terça-feira, 2 de agosto de 2011

Carta do General Wellesley ao Governador de Pombal (2 de Agosto de 1808)



Lavos, 2 de Agosto de 1808.


Tenho a honra de receber a carta que Vossa Excelência me escreveu, e estou muito obrigado a Vossa Excelência pelo oferecimento dos seus serviços, que me fez. Eu sentiria muito que Vossa Excelência, para me fazer uma visita, deixasse os seus importantes negócios do seu cargo; espero ter o gosto de vos encontrar quando a derrota do inimigo nos der a ambos algum descanso.
Tenho a honra de ser.
Vosso obediente e humilde servo,

A. Wellesley

[Fonte: José Accursio das Neves, Historia Geral da Invasão dos Francezes em Portugal, e da Restauração deste Reino - Tomo V, Lisboa, Officina de Simão Thaddeo Ferreira, 1811, p. 63].

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Nota: 

Diz Acúrsio das Neves que esta carta de Wellesley foi uma resposta a uma outra missiva que o Governador e Capitão de Milícias de Pombal lhe tinha escrito: "Francisco Peregrino de Meneses (assim se chamava o Governador do Pombal), tanto que foi informado da chegada de Wellesley à baía do Mondego, escreveu-lhe uma carta mais patriótica do que eloquente, em que lhe expressava os testemunhos do seu prazer e de toda a nação pela vinda do General e do exército britânico, e lhe oferecia, em nome de todos os moradores do seu distrito [=termo], o seu dinheiro, os seus frutos, os seus transportes e as suas pessoas, e no seu nome particular os donativos da sua casa e a vontade que tinha de o ir visitar e agradecer-lhe da parte do Príncipe Regente o bem da liberdade que se esperava do seu auxílio, o que faria se lho não embaraçassem os negócios do seu Governo, que não lhe deixavam livre um momento, achando-se ocupado principalmente em impedir que os inimigos tivessem conhecimento dos nossos movimentos, pois não o haviam conseguido, tendo estado em Leiria, dali somente 5 léguas. Dava-lhe uma breve ideia do estado das coisas do país, e remetia-se ao portador da carta, que era um seu espia, para melhor o informar das forças e movimentos do inimigo.
Esta carta e estas informações deviam ser não só agradáveis mas também muito úteis a Wellesley, porque ainda que entrou logo em comunicações directas com o Governador de Coimbra, este não podia transmitir-lhe tão breve as notícias" [cf. op. cit., pp. 61-63].

Carta da Junta de Governo de Sines ao Almirante Charles Cotton (2 de Agosto de 1808)




Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor:

Representamos a Vossa Excelência as tristes circunstâncias em que actualmente nos achamos. Hoje aparece aqui um emissário, que na maior aflição nos faz ver que a cidade de Évora, capital do nosso Alentejo, se acha possuída por 6.000 homens franceses: acometeram o corpo das nossas tropas que guarneciam a mesma cidade, ficando muitas destas destruídas. Diz mais, que os inimigos têm degolado muitos dos habitantes, e que os principais destes estão debaixo de prisão tratados desumanamente. Portanto de novo imploramos o socorro de Vossa Excelência, para que sem perda de tempo nos queira subministrar as munições de que tanto carecemos, e agora mais do que antes, em virtude deste acontecimento, que acresce. Rogamos, além do que tínhamos pedido a Vossa Excelência, e para o que aí se acha ainda um emissário nosso, mais 390 clavinas, 400 pistolas, 500 espadas, e fuzis mais os que puder dispensar depois dos 400 que já exigimos, e junto a isto toda as munições que possa liberalizar-nos.
Consta-nos que em Mértola, 9 léguas distante de Beja, se tem desembarcado as bagagens de 3.000 homens espanhóis, cuja chegada ansiosamente esperamos, assim como a das tropas inglesas, para mais brevemente nos desafrontarmos do inimigo comum. Desejávamos que o porto de Setúbal nos ficasse livre dos ditos franceses, para que fazendo-nos ali reforço, obstássemos à retirada dos que estão em Évora para Lisboa, mas isto só nos parece que será favorável com a mediação de Vossa Excelência, que Deus guarde muito anos.
Sines, em Junta do Governo de 2 de Agosto de 1808.

[seguiam-se as assinaturas do Presidente e dos Deputados].

[Fonte: José Accursio das Neves, Historia Geral da Invasão dos Francezes em Portugal, e da Restauração deste Reino - Tomo V, Lisboa, Officina de Simão Thaddeo Ferreira, 1811, pp. 43-44].

Boletim n.º 6 do Exército [francês] de Portugal (2 de Agosto de 1808)



[Fonte: Gazeta de Lisboa, n.º 30, 6 de Agosto de 1808].


Notícia publicada na Gazeta de Lisboa sobre os confrontos de Évora (2 de Agosto de 1808)



Lisboa, 2 de Agosto 


O Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Duque de Abrantes acaba de receber oficialmente as particularidades seguintes de uma assinalada vitória que as tropas francesas alcançaram em Évora: anunciam elas a sorte que por toda a parte está reservada pelos vencedores da Europa àqueles dos rebeldes e dos seus partidistas que ousarem combatê-los! 

[seguia-se a transcrição da carta de Loison a Junot de 30 de Julho de 1808, intitulada Relação enviada ao Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Duque de Abrantes, General em Chefe do Exército de Portugal]

NOTA: Consta-nos ter Estremoz enviado uma deputação para implorar a clemência dos vencedores 

[Fonte: 2.º Supplemtento à Gazeta de Lisboa, n.º 29, 2 de Agosto de 1808].

Edital da Junta do Porto ordenando a livre circulação de grãos e farinhas entre todas as terras que não estivessem ocupadas pelos franceses (2 de Agosto de 1808)





Apotheosis of the Corsican-Phœnix, caricatura de James Gillray (2 de Agosto de 1808)



Fonte: British Museum


 Apoteose da Fénix-Corsa.
Caricatura de James Gillray, publicada a 2 de Agosto de 1808.



O sentido desta caricatura é explicado pelo seu subtítulo, que cita um trecho imaginário duma obra supostamente editada em 1808 e intitulada A Nova Enciclopédia Espanhola (The New Spanish Encyclopaedia): "Ao cansar-se de viver, a Fénix constrói um ninho sobre as montanhas, incendiando-o através do bater das suas asas e consumindo-se ela própria nas chamas! E do fumo das suas cinzas renasce uma nova Fénix para iluminar o Mundo!!!"
Napoleão é assim representado como a Fénix-corsa auto-imolando-se no topo duma escarpa das Montanhas dos Pirenéus, as quais estão envoltas por densas nuvens de fumo negro, como que aludindo às revoltas anti-francesas na Península Ibérica. O seu ninho é formado por mosquetes e baionetas, sobre as quais está um globo terrestre, em forma de ovo, com toda a Europa continental em chamas, bem como a Sicília e a Algéria. Com as asas já pegando fogo, a Fénix-corsa (adornada com um cordão de honra tricolor e um colar militar franjado com pequenos punhais) está prestes a sucumbir perante as chamas que a envolvem, tendo já saltado da sua cabeça a coroa e das suas garras o ceptro e o orbe (símbolos, respectivamente, do poder temporal e espiritual). Por cima do fumo provocado por esta combustão, surge uma pomba da paz, irradiando luz e com um ramo de oliveira no seu bico, podendo ler-se nas suas asas abertas a inscrição Paz sobre a Terra.


Outras digitalizações: