quinta-feira, 30 de junho de 2011

Carta de Viscount Castlereagh, secretário de Estado da Guerra, com novas instruções para o General Sir Arthur Wellesley (30 de Junho de 1808)



Downing Street, 30 de Junho de 1808


Senhor:

Depois da carta com as minhas instruções anteriores ter sido fechada, receberam-se avisos de Sir Charles Cotton, desde a foz do Tejo. A informação transmitida nestes avisos não requer que eu altere parte alguma daquelas instruções, excepto no que toca a ordenar-vos que, em vez de irdes pessoalmente à Coruña, devereis mandar um oficial de confiança a esse porto, para executar essa parte das vossas instruções, encontrando-vos depois no Cabo Finisterra ou seguindo-vos para o Tejo. Entendereis que é da maior importância que o vosso corpo parta para o Tejo, sem vos separardes dele, o mais rápido possível. A artilharia que eu tinha dado ordens para que estivesse pronta para o dia 1 de Junho, tendo em vista outro serviço, embarcou com seis morteiros adicionais de 10 polegadas, e partirá do rio [Thames] amanhã, dirigindo-se imediatamente para a foz do Tejo. Dois batalhões adicionais, presentemente acantonados nos arredores de Cork (o 36.º e o 14.º, que consistem em 1.200 homens), foram ordenados a embarcar e a juntar-se à vossa força; para cuja recepção, e para evitar a superlotação das tropas já embarcadas, partiram hoje de Downs embarcações de transporte de 3.000 toneladas, com vento favorável; também partiu, de Portsmouth, o 20.º Regimento de Dragões ligeiros. Penso, portanto, que todas as partes do vosso corpo já partiram daqui; e julgo que encontrareis tudo pronto para a acção quando chegardes a Cork. Contudo, se os dois últimos Regimentos ainda não embarcaram, não atrasareis a vossa partida, antes lhes ordenareis para vos seguirem para o Tejo. Foram enviados 30.000 conjuntos de armas* e um número igual de chuços, aos quais dareis uso conforme o serviço público vos possa requerer. Também foi enviado um suprimento de dinheiro para o uso das vossas tropas. Enviareis para a Inglaterra quaisquer requisições de provisões militares que possais receber das províncias que se declararam contra a França, sendo que o desejo mais sincero do Governo de Sua Majestade é consenti-los enquanto as circunstâncias o permitirem. Em relação ao dinheiro, foram dadas ordens para que se enviassem 200.000 libras a Ferrol, para o uso imediato dos patriotas espanhóis, até que se faça algum novo acordo. As suas operações financeiras seriam muito facilitadas se eles pudessem pôr em circulação na Espanha papel-moeda, o qual seria garantido com as finanças sul-americanas; isto, juntamente com uma taxa moderana sobre os impostos, fornecer-lhes-ia recursos imediatos, e, à medida que uma moeda da referida natureza fosse sendo posta em circulação, isto teria o efeito de agregar os soldados à causa nacional. 
Menciono isto para que, em qualquer comunicação que possais ter com as pessoas que detêm a autoridade, lhes façais prestar a devida atenção sobre este assunto
Tenho a honra de ser, etc.

Castlereagh 



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Nota:

Por conjunto de armas (set of arms, no texto original) deve-se entender o armamento básico de um soldado, ou seja, um mosquete e uma baioneta.

Carta de Viscount Castlereagh, secretário de Estado da Guerra, ao General Sir Arthur Wellesley, com instruções para a campanha de Portugal (30 de Junho de 1808)



Downing Street, 30 de Junho de 1808


Senhor:

A ocupação de Espanha e Portugal pelas tropas de França, bem como a completa usurpação dos seus respectivos Governos por parte dessa potência, determinaram que Sua Majestade [Britânica] desse ordens a um corpo das suas tropas […] para se preparar para servir e para ser empregue, debaixo das vossas ordens, contra os desígnios do inimigo, e para fornecer às nações espanhola e portuguesa toda a ajuda possível para se livrarem do jugo da França.
Recebereis inclusos os ofícios dos deputados do principiado das Astúrias e do reino da Galiza ao Governo de Sua Majestade, juntamente com a resposta que Sua Majestade mandou dar aos seus pedidos de assistência.
Também incluo uma relação dos suprimentos que já partiram para o porto de Gijón, para usufruto do povo das Astúrias. 
Os deputados das províncias acima mencionadas não desejam que se empreguem quaisquer corpos de tropas de Sua Majestade naquelas partes da Espanha que representam; antes planeiam que se opere uma poderosa diversão a seu favor, e têm instado sobre a importância dos esforços das tropas britânicas serem dirigidos para expulsar o inimigo de Portugal, podendo assim tornar-se geral nesse reino a insurreição contra a França, tal como na Espanha, considera-se oportuno que a vossa atenção deve ser imediatamente dirigida para esse fim.
Os deputados das províncias acima referidas não desejam o emprego de quaisquer corpos das tropas de Sua Majestade naquelas partes da Espanha que representam; antes têm frisado, prevendo que será uma poderosa diversão a seu favor, que é mais importante que os esforços das tropas britânicas sejam dirigidos para se expulsar o inimigo de Portugal, podendo desta forma tornar-se geral neste reino a insurreição contra os franceses, tal como na Espanha. Desta forma, resolveu-se que seria mais conveniente que a vossa atenção fosse dirigida imediatamente para este objecto.
Como é difícil regressar para o norte, com uma frota de transportes, nesta estação do ano, convém que devereis dirigir quanto antes os corpos sob as vossas ordens para o Cabo Finisterra. Ireis pessoalmente antes deles, numa fragata rápida, para a Coruña, onde tereis os melhores meios para vos instruirdes acerca do actual estado das circunstâncias, tanto da Espanha como de Portugal; e então julgareis se os corpos sob as vossas ordens imediatas, separados ou reforçados pelos corpos do Major General Spencer, poderão ser considerados como uma força suficiente para empreender uma operação contra o Tejo.
Se, a partir da informação que podereis receber, fordes da opinião que este intento não pode ser empreendido sem se esperar por um reforço da Inglaterra, comunicareis confidencialmente ao Governo Provisório da Galiza que os interesses da causa comum tornam necessário que seja dada uma permissão aos vossos corpos para ancorarem a norte do Tejo, até que possam ser sustentados por uma força adicional vinda da Inglaterra; e acordareis com o mesmo Governo uma permissão para vos dirigirdes com as vossas tropas para Vigo, onde se entende que poderiam ficar com tanta segurança como no porto de Ferrol, embora de Vigo seja mais fácil dirigir-vos para o sul do que a partir do último porto.
Se fordes para Vigo, enviareis ordens ao Major General Spencer para reunir-se convosco nesse lugar, no caso de que ele já tivesse chegado à boca do Tejo, em consequência das ordens inclusas; e também transmitireis para a Inglaterra todas aquelas informações que permitam que os ministros de Sua Majestade tomem medidas para sustentar os vossos corpos a partir daqui.
Como é possível que a vossa força seja considerada desigual para a operação, já se ordenou a um corpo adicional de dez mil homens para se preparar para o serviço, o qual, como se espera, poderá estar pronto para agir daqui a cerca de três semanas. Incluo a informação que possuímos em relação à força do inimigo em Portugal; diz-se que uma considerável porção marchou para Almeida, na fronteira nordeste. Conseguireis, sem dúvida alguma, obter informações mais recentes na Coruña, com o auxílio do Tenente Coronel Browne, ao qual foram dadas ordens para se dirigir para o Porto e encontrar-se convosco no Cabo Finisterra, com a informação que possa adquirir.
Um oficial de engenheiros familiarizado com as defesas do Tejo também foi enviado para a boca deste rio, para fazer observações e preparar informações para a vossa consideração, em relação à execução do ataque proposto no Tejo. Ordenar-se-lhe-á para que também vos transmita, para o Cabo Finisterra, o resultado das suas averiguações, permanecendo ele no Tejo até à vossa chegada. 
Estais autorizado para garantir da forma mais clara ao povo espanhol e português que Sua Majestade, ao enviar uma força em seu auxílio, não tem outro objectivo em vista senão fornecer-lhes o suporte mais ilimitado e desinteressado; e noutras disposições que possais ser chamados a fazer com ambas as nações, em prossecução da causa comum, agireis com a máxima liberalidade e confiança, e sempre sobre o princípio de que os esforços de Sua Majestade devem ser dirigidos para ajudar o povo de Espanha e Portugal a restaurar e manter, contra a França, a independência e integridade das suas respectivas monarquias.
Perante a rápida sucessão dos eventos que se espera que ocorram, tal como a Espanha e Portugal agora se encontram, muito ficará ao vosso julgamento e à vossa decisão no próprio local. 
Sua Majestade está graciosamente satisfeita em vos confidenciar a máxima discrição para agirdes conforme as circunstâncias, em benefício do seu serviço, e que podeis estar seguro que as vossas medidas serão favoravelmente interpretadas e receberão o suporte mais cordial.
Facilitareis, tanto quanto for possível, as comunicações entre as respectivas províncias e as colónias da Espanha, e reconciliareis, com os vossos ofícios adequados, qualquer divergência que possa ocorrer entre eles na execução da causa comum. 
Se alguma divisão séria de sentimentos ocorrer, em relação à natureza do Governo Provisório que está agindo durante o presente interregnum, ou em relação ao Príncipe [D. Fernando] em cujo nome a autoridade legal se considera investida pelo cativeiro ou abdicação de certos ramos da família real, evitareis, tanto quanto for possível, tomar alguma parte nessas discussões, sem a autoridade expressa do vosso Governo.
No entanto, fareis ver às pessoas que detêm a autoridade que, de acordo com a alegação eficaz da sua independência, elas não poderão reconhecer no Rei [D. Carlos IV] ou no Príncipe das Astúrias [D. Fernando], ao presente, qualquer autoridade que seja, ou considerar algum acto feito por eles como sendo válido, até que os mesmos regressem ao país e se tornem agentes completamente livres. Pois estes nunca poderão ser considerados livres enquanto estiverem permanentemente sujeitos às tropas francesas em Espanha ou Portugal.
A evacuação inteira e completa da Península pelas tropas francesas é, depois do que se passou nos últimos tempos, a única garantia para a independência da Espanha, bem como a única base sobre a qual a nação espanhola pode triunfar ou abandonar as suas armas. 
Tenho a honra de ser, etc.

Castlereagh

[Fonte: Lieut. Colonel Gurwood (org.), The Dispatches of Field Marshal the Duke of Wellington, K. G. during his various campaigns in India, Denmark, Portugal, Spain, the Low Countries, and France, from 1799 to 1818 – Volume Fourth, London, John Murray, 1835, pp. 8-10. Existe uma outra tradução portuguesa publicada por José Accursio das Neves, Historia Geral da Invasão dos Francezes em Portugal, e da Restauração deste Reino - Tomo V, Lisboa, Officina de Simão Thaddeo Ferreira, 1811, pp. 21-28]. 

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Nota: Já depois de encerrar esta carta, Castlereagh recebeu novas informações da barra do Tejo, onde se encontrava Charles Cotton, facto que motivou que nesse mesmo dia escrevesse uma segunda carta a Wellesley.



Extracto duma carta do Juiz da Alfândega de Faro ao Príncipe Regente (30 de Junho de 1808)



Depois de expor o amor e saudade que os vassalos portugueses têm pelo seu Príncipe, e as indignas violências sofridas pelo povo debaixo da opressão francesa, passa a descrever a Restauração do Algarve do modo seguinte.
No dia 16 de Junho, ao ler-se em Olhão um Decreto de Junot, o valeroso Ex-Governador José Lopes de Sousa o arranca, pisa-o aos pés, e virando-se para o povo exclama: “Já não há portugueses!”. Este brado é ouvido dos pobres pescadores daquela terra, pedem-lhe que os comande, assim o faz, e os franceses são obrigados a fugir, desamparando todos os postos que ocupavam. O General francês residente nesta Cidade manda uma coluna de tropas para castigar um tão grande patriotismo, esta é rechaçada, e retira-se sem efeito. A 19 do corrente, pelas 3 da tarde, é investido em Faro o General francês; sua guarda obrigada a entregar as armas, as munições, casa, General e Oficiais, que até pelos rapazes são levados à prisão. Os franceses que guarneciam as terras deste Reino do Algarve são por toda a parte afugentados, e a coluna que fora rechaçada em Olhão, sendo recebida na volta a esta cidade de Faro por uma descarga de metralha, é constrangida a fugir. Enfim, Senhor, o nosso território, até aqui usurpado, está livre de franceses; e este oferecemos agora a Vossa Alteza Real com as nossas vindas, e fazendas. Por toda a parte deste Reino soa: “Viva o nosso amado Príncipe”; “Viva a Casa de Bragança”. Eu e toda a corporação desta Alfândega o temos mil vezes repetido, e com o mais profundo respeito desejamos receber já as ordens do nosso Príncipe, e rogamos a Deus [que] conserve a saúde a Vossa Alteza e a toda a Família Real, etc., etc.
Faro, 30 de Junho de 1808.

Manuel Carlos de Andrade

[Fonte: Gazeta do Rio de Janeiro, n.º 5, 28 de Setembro de 1808].

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Observação: Desta carta só se conhece o "extracto" acima transcrito, tal como foi publicado no número citado da Gazeta do Rio de Janeiro. O primeiro parágrafo parece-nos apócrifo, e talvez tenha sido introduzido apenas para resumir o que o autor escrevera antes.

Carta da Câmara de Faro ao Príncipe Regente (30 de Junho de 1808)



Representação ou carta enviada pela Câmara desta cidade de Faro ao Rio de Janeiro a Sua Alteza Real o Príncipe Regente Nosso Senhor




Senhor:

A Câmara da cidade de Faro, Reino do Algarve, prostrada aos Reais pés de Vossa Alteza Real, humildemente representa que, tendo o Povo da mesma cidade e termo, bem como o mais de Povo de todo o Reino observado e religiosamente cumprido tudo quanto por Vossa Alteza Real foi ordenado ao tempo em que a forçosa retirada de Vossa Alteza Real deste Reino nos deixou submergidos num imenso mar de lágrimas, [a] respeito da entrada das tropas francesas neste mesmo Reino, se mostrou na pronta obediência ser, como com efeito é, um Povo leal e fiel; carácter com que tanto se enobrece a Nação portuguesa.
Não querendo pois transgredir o Real Preceito, se sujeitou a sofrer o cruel Governo da Nação francesa, que entrando neste Reino com a inaudita perfídia de nos vir auxiliar contra Inglaterra, nossa íntima aliada, logo se desmascarou, declarando pertencer-lhe este Reino, não por outro título se não o da força e o da mais escandalosa rapina.
Entrou a legislar e a impor horrorosas contribuições; e tantos foram os chefes das tropas francesas que entraram neste Reino, quanto os salteadores que, espalhando-se pelas povoações, só procuraram engrossar a sua rapina e reduzir à miséria e extrema necessidade todo o Povo, bem como o desta cidade e de todo este Reino do Algarve; e tanto que nem as Igrejas, nem a nossa Santa Religião escaparam à mais horrenda profanação e sacrílego atentado.
A tudo isto se sujeitou este Povo pelo fiel respeito devido ao Real Preceito de Vossa Alteza Real; porém, vendo que esse Usurpador do Universo se arrojava a haver por extinta em Portugal a Real Casa de Bragança, e a querer dar-lhe um Rei de Nação estranha, logo entrou a inflamar-se e projectar nos providentes meios de ser segunda vez restaurado este Reino de Portugal.
Ateando-se com efeito este Santo incêndio nos corações fiéis dos honrados portugueses, lançou-se mão do intento; e no dia dezasseis deste mês de Junho se rebelou o Povo do lugar de Olhão, termo desta dita cidade; o mesmo praticou esta cidade no dia dezanove deste dito mês; e todas as mais cidades e vilas, por efeito de
cartas que esta Câmara lhes dirigiu, seguiram logo tão honrável exemplo. Foi novamente proclamada a Rainha Nossa Senhora e Vossa Alteza Real, como Príncipe Regente, por Nosso Legítimo Soberano; foi novamente levantada a Real bandeira; descobertas as suas invencíveis Armas, que eles tinham mandado extinguir; cantando o Te Deum na Sé desta cidade; e em três noites sucessivas foi a mesma iluminada.
O Povo, Senhor, acha-se inflamado, protestando[=declarando], com vozes puras de verdadeiros fiéis e honrados portugueses, defender este Reino e os Sagrados Direitos da Sua Real Coroa, até todos derramarem a última pinga de sangue; firmes na esperança de que o Grande Deus dos Exércitos há de com efeito proteger as Armas portuguesas e cumprir a promessa feita ao Invicto, Memorável e Augusto Rei o Senhor D. Afonso Henriques. Tem-se pedido e conseguido algumas armas da Praça de Gibraltar e de Sevilha, para com elas extinguirmos os franceses que ainda existem neste Reino, e para depois nos defendermos do Comum Inimigo, visto termos sido por ele desarmados; sistema este que o Reino todo de boa vontade abraça, bem como o tem feito este Reino do Algarve.
Porém, Augusto Senhor, só resta a este Reino do Algarve o dinheiro essencialmente necessário para munições de boca e pagamento dos que gloriosamente vão expor as suas vidas pela defesa da Pátria e da Religião. Esta Câmara, em nome de todo este fiel Povo, não pode nem deve recorrer a outrem senão a Vossa Alteza Real, como seu Pai e seu Soberano. Digne-se portanto Vossa Alteza Real ouvir a nossa súplica, que sendo fundada em justíssima causa, pois respeita a Deus e a Vossa Alteza Real, parece ser merecedora da sua Real e Paternal atenção.
Deus guarde a Vossa Alteza Real.
Faro, em Câmara, trinta de Junho de mil oitocentos e oito.

Manuel Herculano de Freitas Azevedo Falcão, Presidente.

João Veloso Manuel Pessanha Cabral
Domingos da Costa Dias e Barros
Ventura da Cruz
João Manuel de Faria Freire
Guilherme José Pergana
[sic]
 
Amaro de Santa Teresa
Manuel da Costa

6 Soldados Portugueses afugentam, aprisionam e ferem 20 Heróis de Marengo e de Austerlitz (gravura de autoria de Constantino Frias)





Esta gravura representa um confronto entre seis soldados portugueses e um grupo de soldados de cavalaria franceses (embora se vejam também três soldados de linha com o uniforme francês) que supostamente ocorreu nos arredores de Leiria, no dia 30 de Junho de 1808, de acordo com o relato de Vitorino de Barros Carvalhais intitulado Relação da marcha e do sucesso da expedição do Destacamento que de Coimbra se dirigiu a Pombal e Leiria, nomeadamente o seguinte excerto:

Perto de Leiria mandámos dois camaradas nossos a descobrir campo. Imediatamente foram cercados pelo inimigo e atacados, mas estes dois bravos portugueses dispararam suas pistolas e fizeram recuar vinte e dois franceses. Informados por eles, e temendo [que] nos escapasse a presa, deixámos as Ordenanças de Pombal, que nos seguiam, e partimos a todo o galope para Leiria. Estavam os franceses postados em linha na ponte desta cidade com ânimo de resistir. Nós os vemos, voamos a eles, e tudo foge. Metemos à estrada real em seu seguimento, mas os cavalos cansam[-se] e não podem avançar. Seis camaradas somente puderam seguir vinte franceses fugitivos; seus nomes devem passar à mais remota idade: José Joaquim de Sá, João Pedro Correia, Gonçalo Velêz Zuzarte, Joaquim Monge, Manuel José Soares da Cunha Paixão, Caetano Rodrigues de Macedo afugentam com terror vinte soldados velhos e aguerridos. Seis moços sem experiência fazem tremer vinte heróis de Marengo e de Jena! Quatro Dragões franceses de Cavalaria foram aprisionados. Um, por irmos já quatro somente, foi desarmado e dando sua palavra de honra de não arredar pé, não a cumpriu, escapando-se. Não é de admirar em tais soldados um tal procedimento!
Dos quatro camaradas, dois se demoraram com um francês que resistia; e dois partiram até os Carvalhos, perseguindo o resto. Estes dois bravos homens devem ser imortais na História. Seus nomes são José Joaquim de Sá e João Pedro Correia. O primeiro, arrebentando o seu cavalo nas alturas da Batalha, correu animosamente a pé com a espada numa mão, e a pistola na outra, em seguimento do inimigo; o segundo encarou só com três inimigos, dos quais feriu perigosamente um Gens d'armes [sic]. Os resultados deste brilhante combate foram quatro prisioneiros, cinco cavalos, três doentes que se achavam no Hospital, e quatro feridos, que ainda puderam fugir. Da nossa parte não houve o mais pequeno perigo.

[Fonte: Minerva Lusitana, Coimbra, n.º 11, 26 de Julho de 1808]


Uma Carta Americana sobre os conselhos de Lagarde, as precauções de Junot, e os começos da revolução em Espanha e Portugal



Plácido a Venâncio



Junho de 1808


Apesar da lembrança de ajuntar em Bayonne uma Deputação Geral de Espanha, composta de 150 pessoas escolhidas do Clero, Nobreza e Povo, para se proporem todos os males que o precedente sistema ocasionou, e as reformas e remédios mais convenientes para destruí-los  (1); apesar da proclamação em que Bonaparte promete, além de felicidades infinitas, dar a Coroa de Espanha a outro ele mesmo (2), consta que a fermentação cresce nas províncias, onde se formam Juntas para representarem o Soberano, enquanto durar o impedimento do legítimo ou [enquanto] não se der mais idónea providência. 
Lagarde, a quem podemos chamar imortal, porque a memória dos seus crimes será eterna, e que serve em Portugal de Intendente, Missionário, Gazeteiro e Inquisidor, continua na louca pretensão de nos iludir, asseverando que os bons espanhóis suspiram pelo Rei prometido [D. Fernando VII]; que os esforços dos maus serão inúteis contra a estrela invencível de Napoleão; que as Juntas não passam de Clubs ou associações populares, que serão tão fatais à Espanha, como foram à França na Revolução; que desobedecer ao Imperador seu Rei é crime tão contrário às Leis da Monarquia, como às da Religião; e que, não sendo Conquistador, mas Legislador, somente se escora na sua missão evidentemente celeste (3). Dos portugueses afirma que, à excepção dalguns agentes do inimigo, é inteiramente bom o espírito público; que Portugal parece um país francês; e que até são bem poucas as povoações do Reino onde não se encontram agora Bibliotecas com livros próprios para ilustrar os espíritos e homens que mostram havê-los lido bem (4). Quanto é grande o influxo da Sabedoria Francesa! Entraram os bons hóspedes em Novembro, e já temos copioso números de doutos! Que rápidos progressos não faremos com tão bons princípios? Somente a força do tempo e de desvelos constantes se tem conseguido difundir num povo o amor das ciências; mas os filósofos da Revolução dao a obra acabada em menos de seis meses. 
O nosso Governador também não se descuida, e prevendo que provavelmente seguiremos o exemplo dos vizinhos, tentou engodar as tropas portuguesas dando-lhes o mesmo soldo que as suas recebem em França (5). E porque sente quão perigoso seria para os bons habitantes da cidade perturbar-se o sossego público, e deseja que as nossas pessoas e os nossos bens tenham nova garantia, ordenou que os nacionais e estrangeiros entregassem no Arsenal as armas que tivessem, cominando aos transgressores a pena de prisão, e de multas reguladas segundo as posses dos deliquentes  (6)
Parece, contudo, que as precauções são baldadas, e que os povos querem medir-se com exércitos franceses, apesar de serem os mais formidáveis e os mais aguerridos da Europa. Nada menos se infere dos delírios de que fala Junot (7) e do procedimento do General espanhol Belestá no Porto, censurado acerbamente na Proclamação e Ordem do dia 11 deste mês. Belestá é, no parecer de Junot, um infame e vil, porque abusando da confiança que tinham nele os Oficiais franceses residentes no Porto, os prendeu imprevistamente; e Bonaparte é grande e justo enganando um Monarca com repetidas protestações de aliança e sincera amizade para o despojar dos seus Estados. Segundo a filosofia dos reformadores do mundo, considera-se primeiro que tudo na avaliação das acções humanas, se eram franceses os que as praticaram; pois gozando desta singular prerrogativa, são virtudes os maiores crimes, se indivíduos de outra raça lhe sentem os efeitos; mas se não lhes coube em sorte tão ilustre dita, são muitas vezes delitos horrorosos o cuidado da própria conservação e a defesa natural. Guiados por estes santos princípios, aboliram entre nós o Governo que aprovávamos, introduziram outro em que não consentimos, roubaram-nos por mil maneiras diferentes, deram-nos na contribuição um meio de chegarmos a forros, sem termos sido escravos; e querem, sob pena de castigar a nossa cegueira, que adoremos o modelo de rectidão e magnanimidade, que tantos bens derrama sobre nós. 
Eu, meu Venâncio, nunca dobrarei o joelho ao ídolo dos franceses degenerados, nunca prostituirei a minha pena em vis adulações; mas como em várias Gazetas deste mês (8) nos advertem que serão punidos com inflexível rigor os que falarem ou escreverem verdades, ponho termo à nossa correspondência, pois vale mais sofrer calado as vexações e trabalhos, do que ser sacrificado por inconsideração. 

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Notas: 



2. Gazeta do [dia] 7 [do] dito [mês]. Na de 3 nos avisou o Intendente que o primeiro benefício de que ia gozar a Espanha era ter estradas novas e canais: mas não lhe invejámos a fortuna, lembrados da brevidade com que Junot tinha aviado obras semelhantes, prometidas no 1.º de Fevereiro.

3. Gazetas de 7 e 10 de Junho de 1808.



6. Decreto de 24 de Junho de 1808, onde se alegam como razões da Ordem as duas que o Autor aponta.

7. Na bem conhecida Proclamação de 26, que principia: Que delírio é o vosso?

8. Nas [Gazetas de Lisboa] de 34 e 22 últimos. 



[Fonte: “Carta L”, in Cartas Americanas. Publicadas por Theodoro José Biancardi [1.ª ed., 1809], Lisboa, Impressão de Alcobia, 1820, pp. 171-175. Inserimos os itálicos e notas originais do autor].


Edital da Junta do Porto ordenando à Casa dos Vinte e Quatro para eleger um Juiz do Povo (30 de Junho de 1808)



terça-feira, 28 de junho de 2011

Relação da marcha e do sucesso da expedição do Destacamento que de Coimbra se dirigiu a Pombal e Leiria (de 28 de Junho a 6 de Julho de 1808)



Itinerário da expedição do Destacamento de Voluntários de Coimbra 



Julgando-se conveniente fazer aprisionar as Brigadas francesas que se achavam em Pombal e Leiria, e fazer ali aclamar o nome do nosso Augusto Príncipe, se expediu para esse fim o nosso Destacamento composto de um Furriel e 15 companheiros Estudantes e soldados de Cavalo, o qual saindo de Coimbra no dia 28 de Junho, entrou às 7 horas em Condeixa, onde fomos recebidos pelo Povo com todos os aplausos e demonstrações de alegria e do maior valor, repicando os sinos, pondo à noite luminárias e lançando foguetes ao ar. Entre todos se distinguiu muito o Padre Regente do Hospício de S. António, pegando logo em armas, e acompanhando-nos a algumas diligências de que íamos incumbidos pelo nosso Excelentíssimo Governador
No dia 29 de manhã continuámos a nossa marcha, cujos incómodos e fadigas eram suavizados com a briosa e agradável lembrança de sermos os primeiros a aclamar em todas as terras, por onde passávamos, o nome do nosso amado Príncipe; e chegando à Ega, aí foram despedaçados alguns editais do Governo intruso, descobertas as Armas Portuguesas entre vivas do Povo, e dadas ordens para o seu governo e segurança ao Capitão das Ordenanças desta vila, Manuel Moniz de Gouveia Rangel, honrado e fiel Patriota. No mesmo dia entrámos em Soure, e esta vila nos encheu da maior satisfação pela sua fidelidade. Nós conhecemos então que a memória dos Príncipes justos, como o nosso, não se extingue jamais, e que ele por isso, ainda que ausente, reinava nos corações de todos os bons portugueses. Músicas, descargas de mosquetaria e contínuos vivas inflamaram extraordinariamente nossos corações. Lágrimas de prazer banharam nossas faces, e as de todo aquele fiel e honrado povo, ouvindo a exortação que o zelo pelo bem da Pátria inspirou e fez publicamente sem meditação alguma pronunciar na praça daquela vila ao M. R. P. M. [Muito Reverendo Padre Mestre] Frei José de Santa Marta, Religioso de S. Francisco, o qual desde Coimbra nos havia acompanhado, e depois nos seguiu sempre. Ela é:

VALOROSOS PORTUGUESES 

Quis finalmente a Providência libertar-nos do mais áspero e infame cativeiro. A Pátria dos Fenelons e dos Racines, inteiramente desfigurada, tem lançado o terror e o estrago em toda a Europa. Vítimas da sua perfídia, nós gememos há longo tempo, curvados debaixo do peso enorme do mais violento Despotismo. Abusando dos nomes os mais sagrados, dos Direitos mais caros ao nosso coração, sem natureza, sem humanidade, estes Godos do século décimo nono têm vindo proteger-nos, saqueando os nossos templos, profanando as nossas casas, atacando a nossa propriedade e a nossa independência. Nos dias de seu furor, o Inferno não tem jamais vomitado monstros iguais a estes monstros. Porém, graças aos Céus! já podemos respirar. Um Astro benigno parte do Norte, ponto da sua Aurora, para espalhar em todo o Portugal seu clarão brilhante. Coragem, bravos compatriotas. Nós temos à vista os filhos da Pátria, os verdadeiros heróis, encarregados de defender nossos mais prezados interesses. Marchemos a seu lado, Ah! Deus o manda, corramos a vingar a Pátria ofendida. A causa é da Religião, do Estado, do Género Humano. Caia em pedaços pelo nosso valor esse Colosso formidável que esmaga a liberdade de todos os Povos da terra. Vencer ou morrer seja a nossa divisa. Viva o Príncipe Regente Nosso Senhor. Vivam a Pátria, a Liberdade, a Honra. Viva o bravo Corpo Académico. Vivam os Leais Habitantes de Soure.

Nesta ocasião manifestaram o maior interesse pela causa comum o Dr. Juiz de Fora e o Juiz do Povo, assim como todos os outros moradores da dita vila; muitos dos quais nos acompanharam a Leiria e Nazaré.
Partindo quase à noite para Pombal com o desígnio de atacarmos as Brigadas francesas de Condeixa e Pombal, as quais se dizia [que] estavam ali reunidas, nós tivemos a mágoa de não ver ainda realizados nossos vivos desejos, pois que aquela vil tropa de insolentes espiões se pôs em fugida logo que chegámos àquela terra, onde depois de termos novamente aclamado o nosso Augusto Príncipe, descobrimos as suas Reais Armas e restabelecemos o Governo Português. Marchámos depois a cumprir as ordens do nosso Excelentíssimo Governador, pondo em cautela e segurança os pérfidos e vis partidistas franceses, que tanto ofuscam a glória da Nação Portuguesa, cujo nome desmerecem pelo enormíssimo crime de traidores à Pátria: monstros! Seduzidos por um falso e sórdido interesse, eles sacrificam à mais horrível tirania a sua Religião, o seu Príncipe e os seus Concidadãos. Por impedimento da autoridade legítima e vontade do Povo, nós entregámos o Governo Civil ao Vereador mais velho, o Dr. Luís António, e o [Governo] Militar ao Capitão de Milícias de Leiria, Francisco Peregrino de Meneses, para que guarnecesse a vila, examinasse os passageiros e prendesse os suspeitos. Cantou-se com toda a solenidade pelo Clero Secular e Regular o Te Deum em acção de graças pelo grande benefício de termos sacudido o jugo dos Usurpadores, que tanto nos oprimia; e no meio de tantos cuidados não esqueceu mandarmos espiar a estrada por onde devíamos marchar, procurando sempre ter notícias do inimigo; e sabendo que ele estava em Leiria, partimos a procurá-lo.
Perto de Leiria mandámos dois camaradas nossos a descobrir campo. Imediatamente foram cercados pelo inimigo e atacados, mas estes dois bravos portugueses dispararam suas pistolas e fizeram recuar vinte e dois franceses. Informados por eles, e temendo [que] nos escapasse a presa, deixámos as Ordenanças de Pombal, que nos seguiam, e partimos a todo o galope para Leiria. Estavam os franceses postados em linha na ponte desta cidade com ânimo de resistir. Nós os vemos, voamos a eles, e tudo foge. Metemos à estrada real em seu seguimento, mas os cavalos cansam[-se] e não podem avançar. Seis camaradas somente puderam seguir vinte franceses fugitivos; seus nomes devem passar à mais remota idade: José Joaquim de Sá, João Pedro Correia, Gonçalo Velêz Zuzarte, Joaquim Monge, Manuel José Soares da Cunha Paixão, Caetano Rodrigues de Macedo afugentam com terror vinte soldados velhos e aguerridos. Seis moços sem experiência fazem tremer vinte heróis de Marengo e de Jena! Quatro Dragões franceses de Cavalaria foram aprisionados. Um, por irmos já quatro somente, foi desarmado e dando sua palavra de honra de não arredar pé, não a cumpriu, escapando-se. Não é de admirar em tais soldados um tal procedimento!
Dos quatro camaradas, dois se demoraram com um francês que resistia; e dois partiram até os Carvalhos, perseguindo o resto. Estes dois bravos homens devem ser imortais na História. Seus nomes são José Joaquim de Sá e João Pedro Correia. O primeiro, arrebentando o seu cavalo nas alturas da Batalha, correu animosamente a pé com a espada numa mão, e a pistola na outra, em seguimento do inimigo; o segundo encarou só com três inimigos, dos quais feriu perigosamente um Gens d'armes [sic]. Os resultados deste brilhante combate foram quatro prisioneiros, cinco cavalos, três doentes que se achavam no Hospital, e quatro feridos, que ainda puderam fugir. Da nossa parte não houve o mais pequeno perigo.
Voltámos para Leiria recebendo os maiores aplausos de todo aquele Povo, que tinha sido testemunha da nossa coragem, e dirigindo-nos à praça, onde se achavam já postados os nossos camaradas e a Ordenança de Pombal, aí com o maior gosto pela vitória e risco que corremos, tivemos a honra e a satisfação de aclamar o nosso Príncipe; e partindo à Casa da Câmara um dos camaradas Gonçalo Veléz Zuzarte a buscar o Estandarte Real, a Bandeira Portuguesa foi arvorada em todas as ruas da cidade, manifestando-se em toda ela um regozijo universal.
No dia seguinte falámos a Sua Excelência Reverendíssima, e lhe rogámos [que] quisesse aceitar o Governo Civil da cidade  o que ele por justas razões recusou, oferecendo-se como leal português para tudo, excepto para mandar. Consultámos também a vontade do Povo para a eleição do Governador militar, e unanimemente elegeram a Miguel Luís de Ataíde e Silva, o qual, vendo a absoluta falta que havia de pólvora e bala, e que mesmo os paisanos estavam mal armados, partiu para Coimbra a pedir socorro e alcançar inteligências[=informações].
Enquanto esperávamos novas ordens, chegou um ofício levado pelo Juiz do Povo de Tomar, para que lhe prestássemos o pequeno auxílio que estava em nosso poder. Tratando de pôr esta ordem em execução, o Juiz dos Povos da Pederneira e Nazaré nos veio representar a urgente necessidade que havia de os socorrer; que aqueles povos já tinham sofrido um saque de víveres, que os franceses levaram para o Forte; que actualmente andavam já em combate com eles, porque queriam prender os principais daquelas terras, e levá-los para o Forte, onde seriam os primeiros que morressem, se eles franceses tivessem algum perigo. Estas apertadas circunstâncias juntas às vozes do povo de Leiria, que nos instava a dar o socorro pedido, nos determinaram a marchar pelas 2 da tarde, levando connosco 60 homens da Ordenança de Leiria ou Pombal, e outros tantos de Pataias, e às 9 da noite chegámos a Nazaré. No Forte deste nome, no de S. Gião e S. Martinho, que ficam vizinhos, havia 150 soldados franceses, e era além disso muito fácil chegar socorro do corpo aquartelado em Peniche. Tantas dificuldades não bastaram a enfrear o nosso ardente espírito. Fizemos a 80 passos de distância um reduto de areia e faxina, de altura de um homem, e por cima lhe pusemos algum mato, que nos encobrisse da pontaria do inimigo, e aí assentámos as nossas quinze espingardas. O reduto ficava muito superior ao Forte, e como os franceses tinham posto a sua artilharia sobre o terraço, era preciso descobrirem-se para lhe darem fogo, o que não podiam fazer sem grande risco, e morte quase certa. E por isso se serviam do estratagema de porem as barretinas sobre paus, para ver se se nos acabaria a pólvora, o que certamente sucederia, a não ser o seguinte.
Nestas circunstâncias nos chega a notícia de terem os franceses do Forte de S. Gião fugido vergonhosamente, sem verem de quê, desamparando-o e deixando a artilharia encravada. Corremos ao Forte com o intento de desencravar as peças, o que conseguimos, tão mal encravadas estavam! E um rapaz que assistira à sua fugida nos certificou que tinham enterrado dois barris de pólvora, muita bala e metralha; e procedendo a desenterrar este tesouro, achámos tudo verdadeiro.
Levámos duas peças, e assentámos uma em lugar vantajoso, sem que fossemos percebidos pelo inimigo. Começamos a fazer fogo com o intento de arrasar o Forte, o que o povo nos pedia com muita instância, para que os franceses não se tornassem lá a estabelecer. Então nos veio a notícia de ter chegado a Olidos (vila que só dista 4 léguas) o General Thomiers com parte da guarnição de Peniche. O povo se intimidou, mas nós não soçobrámos; cortámos as duas pontes por onde o inimigo havia de passar, e assestamos uma peça de 18 carregada de metralha na direcção da estrada. Entretanto, o dito General perguntou ao Juiz de Fora de Óbidos que força seria a do corpo inimigo, e dizendo-lhe este que o ignorava, mas que se dizia ser um Exército composto de portugueses e espanhóis, e que traziam artilharia; esta última asserção se achou confirmada porque o mesmo Thomiers ouviu os tiros que disparávamos  não foi preciso mais para ele fugir para Peniche, temendo ser cortado, e tivemos notícia verídica de ter mandado apear a artilharia e embarcar a pólvora. Talvez seus receios se realizassem, e que o fossemos atacar, se os inimigos vindos de Lisboa não tivessem ocupado Leiria por traição, segundo se afirma, de pessoas da mesma cidade. Até se diz que mandaram o plano da nossa marcha, número e intentos, para que pudéssemos ser presos e remetidos para Lisboa. Porém, uma favorável estrela nos acompanhava, e tínhamos de fazer aquela conquista.
Verificada a marcha retrógrada do inimigo, apertámos o cerco do Forte, e temendo que ele nos fugisse de noite, dispusemos sentinelas de 20 em 20 passos, dando vozes para se vigiar toda a noite; mandámos fazer diferentes fogos pelo campo, e o piquete andou a correr pelos outeiros de um para outro lado, para fingirmos ordens de um Corpo principal. Na madrugada os inimigos intentaram sair, fazendo um ataque de baioneta calada (como ao depois afirmaram); mas como nós o esperávamos e tínhamos dado as providências para o repelir, recolheram-se com mais pressa do que saíram. Ao amanhecer disparam dois tiros de peça, a que nós respondemos com outros dois; o primeiro tiro nosso levou a porta do Forte; o segundo, entrando pela mesma porta, derribou a abóbada da casa onde dormia o Comandante Miron; continuou o fogo, até que das onze para o meio-dia nos fizeram sinal para que o parássemos, e que descesse lá alguém. Mandámos um homem que foi conduzido com um lenço nos olhos para dentro do Forte, e levado à presença do Governador; este lhe perguntou de que nação éramos, e por ordem de quem combatíamos; respondemos que éramos portugueses e que combatíamos por ordem de Sua Alteza Real o Príncipe Nosso Senhor. E como víssemos que pretendia ganhar tempo com frívolas negociações, intimámos à guarnição que, a não se entregar logo, a passaríamos à espada; a que o dito Miron respondeu que fizessem os portugueses o que quisessem, que ele faria igualmente o que lhe parecesse. Continuámos o fogo, mas logo depois arrearam a bandeira, ficando prisioneiros de guerra, e custou-nos muito a livrá-los, principalmente ao Governador, das iras do povo, ao qual ele tinha tratado com suma insolência. Durante o certo tínhamos morto cinco franceses.
Inventariámos o que havia no Forte, e deixámos ao povo coisa de 100 armas e o cartuchame, porque as pedia, e com razão, em altas vozes, para estarem em defesa contra o insulto, ao menos de algum Destacamento inimigo. Determinámos que a artilharia e dois mil e tantos arráteis de pólvora se pusessem em caminho para fortificar Leiria.
Depois nos reunimos aos nossos camaradas, e com 50 prisioneiros marchámos para Leiria na tarde do dia 5 de Julho, por ignorarmos que nesse mesmo dia tinham os franceses entrado naquela cidade. Porém, pelo caminho fomos ouvindo rumores vagos a este respeito, até que em Pataias achámos o facto mais verificado; mandámos dois camaradas fazer de tudo um rigoroso exame, e este na distância de légua e meia de Leiria nos aclararam toda a verdade. Então um militar de Pombal, prático naquelas estradas, nos fez marchar em direitura à Marinha[-Grande]; porém, universalmente se asseverava que estávamos cortados e que o inimigo nos procurava. Chegando à Marinha, achámos tudo fechado, e a muito custo um homem, vendo que falávamos português, nos disse que já alguns franceses tinham passado adiante. Vendo-nos em tanto risco, separámo-nos, e fizemos marchar os prisioneiros para a praia do mar, com 20 Ordenanças, e a maior parte da Cavalaria se meteu ao Pinhal Real, onde em partes o mato nos impedia os passos; os prisioneiros, para mais desembaraço da marcha, vinham soltos. Tantos incómodos foram bem compensados por chegarmos à Figueira [da Foz] sãos e salvos, com todos os prisioneiros e a bandeira inimiga  depois de marcharmos treze léguas por toda a noite, sem descansar.
Nós omitimos muitas pequenas circunstâncias, que tornavam sumamente extensa esta relação; mas não podemos deixar de admirar a grande intrepidez e presença de espírito destes Voluntários no meio de tantos riscos, sempre renascente. Os valorosos guerreiros do Forte de S. Gião fizeram uma fugida tão fora de propósito, que a todos causa espanto, e nos deixaram artilharia e muitas munições de guerra, sem as quais era impossível continuar o cerco. A fugida de Thomiers, que trazia 300 homens, é ainda mais extraordinária. A nossa boa retirada, enfim, não pode ser devida senão ao susto do inimigo, que se fiou em vozes vagas da nossa suposta força, e não teve ânimo para nos mandar reconhecer. A mesma acção da Figueira mostra grande cobardia da parte dos franceses, porque cem homens muito bem providos de pólvora e bala, ainda não usando da artilharia, se saíssem do Forte e atacassem os nossos 30 Voluntários, e um pouco de povo mal armado, tornariam pelo menos muito incerta a vitória. Porém nada fizeram; deixaram-se ficar e entregaram-se como cordeiros.

Assinado: o Comandante Vitorino de Barros Carvalhais.


Plano de Operações Defensivas em Portugal, segundo Charles Vincent, Coronel de Engenheiros do Exército francês em Portugal (28 de Junho de 1808)



Lisboa, 28 de Junho de 1808.



Uma esquadra inimiga ameaça o porto e a cidade de Lisboa. Independentemente dos seus meios e das boas informações que dispõe, pelas quais obterá vantagens momentâneas, ela pode agir com a confiança que lhe deve inspirar a certeza de ser poderosamente secundada pelos socorros que não deixarão de multiplicar-se no meio da fermentação das ideias que os homens exaltados e corrompidos pelo ouro do inimigo disseminarão com o objectivo de levar o povo a todo tipo de excessos.
Deve-se assim pensar que a cidade e o porto de Lisboa podem ser atacados ao mesmo tempo por mar e por terra; pode-se mesmo adiantar que o momento do ataque não tardará muito, se dermos crédito às diferentes notícias dos postos mais afastados ocupados pelo exército [francês], notícias essas que, contudo, raramente inspiram muita confiança. 
Perante este estado de circunstâncias, é urgente considerarmos quais são os ataques que mais se devem recear, bem como os meios pelos quais se podem repelir.
Considerar-se-á como ataques por mar apenas aqueles que se poderiam tentar investindo sobre o porto [de Lisboa] ou sobre aquela parte da costa que está compreendida entre Peniche e Setúbal; qualquer outra tentativa operada através de um desembarque será considerada na hipótese dos ataques por terra, os quais serão observados depois de se terem considerado os ataques por mar.
Suponhamos assim que o inimigo, informado acerca dos movimentos e dos desenvolvimentos de um ataque por terra, tenciona fazer uma diversão a favor de tal ataque, aproveitando-se do vento do momento, que provavelmente será de nordeste, para passar a estreita entrada [do Tejo], protegida de perto pelo forte de S. Julião, com o objectivo de arribar ao porto [de Lisboa]. Somente se pode esperar, num caso semelhante, que o forte de S. Julião trave a esquadra disparando à queima-roupa; devem alvejá-la apenas aquelas peças de artilharia que poderão estar bem servidas com carcaças, enquanto que todos os outros canhões devem ter como principal objectivo cortar as manobras das embarcações; as baterias altas do forte devem esforçar-se para danificarem e travarem os navios. A verdadeira vantagem que se obteria seria desacelerar o movimento dos navios, forçando-os talvez a afastarem-se, e como eles devem aproveitar o vento para entrar, não é de modo algum improvável que alguma embarcação poderia encalhar nos baixios a norte da passagem, o que seria a maior vantagem que podemos esperar.
É muito pouco provável que os atacantes ancorem diante do porto [de Lisboa], para aí tentarem o desembarque; se porém o ousarem, o General Travot, a quem está confiada a defesa da costa, obterá rapidamente assistência para repelir esta empresa, que não é nada provável, devido ao estado de armamento da margem norte [do Tejo].
Ainda assim, podemos pensar que o inimigo tentará passar as defesas de Belém e da Torre Velha [de Belém], as quais devem, portanto, ser tão reforçadas quanto possível, e isto sem demora; não há dúvidas que, no estado actual das circunstâncias, o inimigo encontrará dificuldades; mas é sobretudo da parte das embarcações russas que ele deve provar uma resistência imponente; a linha de navios, sustentada na direita pela bateria de Belém [=bateria do Bom Sucesso] e na sua esquerda pelo Arsenal da Marinha, posicionando-se o mais perto possível da margem norte do Tejo, apresentará a linha de defesa mais temível que se possa imaginar. Para auxiliar esta mesma linha, devem estabelecer-se baterias de morteiros, o mais rápido possível, no baluarte de Alcântara e na bateria de S. João de Deus; devido à sua localização, estes dois pontos podem receber peças de artilharia que não seriam tão úteis noutros sítios, pois supondo-se que o inimigo passa as nossas defesas e consegue ancorar no porto, gostava de poder manter o fogo multiplicado dos navios de guerra em linha e das baterias de morteiros de Alcântara, de S. João de Deus e do Arsenal da Marinha. Consequentemente, estas baterias de morteiros devem ser estabelecidas sem demora.
Não se devem detalhar aqui cada um dos movimentos e meios de defesa que devem ser utilizados no caso de que o inimigo desembarque tanto a sul como a norte do Tejo, entre Setúbal e Peniche; a defesa dessa parte da costa está confiada aos oficiais que conhecem profundamente o teatro das operações militares que deverão então ocorrer, sendo que as vantagens locais dão grande probabilidade de sucesso [aos franceses].


Linha defensiva do norte do Tejo, segundo o presente relatório do Coronel Vicent

Os marcadores azuis assinalam, da esquerda para a direita: o forte de S. Julião da Barra, a bateria do Bom Sucesso, a torre de Belém, o baluarte de Alcântara (hoje desaparecido), a bateria de S. João de Deus (igualmente desaparecida), e o Arsenal Naval. A linha a azul indica a zona onde se recomendava que se dispusesse a esquadra russa, possivelmente combinada (apesar do Coronel Vicent não o referir) com 2 navios portugueses, o Princesa da Beira (incapaz de navegar e armado como bateria flutuante) e o Vasco da Gama (reparado desde meados de Março de 1808), e talvez ainda algumas fragatas portuguesas (no máximo 5). As linhas a amarelo marcam os limites aproximados dos escolhos e baixios (segundo um mapa de 1811), que tornavam a entrada do Tejo bastante perigosa, sobretudo em maré baixa. Indicámos finalmente com o marcador a amarelo o forte do Bugio, no qual não se encontrava nenhuma guarnição francesa (devido à sua posição demasiado exposta).




Depois desta visão global sobre os meios de resistência a um inimigo que tente forçar o porto com a ajuda da sua esquadra, iremos agora tomar em consideração os ataques por terra, que aparentemente são os que mais devem ser receados pelo porto e cidade de Lisboa.
Suponhamos (ainda que não seja nada provável) que multidões de insurgentes [algarvios] sem controlo, sem qualquer chefe com talento, sem meios de subsistência, e muito provavelmente sem unissonância, ousam penetrar no Alentejo, deixando para trás delas uma praça como Elvas (que nunca deve ter menos de 3.000 homens), para vir passar o Tejo diante dum corpo do exército [francês] que se poderia alcançar uns 6.000 homens. Não hesitamos nada em pensar que podemos passar para o outro lado do Tejo, para tomarmos como primeira linha de defesa o curso do Sor, a partir de Salvaterra, e subindo-o até Soverigno[sic], a partir donde a linha apoiar-se-ia sobre o rio; contudo, se a ponte sobre o Tejo não puder ser construída, e se a tranquilidade de Lisboa não permitir que daqui parta um grande destacamento, ficaremos com uma posição muito mais concentrada e muito mais forte na margem norte do rio. O centro desta posição será na confluência do Zêzere com o Tejo, estendendo-se pela sua direita até Lisboa; e se parecer que esta direita não pode ser forçada, os maiores meios do exército serão desenvolvidos sobre Tomar, Ourém e Leiria, onde provavelmente um oficial instruído encontrará posições defensivas excelentes, na própria geografia do terreno; admitindo no entanto que a esquerda pode ser forçada, o exército retirar-se-á então para entre Santarém e Peniche, onde o terreno, estudado e reconhecido previamente, proporcionará provavelmente meios potentes para repelir o ataque. 
Não longe dali também se encontra a boa posição de Alenquer e Torres Vedras, a partir donde a direita estender-se-ia até ao Tejo, e a esquerda até ao mar.
Chegando finalmente àquele desagradável estado de circunstâncias no qual o exército se visse reduzido à necessidade de abandonar a posição de Alenquer e Torres Vedras, a sua retirada somente pode ser para Lisboa. [Neste caso], o exército teria ainda antes da cidade uma boa posição, com a direita apoiada na ribeira de Sacavém, e a esquerda nas elevações de Belas. Esta posição, que em pouco tempo pode estar disposta em estado de defesa, impedirá que o inimigo consiga circundá-la ou que recorra a alguma diversão, obrigando-o forçosamente a investir com a sua força principal, operação esta bastante delicada, com escassas probabilidades de sucesso para as tropas verosimilmente pouco aguerridas que tentassem tal ataque.
Dado que os meios de defesa que acabámos de considerar deixam o Alentejo à disposição do inimigo, devemos sensatamente recear que ele dará ordens às suas tropas e artilharia para irem ocupar as colinas de Almada, donde poderá fazer infinitos danos à cidade [de Lisboa] e aos navios; é portanto indispensável que se impeça este perigo, assegurando uma boa posição para proteger Almada e garantir a sua boa defesa.
Supondo-se que fica bem estabelecida a primeira linha acima mencionada, cuja direita se estende da foz do Zêzere até Lisboa, será pouco provável que o inimigo consiga passar para a margem norte do rio por esta parte do seu curso; talvez tente passá-lo acima da boca do Zêzere, mas seremos informados disso, e, movendo-nos ao longo da margem norte desse rio, podemos disputar a sua passagem pelo menos até Pedrogão, elevação considerável, na qual podemos tentar impedir que o inimigo se reúna com os corpos que poderão vir da Beira Alta, do Porto e de Coimbra; contudo, supondo-se que se efectua esta junção, a defesa seria precisamente a mesma que antes abordámos, e não se esperariam novas combinações de defesa.
A força de dois ou três mil homens que supomos estar entre Leiria e Mafra poderá facilmente concertar as suas operações com os seis mil homens encarregados da defesa da margem norte do Tejo e da linha de Tomar a Leiria; estas forças serão provavelmente suficientes para enfrentar as aproximações à capital, enquanto que as tropas deixadas no interior estarão ocupadas no importante dever de manter a tranquilidade.
Contudo, com o objectivo de compreender todas as hipóteses mais ou menos verosímeis e as mais funestas para o exército [francês] – um dever que devemos impor, mesmo que o raciocínio se recuse a submeter-se – suponhamos que o exército é forçado a evacuar Lisboa. A divisão de Travot aproximaria-se para Belém, preservando as colinas da Memória e das Necessidades, para ajudar a garantir a tranquilidade na cidade. Todos os tipos de depósitos do exército serão removidos para a margem norte do rio, onde não possam ser atacados. Sacavém será o ponto de reunião, e o exército, caso se veja forçado a retirar, começará a fazê-lo a partir deste ponto, passando por Santarém até Tomar, a partir donde passará o Zêzere em Vila de Rei, continuando então a subir até Belmonte, Guarda e Almeida, passando por Sertã, Monte Gordo e Atalaia.



Itinerário da retirada do exército francês pela Estremadura e Beira


Não prevemos obstáculo algum susceptível de poder inquietar o exército na sua retirada, que poderá ser feita em peso até Tomar; mas uma vez chegando a este ponto de reunião, ou até mesmo antes, o exército poderá dividir-se em muitas colunas, para alcançarem o seu destino pela Beira Alta. 
Ao alcançar Almeida, o exército conservará provavelmente forças suficientes para atravessar a Espanha, ou o que ainda é mais provável, para efectuar a sua reunião com os corpos de tropas que estiverem mais perto.
Supomos que a retirada que se deve fazer pela província da Beira e até Almeida é a única retirada possível, se o rio [Tejo] cair no poder do inimigo; mas é muito mais provável que, em caso contrário, a retirada seja encaminhada por Elvas. 


Itinerário da retirada do exército francês através da "melhor estrada de Portugal".



A passagem do rio, tal como foi prevista antes, não apresentará provavelmente dificuldades algumas, estando reunido um grande número de barcos na ribeira de Sacavém e ocupando o exército a extensão da margem norte [do Tejo]; as tropas entrincheiradas em Almeida retirar-se-ão para proteger o desembarque na margem esquerda; e o exército poderá fazer a retirada pela melhor estrada de Portugal, o que dá toda a esperança que será realizada na melhor ordem, vantagem esta temos todo o direito de esperar que nunca ambicionaremos.

O Coronel de Engenheiros,
Vincent.

[Fonte: "Colonel Vicent's Report upon the Defence of Portugal", in Supplementary Despatches and Memoranda of Field Marshal Arthur, Duke of Wellington, K.G. - Vol. VI, London, John Murray, 1860, pp. 145-148 (texto original francês); uma tradução em inglês, deturpada nalguns trechos, tinha sido previamente publicada com o título de "Translation of the Plan of Defensive Operations for the French Army in Portugal", in Correspondence, Despaches, and other papers, of Viscount Castlereagh – Vol. VI, London, William Shoberl Publisher, 1851, pp. 376-381. Existe uma outra cópia do original francês, in Luís Henrique Pacheco Simões (org.), "Serie chronologica da correspondencia diplomatica militar mais importante do General Bernardim Freire de Andrade, Commandante em Chefe do Exercito Portuguez destinado ao resgate de Lisboa com a Junta Provisional do Governo Supremo estabelecido na cidade do Porto e o Quartel General do Exercito Auxiliar de S. Magestade Britanica em Portugal", in Boletim do Arquivo Histórico Militar - Vol. I, Lisboa, 1930, pp. 153-227, pp. 74-77 (doc. 117)].