sábado, 16 de abril de 2011

Decreto de Junot nomeando Lagarde como Conselheiro do Governo (16 de Abril de 1808)

O fuzilamento de dois militares portugueses em Elvas (16 de Abril de 1808)


No dia 16 de Abril, o Coronel francês Miquel, que tinha ocupado Elvas no início de Março (e que aí viria a ser assassinado em Julho seguinte) mandou fuzilar dois militares portugueses naquela importante praça. Para descrever este episódio transcrevemos abaixo um excerto de um texto que já várias vezes temos mencionado, sobre as vítimas da justiça dos franceses durante a chamada primeira invasão francesa. 



Forte do Conde de Lippe, onde estavam presos os dois militares portugueses



Depois de falar do fuzilamento de Jacinto Correia em Mafra, de nove portugueses nas Caldas da Rainha, e de Macário José em Setúbal, segue o autor anónimo do referido documento:


Em quarto lugar, segundo a ordem cronológica, foram justiçados pelos franceses Manuel Martins, soldado do Regimento n.º 3 de Artilharia portuguesa, filho de Domingos Martins Ramalho e de Joana Maria, natural da vila do Redondo, e José António de Almeida, filho de João d'Almeida e de Maria Joaquina, soldado do Regimento português de Infantaria de Linha n.º 17, natural de Elvas, os quais por crimes militares estavam no forte de Lippe à grilheta; e querendo um dia fugir agarrando a sentinela que os vigiava, a lançaram no fosso, cuja queda originou a morte à dita vigia.  
Sabido o facto pelo comandante de armas da cidade de Elvas, mr. Miquel (homem de 50 anos, porém cruelíssimo) mandou formar um conselho militar que os condenou à morte.
Para esta os preparou espiritualmente um clérigo e o padre religioso eremita de S. Paulo, cuja consolação lhe grangeou – pelas suas rogativas, hábeis maneiras e sagacíssimo modo de se haver com os invasores – o dr. Juiz de Fora da cidade, Patrício Luís Ferreira Tavares Pereira da Silva, do referido duro e inexorável Miquel, que não queria outorgar-lhe; porque eles diziam que semelhante preparativo desanimava os homens naquele lance em que deviam mostrar constância e sangue frio; como se a impiedade e irreligião naquela hora pudesse constituir aquelas disposições heróicas. 
Saíram ao suplício no dia 16 de Abril de 1808, e um destes [des]faleceu, mas ao tempo da execução se animou de tal sorte que a suportou heroicamente; os suíços da guarnição deram a descarga nos executados aos muros defronte da alameda da cidade. Esta execução só tem de repreensível o ser regulada pelas leis militares da França, e não pelas do país; desgraçados homens em política! Eram criminosos, deviam ser punidos; as leis o pediam, o ofendido o exigia, o exemplo com a punição se satisfazia. A estes dois padecentes juntaram um terceiro os franceses, que era um espanhol; eles a ambas as nações tinham igual ódio. 


[Fonte: Discursos do Imortal Guilherme Pitt..., pp. 322-357 (doc. 22)]. 



Notícia publicada na Gazeta de Lisboa (16 de Abril de 1808)




Lisboa, 16 de Abril. 


O Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Duque de Abrantes, acompanhado do Estado-Maior do seu Exército e das principais autoridades do Reino e de Lisboa, deve ir amanhã, Domingo de Páscoa, pela manhã, à Santa Igreja Patriarcal, para assistir aí ao ofício divino. Diferentes preparativos se fazem para esta cerimónia, a qual será tão majestosa quanto o pede o seu objecto, que é render uma bem manifesta homenagem à religião. 

Por decreto de Sua Excelência o General em Chefe acaba de ser nomeado, para Marechal de Campo do Exército Português, o Coronel Novion, Comandante de armas e da Guarda Militar da Polícia. 

A cidade de Lisboa goza da mais perfeita tranquilidade. Não se tem experimentado nela embaraço algum no tocante a víveres, que cada pessoa pode haver facilmente, à sua vontade, assim nos mercados como nas lojas onde se vendem, e até sem aumento algum sensível nos seus preços. Durante os dias consagrados em especial aos deveres religiosos, acode às igrejas uma inumerável multidão de gente, sem que daqui resulte a menor desordem. Até se ouve raras vezes falar daqueles delitos triviais a que é impossível obstar de todo nas grandes capitais, mas que agora se reprimem rapidamente por uma polícia severa. Entre as tropas reina a maior disciplina, de tal sorte que os habitantes nem se quer têm de formar queixas a que logo se faria justiça. Portanto todas as vezes que as numerosas ocupações de Sua Excelência o Governador Geral lhe permitem aparecer nas ruas e nos lugares públicos, recebe aí testemunhos não equívocos do afecto que se lhe professa, e da justa confiança que inspira a sua afeição para com um país cujo Governo lhe conferiu o Grande Napoleão. 


[Fonte: Segundo Suplemento à Gazeta de Lisboa, n.º XV, 16 de Abril de 1808].