domingo, 21 de agosto de 2011

King Joes Retreat from Madrid, caricatura de Thomas Rowlandson (21 de Agosto de 1808)



A retirada do Rei Zé de Madrid.
Caricatura gravada por Thomas Rowlandson, segundo desenho de George Moutard Woodward, publicada a 21 de Agosto de 1808.


Esta sátira alude, como o título indica, à retirada do Rei José Bonaparte de Madrid, e é uma espécie de sequela da caricatura King Joes Reception at Madrid, publicada no mesmo dia e com o mesmo número de chapa, e desenhada e gravada pelos mesmos artistas. 
À esquerda da gravura, no topo duma "montanha", encontra-se um grupo de granadeiros e religiosos espanhóis que grita aos franceses Parem, ladrões! Parem ladrões! Roubaram a prata do Palácio!, ao mesmo tempo que dispara à queima-roupa sobre as suas costas. Os franceses, ao fundo, tentam trepar a "montanha" que está à direita, enquanto em primeiro plano vê-se José Bonaparte (que na fuga perde a coroa) e alguns oficiais franceses carregados com sacos de despojos, um dos quais cheio de prata. Cansado, José Bonaparte implora ao seu irmão para parar: Mano Nap - mano Nap! Porque não paras? Os filisteus estão a perseguir-nos! Napoleão,  dentro do coche que ascende a "montanha" da direita, responde-lhe: Não posso, mano Zé! Estou com muita pressa

King Joes Reception at Madrid, caricatura de Thomas Rowlandson (21 de Agosto de 1808)




A recepção do Rei Zé em Madrid.
Caricatura de Thomas Rowlandson, segundo desenho de George Moutard Woodward, publicada a 21 de Agosto de 1808.


No centro, José Bonaparte, recém-coroado rei da Espanha, vira-se em atitude suplicante para a esquerda, onde estão dois espanhóis e duas espanholas, aos quais declara: "Muito obrigado por esta gentil e lisonjeadora recepção. Contemplai o irmão do grande Napoleão que veio para reinar sobre vós pelos vossos bens". Virado de costas para José, o espanhol que ostenta uma espada longa comenta ao que porta uma adaga, a propósito da declaração do monarca: "Sim camarada, e sobre os nossos bens imóveis também, se penso correctamente". Na extrema esquerda da imagem, uma espanhola, que segura um punhal, diz à outra: "Fizeram-no estudar para advogado e em breve iremos expulsá-lo da Espanha". A outra espanhola responde-lhe que "apesar de ser uma mulher, estou determinada a resistir". No lado direito, atrás de José, um oficial francês segura uma bandeira com a inscrição Vive le Roi [sic], e exclama com raiva: "Será que ninguém grita Viva, será que ninguém repica os sinos? Se não fazeis barulho caíreis todos pela Baioneta Real". A multidão que está atrás de si, armada com chuços e alabardas, responde então com o grito "Viva o Rei, Urra!".


Outras digitalizações: 


Carta de Francisco Soares Franco ao Governador de Coimbra, sobre as derrotas dos franceses (21 de Agosto de 1808)



Os ingleses atacaram os franceses no formidável posto da Columbeira, e os derrotaram de todo; foi no dia 17. Os inimigos eram 3.000 comandados por Delaborde; porém, hoje é que se deu a acção decisiva. 
Os franceses, em número de 11 a 12.000 comandados por Junot e todos os mais Generais, vieram atacar os ingleses no lugar do Vimeiro; durou a acção três horas. Os inimigos foram totalmente destroçados, perderam a artilharia e imensos mortos, e dizem que 800 prisioneiros com Thomiers.
Os franceses eram mais em Portugal do que julgávamos. Na nossa marcha amanhã veremos ambos os campos da batalha; o primeiro fica daqui um légua, o outro três léguas; e em consequência só depois disto poderemos dar os detalhes de ambas as acções. 
Sou com o mais profundo respeito, Ilustríssimo e Excelêntissmo Senhor, de Vossa Excelência Humilde Criado, 
Francisco Soares Franco

Óbidos, 21 de Agosto de 1808, às 11 horas da noite.

Ordem do dia do Exército britânico (21 de Agosto de 1808)



Quartel-General, Vimeiro, 21 de Agosto.


O Tenente-General Sir Arthur Wellesley dá os parabéns ao exército pela vitória assinalada que este obteve hoje sobre o inimigo, e retribui-lhe os mais calorosos agradecimentos pela sua conduta determinada e heróica. Ele experienciou o prazer mais sincero ao testemunhar vários exemplos da bravura dos corpos, e destaca em particular o comportamento distinguido da Real Artilharia; do Regimento n.º 20 de Dragões ligeiros; dos Regimentos 36.º, 40.º, 2.º Batalhão do 52.º, 60.º, 71.º, 82.º, 2.º Batalhão do 95.º, e 97.º. 
O Tenente-General terá o maior prazer em repetir ao Comandante em Chefe* a bravura revelada por todas as tropas, e a alta sensação que desfruta pela sua louvável e excelente conduta durante todo o dia.


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Nota: 

* Apesar de Dalrymple ter sido nomeado como Comandante em Chefe deste exército britânico, parece-nos que a ordem do dia refere-se aqui a Sir Harry Burrard (segundo no comando), que desembarcara na praia do Porto Novo (a oeste do Vimeiro) durante a tarde do dia 21 de Agosto, e que assumira (já depois da batalha) a chefia do comando do exército até aí comandado por Wellesley. De facto, Wellesley escreveu ainda nesse dia um ofício a Burrard sobre toda a batalha do Vimeiro (dado que Burrard só testemunhara o final da mesma), repetindo-lhe as mesmas menções que são feitas nesta ordem do dia aos Regimentos britânicos que se destacaram nessa ocasião.
Dalrymple, por outro lado, acabaria por chegar à mesma costa nessa mesma noite, tendo desembarcado na manhã seguinte, e só então assumindo o comando principal deste exército. 

Carta do General Burrard a Lord Castlereagh, Secretário de Estado da Guerra do Governo britânico (21 de Agosto de 1808)




Quartel-General da Maceira, 21 de Agosto de 1808.


Meu Senhor:

A relação que tenho a honra de remeter a Vossa Senhoria, a qual foi escrita, a meu pedido, pelo Tenente General Arthur Wellesley, contém informações que não podem deixar de ser sumamente agradáveis a Sua Majestade.
Ao desembarcar esta manhã, descobri que o ataque do inimigo já tinha começado, e tive a felicidade de alcançar o campo de batalha a tempo de testemunhar e aprovar todas as disposições que tinham sido e que continuaram a ser feitas por Sir Arthur Wellesley, tendo o seu compreensivo espírito fornecido recursos a todas as necessidades emergentes, o que tornou desnecessário ordenar qualquer alteração.
Sinto-me feliz nesta ocasião por ter testemunhado o grande ânimo e a boa conduta que mostraram todas as tropas que compõem este valente exército nesta acção muito disputada.
Envio este ofício através do Capitão Campbell, Ajudante de Campo de Sir Arthur Wellesley, não havendo pessoa melhor qualificada para informar Vossa Senhoria sobre estes sucessos.
Tenho a honra de ser, etc.

Harry Burrard


Relatório dos mortos, feridos e desaparecidos do exército britânico, bem como da artilharia e munições tomadas ao exército francês na batalha do Vimeiro



Relação total dos mortos, feridos e desaparecidos do exército comandado pelo Tenente General o Muito Honrável Sir Arthur Wellesley, K. B., no dia 21 de Agosto de 1808.



Quartel-General, Vimeiro, 1808.



Estado-Maior - 1 Capitão ferido. 
Real Artilharia - 2 soldados feridos; 2 soldados e 2 cavalos mortos.
Reais Engenheiros - 1 Tenente desaparecido.
Regimento n.º 20 de Dragões Ligeiros - 1 Tenente-Coronel, 19 soldados e 30 cavalos mortos; 2 Sargentos, 22 soldados e 10 cavalos feridos; 1 Capitão, 1 Tambor, 9 soldados e 1 cavalo desaparecidos. 


1.ª Brigada - Major-General Hill.
5.º Regimento de infantaria a pé - nenhum morto ou ferido.
9.º Regimento de infantaria a pé - nenhum morto ou ferido.
38.º Regimento de infantaria a pé - nenhum morto ou ferido.



2.ª Brigada - Major-General Ferguson.
36.º Regimento de infantaria a pé - 7 soldados mortos; 1 Capitão, 3 Tenentes, 1 Alferes, 1 oficial do Estado-Maior, 1 Sargento, 1 Tambor e 34 soldados feridos; 1 Sargento e 1 soldado desaparecidos.
40.º Regimento de infantaria a pé - 6 soldados mortos; 1 Capitão, 1 Tenente, 2 Sargentos e 28 soldados feridos; 6 soldados desaparecidos.
71.º Regimento de infantaria a pé - 12 soldados mortos; 2 Capitães, 4 Tenentes, 1 Alferes, 1 oficial do Estado-Maior, 6 Sargentos e 86 soldados feridos.



29.º Regimento de infantaria a pé - 2 soldados mortos; 1 Capitão, 1 Sargentos e 10 soldados feridos.
82.º Regimento de infantaria a pé - 1 Tenente e 7 soldados mortos; 2 Sargentos e 51 soldados feridos.



4.ª Brigada - Major-General Bowes.
6.º Regimento de infantaria a pé - nenhum morto ou ferido.
32.º Regimento de infantaria a pé - nenhum morto ou ferido.


5.ª Brigada - Major-General Crauford.
45.º Regimento de infantaria a pé - nenhum morto ou ferido.
91.º Regimento de infantaria a pé - nenhum morto ou ferido.



6.ª Brigada - Major-General Fane.
50.º Regimento de infantaria a pé - 1 Capitão, 1 Sargento e 18 soldados mortos; 1 Major, 3 Tenentes, 1 Sargento, 1 Tambor e 61 soldados feridos; 2 soldados desaparecidos.
5.º Batalhão do 60.º Regimento de infantaria a pé - 14 soldados mortos; 2 Tenentes, 1 Sargento e 21 soldados feridos; 10 soldados desaparecidos.
2.º Batalhão do 95º Regimento de infantaria a pé - 1 Sargento e 5 soldados mortos; 1 Tenente, 1 Alferes e 13 soldados feridos; 3 soldados desaparecidos.

7.ª Brigada - Major-General Anstruther.
2.º Batalhão do 9.º Regimento de infantaria a pé - 3 soldados mortos; 1 Sargento e 14 soldados feridos.
2.º Batalhão do 43.º Regimento de infantaria a pé - 1 Sargento e 26 soldados mortos; 1 Major, 2 Tenentes, 5 Sargentos, 2 Tambores e 68 soldados feridos; 12 soldados desaparecidos.
2.º Batalhão do 52.º Regimento de infantaria a pé - 3 soldados mortos; 1 Tenente, 2 Sargentos e 31 soldados feridos; 2 soldados desaparecidos.
97.º Regimento de infantaria a pé - 4 soldados mortos; 1 Major, 1 Tenente, 2 Sargentos e 14 soldados feridos.



8.ª Brigada - Major-General Ackland.
Regimento n.º 2 ou da Rainha: 1 Sargento e 6 soldados feridos.
20.º Regimento de infantaria a pé - 1 Tenente morto; 1 Tenente e 5 soldados feridos; 1 soldado desaparecido.



Royal Staff Corps - nenhum morto ou ferido.





Total: 
1 Tenente Coronel, 1 Capitão, 2 Tenentes, 3 Sargentos, 128 soldados e 30 cavalos mortos; 
3 Majores, 10 Capitães, 19 Tenentes, 3 Alferes, 2 oficiais do Estado-Maior, 27 Sargentos, 4 Tambores, 466 soldados e 12 cavalos feridos; 
1 Capitão, 1 Tenente, 1 Sargento, 2 Tambores, 46 soldados e 1 cavalo desaparecidos.





Nomes dos Oficiais mortos, feridos e desaparecidos no dia 21 de Agosto de 1808.





Estado-Maior - Capitão Hardinge do 75.º Regimento de infantaria a pé, Deputado Assistente do Quartel-Mestre-General, ferido.
Reais Engenheiros - Primeiro Tenente Wells, desaparecido.
Regimento n.º 20 de Dragões Ligeiros - Tenente-Coronel Taylor, morto; Capitão Eustace, desaparecido. 
20.º Regimento de infantaria a pé Tenente Brooke, morto; Tenente Hogg, ferido.

29.º Regimento de infantaria a pé - Major Brigadeiro A. Creagh, ferido.
36.º Regimento de infantaria a pé - Capitão Herbert, ligeiramente ferido; Tenente Hart, Longht e Edwards, ligeiramente feridos; Alferes Bosell, ligeiramente ferido; Tenente e Ajudante Poveah, gravemente ferido.
40.º Regimento de infantaria a pé - Capitão Smith, ligeiramente ferido; Tenente Frankley, ligeiramente ferido.
43.º Regimento de infantaria a pé - Major Hearne, ferido; Capitão Ferguson, Brock e Haverfield, feridos; Tenente Madden, ferido; Alferes Wilson, ferido.
50.º Regimento de infantaria a pé - Capitão A. G. Cooke, morto; Major Charles Hill, ferido; Tenentes John Kent, John Wilson e Robert Way, feridos.
52.º Regimento de infantaria a pé - Capitão Ewart, ferido; Tenente Bell, ferido.
60.º Regimento de infantaria a pé - Tenente Charles Kirk, ferido; [Tenente] Lewis Reith, ferido.
71.º Regimento de infantaria a pé - Capitão A. Jones, ligeiramente ferido; Major Mackenzie, ligeiramente ferido; Tenente J. D. Pratt, gravemente ferido; Tenentes William Hartley, R. Dudgeon e A. S. McIntyre, ligeiramente feridos; Alferes W. Campbell, ligeiramente ferido; Ajudante graduado R. McAlpine, gravemente ferido.
82.º Regimento de infantaria a pé - Tenente R. Donkin, morto.
95º Regimento de infantaria a pé - Tenente Pratt, ferido; Alferes W. Cox, ferido.
97.º Regimento de infantaria a pé - Major J. Wilson, ferido; Tenente E. Kettlewell, ferido.




Resumo da relação transcrita acima



4 Oficiais mortos; 37 Oficiais feridos; 2 Oficiais desaparecidos; 3 Oficiais não comissionados e Tambores mortos; 31 Oficiais não comissionados e Tambores feridos; 3 Oficiais não comissionados e Tambores desaparecidos; 128 soldados mortos; 466 soldados feridos; 46 soldados desaparecidos; 43 cavalos mortos, feridos e desaparecidos.


Total de Oficiais, Oficiais não comissionados e Tambores, Soldados e cavalos mortos, feridos e desaparecidos: 783.


G. B. Tucker,
Deputado-Ajudante-General






Relação da artilharia e munições tomadas na acção de 21 de Agosto


1 canhão de calibre 6, 4 de calibre 4, 2 de calibre 3 e 6 obuses de cinco polegadas e meia.
2 carros de munições.
21 carros portugueses de munições.
40 cavalos.
4 mulas.


Os números acima indicados dizem respeito somente ao que já se recebeu no parque [de artilharia do exército britânico]; porém, segundo diversos relatos, existem mais oito peças que se tomaram ao inimigo. As carroças e carros de munições contêm uma porção de pólvora, projécteis e provimentos de todo os géneros, e cerca de 20 mil libras [= pouco mais de 9 toneladas] de munições para mosquete.


W. M. Robe, Tenente-Coronel,
Comandante da Real Artilharia.



Carta do General Wellesley ao General Burrard, sobre a batalha do Vimeiro (21 de agosto de 1808)




Vimeiro, 21 de Agosto de 1808


Senhor: 

Tenho a honra de vos informar que o inimigo atacou-nos esta manhã na nossa posição no Vimeiro.
A aldeia do Vimeiro está num vale pelo qual corre o rio Maceira [Alcabrichel]; atrás desta aldeia está uma montanha, que se estende de norte a oeste, cuja ponta ocidental toca no mar, e que no lado oriental é interrompida por uma funda ravina, que a separa da colina sobre a qual passa o caminho que vem da Lourinhã e do norte para o Vimeiro. A maior parte da infantaria – as brigadas n.os 1, 2, 3, 4, 5 e 8 – estava postada nesta montanha, com oito peças de artilharia, estando a brigada do Major General Hill à direita e a do Major General Ferguson à esquerda, com um batalhão sobre a colina separada da montanha. A sudeste da aldeia está uma colina que fica completamente dominada, particularmente na sua direita, pela montanha a oeste da aldeia, e que por sua vez está sobranceira a todo o terreno nas proximidades para sul e leste, colina essa onde estava postado o Brigadeiro General Fane com os seu caçadores e com o Regimento n.º 50, bem como o Brigadeiro General Anstruther com a sua brigada, com meia brigada de artilharia de calibre 6 e outra meia brigada de calibre 9, os quais tinham recebido ordens para tomar essa posição durante a noite. O terreno sobre o qual passa o caminho da Lourinhã fica sobranceiro à esquerda desta altura, e tinha sido ocupado apenas por um piquete, pois o posto tinha sido tomado somente para uma noite*, e não havia água nas vizinhanças desta elevação.
A cavalaria e a reserva da artilharia estavam no vale, entre as colinas sobre as quais se postou a infantaria, e ambas flanqueavam e sustentavam a guarda avançada do Brigadeiro General Fane.
A primeira aparição do inimigo ocorreu às oito horas da manhã, com um grande corpo de cavalaria sobre a nossa esquerda, na colina do caminho da Lourinhã; e logo se tornou óbvio que o ataque seria feito sobre a nossa guarda avançada e sobre a esquerda da nossa posição. A brigada do Major General Ferguson marchou imediatamente através da ravina para a colina sobre o caminho da Lourinhã com três peças de artilharia, e foi sucessivamente seguida pelo Brigadeiro General Nightingale com a sua brigada e três peças de artilharia, pelo Brigadeiro General Acland com a sua brigada, e pelo Brigadeiro General Bowes com a sua brigada. Estas tropas fizeram as suas formações (a brigada do Brigadeiro General Ferguson na primeira linha e a do Brigadeiro General Nightingale na segunda linha, enquanto as brigadas dos Brigadeiros Generais Bowes e Acland formaram-se em colunas na retaguarda) nessa elevação, com a sua direita sobre o vale que vai ter ao Vimeiro, e a sua esquerda sobre a outra ravina que separa estas elevações da cordilheira que termina no lugar de desembarque da Maceira [Porto Novo]. Nestas últimas elevações postaram-se à primeira instância as tropas portuguesas, que estavam mais abaixo, perto do Vimeiro, sendo sustentadas pela brigada do Brigadeiro General Crauford.
As tropas da guarda avançada, postadas nas elevações para o sul e leste da aldeia, eram aparentemente suficientes para sua defesa; e o Major General Hill marchou para o centro da montanha sobre a qual se tinha postado o grande corpo de infantaria, para sustentar aquelas tropas e como reserva para todo o exército. Além deste apoio, estas tropas tinham como reserva a cavalaria na retaguarda da sua direita. 
Várias colunas do inimigo começaram a atacar a totalidade das tropas postadas nesta elevação; avançaram pela esquerda, não obstante o fogo dos caçadores que estavam perto do Regimento n.º 50, e foram cerceados e batidos somente pelas baionetas deste corpo. O 2.º batalhão do Regimento n.º 43 também estava por perto, apoiando-os no caminho que vai para o Vimeiro; tendo uma parte deste corpo recebido ordem para ocupar o adro da igreja, para prevenir que os inimigos não penetrassem na aldeia. Na direita da posição, foram estes repelidos pelas baionetas do Regimento n.º 97, cujo corpo foi sustentado com bom sucesso pelo 2.º batalhão do Regimento n.º 52, que, avançando em coluna, tomou o inimigo pelo flanco. 
Para além desta oposição feita ao ataque do inimigo na nossa guarda avançada pelas suas próprias diligências, o seu flanco também foi atacado pela brigada do Brigadeiro General Acland, na marcha para a sua posição na elevação da esquerda, sustentando-se todas as operações com canhoneadas sobre os flancos das colunas do inimigo, pela artilharia que estava naquela elevação. 
Por fim, depois de uma resistência muito desesperada, o inimigo foi batido e teve que se retirar desordenadamente deste ataque, com a perda de sete peças de artilharia, muitos prisioneiros, e grande número de oficiais e soldados mortos e feridos. Foi ainda perseguido por um destacamento do Regimento n.º 20 de Dragões ligeiros, mas a cavalaria do inimigo era de tal modo superior em número que este destacamento sofreu muito, e o Tenente Coronel Taylor foi infelizmente morto. 
Quase ao mesmo tempo, começou o ataque do inimigo nas elevações sobre o caminho da Lourinhã. Este ataque foi sustentado por um grande corpo de cavalaria e feito com a habitual impetuosidade das tropas francesas. Estas foram recebidas com firmeza pela brigada do Major General Ferguson, que consistia nos Regimentos n.os 36, 40 e 71; e estes corpos carregaram assim que se aproximou o inimigo, que retrocedeu, continuando eles a avançar sobre este, sustentados pelo Regimento n.º 82 (um dos corpos da brigada do Brigadeiro General Nightingale, que, em virtude da extensão do terreno, formou depois parte da primeira linha), pelo Regimento n.º 29 e pelas brigadas dos Brigadeiros Generais Bowes e Acland, enquanto a brigada do Brigadeiro General Crauford e as tropas portuguesas, dispostas em duas linhas, avançaram ao longo da elevação pela esquerda. Ao avançar, a brigada do Major General Ferguson matou e feriu um vasto número de inimigos, tomando-lhe seis peças de artilharia e muitos prisioneiros. 
O inimigo fez depois uma tentativa para recuperar uma parte da sua artilharia, atacando os Regimentos n.os 71 e 82, que tinham parado no vale onde tinham tomado a referida artilharia. Estes Regimentos retiraram-se do fundo do vale para as encostas, onde fizeram alto, apontaram e fizeram fogo, avançando então sobre o inimigo, que a este tempo chegara ao fundo do vale, sendo assim novamente obrigado a retirar-se com muitas baixas. 
Nesta acção, em que estava empregada a totalidade da força francesa em Portugal sob o comando do Duque de Abrantes em pessoa, em que o inimigo era certamente superior em cavalaria e artilharia, e em que não mais do que metade do exército britânico entrou realmente em combate, sofreu o inimigo uma assinalada derrota e perdeu treze peças de artilharia, vinte e três carros de munições, com pólvora, balas e apetrechos de todo tipo, e 20.000 cartuchos para espingardas. Um oficial General (Brenier) foi ferido e aprisionado, e muitos oficiais e soldados foram mortos, feridos e aprisionados. 
O valor e disciplina das tropas de Sua Majestade [Britânica] foi muito notável nesta ocasião, como vós, que presenciastes a maior parte da acção, o deveis ter observado; mas é justo referir os seguintes corpos de maneira particular, a saber: a artilharia Real, comandada pelo Tenente Coronel Robe; o Regimento n.º 20 de Dragões, que era comandado pelo Coronel Taylor; o Regimento n.º 50, comandado pelo Coronel Walker; o 2.º batalhão do Regimento de infantaria n.º 95, comandado pelo Major Travers; o 5.º batalhão do Regimento n.º 60, comandado pelo Major Davy; o 2.º batalhão do Regimento n.º 43, comandado pelo Major Hill; o 2.º batalhão do Regimento n.º 52, comandado pelo Tenente Coronel Lyon; o Regimento n.º 36, comandado pelo Coronel Burne; o 40.º [Regimento], comandado pelo Coronel Kemmis; o 71.º [Highland], comandado pelo Tenente Coronel Pack; e o 82.º [Regimento], comandado pelo Major Eyre. 
Tendo mencionado o Coronel Burne e o Regimento n.º 36, não posso deixar de acrescentar-vos nesta ocasião que foi notável a conduta regular e ordenada deste corpo durante o seu serviço, bem como a sua valentia e disciplina na acção. 
Devo aproveitar-me desta oportunidade para testemunhar o meu reconhecimento aos Oficiais Generais e do Estado Maior do exército. Fui muito devedor do discernimento e experiência do Major General Spencer, na decisão que tomei em relação ao número de tropas distribuídas para cada ponto de defesa, e dos seus conselhos e assistência durante a acção. Na posição tomada pela brigada do Major General Ferguson e no seu avanço sobre o inimigo mostrou este oficial igual bravura e discernimento, devendo-se também muito louvor ao Brigadeiro General Fane e ao Brigadeiro General Anstruther, pela valente defesa das suas posições em frente ao Vimeiro, e ao Brigadeiro General Nightingale, pela maneira como sustentou o ataque sobre o inimigo feito pelo Major General Ferguson. 
O Tenente Coronel G. Tucker e o Tenente Coronel Bathurst, os oficiais dos departamentos do Ajudante e do Quartel-mestre General, o Tenente Coronel Torrens, e os oficiais do meu Estado Maior prestaram-me a maior assistência durante a acção. 
Tenho a honra de incluir com esta carta uma relação dos mortos, feridos e desaparecidos.
Tenho a honra de ser, etc., etc.

Arthur Wellesley

N.B.: Depois de escrever o texto acima, fui informado que um oficial General francês, supostamente o General Thiébault**, chefe do Estado Maior, foi encontrado morto no campo da batalha.

A. W.

[Fonte: London Gazette Extraordinary, n.º 16177, September 3, 1808, pp. 1188-1189; John Joseph Stockdale (org.), Proceedings on the Enquiry into the Armistice and Convention of Cintra, and into the conduct of the Officers concerned, London, Printed for Stockdale Junior, 1809, p. 12-15; Lieut. Colonel Gurwood (org.), The Dispatches of Field Marshal the Duke of Wellington, K. G. during his various campaigns in India, Denmark, Portugal, Spain, the Low Countries, and France, from 1799 to 1818 – Volume Fourth, London, John Murray, 1835, pp. 93-97. Outras traduções em Correio Braziliense, Setembro de 1808, pp. 302-306; José Accursio das Neves, Historia Geral da Invasão dos Francezes em Portugal, e da Restauração deste Reino - Tomo V, Lisboa, Officina de Simão Thaddeo Ferreira, 1811, pp. 135-145].

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Nota: 


Wellesley tinha a intenção de, na manhã seguinte (ou seja, no próprio dia da batalha, 21 de Agosto), continuar a marcha do seu exército em direcção a Lisboa. Contudo, ao contrário do que o General inglês esperava, os franceses atacaram as posições que o seu exército tinha tomado entre a tarde e a noite anterior, que são aquelas que Wellesley refere nesta primeira parte desta carta.


** Não era o General Thiébault.

Extracto de uma carta do General Junot ao General Travot, Comandante Superior de Lisboa e dos fortes circunvizinhos, sobre a batalha do Vimeiro (21 de Agosto de 1808)



Campo da batalha, 21 de Agosto às 4 horas da tarde


O inimigo foi atacado esta manhã às 9 horas na posição fortificada que ele ocupava; num instante foi desalojado de todas as suas posições avançadas; tivemos desde o princípio um sucesso completo pela nossa esquerda; a nossa direita, que tinha uma grande volta a fazer, não pôde chegar tão depressa que decidisse inteiramente esta acção, que durou até às 2 horas, e que provavelmente acabaremos amanhã. As nossas valorosas tropas atacaram os redutos inimigos com uma coragem e um rancor incrível, não obstante as forças superiores do inimigo. O inimigo perdeu muita gente. Da nossa parte temos tido 150 mortos e 300 para 400 feridos. Às 2 horas tomámos posição, e estamos três léguas mais perto do inimigo, que não estávamos ontem. Nós estamos mais fortificados porque me têm chegado novas tropas assim amanhã.... O inimigo teve muitos Oficiais superiores feridos e mortos; o General em Chefe passa bem, e julga em poucos dias estar em Lisboa.

[Fonte: Gazeta de Lisboa, n.º 31, 24 de Agosto de 1808].

Extracto de uma carta remetida de Óbidos a Coimbra (21 de Agosto de 1808)



O Exército inglês de 17.000 homens marchou para as Caldas no dia 14 do corrente [mês]. Os franceses, apenas souberam da sua proximidade, fugiram precipitadamente desde Aljubarrota até Óbidos, sem haver um só tiro. Na segunda, 15 do corrente, ao entrarem os ingleses em Óbidos, foram acometidos de tarde pelas guardas avançadas dos franceses, os quais todavia fugiram logo para o Exército de Thomiers e Delaborde, postados adiante de Óbidos nos lugares chamados da Roliça e Columbeira, que distam uma légua daquela vila.
Aí se travou no dia 17 a mais renhida batalha, e sem embargo da mais vantajosa posição das alturas dos montes circunvizinhos, os ingleses se apoderaram dos postos; e batendo os franceses com artilharia, os obrigaram a fugir desatinados, sendo perseguidos até à Cruz da Misericórdia, que fica além do lugar da Zambujeira; tendo parte nesta acção gloriosa os Caçadores do Porto, que acompanhavam os Caçadores ingleses pelos altos da montanha embaraçada de mui espessos matos.
Durou o combate desde as 8 horas da manhã até às 5 da tarde; o furor de parte a parte excede todo o encarecimento; mas venceram os nossos e fugiram os franceses, retirando-se para lá de Torres Vedras, ficando Delaborde malferido no pescoço. Dos franceses morreram 1.500, e aparecem 300 deles feridos nos nossos Hospitais.
Na Quinta-feira, 18 do corrente, houve muitas pessoas que encontraram desde Belas até Torres Vedras 64 carros de feridos para os Hospitais de Lisboa, e muitos mortos pelo caminho.
Nos nossos Hospitais das Caldas e Óbidos aparecem 5 portugueses feridos, e viu-se um só morto na Igreja da Roliça, e dos ingleses aparecem nos mesmos Hospitais 360 feridos; e os mortos são de 150 a 200.
No dia 18 marchou o Exército português de Leiria para as Caldas, aonde chegou no dia 19 apresentando um espectáculo brilhantíssimo, e ontem aqui chegou a Óbidos.
Os ingleses adiantaram-se desde a Lourinhã, aonde estavam ontem, unindo-se-lhes mais 7.000, que desembarcaram em Paimogo, para lá de Peniche, e esperam-se mais 14.000.
Os franceses, no dia 19, achavam-se em Pormoniz, que fica nas abas da Serra do Monte, distante daqui três léguas; iam para Torres Vedras, aonde entraram à noite, cometendo pelo caminho muitos roubos e insultos. Nesta primeira acção o número dos franceses montava a 5.000 homens. 
Junot saiu de Lisboa no dia 16 com alguns mil homens ao nosso encontro; proclamando aos habitantes de Lisboa que vinha castigar os rebeldes, armados de paus, acompanhados de alguns ingleses que lhes tinham dado algumas armas, e que voltaria dentro de três dias. Incorporou-se com Loison, Thomiers, etc., em Torres e Serra de Montejunto, ignorando o número dos ingleses, de que somente se desenganaram quando os viram no campo da batalha.
Houve hoje [um] novo combate junto a Torres, donde se ouvia o estampido dos tiros; mas ainda não chegou próprio, que nos informe do sucesso; diz-se que os ingleses cercam em Torres os franceses, e que será a última decisão.
Lisboa ficou sem soldados, e as guardas da cidade são poucas.
Peniche vai ser atacada, e o General francês já despediu ontem desta praça a todos os portugueses que quisessem sair; e têm chegado ao Exército português mais de 60 artilheiros. De Lisboa tem fugido também [um] grande número de guardas da Polícia.
O General Bacelar partiu de Abrantes para Santarém, e daí para Rio Maior, dirigindo-se a unir-se com o Exército português, o que apenas sabido por Loison, que estava nas vizinhanças de Santarém, fugiu precipitadamente para Muge, e daí a incorporar-se com Junot. Os franceses fugiram de Setúbal, deixando encravadas as peças, e deitando ao mar a pólvora e bala.
Loison esteve no dia 17 em Alcoentre, aonde praticou das suas costumadas façanhas militares por que tão conhecido se tem feito no nosso Portugal; e que só têm consistido em roubos e assassínios de povos desarmados, e fugidas vergonhosas de todos os sítios aonde se lhe anuncia alguma resistência ou reforço.
Junot a ninguém paga nas aldeias por onde passa; o Exército português está bem abastecido de tudo, e os ingleses levam quinhentos carros de provisões de toda a espécie, pagando pontualmente tudo, querendo até pagar a mesma água. Que notável contraste!


Carta do General Bernardim Freire de Andrade ao Bispo do Porto (21 de Agosto de 1808)



Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor: 

Agora me participam que ontem à tarde se efectuara um desembarque de mais forças inglesas; se houver de próximo ocasião de entrar em Lisboa, não sei se não se precisaria de algumas instruções. 
Fico muito pronto ao serviço de Vossa Excelência, de quem sou o mais obrigado e respeitoso amigo e criado.

Bernardim Freire d'Andrada [sic].

Óbidos, 21 de Agosto de 1808.

[Fonte: Luís Henrique Pacheco Simões (org.), "Serie chronologica da correspondencia diplomatica militar mais importante do General Bernardim Freire de Andrade, Commandante em Chefe do Exercito Portuguez destinado ao resgate de Lisboa com a Junta Provisional do Governo Supremo estabelecido na cidade do Porto e o Quartel General do Exercito Auxiliar de S. Magestade Britanica em Portugal", in Boletim do Arquivo Histórico Militar - Vol. I, Lisboa, 1930, pp. 153-227, p. 197 (doc. 29)].

Carta do General Bernardim Freire de Andrade ao Bispo do Porto (21 de Agosto de 1808)



Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor: 

Meu Senhor, o que eu tive a honra de anunciar a Vossa Excelência quando saí de Leiria, compôs-se perfeitamente pelo que pertence ao que parecia diferença de opinião. Ontem recebi uma carta do General Wellesley, em que me comunica o que devo fazer daqui em diante. Acho-me em Óbidos por disposição de passar à Lourinhã ou Torres, conforme os movimentos do inimigo, que provavelmente já não procurará mais que retirar-se para as imediações de Lisboa depois das acções que têm havido, todas à vantagem do nosso Exército.
O General inglês está já em Mafra, e os franceses, reunidos em Torres, não têm outro recurso do que passando pela outra estrada vir ainda oferecer alguma oposição às operações em que o General Wellesley prossegue com tanto vigor e energia.
Eu devo seguir a unir-me com este General, logo que o inimigo lhe passe adiante, segundo me disse ontem, mas acho-me sempre embaraçado pelo pão; e isto depois de Vossa Excelência ter dado todas as disposições que podia; mas é particularmente pela falta de estarem as repartições montadas, como devia ser, e pela falta de energia dos empregados.
Suplico instantemente a Vossa Excelência [para que] queira mandar-me com a maior brevidade Sebastião Correia, com os oficiais que entender [que] lhe são precisos para me ajudar nesta parte tão essencial, e sem o qual estamos peados. Aqui temos recebido as remessas dos diferentes ofícios que devemos ao particular cuidado de Vossa Excelência. Supondo que a entrada em Lisboa não se demorará muito, e eu coxo, por assim dizer, por falta de subsistências seguras, o que não sucede aos ingleses, que levam consigo provimentos suficientes de bolacha, rogo a Vossa Excelência ainda uma vez [mais] que me mande Sebastião Correia quanto mais depressa. Creia Vossa Excelência que nada me pode ser mais sensível do que a desordem em que vejo a administração dos víveres e transportes deste Exército; porque quando não se fazem as distribuições a tempo, não se podem fazer com regularidade, e do mesmo modo a respeito dos transportes. Por aqui não tem ocorrido mais novidade de que possa informar a Vossa Excelência, e graças a Deus o Reino não tem padecido senão onde os franceses estavam. 
Tenho a honra de ser o mais obrigado, respeitoso e fiel amigo e criado.

Bernardim Freire d'Andrada [sic].

Óbidos, 21 de Agosto de 1808.

[Fonte: Luís Henrique Pacheco Simões (org.), "Serie chronologica da correspondencia diplomatica militar mais importante do General Bernardim Freire de Andrade, Commandante em Chefe do Exercito Portuguez destinado ao resgate de Lisboa com a Junta Provisional do Governo Supremo estabelecido na cidade do Porto e o Quartel General do Exercito Auxiliar de S. Magestade Britanica em Portugal", in Boletim do Arquivo Histórico Militar - Vol. I, Lisboa, 1930, pp. 153-227, pp. 196-197 (doc. 28)].

Carta do Bispo do Porto ao General Bernardim Freire de Andrade (21 de Agosto de 1808)



Antes de Vossa Excelência partir para o Exército, mal se podiam prevenir os acontecimentos que dependiam de casualidades impensadas. Apenas assentámos em que Vossa Excelência não partiria com o nosso Exército para Lisboa enquanto deixasse franceses ao lado esquerdo. Depois disto Vossa Excelência em todas as ocorrências de contestações de maior consequência tem sempre livre o recurso de que os ingleses nos estão dando repetidos exemplos. Eu não posso deliberar sem consultar o Almirante F. primeiro ou o General F., porque ainda mesmo quando desta Junta nem de mim possa esperar resoluções que satisfaçam, sempre este meio termo lhe pode ser útil para não comprometer nem o Exército de Sua Alteza. Ontem houve uma Junta Militar, em que assistiu Sepúlveda, Parreiras, Leite, um Coronel inglês que partiu ontem mesmo para o Exército, e Mr. Lecor; entre todos se tratou do negócio constante dos ofícios que Vossa Excelência me dirigiu, e da deliberação que Vossa Excelência tomou de não marchar com o Exército inglês, deixando estas províncias abertas e expostas, e foi aprovada por todos como a mais importante para esta nação.
Mas tomando-se em consideração tudo o mais que podia ser conveniente para a nossa defesa, todos desejaram saber as forças actuais do nosso Exército, e eu não tive que responder. Nestes termos, parecendo a Vossa Excelência que será conveniente fazer algumas participações a este respeito (as quais se supõem necessárias), queira ter a bondade de as dirigir a esta Junta do Supremo Governo, porque eu me acho com bastante moléstia de olhos, e por este motivo muito embaraçado para o exercício de ler e escrever. Nesta cidade correm algumas notícias vagas a respeito dos Exércitos, e não faltam cuidados a respeito das pessoas que por lá andam. 
Nosso Senhor dê a Vossa Excelência saúde e forças para o trabalho e o livre de perigos, como lhe peço e muito desejo.
Porto, 21 de Agosto de 1808.
De Vossa Excelência amigo muito venerador e obrigado.

Bispo do Porto

[Fonte: Luís Henrique Pacheco Simões (org.), "Serie chronologica da correspondencia diplomatica militar mais importante do General Bernardim Freire de Andrade, Commandante em Chefe do Exercito Portuguez destinado ao resgate de Lisboa com a Junta Provisional do Governo Supremo estabelecido na cidade do Porto e o Quartel General do Exercito Auxiliar de S. Magestade Britanica em Portugal", in Boletim do Arquivo Histórico Militar - Vol. I, Lisboa, 1930, pp. 153-227, p. 195-196 (doc. 27)].

Quartel de Wellesley no Vimeiro, a 21 e 22 de Agosto de 1808





Carta do General Wellesley a Lord Castlereagh (21 de Agosto de 1808)



Vimeiro, seis da manhã de 21 de Agosto de 1808


Meu caro Senhor:

Sir Harry Burrard irá provavelmente informar Vossa Senhoria sobre as razões que o induziram a chamar o corpo de Sir John Moore para auxiliar o nosso exército, que consiste em 20.000 homens, incluindo o exército português, que se juntou a nós nesta manhã apesar das anteriores determinações contrárias, número este que estou convencido que se opõe a 12.000 ou a 14.000 franceses; e Sir Harry Burrad determinou que o exército permaneça aqui até que chegue o corpo de Sir John. Contudo, facilmente acreditareis que esta determinação não é conforme com a minha opinião, e somente queria que Sir Harry tivesse desembarcado e visto as coisas com os seus próprios olhos, antes de fazer tal determinação.
A brigada do General Acland desembarcou na noite passada.
Os franceses estão em Torres Vedras e à sua volta. O corpo de Junot, que finalmente chegou, é a guarda avançada, e os outros estão na retaguarda, próximo do terreno para onde se retirou Laborde depois da batalha do dia 17.
Acreditai em mim, etc.,

Arthur Wellesley