sábado, 20 de agosto de 2011

Desembarque da brigada Ackland na praia do Porto Novo, a 20 de Agosto de 1808



Fonte: Fotografia de Silvestre, via picasaweb

Pormenor de um painel de azulejos alusivo ao desembarque da brigada Ackland na praia do Porto Novo, a oeste da aldeia do Vimeiro, no dia 20 de Agosto de 1808.

Ordem geral do Exército francês de Portugal (20 de Agosto de 1808)



Torres Vedras, 20 de Agosto de 1808



Exército de Portugal


Ordem Geral do Exército


Sua Alteza o Duque de Abrantes ordenou a organização seguinte do exército volante.




                    Primeira Divisão

                    Delaborde, General de divisão;
                    Brenier, General de brigada;
                    Thomieres, General de brigada.

                    O segundo regimento de infantaria ligeira, o 7.º de infantaria de linha, os granadeiros e atiradores suíços, 6 peças de artilharia



                    Segunda Divisão

                    Loison, General de divisão; 
                    Solignac, General de brigada;
                    Charcot, General de brigada.

                    Os regimentos n.º 12 e n.º 19 de infantaria ligeira; o 52.º, o 58.º e o 82.º de infantaria de linha; sete peças de artilharia.



                    Cavalaria

                    O General de brigada Margaron, e duas peças de artilharia.



                    Reserva

                    Kellermann, General de divisão.

                    Os regimentos n.º 1 e n.º 2 de granadeiros; oito peças de artilharia.




O General comandante da segunda divisão ordenou que se fornecesse, aos corpos debaixo das suas ordens, sessenta cartuchos por homem, e proibiu que não seguissem o exército quaisquer cavalos, mulas ou espécie alguma de equipamento para além do que está permitido pelas ordenanças. 


O General Chefe do Estado-Maior,
Thiebault


Carta do General Wellesley ao Capitão Bligh do navio Alfred (20 de Agosto de 1808)



Vimeiro, 20 de Agosto de 1808, onze e meia da manhã.


Meu caro Senhor:

Fiquei muito agradecido pela vossa carta de ontem. Acabei de vir da Maceira [=praia do Porto Novo], onde espero que desembarcareis o pão, munições, etc., e as selas. Parece ser um bom lugar para o desembarque, tem uma boa estrada, e não é muito longe daqui; mas se achardes que aquele lugar é inconveniente, planearei comunicar com outro qualquer lugar em que possais fazer o desembarque.
Tenciono marchar amanhã para Mafra; ficaria contente se estiverdes na costa da Ericeira amanhã à tarde. Planeio comunicar convosco amanhã ou no dia seguinte, e anunciar o próximo lugar de encontro.
Não receio quaisquer acidentes; mas devo manter os transportes por alguns dias, em caso que ocorra algum. Eles também podem ser úteis para voltearem qualquer posição que o inimigo possa tomar nas vizinhanças do cabo da Roca. 
Acreditai em mi, etc., 

Arthur Wellesley

P.S.: Se o General Acland se reunir a vós, mantende-o convosco, e rogai-lhe que mo faça saber imediatamente.


Carta do General Wellesley ao Secretário de Estado da Guerra, Lord Castlereagh (20 de Agosto de 1808)



Quartel-General do Vimeiro, 20 de Agosto de 1808.


Meu caro Senhor:

Anstruther está na praia, e espero-o no campo a qualquer momento; e deverei estar perto de Mafra amanhã. O inimigo tem as suas guardas avançadas diante de Torres Vedras, e o corpo principal do seu exército está reunido na retaguarda daquela vila. Fui informado que eles têm consigo tudo o que Portugal pôde fornecer.
O Coronel Brown, que está encarregado de vos levar as minhas cartas*, não teve oportunidade de embarcar antes de hoje. Tencionava enviá-las através do meu Ajudante de Campo, o Capitão Campbell, de forma a que pudesse receber a promoção que habitualmente é dada nestas ocasiões; mas espero que terei outra ocasião, e melhor, para enviá-lo para casa; e, se não o fizer, espero que ele não perca a sua promoção porque não o envio na presente ocasião.
Sempre, meu caro Senhor, o vosso mais sincero,

Arthur Wellesley



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Nota: 

Uma destas cartas era o importante ofício de 17 de Agosto, sobre a batalha da Roliça, que tinha sido impossível enviar antes. 
Como se vê nesta carta, Wellesley tinha pensado inicialmente em enviar para a Inglaterra o Capitão Campbell, enquanto portador dos seus ofícios, mudando depois de opinião e decidindo enviar o Coronel Brown, seu secretário militar. No entanto, como a remessa desta carta (e das outras) foi tardada até depois da batalha do Vimeiro, o próprio Campbell foi quem acabou por regressar, no dia 22 de Agosto, tendo apresentado-se imediatamente no gabinete de Castlereagh, ao chegar a Londres, no dia 1 de Setembro.

Carta do General Arthur Wellesley ao General Bernardim Freire de Andrade (20 de Agosto de 1808)



Vimeiro, 20 de Agosto de 1808, ao meio-dia.


Meu General: 

Acabo de receber a vossa carta de ontem*. O inimigo continua em Torres Vedras; e não creio que podereis ali chegar sem atacardes os seus postos.
Fareis melhor em irdes para a Lourinhã esta tarde; e em seguirdes a marcha do Exército inglês amanhã de manhã. É provável que o inimigo siga a minha marcha, e que o fará pela estrada real, enquanto eu avançarei pela estrada de Mafra. Se ele assim o fizer, fareis melhor em esperar até que ele me tenha um pouco avançado. 
Tenho a honra de ser vosso muito obediente e servidor,

Arthur Wellesley

[Fonte: Luís Henrique Pacheco Simões (org.), "Serie chronologica da correspondencia diplomatica militar mais importante do General Bernardim Freire de Andrade, Commandante em Chefe do Exercito Portuguez destinado ao resgate de Lisboa com a Junta Provisional do Governo Supremo estabelecido na cidade do Porto e o Quartel General do Exercito Auxiliar de S. Magestade Britanica em Portugal", in Boletim do Arquivo Histórico Militar - Vol. I, Lisboa, 1930, pp. 153-227, p. 195 (doc. 26)].
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Nota: 

* A aludida carta não se encontra publicada.

A aldeia do Vimeiro vista do norte, perto da estrada que conduz à Lourinhã





Aviso sobre a chegada ao Rio de Janeiro das primeiras notícias sobre a guerra da Espanha contra Napoleão (20 de Agosto de 1808)



Aviso ao Público



Rio de Janeiro, 20 de Agosto de 1808


As interessantes ocupações da Imprensa Régia* não permitem satisfazer os justos desejos do público, pondo-o ao corrente, com toda a individuação, das plausíveis notícias vindas na fragata inglesa que entrou ontem neste porto, procedente do de Gilbraltar, segundo as quais consta que em Cádis, depois de um forte combate das baterias e fortalezas, ficou prisioneira a esquadra francesa com perda de mais de mil homens, entre os quais pereceram muitos oficiais; que o General Murat encontra-se em apuros nos curtos limites do sítio do Buen Retiro, fora dos muros de Madrid; que armadas todas as províncias de Espanha e animadas de um singular patriotismo, têm na maior consternação os franceses que se encontram em distintos lugares dela, como se descobriu pela interceptação de uma correspondência dos Generais franceses em que mutuamente se pediam auxílio; que o nosso muito fiel aliado o Rei da Grã-Bretanha socorreu a Espanha com todo o género de recursos, tendo transportado as tropas que se achavam nas ilhas de Mahón [Menorca] e Maiorca ao porto de Sevilha, deixando-as ao comando do General Castaños, e enviado o seu General Spencer com o seu respectivo Exército, que já tinha desembarcado em Ayamonte para agir de unânime consentimento com os espanhóis contra o perturbador do género humano, visto que a Suprema Junta de Sevilha declarou guerra em nome do Rei e de toda a nação espanhola, por mar e por terra, contra Napoleão I e contra a França toda, durante o tempo que esta permanecer sob o seu jugo tirânico. 


A Suprema Junta Geral de Sevilha e os chefes de Sua Majestade Britânica existentes diante de Cádis acordaram um armistício e trégua com os fiéis vassalos de Sua Majestade Católica, com a esperança firme e segura de concluí-la com uma paz estável e duradoura.

[Fonte: Arquivo Histórico Militar, 1.ª div., 14.ª sec., cx 6, doc. 31].

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Nota: 

Aquando da partida da família real portuguesa para o Rio de Janeiro, o Ministro e Secretário de Estado D. António de Araújo e Azevedo (futuro conde da Barca) mandou embarcar no navio Medusa uma tipografia que tinha sido comprada na Inglaterra por cem mil libras esterlinas, para uso da Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, a qual não se tinha chegado a montar em Lisboa devido a ter chegado pouco antes da entrada de Junot em Portugal. Assim sendo, a dita tipografia foi embarcada, ainda empacotada, para o Brasil, onde viria a servir para estabelecer a Impressão Régia (do Rio de Janeiro), fundada por decreto de 13 de Maio de 1808 (não confundir com a original Impressão Régia, a de Lisboa, fundada por alvará de 24 de Dezembro de 1768, que continuou as suas actividades mesmo depois do Príncipe Regente ter abandonado Portugal, tendo apenas passado a nomear-se Impressão Imperial e Real durante o período que Junot governou Portugal). É certo que já tinha existido pelo menos uma tipografia no Brasil (a de António Isidoro da Fonseca), mas a duração da sua actividade tinha sido bastante efémera, devido a problemas com os censores de Lisboa. A impressa instala-se assim definitivamente no Brasil com a transferência da Corte para o Rio de Janeiro, mais precisamente através do decreto acima referido, datando a sua primeira obra publicada do mesmo dia em que foi criada: Relação dos Despachos publicados na Corte pelo expediente da Secretaria de Estado dos Negocios Estrangeiros, e da Guerra no faustissimo dia dos annos de S. A. R. o Principe Regente N. S. e de todos os mais, que se tem expedido pela mesma Secretaria desde a feliz chegada de S. A. R. aos Estados do Brazil até o dito dia
Empenhada nos primeiros tempos em publicar sobretudo documentos oficiais (dos quais a John Carter Brown Library da Brown University apresenta um importante espólio, nomeado The Código Brasiliense), entre os quais se contavam cartas régias (como a de 28 de Janeiro de 1808), manifestos (como o de 1 de Maio), decretos (como o de 10 de Junho), alvarás ou avisos, a Impressão Régia não devia ter mãos para medir no momento em que o aviso acima transcrito foi composto. De facto, não só ainda deviam estar nos seus prelos a "justa reclamação" e os manifestos (e respectivas traduções em castelhano) de D. Carlota Joaquina e de D. Pedro Carlos de Bourbon e Bragança, legítimos pretendentes do trono de Espanha (motivados pela chegada ao Brasil das primeiras notícias sobre a forçada abdicação da família real espanhola e o seu suposto aprisionamento na França); como também deviam estar a ultimar-se os tipos para impressão da Memoria Historica da Invasão dos Francezes em Portugal no anno de 1807 (que como já referimos foi composta pelo bispo do Rio de Janeiro, que conseguiu fugir de Portugal no início de Março de 1808), dumas Observações sobre o Commercio Franco do Brazil (escritas pelo economista José da Silva Lisboa), e ainda da própria Gazeta do Rio de Janeiro, em cujo primeiro número, de 10 de Setembro, se anunciava estarem ainda no prelo as duas obras anteriores. 

No manuscrito original do aviso acima transcrito, escrito em castelhano, acrescentou-se a seguinte nota, em português: “Para ser traduzido em português, depois copiado e afixado no Paço, Alfândega e nos outros lugares públicos”. Por sua vez, o segundo parágrafo acima transcrito, assente numa folha diversa da que em que se encontra o aviso, é acompanhado da seguinte nota: “Deve agregar-se ao aviso público o seguinte”. Assim o fazemos, ignorando contudo se, pelas razões expostas, este aviso chegou realmente a ser publicado pela Impressão Régia. Não obstante, é certo que grande parte das informações acima transcritas foram dadas à estampa numa notícia datada de 10 de Setembro de 1808, publicada no primeiro número da Gazeta do Rio de Janeiro.

Carta de Lord Castlereagh, Secretário de Estado da Guerra, ao General Dalrymple (20 de Agosto de 1808)





Stanmore Park, 20 de Agosto de 1808.



Senhor:

Como creio que não falta muito para que a vossa força tenha cumprido o objectivo para o qual foi inicialmente destinada, estou ansioso para ser informado sobre quais são as vossas opiniões em relação às operações posteriores.
Uma vez restaurado Portugal, os nossos objectivos parecem ser dois: em primeiro lugar, ajudar os espanhóis a expulsar o inimigo; em segundo lugar, ao fazê-lo, alvejar, se possível, a destruição ou a captura da totalidade ou de parte do exército francês.
Os meios que dispomos para pôr isto em prática são os 30.000 homens reunidos em Portugal, e os 10.000 homens que estão agora prontos para embarcar aqui (para além de 16.000 homens na Sicília, dos quais talvez possam ser dispensados 10.000). Nesta estimativa apenas falo da infantaria. Os nossos meios para fornecer cavalaria são limitados, principalmente devido à forma de transportá-los. 
Quando chegarem aqui os navios-transportes de cavalos que receberam ordens para regressar [da costa portuguesa], juntamente com os que já cá estão, estaremos habilitados para enviar quatro regimentos completos, para além da artilharia e dos cavalos do Estado-Maior agregado aos 10.000 homens que partem agora; e quando regressarem pela segunda vez os mesmos transportes, enviar-se-ão mais suprimentos de cavalaria.
Dirigindo a vossa atenção aos pontos que parecem necessitar maior investigação, suponho que podemos abandonar, presentemente, toda a linha de costa desde o Tejo até à fronteira francesa do Roussillon. Parece que o inimigo não sustenta outra posição no sul da Espanha a não ser Barcelona; e apesar de se poder considerar que esta praça, próxima da França pelos Pirenéus Orientais, é de grande importância militar, ainda assim é comparativamente de muito menor importância que a entrada pelos Pirenéus Ocidentais, pela qual o exército francês irá certamente receber os seus reforços principais. Para além disto, é uma região inconvenientemente remota para nela agir uma força britânica, longe de todos os seus recursos; e se a nossa força, apesar de grande, não conseguir estar dispersa em diversos objectivos sem perder muito do seu efeito de comando, é preferível que, se houver oportunidade, esteja num campo de não menor importância perto da Inglaterra, deixando a força da Sicília a agir segundo as circunstâncias, para incomodar o inimigo, quer na costa de Itália quer na Espanha, dentro do Mediterrâneo.
Se, então, a nossa força for ordenada a agir no lado de Portugal ou no norte da Espanha, estareis disposto a recomendar (tendo observado a posição, força, e aplicação provável do exército do inimigo) que cada e qualquer parte da força agora debaixo das vossas ordens seja equipada e avance em direcção à fronteira de Portugal, quer com o fim de ser empregue no interior da Espanha, em cooperação com os exércitos da Espanha contra o inimigo defronte, quer agindo como um corpo de observação, debaixo da aprovação com a qual o exército português possa ser reunido e preparado para a defesa do seu país, no caso dos franceses tentarem penetrar novamente na fronteira de Portugal?
Supondo que o exército francês não avançou para além de Segóvia e Burgos, não seria um movimento vindo de Lisboa, com o fim de agir ofensivamente contra tal exército, observado com muita inconveniência, devido à distância da vossa linha de comunicações, e à distância a que se afastaria o exército dos seus suprimentos e da Inglaterra? É a ajuda da força britânica requerida a opor-se à frente do exército francês? E, se sim, qual é a vossa opinião sobre a quantidade que ela deveria ter, observando os meios de a mover e de a prover com suprimentos? Ou considerais que os espanhóis podem ter meios e disposição de empregá-la em operações combinadas, para efectivamente opor-se defronte do inimigo? Neste cálculo, tereis em conta naturalmente os exércitos de Valencia, Múrcia, Andaluzia, Extremadura e Galiza. Não incluo o das Astúrias, que parece mais naturalmente destinado (e não empregue defensivamente) a levar a cabo as suas incursões pela parte oriental, para incomodar o flanco e a retaguarda do inimigo. Podemos esperar alguma ajuda de Castela e Leão, pois os franceses retiraram-se das suas respectivas capitais. 
Se a força nativa da Espanha se puder sustentar contra o inimigo pela frente, poderia uma força britânica operar a partir das províncias do norte com igual efeito, se não maior, e com melhores comunicações com a sua frota, do que entrando pelo lado de Portugal? Se sim, a que número ascenderia a composição do exército que seria empregada? E entraríeis por Gijón ou por Santander, assumindo que a Coruña, apesar de ser o melhor retiro, é demasiado afastada para ser um ponto conveniente donde se parta?
Estaria um corpo britânico de 20.000 homens, com uma parte proporcional de cavalaria, e apoiado por recrutas espanhóis, demasiado exposto, na vossa opinião, nas Astúrias, ou no principado [sic] de Santander, tendo em consideração a natureza defensiva da região? E, se o exército inimigo for ocupado na fronte pelo exército principal da Espanha, reunido nas províncias anteriormente referidas, seria conveniente que os corpos britânicas agissem ofensivamente, não avançando muito pela grande estrada de Oviedo a Leão, ou pela estrada de Santander a Burgos?
Supondo que o estado das circunstâncias em Portugal admite que, ademais dos 20.000 homens que acima se supuseram que seriam empregues no norte, parta ao mesmo tempo de Portugal um destacamento de 10.000 homens, sois da opinião de que seria prudente, com 30.000 tropas britânicas, tomarmos uma posição em Santander ou a oeste desta cidade, tendo em vista agir, em conjunção com a força da região, contra a linha de comunicações francesa, e também contra o flanco e retaguarda do seu exército, enquanto somos pressionados pela frente, como anteriormente se supôs? Poderia uma força tão considerável, levada a agir em tal direcção, tornar impraticável que [o exército francês] avançasse mais na Espanha, até que fosse subjugado? Estais induzido a pensar que os franceses têm actualmente na Espanha, ou que terão em breve, uma tal quantidade de força reunida naquela parte que lhes permita defender-se contra um tal ataque?
Se se sentirem obrigados a retirar-se para a França, é provável que possam salvar o seu exército com tanta pressão sobre eles, sendo as passagens dos Pirenéus tão difíceis, escasseando as provisões, e com as montanhas possivelmente ocupadas por paisanos armados?
Supondo que os franceses conseguem superar e desarmar os asturianos, e assim entrar na Galiza antes desta província estar apoiada por nós ou antes que os exércitos do sul da Espanha aí cheguem, que efeito teria este esmagamento dos esforços militares que surgiram nas províncias do norte sobre as operações posteriores do inimigo contra Portugal e contra o resto da Espanha? Não ficaria a manutenção da linha de comunicações com a França a dever-se a um corpo comparativamente fraco? E não ficaria uma proporção muito maior desta força  livre para continuar a subjugar a restante Península? Não se provaria, por fim, que é menos arriscado para o exército britânico, tal como mais vantajoso para a causa comum, reunir os nossos esforços aos da Espanha para expulsar o inimigo, enquanto o norte da Espanha não está subjugado, do que reservar a nossa força para a defesa de Portugal, e termos que nos contentarmos com ela quando a resistência da Espanha se tornar eventualmente menos geral do que é agora?
Disse o suficiente para sugerir para vossa consideração o esboço que desejo que examineis e aperfeiçoeis, pois algumas partes das questões dependem das informações locais, particularmente o relativo à natureza das defesas militares nas Astúrias e no principado de Santander, e na região a leste do último lugar. Parece-me aconselhável que deveis enviar, sem perda de tempo, um oficial experiente de confiança para entrar em Gijón, para observar toda aquela linha, e para vos relatá-la. Se não tiverdes uma necessidade urgente dos seus serviços em Portugal, o que espero que seja o caso quando esta carta vos alcançar, ficaria satisfeito que enviásseis Sir Arthur Wellesley para este serviço, com qualquer assistente científico que possais requerer. Ele achará um progresso considerável através da recolha de informações pelo Major-General Leith, que enviei para aquela região, ajudado pelo Capitães Lefevre e Birch, ambos bons oficiais engenheiros.
Lamento que o estado das nossas informações não nos permita ter chegado ainda a uma decisão sobre a aplicação da nossa força na Inglaterra, ou sobre o uso que se fará às vossas; o progresso dos acontecimentos possibilitar-me-ão, segundo espero, que vos escreva muito em breve sobre estes pontos, de modo mais claro do que agora me é possível. Entretanto, e enquanto continuarem a executar-se as medidas necessárias para se reunirem informações, espero que não hesitareis em usar a plena discrição em que vos haveis comprometido, de tal modo que o vosso excelente julgamento possa indicar-vos o que é vantajoso para o serviço de Sua Majestade, sem achardes necessário esperar pela autorização ou instruções vindas da Inglaterra; e posso seguramente garantir-vos que encontrareis, não somente em mim mas em todos os meus colegas, a disposição mais sincera e cordial de serdes apoiado no exercício da responsabilidade que tendes, segundo penso, sempre que as vossas acções possam promover o bem do serviço sem que seja feita referência alguma à Inglaterra.
Tenho a honra de ser, etc., 

Castlereagh

[Fonte: Charles William Vane (org.), Correspondence, Despatches, and other Papers of Viscount Castlereagh, second Marquess of Londonderry – Vol. VI, London, William Shoberl Publisher, 1851, pp. 403-407].