sexta-feira, 15 de julho de 2011

Carta do Marquês de Coupigny ao General Castaños (15 de Julho de 1808)



Excelentíssimo Senhor:

Tendo tido conhecimento de que os inimigos ocupavam a povoação de Villanueva [de la Reina], marchei imediatamente desde Lahiguera, enviando as tropas ligeiras às ordens de D. Pedro Grimarest, e segui com toda a cavalaria; o inimigo tinha uma excelente posição, fez um vivo fogo sobre as tropas ligeiras, obrigando-as a retroceder um pouco, pelo que vi forçado a avançar a minha artilharia enquanto manobrava para passar os vaus; com efeito, logo que viu este movimento e o acertado fogo desta tropa, o inimigo começou a retirar-se em boa ordem; continuando um vivo fogo, passei o rio [Guadalquivir] com a cavalaria, e perseguimos o inimigo até muito depois do caminho de Bailén para Andújar, acabando por retirar-se pela Serra, deixando mais de 200 mortos no campo de batalha, sem contar os feridos, tendo sido o número de prisioneiros pequeno devido ao acaloramento da nossa tropa.
Remeterei a Vossa Excelência uma relação detalhada de todos os oficiais e indivíduos que se distinguiram, particularmente os meus ajudantes. 
Deus guarde a Vossa Excelência muitos anos.
Villanueva, 15 de Julho de 1808.

O Marquês de Coupignyi

Boletim n.º 5 do Exército [francês] de Portugal (15 de Julho de 1808)




[Fonte: Gazeta de Lisboa, n.º 28, 18 de Julho de 1808].


Pastoral do Bispo de Lamego (15 de Julho de 1808)





Carta de Lord Castlereagh, Secretário de Estado da Guerra, ao General Dalrymple, Governador de Gibraltar (15 de Julho de 1808)



Downing Street, 15 de Julho de 1808

Senhor:

Informo-vos que Sua Majestade, aprovando bastante o zelo e juízo que marcou toda a vossa conduta durante os últimos acontecimentos importantes que tiveram lugar na Espanha, foi servida confiar-vos, presentemente, o comando em chefe das suas forças empregadas em Portugal e na Espanha, com Sir Harry Burrard como segundo no comando.
Lord Collingwood receberá ordens para colocar uma fragata à vossa disposição, de forma a terdes os meios de vos transferirdes para qualquer ponto do vosso comando onde a vossa presença possa, segundo as circunstâncias, ser mais requerida; o comando da guarnição de Gibraltar fica entregue, durante a vossa ausência, ao Major General Drummond, ou ao seguinte oficial no comando.
Junto cópias das instruções que tinham sido dadas a Sir Arthur Wellesley, n.os 1, 2, 3 e respectivos anexos, que avançou para executá-las, tendo ordens para transferir o seu comando a algum oficial mais graduado.
Sou, etc.,

Castlereagh

[Fonte: Memoir, written by General Sir Hew Dalrymple, Bart., of his proceedings as connected with the affairs of Spain, and the commencement of the Peninsular War, London, Thomas and William Boone, Strand, 1830, pp. 48-49. Os itálicos aparecem nesta fonte].

Carta de Lord Castlereagh, secretário de Estado da Guerra, ao General Sir Hew Dalrymple, participando-lhe a nomeação para comandar o exército britânico destinado à costa da Península Ibérica (15 de Julho de 1808)



Downing Street, 15 de Julho de 1808 


Senhor: 

Permiti-me dar-vos os meus parabéns pelos lisonjeiros comandos que estou encarregado de vos transmitir da parte de Sua Majestade, e requerer ao mesmo tempo que aceiteis o meu pessoal agradecimento pelo zelo e habilidade com que haveis cumprido as vossas obrigações públicas durante o último importante período. 
Creio que a força com que foste provido permitir-vos-á dar uma nova e decisiva volta nos acontecimentos de Portugal e de Espanha. 
Permiti-me recomendar à vossa confiança particular o Tenente General Sir Arthur Wellesley. Estou convencido que a sua alta reputação ao serviço como oficial bastará por si só para o seleccionardes para qualquer serviço que possa requerer uma grande prudência e integridade, combinadas com muita experiência militar. 
De qualquer maneira, tenho a certeza de que a posição em que ele tem estado desde há um longo tempo, mantendo correspondência habitual com os ministros de Sua Majestade em relação aos assuntos da Espanha e tendo sido destinado para comandar qualquer operação que as circunstâncias possam tornar necessárias para contrariar as vistas da França contra os domínios espanhóis na América do Sul, mostrar-vos-á que ele é um oficial desejável para vós em todos os aspectos, para o utilizardes segundo a forma mais relevante que as regras do serviço permitam. 
Tenho a honra de ser, etc. 

Castlereagh 



Carta de Lord Castlereagh, secretário de Estado da Guerra, ao General Wellesley, participando-lhe a nomeação do Governador de Gibraltar, Sir Hew Dalrymple, como General em Chefe do exército britânico destinado às costas da Península Ibérica (15 de Julho de 1808)



Downing Street, 15 de Julho de 1808 


Senhor: 

Informo-vos que Sua Majestade confiou o comando das suas tropas ao serviço nas costas de Espanha e Portugal ao Tenente General Sir Hew Dalrymple, com o Tenente General Sir Harry Burrard como segundo no comando. Forneceram-se ao Tenente General cópias das vossas instruções até à presente data, exclusive. Estas últimas instruções serão postas em execução com toda a rapidez que as circunstâncias o permitam, sem esperardes pela chegada do Tenente General, mas notificando-o dos vossos procedimentos. E se entretanto se reunir convosco um oficial mais velho, comunicar-lhe-eis nesse caso as vossas ordens e proporcionar-lhe-eis toda a assistência para pô-las em execução. 
Tenho a honra de ser, etc. 

Castlereagh 

Estado das forças britânicas destinadas à costa da Península Ibérica

Carta de Lord Castlereagh, secretário de Estado da Guerra, ao General Wellesley (15 de Julho de 1808)




Downing Street, 15 de Julho de 1808 



Senhor: 

Desde que vos enviei os meus ofícios secretos datados de 30 do mês passado, assinalados com o n.º 1 e com o n.º 2, recebi a informação inclusa, da parte do Major General Spencer, em relação ao estado das forças do inimigo em Portugal
Como o número das tropas francesas que se encontra nos arredores de Lisboa (se esta informação for de confiança) parece ser muito mais considerável do que o que tinha sido referido anteriormente por Sir Charles Cotton, Sua Majestade deu ordens a um corpo de cinco mil homens, que consiste nos Regimentos mencionados na margem*, para embarcar e dirigir-se, sem perda de tempo, para a foz do Tejo, onde se reunirá convosco.
Sua Majestade também deu ordens para que as tropas comandadas pelo Tenente General John Moore, que chegaram do Báltico, se dirijam sem demora para a foz do Tejo, logo que se abasteçam de refrescos e provisões. 
As razões que motivaram a partida de tão grande força para aquela parte são as seguintes: 
Em primeiro lugar, providenciar adequadamente um ataque no Tejo; e em segundo lugar, dispor de uma força adicional, para além da que possa ser indispensável para essa operação, que eventualmente se separe para sul, quer com o objectivo de segurar Cádis, se fosse ameaçada pela força francesa comandada pelo General Dupont, quer para cooperar com as tropas espanholas para reduzir esse corpo, se as circunstâncias favorecerem tal operação, ou qualquer outra que possa ser combinada. 
Sua Majestade ordena que o ataque no Tejo deve ser considerado como o primeiro objectivo a ser atendido. Como toda a força (da qual vai anexa uma relação), quando estiver reunida, chegará a nada menos que 30.000 homens, é concebível que ambos os serviços possam ser amplamente cumpridos; a sua distribuição precisa, quer entre Portugal e a Andaluzia, quer pelo tempo e pela proporção da força conveniente, deve depender das circunstâncias, que serão julgadas no lugar; e considera-se aconselhável que se cumpra a garantia que o Tenente General Hew Dalrymple deu à Suprema Junta de Sevilha, debaixo da autoridade do meu ofício de 6 deste mês, ou seja, que Sua Majestade tinha a intenção de empregar um corpo de 10.000 homens das suas tropas para cooperar com os espanhóis naquela parte; espero que um corpo desta magnitude possa ser destacado sem prejudicar a operação principal contra o Tejo, e que se possa reforçá-lo depois que o Tejo esteja seguro; porém, se Cádis for seriamente ameaçada antes da chegada de toda a força vinda da Inglaterra, esse corpo deve ficar debaixo das ordens do oficial mais velho que estiver na foz do Tejo, para se separar, se se receber uma requisição para esse efeito, um número suficiente de forças para pôr este importante lugar fora do perigo imediato, mesmo que para isso se tenha que suspender, temporariamente, as operações contra o Tejo. 
Como a força que pode ser chamada para ir para o lado de Cádis requer somente o equipamento de campo, as munições de artilharia que foram enviadas com o objectivo de reduzir o Tejo ficarão nesta última paragem. 
Exceptuando as munições de artilharia enviadas para atacar os fortes nesse rio, não se considera necessário sobrecarregar o exército com um corpo maior de artilharia que o que pertence ao equipamento de campo, com a respectiva proporção de cavalos. 
Para além do período para o qual os navios de transporte estão providos, uma devida proporção de navios com provisões acompanhará o exército, os quais, juntamente com os eventuais abastecimentos que se espera que derivem das disposições e dos recursos do país, removerão, como se supõe, quaisquer dificuldades sobre este assunto, enquanto o exército continuar a agir perto da costa. 
Devido à grande demora e despesa que poderia ocorrer embarcando e enviando daqui todos aqueles meios que seriam necessários para tornar o exército completamente capaz de se mover assim que desembarcasse, o Governo de Sua Majestade determinou-se em confiar, em grande medida, nos abastecimentos provenientes dos recursos do país. 
Tudo leva a crer, pelo fervor dos habitantes quer da Espanha, quer de Portugal, que logo que o exército britânico se possa estabelecer em qualquer parte da costa, muitos estarão ansiosos para ser armados e ordenados em suporte da causa comum, e que se conseguirão obter todas as espécies de abastecimentos que o país produz para subsistir e equipar o exército; é portanto necessário, em primeiro lugar (se um ataque directo e imediato sobre as defesas do Tejo não puder ser concretizado prudentemente), que o exército britânico ocupe uma parte da costa entre Peniche e Setúbal, respectivamente a norte e a sul desse rio, na qual possa abrir com segurança comunicações com o interior, e a partir da qual possa posteriormente marchar contra o inimigo, esforçando-se, se possível, não só para o expulsar de Lisboa, mas para cortar a sua retirada para a Espanha. 
Logo que os meios de transporte existam, uma proporção de cavalaria acompanhará as tropas, que podem ser posteriormente reforçadas de acordo com as circunstâncias. 
Tenho a honra de ser, etc. 

Castlereagh


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Nota: 


* Castlereagh refere-se às forças que estavam prestes a partir dos portos ingleses de Ramsgate e Harwich




Carta do General Dupont ao Duque de Rovigo, General em Chefe dos Exércitos franceses na Espanha (15 de Julho de 1808)



A Sua Excelência o Senhor Duque de Rovigo, General em Chefe dos Exércitos Franceses na Espanha.


Senhor General em Chefe:

Tenho a honra de vos participar que o inimigo apresentou-se hoje em frente de Andújar, diante da nossa posição, com todas as suas forças, entre 15 a 18 mil homens, e a sua artilharia é composta em parte por peças de calibre 12. Enquanto nos atacava frontalmente um corpo de 3.000 homens que tinha passado o rio [Guadalquivir] a norte de Andújar, [outra parte] dirigiu-se através da Serra sobre as nossas costas. O sexto Regimento Provincial foi destacado para combatê-los, rechaçando-os vigorosamente; outro corpo de 5 a 6 mil homens que se encontram em Villanueva [de la Reina] ameaçou o nosso flanco esquerdo; dois Batalhões da quarta Legião foram enviados para contê-los, e houve nesta zona um combate muito vivo, mas o inimigo, apesar da sua superioridade, não pôde desordenar as nossas tropas; e o posto vizinho, do qual tirámos os nossos víveres, não foi insultado. O inimigo marchou igualmente com um corpo considerável sobre Mengíbar, situado no caminho de Jaén para Bailén. O General Liger-Belair, desde há alguns dias a esta parte, cobria esta posição com o objectivo de defender o caminho para La Carolina, e o General Bedel passou esta mesma noite com toda a sua divisão para reforçá-lo. Não tenho ainda os detalhes do que pode ter sucedido, mas tenho motivos para crer que o General Bedel ter-se-á mantido no seu ponto com vantagem. O General Goven marchou esta manhã para Bailén para apoiar o General Bedel: a sua divisão está extremamente debilitada, tendo sido obrigado a deixar outros seis Batalhões, dos quais três se acham em La Mancha e na Serra para manter as comunicações [com Madrid]. É sumamente importante que esta divisão se reúna toda e o mais rápido possível. O inimigo tomou posições sobre as alturas que se encontram em frente de Andújar. Tudo indica que amanhã fará uma nova investida, mais séria do que a de hoje; resistiremos a ela com o maior empenho. Vossa Excelência sabe quão penosa é a posição de Andújar, sobretudo no que diz respeito aos víveres, que se reúnem actualmente com uma dificuldade extrema. O soldado vê-se obrigado a ceifar o próprio trigo e a fazer o seu pão, pois os paisanos abandonaram as suas searas para seguir os rebeldes. Suplico a Vossa Excelência que envie os reforços necessários para voltar a empreender as nossas operações. O interesse de Suas Majestades o Imperador e o Rei de Espanha o exigem, e deve-se sentir muito ter-se permitido ao inimigo de empreender a ofensiva contra nós. Só hoje tivemos uma perda muito pequena para rechaçar os ataques do inimigo.

Dupont

P.S. Tenho notícia do General Bedel, conserva sempre a sua mesma posição: o inimigo não conseguiu nenhuma vantagem sobre nós.