Hope está pronta para o mesmo dever; e requeiro que sejam dadas ordens ao Brigadeiro António Pinto Bacelar para que se comunique com aquele Tenente-General sobre o dever que estão prestes a ser empregados.
Tenho a honra de ser o mais obediente e humilde servidor de Vossa Excelência.


Dalrymple,
Tenente-General
Comandante das Forças Britânicas em Portugal.

[Fonte: Copy of the Proceedings upon the Inquiry relative to the Armistice and Convention, &c. made and conclued in Portugal, in August 1808, between The Commanders of the British and French Armies, London, House of Commons Papers, 31st Jannuary 1809, p. 209 (doc. 112). Existe uma outra transcrição do original inglês, juntamente com a respectiva tradução em português, in Luís Henrique Pacheco Simões (org.), "Serie chronologica da correspondencia diplomatica militar mais importante do General Bernardim Freire de Andrade, Commandante em Chefe do Exercito Portuguez destinado ao resgate de Lisboa com a Junta Provisional do Governo Supremo estabelecido na cidade do Porto e o Quartel General do Exercito Auxiliar de S. Magestade Britanica em Portugal", in Boletim do Arquivo Histórico Militar - Vol. II, 1931, pp. 3-77, pp. 43-44 (doc. 85)].

Carta do General Dalrymple ao General Bernardim Freire de Andrade (6 de Setembro de 1808)




Quartel-General, Oeiras, 6 de Setembro de 1808.


Senhor:

Tive a honra de receber o ofício de Vossa Excelência, e espero que não considerareis que seja qualquer falta de respeito pessoal se não entrar com Vossa Excelência em discussões de pontos que penso que apenas estou inclinado a explicar ao governo do país.
Como, contudo, estou bem consciente das calúnias que têm sido disseminadas noutras nações, tanto pelo inimigo ou pelos seus agentes, como por indivíduos que privadamente visam a política dilatada e liberal do Rei, a minha questão, tendo sido calculada para desapontar, e como estou em consequência plenamente persuadido da justiça das observações de Vossa Excelência relativas aos sentimentos semelhantes que são cogitados em Portugal, apresso-me a garantir a Vossa Excelência, e farei uso dos meios necessários para dar publicidade à garantia, de que sirvo em Portugal como o Comandante em Chefe duma força agindo em aliança com o Soberano deste país; e, portanto, considero-me obrigado, por dever e honra, tanto quanto o meu julgamento e habilidades se estenda, a prestar tanta atenção como vós próprio aos interesses do Príncipe Regente, à dignidade e à segurança do seu Governo, e ao bem-estar da nação que ele é o legítimo governante.
Em relação às objecções que Vossa Excelência faz àquela parte do Tratado que diz respeito às extracções, não me ocorreu, nem agora me ocorre, que pudessem ser melhor concebidas. O nominal Duque de Abrantes não é o guardião dos interesses do Príncipe Regente; e, se é necessária alguma garantia das vistas puras e desinteressadas do Soberano que tenho a honra de servir, não penso que seria através das estipulações de um tratado com aquele General que tal pudesse mais apropriadamente ser transmitido.

Hew Dalrymple

[Fonte: Copy of the Proceedings upon the Inquiry relative to the Armistice and Convention, &c. made and conclued in Portugal, in August 1808, between The Commanders of the British and French Armies, London, House of Commons Papers, 31st Jannuary 1809, pp. 208-209 (doc. 111). Existe uma outra transcrição do original inglês, juntamente com a respectiva tradução em português, in Luís Henrique Pacheco Simões (org.), "Serie chronologica da correspondencia diplomatica militar mais importante do General Bernardim Freire de Andrade, Commandante em Chefe do Exercito Portuguez destinado ao resgate de Lisboa com a Junta Provisional do Governo Supremo estabelecido na cidade do Porto e o Quartel General do Exercito Auxiliar de S. Magestade Britanica em Portugal", in Boletim do Arquivo Histórico Militar - Vol. II, 1931, pp. 3-77, p. 42 (doc. 84)].

Carta do General Dalrymple ao General Beresford e ao Tenente-Coronel Proby (6 de Setembro de 1808)



Quartel-General, Oeiras, 6 de Setembro de 1808.


Senhores:



Ontem inscrevi a minha assinatura num papel elaborado pelo Tenente-Coronel Murray, o qual, segundo penso, contém as provas mais satisfatórias de que os franceses não têm direito a levar os despojos de qualquer forte, pelo menos enquanto permanecerem na sua forma original, e não convertidos em dinheiro; é conforme a esta interpretação que deveis agir. Penso que interessa, tanto à minha honra como à da nação britânica, que a Convenção não deve ser considerada de outro modo, e não ouvirei qualquer proposta que possa comprometer ambas. 
Recebi hoje uma Deputação de Lisboa queixando-se das depredações cometidas até recentemente, e do modo desavergonhado e evidente como se tem preparado a remoção da propriedade privada e pública, e que a fermentação dos ânimos do povo está chegando ao cúmulo da exaltação. Fui informado disto através de muitos, e de muitas partes respeitáveis, juntamente com a interpretação que parece ser dada à Convenção através da conduta dos franceses, a raiva popular é bem menos dirigida contra os ingleses do que contra a nação francesa, e posso achar que as medidas comuns de política, que os próprios Generais franceses estão ansiosos que eu deva prosseguir, possam ser consideradas como ajustes para assegurar os frutos daquelas depredações que sancionámos pelo tratado.
Perante estas considerações, penso que é justo sugerir-vos a conveniência provável de requerer aos franceses para devolver aos seus lugares imediatamente, os objectos de arte e os outros artigos, tanto de propriedade pública como privada, que consequentemente foram tomados com o objectivo de removê-los, através daqueles meios providenciando uma prova à nação portuguesa de que nós, pelo menos, agimos de boa fé, e são assim invocados para usar as medidas necessárias, ainda que vigorosas, para a protecção daquelas pessoas nefastas para cuja segurança tal fé é rogada.
Não pretendo com esta carta anular aqueles ajustes que, devido à vossas informações locais e ao vosso próprio julgamento, achardes que haja razões para adoptar; mas estais autorizado, se verdes ocasião para assim fazê-lo (explicando claramente o motivo ao General francês), para requerer a demonstração de que o sistema de saque seja anulado e abandonado como detalhei.


Hew Dalrymple,
Tenente-General.


Ordem do dia do Exército francês em Portugal (6 de Setembro de 1808)




Ordem geral do Exército, n.º 66




No Quartel-General em Lisboa, 6 de Setembro de 1808.



Em execução do artigo 15.º da Convenção definitiva, o General em Chefe ordena a todos os indivíduos que fazem parte do Exército ou da Administração francesa que tenham subtraído quaisquer efeitos pertencentes aos estabelecimentos públicos ou particulares para os restituírem no prazo de 24 horas, sejam os bens móveis ou da classe das artes.

O General Thiébault


Carta do General Beresford e do Tenente-Coronel Proby ao General Dalrymple (6 de Setembro de 1808)




Lisboa, 6 de Setembro de 1808.


Senhor:


Tivemos a honra de informar Vossa Excelência na nossa carta de hoje que fizemos uma intimação ao General Kellermann; devido à mensagem que recebemos de Vossa Excelência através do Capitão Wynyard, pretendíamos estender esta intimação tanto quanto nos fosse possível. Porém, os motivos que tivemos para pedirmos os oitenta contos de réis, cerca de 22.000 libras, derivaram dum artigo no Decreto do Comandante em Chefe francês para a sua extracção, que é claramente inconsistente com a trégua que então estava estabelecida; e temos a máxima satisfação em comunicar a Vossa Excelência que, depois duma longa discussão, foi completamente admitido [por Kellermann] o nosso raciocínio sobre todos os pontos das duas cartas anexas, cujo nosso pleno direito foi admitido, dado que havíamos estabelecido que, a partir do primeiro dia das tréguas, passávamos a ter um direito sobre tudo que exista, exceptuando bagagens militares ou propriedades privadas, e que qualquer extracção ou apropriação de propriedade pública que fosse feita a partir daquele momento devia ser devolvida. Acordou-se que [os franceses] devem fornecer os relatórios que se tinham pedido aos administradores ou recebedores das receitas civis, e que temos claramente o direito a tudo o que exista no Tesouro ou noutras receitas civis, tanto em moeda como em objectos de valor de qualquer espécie.
Também ficou acordado que os oitenta contos de réis retirados do Depósito Público serão restituídos imediatamente, em barras ou de outra forma que satisfaça plenamente os administradores do Depósito; e, resumindo, ficaremos apenas satisfeitos quando eles nos declararem que foram indemnizados. A obrigação da restituição do que se tinha extraído das Livrarias e Museus Reais e Públicos foi admitida completamente pelo General Kellermann, e será cumprida se insistirmos neste ponto. Contudo, ele quis que submetêssemos ao Comandante em Chefe das forças britânicas que, dado que tudo o que se tinha extraído do Museu era duplicado, e que faltava no Museu parisiense, os franceses queriam obter permissão para levar consigo aquilo que pretendessem, requerimento este que não podíamos negar que o transmitiríamos a Vossa Excelência, apesar de estarmos convencidos que não se concordará com nada para além da restituição dos artigos. Contudo, esperamos instruções vossas sobre este assunto.
Como o General Kellermann nos prometeu, depois deste pleno ajuste, que iria passar a escrito a sua resposta sobre o mesmo efeito, esperávamos transmitir a Vossa Excelência esta resposta juntamente com as cópias das nossas demandas, que vão anexadas; porém, ainda não a recebemos, apesar de desde então ele nos ter informado que já foi escrita; e devemos-lhe a justiça de dizer de que o seu procedimento e conduta na discussão foi o mais cândido, honorável e cavalheiresco. 
Temos a honra de ser, Senhor, os mais humildes e obedientes servidores de Vossa Excelência,

W. C. Beresford,
Major General.

Proby,
Tenente-Coronel.


Carta do General Kellermann ao General Beresford e ao Tenente-Coronel Proby (6 de Setembro de 1808)




Lisboa, 6 de Setembro de 1808.


Senhores:


Em resposta à vossa carta desta manhã onde me haveis pedido que os recebedores das contribuições fossem dar-vos conta da situação da sua Caixa e da sua receita, desde o dia 31 de Agosto, tenho a honra de avisar-vos que solicitei ao senhor Hermann, Ministro das Finanças, para dar as ordens consequentes, e para entender-se convosco a fim de vos dar a este respeito os esclarecimentos que possais desejar. 
Em relação ao segundo ponto, sobre a extracção duma soma de 80 contos de réis do depósito público, que reclamais com grande determinação, digo-vos que Sua Excelência [Junot], como tem necessidade de dinheiro em contado, a fim de satisfazer o pagamento dos trabalhadores do Arsenal e de muitas despesas urgentes e relativas aos portugueses, julgou necessário dar uso de tal soma, mas estou autorizado a dizer-vos que ele fez entrar na Caixa uma soma equivalente de dinheiros públicos, e que, como existe alguma diferença entre o papel[-moeda] e a moeda [em metálico], esta diferença será provida e compensada. Este é também um dos pontos que o senhor Hermann tratará convosco, por ser da sua competência, mas se preferirdes, podeis tratar com os agentes de tais Caixa.
Tenho a honra de ser o vosso mais humilde e obediente servidor,


O General de Divisão,
Kellermann,
Comissário, etc., etc.,



Carta do General Kellermann ao General Beresford e ao Tenente-Coronel Proby (6 de Setembro de 1808)




Lisboa, 6 de Setembro de 1808.


Senhores:


Recebi a nota com que me honrastes esta manhã, avisando-me que fostes informados que uma certa quantidade de objectos de história natural e manuscritos interessantes foram extraídos do Museu e da Biblioteca Pública para serem transportados para a França. Ignorava que se tivessem tomado tais disposições, mas não resta dúvida que teriam sido tomadas pelo senhor Geoffroy, membro do Instituto, o qual teria julgado que, como tais artigos tinham sido escolhidos há tanto tempo, não haveria inconveniente algum em levá-los; ainda que tais artigos são em geral duplicados, a vossa reclamação é fundada; apresso-me assim a dar ordens para que esses objectos não sejam removidos nem embarcados. Porém, ao mesmo tempo observo-vos que, dado que os objectos são em geral duplicados e uma aquisição preciosa para as ciências (que pertencem a todos os países), longe de se embargarem, devia-se sim procurar que se tornassem conhecidos. Desejamos poder levar por mútuo consentimento as raridades de História Natural, propondo aquelas compensações que julgueis convenientes.
O vosso mais humilde e obediente servidor,


General de Divisão,
Kellermann,
Comissário, etc., etc., etc.



Carta do General Beresford e do Tenente-Coronel Proby ao General Dalrymple (6 de Setembro de 1808)





Lisboa, 6 de Setembro de 1808.


Senhor:



Temos a honra de anexar para Vossa Excelência uma representação recebida hoje da parte dos comerciantes portugueses de Lisboa; como este documento é remetido a Vossa Excelência, não tencionamos dar quaisquer passos sem as vossas instruções particulares.                                      
Temos a honra de anexar um papel que tem circulado por aqui, o qual causou uma sensação muito considerável, ficando o povo na dúvida se tal publicação é oficial, ou se foi publicada pelos franceses para sossegar a cidade, até que eles tenham levado todos os seus roubos; é certamente anónimo. 
Julgámos que era conveniente requerermos hoje ao General Kellermann uma conta dos dinheiros ou tesouros que restam das receitas ordinárias ou extraordinárias nos tesouros civis, tal como uma conta do que foi recebido, e também para declarar a esperança de que, revendo o caso, o General em Chefe do Exército francês deveria ordenar a restituição da soma do Depósito Público tomada durante o Armistício. Ainda não recebemos nenhuma resposta, nem podemos observar qualquer aquiescência da sua parte, no que diz respeito à restituição dos seus saques; contudo, quando recebermos uma resposta, entraremos completamente neste negócio.
Um vez verificados os artigos extraídos das Livrarias e do Museu, pensamos que é justo pedir ao General Kellermann que os restitua imediatamente. Uma cópia da nossa carta e da resposta será enviada quando se receber a última.
Tenho a honra de permanecer, Senhor, os vossos mais humildes e obedientes servidores,


W. C. Beresford,
Major-General.


Proby
Tenente-Coronel.



Proclamação anónima que circulou em Lisboa na sequência dos contínuos roubos dos franceses mesmo depois da capitulação (c. 6 de Setembro de 1808)



Portugueses:

Que é isto! Ainda não conheceis os franceses, acreditais o que eles dizem! Publicam sim intrigantes até à morte, que a Capitulação é feita como eles a quiseram; intentam porém esta mentira, encaixotando publicamente o que não é seu (mas que tanto importa deixá-lo assim e como nos lugares em que estava e há de ficar), para vos fazer suspeitar que a Inglaterra e o Governo português não cuidam fiel e zelosamente dos nossos interesses; mas se os partidistas dos protectores assim o dizem haverá português honrado e sensato que os não despreze e desminta.
Vede que a Inglaterra verte o seu sangue para nos dar a liberdade, abundância e paz; os protectores derramavam o nosso para nos roubarem. Eis a distância que vai do pequeno ao grande, do dia à noite, do inimigo ao amigo.
Este amigo, este grande, este nobre é quem trata a nossa causa; confiai nele, esperai decerto venturas, honra e glória. A Capitulação será feita com generosidade e com justiça - será portanto digna dos Generais britânico e português, será justa, decorosa e aplaudida.




Carta dos comerciantes da Praça do Comércio de Lisboa ao General Dalrymple (c. 6 de Setembro de 1808)



Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor:

Os comerciantes da praça de Lisboa abaixo assinados representam a Vossa Excelência que o General em Chefe do Exército francês, Junot, exigiu dos suplicantes um empréstimo forçado de dois milhões de cruzados para as despesas do seu dito exército*. Esta dívida deve ser paga por todos os princípios de razão e de justiça. E com efeito prometeu o mesmo General que o pagamento seria feito pela contribuição de guerra de quarenta milhões, que, por princípio do mais puro despotismo, impuseram a este reino. Agora porém que o General Junot se retira de Lisboa, vencido pelas armas de Sua Majestade Britânica, não trata de realizar o prometido pagamento. Este novo despotismo é singular; e quaisquer que sejam suas convenções militares, ele não pode dispersar-se da necessária solução da convenção feita a este respeito. Da mesma forma [os suplicantes] pretendem que Vossa Excelência faça restituir ao Depósito Público os dinheiros que dele se confiscaram, por isso mesmo que não pertencia ao Estado, mas a eles, suplicantes, aos seus sócios ausentes, às viúvas, órfãos, cativos; não sendo bastante para este pagamento as apólices que [os franceses] substituíram nos cofres, pelo descrédito em que se acham, e [por] não ser dos franceses esta propriedade, requerem ainda que os funcionários civis do exército dêem contas nas competentes administrações dos dinheiros recebidos, a fim de que os suplicantes conheçam as reclamações que têm a fazer; e por último, que se assegurem aos mesmos suplicantes os seus navios, e as cargas destes, que individualmente e por princípios de mera força foram arrestados e sequestrados nos portos marítimos da França.

[seguiam-se quarenta e nove assinaturas].


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Nota:

Atrás fizemos uma alusão a este empréstimo (cujo decreto pode ser consultado aqui), que foi uma das primeiras medidas que Junot impôs assim que chegou a Lisboa.

Carta de José de Abreu Campos, Juiz do Povo de Lisboa, ao General Beresford e ao Almirante Charles Cotton (6 de Setembro de 1808)



Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor: 

O ofício de Juiz do Povo, que bem fora do meu merecimento ocupo nesta capital, põe-me na necessidade de importunar a Vossa Excelência. Eu já representei ao Excelentíssimo General em Chefe do Exército da Grã-Bretanha neste Reino, numa representação, que inclusa ponho na presença de Vossa Excelência por cópia. 
Agora, não só por obrigação de me apresentar a Vossa Excelência, mas também para suplicar a sua protecção ao mesmo fim, é que trago pessoalmente este ofício. Excelentíssimo Senhor, se o Exército britânico veio gloriosamente quebrar os grilhões que arrastava o povo português; se umas tropas de aleivosos roubadores já vai sentindo a força dos generosos vencedores do Vimeiro, fazendo restituir os roubos que se lhe reclamam; eu, em nome do povo deste Reino, reclamo perante Vossa Excelência tudo quanto estes ladrões têm, além do que trouxeram; porque tudo é roubado em Portugal; além do que já mandaram [para a França], que também exige consideração, para entrar em contas com a satisfação que a religião, o trono e a nação inteira exigem muito clamorosamente. Tudo, Excelentíssimo Senhor, se deve restituir. O miserável órfão, a viúva dos [con]fins de Portugal, não podem vir reclamar. Eu reclamo por eles. O direito deles sobre o seu pouco, não é menos que o dos grandes, sobre o seu muito. O público pois ainda deve merecer, mais que qualquer particular. É pelo público de todo o povo que o meu ofício exige que eu reclame. Tire-se tudo o que têm, e não escape o que escondem até nas marcas dos botões; e o público, vendo tudo restituído no Régio Erário (dono de tudo o que não tem outro) cantará vivas a Vossa Excelência, de quem sou o mais atento servo. 
Lisboa, 6 de Setembro de 1808. 

O Juiz do Povo 

[Fonte: Correio Braziliense, Londres, Abril de 1809, pp. 303-304; Simão José da Luz Soriano, História da Guerra Civil e do Estabelecimento do Governo Parlamentar em Portugal. Compreendendo a História Diplomática, Militar e Política deste Reino, desde 1777 até 1834 – Segunda Época - Tomo V – Parte I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1893, pp. 129-130].

Carta de José de Abreu Campos, Juiz do Povo de Lisboa, ao General Bernardim Freire de Andrade (6 de Setembro de 1808)



Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor:

Leva-me a obrigação do honrado ofício, que indignamente ocupo, aos pés de Vossa Excelência, a render-lhe em nome do povo de Lisboa as devidas graças pelo favor de cooperar para esta cidade haver de libertar-se. Deveria fazê-lo igualmente a todos os Excelentíssimos Generais do Exército que concorrem para este obrigantíssimo benefício; porém, a incerteza do lugar e mesmo a necessidade de assistir ao desempenho deste ofício não mo permitem. Peço portanto a Vossa Excelência que, exercitando comigo a sua bondade, queira, quando a ocasião o permitir, participar aos seus Excelentíssimos colegas a intenção do Povo de Lisboa e do seu Juiz, e que todos suplicamos muito respeitosamente a Vossa Excelência e aos demais Excelentíssimos Senhores que, dignando-se de tomar em consideração a substância de um ofício que hoje apresentei ao Excelentíssimo Senhor General Dalrymple, e que a Vossa Excelência tenho a honra de oferecer em cópia, hajam de haver por bem de tomar como sua a causa da religião, da nação e da monarquia portuguesa. Todos confiamos e esperamos tudo da grandeza, virtudes e brilhantes qualidades de Vossa Excelência.
Deus Guarde a Vossa Excelência muitos anos.
Lisboa, 6 de Setembro de 1808.

O Juiz do Povo

[Fonte: Correio Braziliense, Londres, Março de 1809, pp. 206-207; Simão José da Luz Soriano, História da Guerra Civil e do Estabelecimento do Governo Parlamentar em Portugal. Compreendendo a História Diplomática, Militar e Política deste Reino, desde 1777 até 1834 – Segunda Época - Tomo V – Parte I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1893, pp. 128-129].

Carta de José de Abreu Campos, Juiz do Povo de Lisboa, ao General Dalrymple (6 de Setembro de 1808)



Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor:

Em nome de todo o Povo desta capital, o Juiz do mesmo vem à respeitável presença de Vossa Excelência para em primeiro lugar lhe agradecer e a Sua Majestade Britânica a continuação das provas de amizade, e [da] nunca interrompida aliança, que se acaba de confirmar na batalha do Vimeiro (nome memorável a todos os séculos para a glória da Grã-Bretanha e para reconhecimento de Portugal) que faz esquecer com puras realidades o que em vozes, tantas vezes mentirosas, se fazia soar dos de Marengo, Jena e Austerlitz.
Um devido sinal de voluntária submissão, uma demonstração de alegria que os corações dos portugueses, por voto unânime, publicam sem necessidade de constrangimento com que esses monstros de iniquidade arrancaram tantas condescendências; e eis aqui o que me trás à presença de Vossa Excelência, vencedor verdadeiro dos afectados invencíveis; e nela a do grande Rei, a quem Lisboa se reconhece e sobrescreve para todas as idades a pública confissão devedora da sua liberdade. Sim, Excelentíssimo Senhor, não é outro o objecto da minha vinda pessoal aos pés de Vossa Excelência; porém, já que tive a ventura de estar servindo em tal momento um lugar que no cumprimento deste dever fica ainda mais honorífico, peço a Vossa Excelência licença para misturar com este ofício outro em que toda esta capital é interessada.
Estão vencidos os chamados invencíveis, a afectada omnipotência do horroroso monstro que excede em ambição a todos os homens está mostrada tal como todos os sensatos a entenderam sempre. Nada então resta, Excelentíssimo Senhor; e a glória da Grã-Bretanha, quanto a Portugal, está completa, mas a Portugal é que resta muito. Os portugueses estão afrontados na sua religião, no seu trono, na sua honra, nas vidas e nos bens. E pode o aliado fiel permitir que isto fique sem desagravo? Os exércitos portugueses, estimulados pelos escândalos da religião, pelos insultos ao seu trono, pelas aleivosias nunca vistas, praticadas debaixo de uma proclamação que só prometia protecção e amizade, contando sempre com a Grã-Bretanha para as faltas que aquele bando de ladrões fez realizar, estavam prontos a sacudir da capital o negro véu do opróbio e da afronta que a cobre.
Eles cederam e deviam ceder a Vossa Excelência o primeiro lugar, até para assim o terem os ingleses de mostrar a estes impostores que não são só no mar terríveis guerreiros; mas não cederam nem podiam ceder o direito da nação a desanfrontar os seus altares, o seu trono, a honra e segurança portuguesa.
O nosso Monarca, ele mesmo, não poderia tirar os direitos sagrados que a nação, pela sua religião, reclama. Ele não era capaz de fazer que a sua clemência ofuscasse a sua justiça. Ele não impediria a torrente de unânimes vontades que, unindo os pastores ao rebanho, o sacerdócio ao império, a igreja à majestade, solicitam a satisfação e o exemplo. O seu auxiliador, o seu aliado, há de então deixar tudo isto sepultado nos horrores de um lábio para sempre? Primeiro, é necessário não manejar a segurança de Lisboa e a da sua liberdade. Segundo, são necessários reféns ou penhores para o que Portugal tem em França. Pois bem, sem ofender os deveres da gratidão, Portugal e Lisboa querem à custa de tudo desagravar-se.
Vossa Excelência não falta aos seus tratados; mas permita que a nação e os Generais portugueses embarguem o que respeita a salvarem estes ladrões aleivosos os seus furtos e a obterem a sua impunidade. Lisboa sacrifica tudo a Vossa Excelência, mas por isso mesmo espera que Vossa Excelência lhe conceda por si e obtenha do Excelentíssimo Almirante [Charles Cotton] que nestes dois pontos os artigos se suspendam. Um bando de ladrões aleivosos não é exército que entre em capitulação honrosa, e neste ponto a generosidade e a clemência passam, como disse o orador romano, a ser injustiça e inércia.
Deus guarde a Vossa Excelência tanto tempo quanto lhe deve desejar quem reconhece em Vossa Excelência o mais digno objecto de eternos votos e memórias.
Lisboa, 6 de Setembro de 1808.

O Juiz do Povo

[Fonte: Correio Braziliense, Londres, Março de 1809, pp. 204-206; Simão José da Luz Soriano, História da Guerra Civil e do Estabelecimento do Governo Parlamentar em Portugal. Compreendendo a História Diplomática, Militar e Política deste Reino, desde 1777 até 1834 – Segunda Época - Tomo V – Parte I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1893, pp. 126-128].

Carta do Almirante Charles Cotton ao Vice-Almirante Séniavin (6 de Setembro de 1808)



Hibernia, defronte do Tejo, 6 de Setembro de 1808.


Senhor:

Tenho a honra de incluir aqui a Vossa Excelência uma cópia traduzida dos artigos que tivestes a bondade de mandar-me, agora executados por mim como contra-cópia; a qual, para poupar mais trabalho, fiz que fosse examinada por mr. Sass e pelo meu Secretário a noite passada; considerando que a conversação entre o Almirante Tyler e vós, plenamente explicaria todos os arranjamentos menores, como perfeitamente se entendia. Eu desejo muito que fique um oficial a bordo do vosso navio pelas razões que terei o prazer de vos expor, quando for honrado com uma entrevista; honra esta que espero que a breve renovação da vossa saúde nos permita hoje. Tenho a honra de ser, etc.

C. Cotton