segunda-feira, 11 de julho de 2011

The Spanish Bull-fight or the Corsican-Matador in Danger, caricatura de James Gillray (11 de Julho de 1808)



A tourada espanhola ou o matador-corso em perigo.
Caricatura de James Gillray, publicada a 11 de Julho de 1808.

A arena do Theatre Royale de l'Europe é o palco de uma tourada à espanhola (com matador, representado por Napoleão), à qual assistem, da esquerda para a direita, o Rei da Grã-Bretanha, que empunha um tridente numa mão (símbolo da sua supremacia sobre os mares) e um monóculo na outra, através do qual observa atentamente o espectáculo; o Imperador da Áustria; o Príncipe Regente de Portugal, acompanhado com uma garrafa de vinho de Brasil; o Imperador Alexandre "o Grande" da Rússia; o Rei da Prússia; o Rei da Suécia; o Papa Pio VII, que exibe uma bula para excomungação do corso usurpador; e por último, o Sultão da Turquia e o Dey de Argel, que aparentemente se tentam esconder detrás do Papa. 
Depois do matador-Napoleão acabar de deixar três touros (que representam a Prússia, a Holanda e a Dinamarca) agonizando e mugindo por ajuda, dá-se uma reviravolta súbita, com a entrada de rompante do touro espanhol, que quebrou a corrente corsa que o agrilhoava. José Bonaparte (com um papel assinado pelo seu irmão, o qual tem a inscrição Coroação de Joseph Bonaparte Rex Espagnol Gibralter et...) foi o primeiro a ser derrubado, jazendo debaixo do touro espanhol, que lhe urina para a cara enquanto ao mesmo tempo investe sobre o matador-Napoleão, que não conseguiu dar-lhe uma estocada certeira, partindo a espada ao desferir o golpe. Neste instante, Napoleão é lançado ao ar pelos chifres do touro espanhol, que lhe ferem a nádega esquerda, deixando cair o seu chapéu e um plano para submeter o mundo... Por cima da plateia, a legenda informa que o espírito do touro espanhol é tão notável que, a menos que o matador lhe dê uma estocada mortal à primeira investida, o touro seguramente o destruirá. 
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Outras reproduções digitalizadas desta mesma caricatura (com algumas variantes nas cores):


A propaganda anti-francesa e a criação da Minerva Lusitana (11 de Julho de 1808)



A revolta dos povos peninsulares contra a ocupação francesa foi acompanhada de perto por uma enorme máquina propagandística de feição conservadora, patriota e anti-francesa. Depois dos acontecimentos de 2 de Maio em Madrid, e à medida que se iam formando Juntas governamentais nas províncias espanholas que não estavam controladas pelas forças de Napoleão, começava a ser produzida e impressa uma imensa quantidade deste tipo de escritos, entre os quais se encontravam várias proclamações dirigidas aos portugueses. Os levantamentos portugueses, indubitavelmente influenciados pelos espanhóis, não foram imunes a estas proclamações e a este tipo de propaganda, que logo foi imitada. Contudo, ao contrário da Espanha, Portugal contava com poucas imprensas, e como maioria das quais estava concentrada em Lisboa, seria somente depois da saída dos franceses da capital que esta propaganda começaria a ser imprensa em larga escala. Só para nos cingirmos aos periódicos (notando que a lista dos folhetos, panfletos e opúsculos é muito mais vasta), desde o referido mês de Setembro até ao fim desse ano de 1808, foram criados e impressos em Lisboa nada menos que quatro periódicos (que se somavam assim à Gazeta de Lisboa), a saber: Gazeta do RossioO Lagarde Português ou Gazeta para depois do JantarSemanário PatrióticoO Telégrafo Português ou Gazeta para depois  do Jantar
No entanto, antes disso, surgiram em Portugal (para além do Correio Brasiliense, impresso em Londres) outros dois periódicos (três, se contarmos com a Gazeta de Almada, que era manuscrita), a saber: O Leal Portuguez [sic], redigido por José Joaquim de Almeida Araújo Correia Lacerda, que se começou a imprimir a 6 de Julho de 1808, no Porto, na Tipografia de António Álvares Ribeiro, pouco depois de ali se ter formado a Junta Suprema de Governo; e a Minerva Lusitana, impressa na Real Universidade de Coimbra, cujo primeiro número data de 11 de Julho de 1808, ou seja, também poucos dias depois desta cidade se ter levantado. Ambos periódicos foram os primeiros a ser impressos nas respectivas cidades. 
Enquanto O Leal Portuguez foi fruto dos trabalhos da Junta Suprema do Porto, a Minerva Lusitana deveu-se à iniciativa do Governador de Coimbra, Manuel Pais de Aragão Trigoso, que também era vice-reitor da Universidade da mesma cidade (o reitor era D. Francisco de Lemos, Bispo de Coimbra, que partira para a França para se juntar à chamada deputação portuguesa, donde somente regressaria em 1814), que nomeou para seu redactor José Bernardo de Vasconcelos Corte Real, e para seus ajudantes Joaquim Navarro de Andrade e Fr. Luís do Coração de Maria [Cf. Francisco Augusto Martins de Carvalho, Diccionario Bibliographico Militar Portuguez, Lisboa, Imprensa Nacional, 1891pp. 135-136 e pp. 174].
Publicamos abaixo o primeiro número da Minerva Lusitana, complementado com uma parte do segundo, para não se cortar um Discurso sobre a origem e progressos da actual Revolução de Portugal


 


Proclamação do Tenente espanhol Sebastián Pizarro aos soldados do antigo 2.º Regimento do Porto (11 de Julho de 1808)



Valerosos Soldados do 2.° Regimento do Porto

Vencer ou morrer é a divisa de todo o nosso Exército; qual deve ser a vossa? A Nação em armas se reúne para defender a causa pública; mas vós, ofendidos pessoal­mente na honra, tendes de unir àquela a causa particu­lar. Outrora assassinados, dispersos e proscritos pela opressão dominante, vós podíeis comparecer sem pejo aos vossos concidadãos; mas agora... Soldados, vós justificareis a conduta do inimigo, se, mais que outro algum Corpo, não souberdes distinguir-vos na presente ocasião. Enquanto lembrarem Caldas, a memória do vosso insulto anexa a elas há-de [se] lembrar também. Diga o mundo embora que ali fostes ultrajados; uma vez que a vossa animosidade corresponda às vantajosas esperanças que a vosso respeito formamos. Três milhões de homens que hão-de observar-vos ou combater a vosso lado, notarão judiciosos os vossos menores movimentos: duas Nações belicosas, nossas aliadas, fazendo a nossa reserva, terão os olhos fitos sobre cada hum de vós. Não basta mostrar coragem, é preciso obrar portentos. Bravos do 2.° Regimento do Porto! É por acções arrojadas e atrevidas que deveis merecer a honra de combater à nossa frente. É escusado recomendar a ordem a quem foi criado nela. Sabeis quanto ela é útil em qualquer ocasião e em qualquer tempo. Se vos confiarem um posto, firmes como muralhas deveis permanecer nele. Se vos derem o sinal do combate, o vosso choque irre­sistível, bem como o raio despedido das nuvens, esma­gará os perversos que ousarem combater-vos. São fracos como a serpe, que precisa de enganos da sua marcha rasteira. Seis mil homens foram mandados só contra o vosso Regimento, e ainda assim, mais do que a força, prevaleceu a inteligência dos cobardes e o seu vil estratagema. Soldados do 2.° Regimento do Porto, qual dentre vós pode esquecer o grito de vingança, que implorarão os vossos irmãos, sacrificados à raiva dos perversos! Qual dentre vós não suspira pelo recobro das suas perdidas bandeiras? Soldados, é preciso recobrá-las para airosamente trazê-las. As Quinas Lusitanas tremulam por toda a parte, e só vós as não trareis? Ora, sois Gente brava e corajosa: o tempo das vinganças é chegado: vinguem-se os vossos irmãos de Armas e o vosso honrado Tenente; e sacrificando aos seus manes os assassinos que desumanamente os ultrajaram, reco­brareis então a vossa glória; e dando que dizer ao mundo inteiro, os que vos virem, admirados das vossas grandes proezas, dirão cheios de transporte, apontando-vos com o dedo: Estes são os Vingadores das Caldas; A escolha do nosso Exército. 
Coimbra, Quartel do Colégio de S. Bento, 11 de Ju­lho de 1808. 

Sebastián Pizarro, Tenente Comandante. 

[Fonte: Artur de Magalhães Basto, "O Porto contra Junot (Conclusão)", in Revista de Estudos Históricos, Faculdade de Letras do Porto, vol. 1, nº. 4, Out.-Dez. 1924, pp. 121-147, pp. 121-122].

Edital da Junta do Porto convidando os vassalos do Príncipe Regente a entregarem os seus cavalos, a fim de serem empregados nos vários Regimentos de Cavalaria que se estavam a organizar no norte do país (11 de Julho de 1808)




Carta da Junta de Governo de Sines ao Almirante Charles Cotton (11 de Julho de 1808)




Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Almirante:

Pelo Capitão [Matthew] Smith, Comandante da fragata Comus, recebemos de Vossa Excelência a honrosa resposta da representação que da Câmara desta vila lhe foi remetida pelo mestre Manuel de Jesus, onde vemos a energia com que Vossa Excelência se empenha em socorrer-nos no meio de circunstâncias tão críticas como estas em que nos achamos, vendo-nos no último ponto vexados pelo tirânico governo francês, e convidando-nos a erigir, bem como na Espanha se tem praticado, governos em cada uma das cidades, vilas e aldeias, o que já se tem praticado na maior parte desta província do Alentejo, e com toda a força vai a concluir-se nos povos onde ainda não os há. Em consequência pois do exposto, nomeou este novo Governo a esse emissário, a fim de melhor representar a Vossa Excelência, que para mais felizmente poder defender-se esta povoação, queira Vossa Excelência quanto antes, e se possível for pelo mesmo emissário, mandar todo o número de armas e munições pertencentes à guerra, que Vossa Excelência puder dispensar; igualmente alguma gente, pois tudo é de suma necessidade. 
Assim o esperamos de Vossa Excelência, que Deus guarde muitos anos.
Sines, em Junta do Governo de 11 de Julho de 1808.

Eu, João Guilherme Torquato dos Reis, a escrevi.
O Deputado José Albano Ferreira da Veiga e Palma.
O Deputado José Bruno da Fonseca Sobreal.
O Deputado o Prior Manuel José de Campos.
O Deputado o Beneficiado Francisco Rodrigues Galufo.
O Deputado João Carlos d'Almeida.
O Deputado João António d'Avelar.

[Fonte: José Accursio das Neves, Historia Geral da Invasão dos Francezes em Portugal, e da Restauração deste Reino - Tomo V, Lisboa, Officina de Simão Thaddeo Ferreira, 1811, pp. 38-39].