sábado, 4 de junho de 2011

Notícias publicadas na Gazeta de Lisboa (4 de Junho de 1808)




Lisboa, 4 de Junho. 


O Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Duque de Abrantes, General em Chefe do Exército, tem sem estranheza vindo no conhecimento das fábulas que alguns malévolos que não lhe são desconhecidos espalham clandestinamente de alguns dias a esta parte. Sua Excelência sabe que debalde procuram alterar a profunda seguridade que se logra, assim em Lisboa como nas províncias. 
O que tem estranhado é que um pequeno número de pessoas bem intencionadas, mas crédulas, pareça dar algum crédito a tais imposturas, em vez de descansar naquele que, pondo este país a coberto de todo o perigo, faz consistir a sua glória em justificar a confiança de Sua Majestade o Imperador e Rei, bem como a dos habitantes de Portugal! 
É tempo que os que têm empreendido o tráfico de fazer circular boatos de revoltas e desembarques, que imaginam diariamente, ponham termo a estas traças, considerando que sobre eles se vigia; e que à compaixão que merecem pode suceder em breve uma justa severidade. Chegaram a dar Cádis por tomada e incendiada pelos ingleses, sendo que vários negociantes leram ontem na Praça cartas de Cádis de 28 e 29 de Maio, que diziam que tudo ficava em sossego naquela cidade, onde não havia medo alguns dos ingleses, os quais, segundo o seu costume, se conservam fora do alcance da artilharia dos fortes e do porto, e estão bem longe de pensar em ir arrostar-se com a Divisão do General Dupont, que já não ficava mui distante. 
As exagerações que correm a respeito de supostas turbulências em algumas outras partes da Espanha saem da mesma fábrica, e sem dúvida têm tanta validade como a tomada de Cádis! 

Vão-se já fazendo preparos para dar à Procissão do Corpo de Deus o mesmo esplendor e solenidade que sempre teve em Lisboa. As ruas por onde ela há de passar e as casas que as guarnecem se deverão tapisar e armar, segundo o costume. 

Anunciam as cartas de Bayonne que o Imperador e Rei ficava ali ainda, ao tempo da partida dos últimos correios; mas que se julgava que, enquanto se celebrassem naquela cidade as Cortes de Espanha, talvez fosse Sua Majestade visitar alguns dos departamentos meridionais da França, onde se espera a sua presença como o maior dos benefícios. 

A Memória que contém os votos de Portugal a respeito da sua situação futura e da nova Dinastia que pede, se coordenou, e recebeu a assinatura dos principais membros do Clero, da Nobreza, da Magistratura e dos diferentes Corpos do Estado. Deve já estar a caminho para Bayonne, a fim de ser apresentada a Sua Majestade o Imperador e Rei.

[Fonte: 2.º Supplemento à Gazeta de Lisboa, n.º 22, 4 de Junho de 1808].


Aviso sobre a desobstrução da Praça do Comércio em Lisboa (4 de Junho de 1808)




Aviso ao Público

Querendo o Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Duque de Abrantes, General em Chefe do Exército, restituir à cidade de Lisboa a fruição de uma das mais belas praças da Europa, ordenou que a Praça do Comércio se desembaraçasse das barracas de pão e dos entulhos que desagradavelmente a obstruem; e Sua Excelência me incumbiu de fazer executar esta disposição o mais depressa que possível seja. 
Conseguintemente, aqueles que desejarem empreender por arrematação esta demolição, e comprar os materiais, que consistem em madeira e telha, em todo ou em parte, devem ir logo dar os seus lanços por escrito à Secretaria Geral da Intendência da Polícia do Reino. 
As condições essenciais da arrematação são: 
1.º Demolir as ditas barracas, e levar daí os materiais no espaço de um mês, ao mais tardar. 
2.º Quando as barracas estiverem demolidas, aplanar e igualar a parte da praça onde estiverem, de sorte que fique como o resto dela; sem que se trate de calçá-la. 
Os lanços para este fim se receberão desde hoje, 4 de Junho, até Sábado próximo. 
O Conselheiro do Governo, Intendente Geral da Polícia do Reino, 

P. Lagarde 

[Fonte: 2.º Suplemento à Gazeta de Lisboa, n.º 22, 4 de Junho de 1808].