quinta-feira, 12 de maio de 2011

Edital de Junot contendo a carta da Deputação portuguesa (12 de Maio de 1808)








Nota: 

anteriormente tínhamos transcrito esta carta da assim chamada deputação portuguesa enviada a Napoleão, que se tornou conhecida em Portugal através deste edital de 12 de Maio de 1808, que contém uma pequena introdução de Junot. 
A cópia do edital acima inserida foi retirada da compilação de Antonio Joaquim Moreira (org.), Colecção de sentenças que julgarão os réos dos crimes mais graves e attrozes commetidos em Portugal e seus dominios - Vol. 4, 1863. São diversas as fontes que transcreveram esta carta, na sua maior parte sem a referida introdução de Junot: 1.º Supplemento à Gazeta de Lisboa, n.º 19, 13 de Maio de 1808; Luís Augusto Rebelo da Silva, A Casa dos Fantasmas – Episódio do tempo dos franceses. Volume II, Lisboa, Tipografia da Gazeta de Portugal, 1865, pp. 254-257; S. L., Historia de El-Rei D. João VI – Primeiro rei constitucional de Portugal e do Brazil, Lisboa, Typographia Universal, 1866, pp. 135-138; Simão José da Luz Soriano, História da Guerra Civil e do Estabelecimento do Governo Parlamentar em Portugal. Compreendendo a História Diplomática, Militar e Política deste Reino, desde 1777 até 1834 – Segunda Época - Tomo V – Parte I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1893, pp. 40-43...].



Carta de Sir Hew Dalrymple ao General Spencer (12 de Maio de 1808)



Quartel-General de Gibraltar, 12 de Maio de 1808 1


Sir, 
Como não tenho faltado em informar-vos acerca do progresso dos acontecimentos na Espanha e das comunicações que tenho tido com o General espanhol [Castaños] sobre as medidas que ele prevê adoptar, somente tenho agora a necessidade de vos pôr oficialmente ao corrente do meu objectivo de destacar o vosso corpo 2 a fim de se juntar ao Almirante Purvis 3
Deveis lembrar-vos que, de acordo com uma proposta minha, referiu-se ao senhor Viali 4, numa conferência que ele teve com o secretário particular do General Castaños, que, em caso de uma guerra aberta com França, a esquadra espanhola estacionada em Cádis deveria partir para a América do Sul com parte da Família Real, quer fosse com ou sem um destacamento de navios britânicos; e, que então as baterias espanholas deveriam cooperar com o Almirante Purvis, para permitir que os espanhóis se apoderassem da esquadra francesa. 
Como este plano não foi suficientemente digerido e dependia de acordos prévios que provavelmente causariam atrasos e, consequentemente, fracassariam, instei fortemente para que se capturasse a esquadra francesa [estacionada em Cádis], como primeiro acto de hostilidade contra a França, sem nenhuma referência directa ou imediata ao plano de emigração [da família real espanhola], que, contudo, seria possível ser executado posteriormente; através destes meios, seria dado um importante golpe no início dos acontecimentos, o qual não podia falhar a fim de imprimir um carácter de vigor nos Conselhos espanhóis. 
Como não estou sem esperanças que esta medida possa ser adoptada, e como, em resposta a um pedido de tropas feito pelo General espanhol, informei-o que tal operação conjunta poderia ser levada a cabo pelo vosso corpo e pela frota do Almirante Purvis, com o objectivo de fazer diversões a seu favor, sendo esta toda a ajuda que eu podia oferecer, penso que talvez seja essencial que o vosso corpo deve embarcar e partir sem demora; pois apesar de ter desejado chegar a um entendimento mais claro com o General Castaños antes de dar qualquer passo, concordo convosco que é ainda mais importante a vantagem que se pode ter com os actuais ventos favoráveis, para se passar através do estreito [de Gibraltar], cuja oportunidade, se for perdida, pode não repetir-se rapidamente. 
Não prevejo nenhuma concorrência de circunstâncias que, na presente situação da Espanha, possa levar a outra medida para além duma operação conjunta entre as tropas e os navios de guerra, mas penso que não é impossível que, uma vez capturados os navios franceses, mesmo com o apoio e ajuda dos espanhóis, poderão surgir circunstâncias onde seja necessária a assistência do vosso corpo, exclusiva de tais operações posteriores que vós e o Almirante [Purvis] poderão pensar que não devem abandonar. 

W. Dalrymple 


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Notas: 

1. O General Sir Hew Whithefoord Dalrymple era, desde 1806, Governador de Gibraltar. Em Agosto de 1808, já como comandante em chefe das tropas britânicas desembarcadas em Portugal, viria a ser o principal responsável pela mal afamada Convenção de Sintra, e por tal motivo foi publicamente ostracizado, como mais destacadamente tentaremos explicar no momento oportuno.

2. No final de Dezembro de 1807,  o General Spencer tinha partido da Inglaterra com cerca de cinco milhares de homens a bordo de alguns navios, com destino ao Mediterrâneo. Devido a uma tempestade, muitos desses navios dispersaram-se e regressaram à Inglaterra. Por este motivo, Spencer só alcançaria Gibraltar a 10 de Março de 1808, onde acabou por estacionar até à data da carta acima transcrita, pois entretanto desistira-se do objectivo original da sua missão.

3. O  Contra-Almirante John Child Purvis estava, desde 1806, ao comando da esquadra britânica que bloqueava o porto de Cádis, onde se refugiaram os 5 navios franceses e 6 espanhóis que não tinham sido capturados ou destruídos pelos ingleses na batalha de Trafalgar.

4. Segundo as próprias palavras de Dalrymple, Viali era um comerciante natural de Gibraltar que tinha sido encarregado de mediar as comunicações entre o Governador daquela praça (o próprio Dalrymple) e o General Castaños. 


Renúncia do Príncipe das Astúrias e dos Infantes D. Carlos e D. António aos seus direitos sobre a coroa espanhola (12 de Maio de 1808)




[Fonte: Suplemento Extraordinário à Gazeta de Lisboa, n.º 21, 27 de Maio].