Ilustríssimos e Excelentíssimos Senhores:
O notório zelo e patriotismo com que Vossas Excelências têm desempenhado o importante carácter de representantes da nação portuguesa junto a Sua Majestade o Imperador e Rei, nos faz esperar que, por intervenção de Vossas Excelências, as sinceras e submissas expressões do nosso reconhecimento chegarão aos pés do Trono do nosso Augusto Protector.
A interessante carta em que Vossas Excelências se dignaram anunciar-nos as benévolas intenções de Sua Majestade Imperial e Real, tem excitado o mais vivo entusiasmo e admiração pelas virtudes daquele Grande Monarca: o nome de Napoleão o Grande, sempre pronunciado entre nós com veneração e respeito, agora voa de boca em boca misturado com o de Pai e Benfeitor.
Nem o exemplo dos Magistrados, nem a influência de pessoas autorizadas se tem feito necessários (e com que satisfação nossa!) para formar e fixar o espírito público: surdos à intriga e pérfidas insinuações dos nossos inimigos, em todos os corações se acha desenvolvido aquele antigo gérmen de afeição e simpatia, que sempre subsistiu entre as duas nações.
Em toda a parte as tropas francesas têm sido recebidas com o acolhimento devido à sua boa conduta e exacta disciplina. A posição de Leiria na estrada militar nos tem felizmente dado ocasiões de nos distinguirmos (como é constante) na cordialidade com que se devem agasalhar estes nossos irmãos primogénitos.
Ditosos os portugueses, se tornando à pureza e elevação de seus primitivos costumes, se fizerem dignos de ser vassalos de Sua Majestade Imperial e Real, e de ocupar depois da Grande Nação o primeiro lugar nos seus desvelos paternais! Se pela nossa situação geográfica não podemos lograr esta fortuna, um Príncipe da escolha do Grande Napoleão não pode deixar de fazer-nos felizes, e realizar as nossas esperanças.
Então regeneradas e restituídas a uma verdadeira existência política, devemos erigir em nossos corações e transmitir aos nossos descendentes um monumento de gratidão, eterno, e digno do Grande Restaurador da Nação Portuguesa!
Deus guarde a Vossas Excelências.
Leiria, em Câmara de 18 de Maio de 1808.
E eu, Izidoro Ignacio Vieira da Silva, escrivão da Câmara, a fiz escrever.
L. S.
António Duarte da Fonseca Lobo
Álvaro Soares da Silva Macedo
João Baptista Coutinho e Faro
Joaquim Manuel Tavares de Brito
Pedro Francisco Nattario
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Esta carta, publicada na Gazeta de Lisboa (n.º 22, 31 de Maio de 1808), era antecedida pela seguinte nota, provavelmente da autoria do Intendente Geral da Polícia, Pierre Lagarde: "Entre as numerosas cartas de congratulação chegadas de diversas partes do Reino, por ocasião da memória da deputação portuguesa, havemos notado a seguinte, da cidade de Leiria, província da Estremadura, a qual é, em certo modo, uma análise, muito bem feita, dos votos que ressoam por todas as partes em Portugal".