domingo, 13 de dezembro de 2009

Comunicações do General Solano à Regência

No dia 16 de Dezembro, o General Solano, Marqués del Socorro, comandante das tropas que partiram de Badajoz para ocupar o Alentejo e Algarve, escreve ao Secretário da Regência, o Conde de Sampaio, sobre as zonas ocupadas pelos espanhóis e sobre o subministro de víveres para as suas tropas:





Ex.mo Sr.


Em atenção à situação topográfica do território que ocupa o meu Exército e à necessidade de estabelecer um sistema uniforme e central em tudo o que respeita à sua subsistência, conforme as ordens da minha Corte e os acordos que tenho feitos com o General Junot, determino que se incorpore e reúna nas províncias do Alentejo e dos Algarves o território da Península [de Setúbal], e que os assentos estabelecidos numa e noutra província proporcionem, segundo convenha e o exijam as circunstâncias, o subministro de pão, cevada e palha às tropas espanholas e portuguesas que concorrem para o mesmo fim no serviço que actualmente prestam; e o deverão fazer em seguida, cuja providência aviso a V.Ex.ª a fim de que, dando-a a conhecer à Regência, facilite com as suas determinações a execução desta medida.
Deus guarde a V.Ex.ª muitos anos.
Setúbal, 16 de Dezembro de 1807.


[?] o seu mais atento servidor,
Marquês del Socorro 







No mesmo dia, uma nova carta do mesmo remetente para o mesmo destinatário, aborda as contribuições que visariam ser distribuídas para sustentação quer do Exército espanhol quer do português. Note-se que Solano não procura criar novos impostos ou tributos, senão manter os mesmos, ainda que passem agora a reverter directamente para os cofres do Exército espanhol, cujo Quartel General se instalou em Setúbal:



As circunstâncias com que o Exército espanhol sob o meu mando entrou em Portugal, as ordens que tenho do Rei [D.Carlos IV] meu Amo e o desejo de que não se altere de nenhum modo a disciplina que manifestou até agora, exigem imperiosamente que se proporcionem todos os meios de subsistência às minhas tropas e às portuguesas que se encontram nas províncias do Alentejo, Algarve e península [de Setúbal], concorrendo a conservar a tranquilidade do país e a segurança das pessoas e propriedades. Desejo facilitar aqueles objectos sem que o povo sofra novos gravames. Desejo que isto se execute pelos meios legais estabelecidos até agora, e para conseguir ambos os objectivos devem destinar-se todas as contribuições públicas existentes nas províncias do Alentejo, Algarve e península [de Setúbal]; e é conveniente que, para evitar atrasos e necessidades de se lançar mão a outros meios, a Regência faça circular as ordens mais executivas para que os Corregedores, Justiças e a quem demais incumba das ditas províncias que tragam imediatamente e depositem na Caixa Militar do meu Exército, estabelecida por agora em Setúbal, as quantidades das referidas contribuições que tenham em seu poder no termo de 15 dias e as que vaiam recolectando em seguida, concedendo penas que a Regência tenha por bem aos que forem omissos em tão importante obrigação, e advertendo-lhes que serão passados recibos ou cartas de pagamento legítimas, datadas e com as quantidades que entregarem, assinadas por D. Francisco Montero, Pagador do Exército, com o consenso de D. Tomás Rodriguez, Interventor do mesmo Exército. Este suave meio concilia o bem dos povos e a subsistência do meu Exército e o de Portugal que, faltando-lhes, conhecerá a Regência a necessidade de acudir a outros meios. Assim espero que V.Ex.ª o faça presente, entretanto rogo a Deus que guarde a V.Ex.ª muitos anos.
Setúbal, 16 de Dezembro de 1807.


[?] o seu mais atento servidor,
Marqués del Socorro 








Fonte: AHM-DIV-1-14-003-49 (fls. 3-5)

Número das tropas espanholas entradas em Portugal

As forças espanholas auxiliadoras do Exército comandando pelo General Junot eram, no ano de 1808, as seguintes:

A Divisão comandada pelo General Carrafa, que se juntou às forças de Junot na Extremadura espanhola, e que com estas entrou pela Beira:




A Divisão comandada pelo General Taranco, que penetrou em Portugal pelo Minho, e que visava sustentar a criação do Reino da Lusitânia Setentrional:


A Divisão do General Solano, que entrou pelo Alto Alentejo e que passaria a ocupar toda a zona abaixo do Tejo (território que, segundo o tratado de Fontainebleau, seria entregue ao Príncipe da Paz, sob a denominação de Principado dos Algarves):



Totais:



Fonte: Simão José da Luz SORIANO, História da Guerra Civil e do Estabelecimento do Governo Parlamentar em Portugal. Compreendendo a História Diplomática, Militar e Política deste Reino, desde 1777 até 1834 – Segunda Época - Tomo I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1870, pp. 33-35.