sábado, 6 de agosto de 2011

Carta do General Bernardim Freire de Andrade ao Bispo e Presidente da Junta do Porto (6 de Agosto de 1808)



Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor:

Tenho a maior satisfação de participar a Vossa Excelência que no dia cinco do corrente chegámos a este Quartel-General, o que quisera anunciar a Vossa Excelência imediatamente, e o teria feito se o Estado das coisas não exigisse alguma demora para mais bem instruído nelas as poder expôr a Vossa Excelência, como passo a fazer. O General inglês, que pretende marchar quanto antes, como de facto o parecem exigir todas as circunstâncias, nos propôs uma conferência, que vai ter lugar amanhã em Montemor[-o-Velho]. Loison passou com efeito ao Alentejo com oito mil homens, segundo se diz constantemente. O seu desígnio nos é oculto; ele teve um encontro em Montemor[-o-Novo], outro em Patalim; e Évora, que lhe resistiu, foi por último entrada e saqueada, e dali avançou um corpo para Estremoz; Eles têm ainda em Abrantes oitocentos a mil homens. Tudo isto dá cuidado e merece grande atenção; maior a merece ainda o grande embaraço em que nos põe a falta das coisas mais essenciais, como meios para ultimar esta empresa. E a este respeito cumpre dizer a Vossa Excelência que a Caixa Militar que aqui se acha por ora está exaurida de dinheiro, tendo já despendido o que pediu; que os víveres ainda estão fornecidos por esta repartição, a qual não pode muito; nem o comissário que para aqui se enviou tem ordem para mais do que para fazer aprovisionamentos; e não se achando esta Repartição ainda montada, ele por isso nada faz e nada pode fazer. O ajudante do superintende ainda aqui não apareceu e por consequência está nula esta Repartição, sendo aliás a da maior importância; que os transportes que aqui há são poucos, e mal podem fornecer as requisições do Exército inglês. Precisa-se daí pelo menos cinquenta parelhas e trezentas bestas de carga que devem ser enviadas com toda a brevidade. E como se carece igualmente de todo o abarracamento que aí houver no Arsenal, as mesmas bestas o poderão conduzir assim como o mais que se requer numa relação que com esta será apresentada a Vossa Excelência e [que] é também de primeira necessidade. Queira também Vossa Excelência remeter logo [que seja] aprovada a proposta do Estado-Maior com a designação do soldo mensário de 24$000 ao Secretário do Exército e 10$ a cada um dos 4 oficiais da secretaria, como também a proposta do Batalhão de Caçadores de Trás-os-Montes, que agora se faz marchar e aqui se arma; visto que os ingleses nos forneceram já 3.400 armas e querem completar 5.000. Esta proposta, que se anunciou já ser aprovada, o deve ser. As propostas de Valença e [dos] Caçadores do porto que ficaram incumbidas ao Brigadeiro Vaz Parreiras são também da primeira necessidade, pela falta que temos de oficiais e precisão de marchas. Mais, devem vir logo cinquenta cavalos do Regimento n.º 6, prontos e em direitura a este quartel e os oficiais necessários para um Esquadrão; e no caso de isto sofrer alguma dificuldade, venha para aqui o Regimento n.º 6 e vá para essa cidade o Regimento n.º 9 no estado em que se achar.
No dia 4 se apresentou nesta cidade uma partida de 124 homens, homens de cavalo da Guarda da Polícia da Corte, que dela se evadiram com grande risco e por extraordinário; é uma tropa excelente e chegada oportunamente. Parece absolutamente indispensável em prémio e para exemplo conservar-lhes o soldo que tinham e dar aos oficiais inferiores as seguintes graduações: a de Tenentes aos dois primeiros Sargentos, a de Alferes aos outros quatro; assim o pratico interinamente enquanto não vem a aprovação da Junta. Da Cavalaria de António José Rodrigues, praça junta aos que têm vindo ultimamente, se vai formar um corpo de 3 Esquadrões, para lhe dar uma forma própria para poderem servir mais utilmente. Nomear-se-ão oficiais interinos mas é preciso que a Junta autorize esta criação, podendo ser este Regimento novo que se deve criar depois em Santarém. Conforme o que tenho podido alcançar, o projecto do General inglês é de que nós marchemos logo, mas para isto é indispensável que se aprovem já, além das recomendações acima, as propostas dos Corpos de Linha, como as de Caçadores e Milícias, porque sem oficiais não podemos contar com corpos, e neste momento não há mais remédio senão sairmos das regras ordinárias; é igualmente preciso que para aqui venha um Ministro autorizado, que faça pôr em movimento todas as molas desta máquina, e porque esta comissão pede uma actividade extraordinária e o negócio não sofre demoras, rogo a Vossa Excelência [para que] o remeta quanto antes, [e] poderia ser o que lembrou na conferência que com Vossa Excelência tivemos antes da nossa partida. Remeto a Vossa Excelência o extracto das notícias em que vai copiada uma carta que agora se recebe de Castelo Branco, e é de grande importância o seu conteúdo, se se verificar. 
Mando com este ofício Alexandre Alberto, oficial do Estado-Maior, para que me possa trazer aqui prontamente a resposta de Vossa Excelência e solicite aí a remessa das coisas que peço, e julgo ser da primeira necessidade que marchem para aqui imediatamente sobretudo dinheiro, devendo fazer-se neste momento os maiores esforços para o aprontar. Mais remeto a Vossa Excelência a distribuição dos Corpos do Exército. 
Deus guarde a Vossa Excelência.
Quartel-General de Coimbra, 6 de Agosto de 1808.

[Fonte: Luís Henrique Pacheco Simões (org.), "Serie chronologica da correspondencia diplomatica militar mais importante do General Bernardim Freire de Andrade, Commandante em Chefe do Exercito Portuguez destinado ao resgate de Lisboa com a Junta Provisional do Governo Supremo estabelecido na cidade do Porto e o Quartel General do Exercito Auxiliar de S. Magestade Britanica em Portugal", in Boletim do Arquivo Histórico Militar - Vol. I, Lisboa, 1930, pp. 153-227, pp. 166-167 (doc. 3)].

Notícias publicadas na Gazeta de Lisboa (6 de Agosto de 1808)



Lisboa, 6 de Agosto 


Não há coisa mais adequada para ilustrar os portugueses rebeldes sobre os resultados da sua monstruosa associação com os rebeldes espanhóis, que o medo com que estes se houveram em Évora.
Já os tratavam os espanhóis como futuros Vassalos, pois que a bandeira e a divisa de Fernando VII é que tremulava sobre as muralhas daquela cidade; os portugueses não estavam nisso mais que pelo sangue que vertiam a favor de senhores, logo ao princípio arrogantes; e que, depois de terem entrado na contenda, e me breve previsto o seu funesto êxito, fugiram a tempo com o seu Chefe Moretti; e não cuidaram mais que em salvar, à custa de seus supostos aliados, uma parte das suas tropas e algumas das suas peças de artilharia. Esta lição aproveitou à vila de Estremoz, de que tanto se blasonava há alguns dias como Quartel-General dos espanhóis e centro do pretendido governo! Os habitantes de Estremoz conheceram que não tinham outro recurso senão na clemência do Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Duque de Abrantes, General em Chefe; e eles a invocaram por meio do Senhor General Loison, Conde do Império.
Portanto, a sua vila fica em sossego, restituída ao dever e à submissão; e a 2 deste mês passaram por ali, como por uma terra amiga, as nossas tropas, encaminhando-se na maior rapidez a outras vitórias.
Em Montemor[-o-Novo], os espanhóis é que, ao retirar-se, deram saque aos próprios habitantes, de quem não tinham recebido ofensa alguma. Em Arraiolos, cujos moradores ficaram sossegados, cometeram eles excessos quase semelhantes; e na própria cidade de Évora se deliberaram a outros muito mais atrozes, pois que espingardeavam eles mesmos os que não obedeciam aos seus caprichos.
No dia depois da batalha, se acharam cem dos ditos espanhóis escondidos em subterrâneos, e foram tratados como o mereciam.
O General Loison, por dar uma prova da consideração do Governo ao Clero, quando este procede bem e segue os princípios de paz do Evangelho, confiou a principal autoridade de Évora ao Senhor Arcebispo [Frei Manuel do Cenáculo], um dos Prelados os mais sábios e os mais distintos do Reino; e igualmente nomeou um Pároco em qualidade de Corregedor.

Para aperfeiçoar cada vez mais as nossas tropas em todo o género de exercícios militares em que tanto sobressaem já, ordenou o Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Duque de Abrantes que houvesse exercícios de fogo que se executam, [desde] há vários dias a esta parte, no Campo de Ourique, à vista do Senhor General Delaborde, Comandante-Superior de Lisboa e dos fortes em torno.
O dito espectáculo fez acudir um muito grande número de curiosos; Sua Excelência o General em Chefe o tem também honrado com a sua presença; e pessoalmente anunciou às tropas assim reunidas a nova que acabava de receber da vitória de Évora.

As folhas que aparecem em algumas das cidades rebeldes de Espanha estão cheias de imposturas, que um dos seus correspondentes se viu obrigado a escrever-lhes para convidá-las a que também inserissem nelas algumas verdades, a fim de que a multidão não percebesse tão depressa que se zombava dela; e que a iludiam para sacrificá-la e vendê-la em breve. Portanto, a vão dispondo pouco a pouco para saber que não está longe o instante em que será preciso depor as armas diante das colunas francesas que se avançam, e implorar a clemência do Rei legítimo, José Napoleão, cujo coração, tão cheio de bondade, não ficará fechado ao arrependimento daqueles que o tiverem momentaneamente desconhecido.
Vê-se, por exemplo, segundo as próprias folhas espanholas, que as tropas francesas chegam sucessivamente, e em grande número, ao norte da Espanha, pois que aqueles diários são constrangidos a reconhecer positivamente, em data de 6 de Julho, que a tomada de Santader pelas sobreditas tropas é indubitável; que há naquela cidade e em Torrelavega mais de 8 mil homens, que ameaçam as Astúrias; e que, a 25 daquele mês, deviam achar-se em Oviedo. O Bispo inutilmente se pôs na frente dos rebeldes; mais acostumado a dizer missa do que a dirigir tropas, conduziu as suas por uma parte diametralmente oposta àquela por onde se avançava o exército francês. 
Outro corpo se apoderou de Valladolid; e como achasse naquela cidade uma resistência criminosa, a puniu, como nós punimos Évora, e como parece que o General Dupont, pouco antes, tratara Córdoba, igualmente criminosa.
O Senhor Marechal Moncey, à testa de 12.000 homens de infantaria e duma quantidade proporcionada de cavalaria, se achava, a 2 de Julho, em Cuenca, e marchava sobre Valencia para atacar aquela cidade, e vingar a matança de 240 franceses, que ali se achavam estabelecidos havia muito tempo, e que foram indignamente assassinados por uma multidão furibunda, à voz de um cónego de Santo Isidoro de Madrid, por nome Baltasar Calvo; os próprios cúmplices daquele monstro, espantados dos seus crimes, acabaram por lançá-los ao mar. Na cidadela onde eles se achavam detidos é que um Sacerdote fizera tirar a vida àqueles infelizes!
O General Dupont, a quem as mesmas folhas espanholas, depois de o terem dado por morto, são obrigadas a fazer reviver, segundo elas dizem, se achava ainda a 15 de Julho nas margens do Guadalquivir, para a parte de Andújar; e uma prova de não ter ele padecido revés algum é que nessa época se esperava que houvesse uma importante batalha entre eles e os rebeldes, capitaneados por mrs. Coupigny e Reding.
Os rebeldes de Badajoz vão a achar-se em breve desconcertados, pelo muito que confiavam numa aliança que pretendiam ter feito com a província do Alentejo, representada por alguns facciosos de Évora que tinham prometido morrer por eles, e que talvez haverão estimado mais viver e fugir.

[Fonte: Gazeta de Lisboa, n.º 30, 6 de Agosto de 1808].

Carta privada do General Wellesley ao Almirante Charles Cotton (6 de Agosto de 1808)



Lavos, 6 de Agosto de 1808 


Meu caro Senhor: 

Tive o prazer de receber a vossa carta datada do dia 2, através do Nautilus, que trouxe o General Spencer, e que aqui chegou anteontem. As suas tropas estão agora a chegar, e desembarcarão amanhã, como espero; e então começarei imediatamente a minha marcha. 
Estou muito agradecido por terdes permitido que o Alfred continue connosco. Darei o plano das nossas marchas ao Capitão Bligh, e tratarei com ele sobre a nossa comunicação, através da qual espero que não somente tiraremos proveito para os abastecimentos, mas também para vos informar acerca dos nossos movimentos. Para além disto, propus comunicar-me diariamente com o Capitão Malcolm, que está na Figueira, até que ele parta dali. 
Enviei as minhas cartas para a Inglaterra através do Blossom, que terá passado por vós. A [fragata] Crocodile continua por aqui, e penso que é melhor pedir ao Capitão Malcolm não para deixá-la partir até que eu ache absolutamente necessário, o que ainda não é o caso, pois várias embarcações têm partido para sul todos os dias.
Estou muito agradecido por terdes ordenado aos navios com artilharia para se reunirem a nós. Os vossos amigos de …* continuam aqui. As armas que lhes propus dar são aquelas que as tropas portuguesas (que ainda não chegaram de Coimbra) entregarão quando receberem as suas novas armas. As tropas portuguesas estão plenamente satisfeitas com as suas armas, que, pelo que percebo, são aproveitáveis. Contudo, quando elas chegarem, caso ache que não o são, tenciono dar-lhes 500 conjuntos de armas novas. Elas ficaram um pouco alarmadas quando souberam que os franceses atravessaram o Tejo, e não as vi desde que fui informado que os franceses regressaram novamente.
Acreditai em mim, etc. 

Arthur Wellesley 


P.S.: Escrevi-vos oficialmente em relação à proclamação, na qual somente fiz uma alteração da forma verbal, e consegui uma tradução melhor.

[Fonte: Lieut. Colonel Gurwood (org.), The Dispatches of Field Marshal the Duke of Wellington, K. G. during his various campaigns in India, Denmark, Portugal, Spain, the Low Countries, and France, from 1799 to 1818 – Volume Fourth, London, John Murray, 1835, p. 51].


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Nota: 


* Desconhece-se que amigos seriam estes, pois encontra-se um espaço em branco na transcrição utilizada para a presente tradução.

Carta do General Wellesley ao Almirante Charles Cotton (6 de Agosto de 1808)



Lavos, 6 de Agosto de 1808 



Meu caro Senhor: 

Tive a honra de receber a vossa carta, na qual incluístes a minuta duma proclamação que, na vossa opinião, deveria ser publicada à nação portuguesa, quando começassem as operações militares. Como concordo completamente com a vossa opinião, inscrevi o vosso nome e o meu próprio numa cópia desta proclamação, e dei ordens para que fosse publicada em Coimbra. Irei espalhá-las pelo país, e enviar-vos-ei um determinado número de cópias. 
Tenho a honra de ser, 

Arthur Wellesley 

[Fonte: Lieut. Colonel Gurwood (org.), The Dispatches of Field Marshal the Duke of Wellington, K. G. during his various campaigns in India, Denmark, Portugal, Spain, the Low Countries, and France, from 1799 to 1818 – Volume Fourth, London, John Murray, 1835, p. 51].

Carta do General Wellesley para o Tenente Coronel Nicholas Trant (6 de Agosto de 1808)



Lavos, 6 de Agosto de 1808 


Meu caro Senhor: 

Recebi às três da manhã a vossa carta do dia 5. Deverei encontrar-me amanhã às doze horas com o General Freire, em Montemor[-o-Velho]. 
Tive receio que os espanhóis que estavam no Alentejo iriam sofrer, por ter sido informado que um destacamento francês atravessara o Tejo, embora ao mesmo tempo tivesse a esperança de que este não conseguisse fazer nada de importante; mas depois fui informado que o mesmo destacamento afinal regressou antes do dia 31. Espero agora que os espanhóis se tenham retirado a tempo, e que tenham perdido somente a sua retaguarda. 
Não há nada tão insensato como fazer avançar estas tropas [portuguesas] semi-disciplinadas, pois a consequência inevitável seria a sua retirada antecipada e precipitada, se o inimigo avançasse, ou mesmo a sua inevitável destruição. Estou determinado a não mover um homem do meu exército até que esteja completamente preparado para sustentar qualquer destacamento que possa enviar para diante; e, por esta razão, recuso-me a enviar quaisquer tropas para Leiria, como resposta a várias requisições que me foram feitas por um comissário português, que as pediu para protecção, e que seriam utilizadas, como disse ele, para reunir os abastecimentos para as tropas britânicas, que provavelmente cairiam nas mãos do inimigo, se não fossem sustentados. 
Recusei-me terminantemente a enviar para diante qualquer destacamento ou qualquer pessoa até que seja capaz de garantir a sua protecção, e deverei mandar alguém com tempo suficiente para assegurar tudo o que exército possa necessitar, ou o que Leira possa fornecer. É assim lamentável que este senhor tenha sido enviado até mim, particularmente se a consequência for a perda dos abastecimentos que, doutra forma, Leiria poderia fornecer. 
Acreditai em mim, etc. 

Arthur Wellesley 

[Fonte: Lieut. Colonel Gurwood (org.), The Dispatches of Field Marshal the Duke of Wellington, K. G. during his various campaigns in India, Denmark, Portugal, Spain, the Low Countries, and France, from 1799 to 1818 – Volume Fourth, London, John Murray, 1835, p. 50].

Resposta de Wellesley à oferta dos negociantes de Coimbra (6 de Agosto de 1808)



Lavos, 6 de Agosto de 1808

Meus Senhores:

Tive a honra de receber a vossa carta, participando-me a oferta dum presente de vários refrescos para uso da tropa que está debaixo do meu comando.
Não posso deixar de aproveitar esta ocasião de significar a profunda sensação que me causaram os sentimentos de lealdade para com o vosso Soberano e de amor da vossa Pátria, os quais vos têm feito adoptar este meio de testemunhar a vossa satisfação, leais negociantes da cidade de Coimbra, pela chegada do Exército inglês.
Estou certo de que este, pelo seu procedimento, merecerá sempre a vossa estima, e que com o seu socorro, a Nação portuguesa cedo poderá restabelecer o Governo do seu antigo e respeitável Soberano.
Tenho a honra de ser, meus senhores, vosso muito obediente fiel e humilde criado.

Arthur Wellesley


Carta do Conde da Ega ao Juiz de Fora da Castanheira (6 de Agosto de 1808)



Remeto a Vossa Mercê a cópia do decreto [de 1 de Julho de 1808] pelo qual o Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Duque de Abrantes me nomeou Conselheiro do Governo encarregado da Repartição da Justiça. 
As actuais ocorrências me precisaram a dirigir aos magistrados a fala que também remeto, para que Vossa Mercê procure promover quanto estiver da sua parte a paz, tranquilidade e sossego nos povos do distrito [=termo] da sua jurisdição, a fim de merecerem os benefícios que lhes estão prometidos e evitarem as desgraças com que estão ameaçados, se assim o não praticarem, como por tantas vezes lhes tem sido recomendado. O exemplo recente que neste momento cobre de luto a nação inteira, vendo a antiga cidade de Évora punida por haver sucumbido à sugestão insidiosa dos insurgentes espanhóis, é bastante [par]a fazer cessar a continuação destes males; ali, porém, as ordens de Sua Excelência o Senhor General em Chefe se têm executado; se algum portugueses foram vítimas no calor da acção, os que depois se humilharam, ainda que encontrados com as armas na mão, têm sido perdoados. 
Deus Guarde a Vossa Mercê. 
Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça, em 6 de Agosto de 1808. 

Conde da Ega 

[Fonte: Discurso do Imortal Guilherme Pitt..., pp. 99-101].