quarta-feira, 18 de maio de 2011

Boletim de Lagarde sobre uma carta do Corregedor de Tavira de 18 de Maio de 1808




Boletim n.º 20


Lisboa, 26 de Maio de 1808


Algarves - O Corregedor de Tavira, 18 de Maio


Dez indivíduos desta zona fugiram, numa das noites passadas, numa embarcação espanhola, para passarem à Esquadra inglesa. Esta saída livrou toda a região de sujeitos malvados que não tinham nada de bom.

[Fonte: António Ferrão, A 1ª invasão francesa : a invasão de Junot vista através dos documentos da Intendência Geral da Polícia, 1807-1808: estudo politico e social, Coimbra: imprensa da Universidade, 1923, p. 363; Alberto Iria, A Invasão de Junot no Algarve (Subsídios para a História da Guerra Peninsular), Lisboa, Tip. Inácio Pereira Rosa, 1941, p. 29 (tradução nossa do texto original em francês)].



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Nota: 

Seria este grupo de fugitivos parte daqueles “malévolos” que o Corregedor mor do Algarve, mr. Goguet, mencionara a Lagarde a 11 de Maio
Este documento foi publicado originalmente por António Ferrão, que comentou a seu respeito o seguinte: "Vê-se que Lagarde, encontrando-se impotente para evitar a fuga dos mais audaciosos para a esquadra inglesa, apesar da determinação das mais severas medidas repressivas, desdenha dos que zombavam das suas ordens. É uma simples variante da fábula da raposa e das uvas!" [António Ferrão, A 1ª invasão francesa : a invasão de Junot vista através dos documentos da Intendência Geral da Polícia, 1807-1808: estudo politico e social, Coimbra: imprensa da Universidade, 1923, p. 363].


Carta do General Kellermann, em Elvas, ao Comandante General da província espanhola da Extremadura (18 de Maio de 1808)




Não posso já ver por mais tempo com uma indiferença que manifestaria debilidade, o procedimento dos habitantes de Badajoz em relação aos franceses que os seus negócios ou ordens conduzem a essa cidade. É inadmissível que estejam continuamente expostos aos insultos dum povo ofuscado que não conhece o respeito, nem a consideração, nem os direitos da sociedade; e que a protecção vigilante que eu concedo a todos os espanhóis que passam a Elvas ou a esta província não possa produzir sobre os espíritos o sentimento de uma justa reciprocidade. Cumpre a vós, como aos demais depositários da autoridade, que finalmente se acalmem estes excessos por muito tempo continuados, que voltem a trazer esse povo a ideias mais liberais e que lhes façam sentir a injustiça e, sobretudo, os perigos dessa conduta, que não sofrerei por mais tempo. Isto é o que vos insisto expressamente a fazer conhecer, publicando a minha carta.
Tenho a honra de vos renovar a segurança da minha alta consideração.

Elvas, 18 de Maio de 1808.

O General Kellermann


[Fonte: Correspondencia del general Kellerman con el Capitán General de Extremadura, Conde de la Torre del Fresno, sobre el restablecimiento del correo entre ambos, sobre la liberación de un carretero francés, preso en Badajoz y sobre la actitud levantisca de la población de esta ciudad, in Archivo Histórico Nacional, DIVERSOS-COLECCIONES,136,N.36].

Carta da Câmara de Leiria relativa à recepção das notícias da deputação portuguesa (18 de Maio de 1808)




Ilustríssimos e Excelentíssimos Senhores:

O notório zelo e patriotismo com que Vossas Excelências têm desempenhado o importante carácter de representantes da nação portuguesa junto a Sua Majestade o Imperador e Rei, nos faz esperar que, por intervenção de Vossas Excelências, as sinceras e submissas expressões do nosso reconhecimento chegarão aos pés do Trono do nosso Augusto Protector.
A interessante carta em que Vossas Excelências se dignaram anunciar-nos as benévolas intenções de Sua Majestade Imperial e Real, tem excitado o mais vivo entusiasmo e admiração pelas virtudes daquele Grande Monarca: o nome de Napoleão o Grande, sempre pronunciado entre nós com veneração e respeito, agora voa de boca em boca misturado com o de Pai e Benfeitor.
Nem o exemplo dos Magistrados, nem a influência de pessoas autorizadas se tem feito necessários (e com que satisfação nossa!) para formar e fixar o espírito público: surdos à intriga e pérfidas insinuações dos nossos inimigos, em todos os corações se acha desenvolvido aquele antigo gérmen de afeição e simpatia, que sempre subsistiu entre as duas nações.
Em toda a parte as tropas francesas têm sido recebidas com o acolhimento devido à sua boa conduta e exacta disciplina. A posição de Leiria na estrada militar nos tem felizmente dado ocasiões de nos distinguirmos (como é constante) na cordialidade com que se devem agasalhar estes nossos irmãos primogénitos.
Ditosos os portugueses, se tornando à pureza e elevação de seus primitivos costumes, se fizerem dignos de ser vassalos de Sua Majestade Imperial e Real, e de ocupar depois da Grande Nação o primeiro lugar nos seus desvelos paternais! Se pela nossa situação geográfica não podemos lograr esta fortuna, um Príncipe da escolha do Grande Napoleão não pode deixar de fazer-nos felizes, e realizar as nossas esperanças.
Então regeneradas e restituídas a uma verdadeira existência política, devemos erigir em nossos corações e transmitir aos nossos descendentes um monumento de gratidão, eterno, e digno do Grande Restaurador da Nação Portuguesa!
Deus guarde a Vossas Excelências.
Leiria, em Câmara de 18 de Maio de 1808.

E eu, Izidoro Ignacio Vieira da Silva, escrivão da Câmara, a fiz escrever.
L. S.
António Duarte da Fonseca Lobo
Álvaro Soares da Silva Macedo
João Baptista Coutinho e Faro
Joaquim Manuel Tavares de Brito
Pedro Francisco Nattario


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Esta carta, publicada na Gazeta de Lisboa (n.º 22, 31 de Maio de 1808), era antecedida pela seguinte nota, provavelmente da autoria do Intendente Geral da Polícia, Pierre Lagarde: "Entre as numerosas cartas de congratulação chegadas de diversas partes do Reino, por ocasião da memória da deputação portuguesa, havemos notado a seguinte, da cidade de Leiria, província da Estremadura, a qual é, em certo modo, uma análise, muito bem feita, dos votos que ressoam por todas as partes em Portugal".



Carta circular do Conselho de Madrid (18 de Maio de 1808)





[Fonte: Gazeta de Lisboa, n.º 22, 31 de Maio de 1808].