quinta-feira, 21 de julho de 2011

Gravura sobre a rendição do General Dupont ao General Castaños, em Bailén, no dia 21 de Julho de 1808





Em Bailén, de Dupont e seus enganos
Triunfou o Excelentíssimo Castaños.


Carta do Conde de Tylli à Junta de Sevilha, sobre a derrota do exército de Dupont na batalha de Bailén (21 de Julho de 1808)



Ontem, dia 20, a Espanha, ou para dizer melhor, o Exército de Vossa Alteza, alcançou a vitória mais completa que a nação tem visto desde há muitos séculos a esta parte. O resultado é uma imitação da acção de Pavía: Rapidamente ficaram as Andaluzias desassombradas das armas francesas. A Divisão de Dupont, com as suas pertenças, despojos e todos os seus Generais prisioneiros de guerra, e as demais Divisões que ocupavam os domínios de Sua Majestade [Fernando VII] desde o alto da Sierra Morena até Bailén, evacuam a Península por mar. É esta a súmula do tratado que ontem à noite tive o gosto de assinar com o Excelentíssimo Senhor Castaños; e como nos retiramos do campo faltos de sono e fatigados, não é possível remeter a Vossa Alteza as particularidades da capitulação e das acções militares que se sucederam, o que farei logo que o tempo o permita. 
Esta notícia tão plausível é levada pelo Tenente Coronel da coluna de Granadeiros Provinciais D. Pedro Agustín Giron, com o grau de Coronel e Ajudante General, Oficial do maior mérito, que, pelos talentos e valor que demonstrou em muitas acções, e particularmente neste exército, se torna digno de todas as graças que Vossa Alteza lhe dispensar. 
Hoje determinei que se jure ao nosso Rei o Senhor D. Fernando VII, o que ainda não se tinha verificado nesta cidade, bem como que se cante o Te Deum e que por três noites haja iluminações. 
Deus guarde a Vossa Alteza muitos anos. 
Quartel-General de Andújar, 21 de Julho de 1808. 

Carta do General Castaños à Junta de Sevilha, sobre a derrota do exército de Dupont na batalha de Bailén (21 de Julho de 1808)


Sereníssimo Senhor: 

Tenho a satisfação de participar a Vossa Alteza a completa vitória conseguida depois da batalha de Bailén. O General Dupont e toda a sua divisão, com armas, artilharia, bagagens, etc., são prisioneiros de guerra. As demais [forças francesas] que não entraram em acção, ainda que não sofram esta sorte, são compreendidas na capitulação e obrigadas a voltar à França por mar, de modo que não fica um francês na Andaluzia. Os detalhes em geral serão comunicados pelo meu sobrinho o Coronel D. Pedro Agustín Giron, Ajudante General de Infantaria, e enquanto não chegam as notícias circunstanciadas de tudo, saiba Vossa Alteza que o valor das tropas e dos oficiais, a sua constância, sofrimento e privações, correspondem à justa opinião que o exército merece a Vossa Alteza, e ao juízo que formo do seu patriotismo e zelo pela causa pública. 
Atrevo-me a exigir a Vossa Alteza para que cumpra por mim o voto que havia feito de dedicar esta acção ao glorioso S. FERNANDO. 
Deus guarde a Vossa Alteza por muitos anos. 
Quartel-General de Andújar, 21 de Julho de 1808. 

Francisco Xavier de Castaños 

Carta do General Wellesley a Lord Castlereagh, secretário de Estado da Guerra, participando-lhe a sua chegada à Coruña (21 de Julho de 1808)




Coruña, 21 de Julho de 1808 


Meu caro Senhor: 

Cheguei aqui ontem, e decidi voltar novamente ao mar hoje, para me encontrar com a esquadra, que todavia ainda não apareceu na costa. 
Desde que aqui cheguei tive conversações frequentes com a Junta [da Galiza]; e Mr. Stuart, que também chegou ontem, enviará a Mr. Canning uma relação de todas as informações que temos recebido da Junta em relação ao presente estado das circunstâncias na Espanha. De qualquer maneira, parece-me que a conclusão geral é que toda a nação espanhola, à excepção das províncias de Biscaia, Navarra e daquelas que se situam nas proximidades de Madrid, está num estado de insurreição contra os franceses: diversos destacamentos franceses foram destruídos em diferentes partes do país, a saber: um corpo comandado por Lefebre, que foi atacado quatro vezes, perto de Zaragoza, em Aragão, particularmente a 16 e a 24 de Junho; um corpo que julgo ter estado ao comando de Dupont; e diz-se que Dupont foi feito prisioneiro na acção travada entre Andujar e La Carolina, antes de 23 de Junho; e dois corpos foram batidos na Catalunha antes de 19 de Junho, um na sua marcha para Montserrat, e outro para Zaragoza. Os catalães também tomaram posse do forte de Figueras, nos arredores de Rosas, e cercaram as tropas francesas em Barcelona. 
Contudo, como as comunicações (que nunca foram perfeitas entre as províncias) ficaram interrompidas pela marcha e pelas posições dos exércitos franceses e particularmente pelo seu último êxito em Rioseco, sobre o qual abaixo me refiro, a Junta não tem notícias oficiais de nenhuma destas acções; não obstante, os seus membros dão crédito àquelas que receberam, cujas cópias serão transmitidas a Mr. Canning por Mr. Stuart. Ele enviará também a notícia que a Junta recebeu da acção de Rioseco. 
Reunidos, os exércitos de Castela e da Galiza dispuseram-se neste lugar, que está na província de Valladolid, e as suas intenções eram, conforme se diz, atacar o corpo francês comandado pelo Marechal Bessières em Burgos, ou marchar para Madrid. No entanto, suspeito que as suas operações se limitavam a dispor a insurreição até Madrid, e cortar a comunicação entre as tropas francesas aí estacionadas e em Biscaia e Navarra. 
Diz-se que eles tentavam atacar o Marechal Bessières no dia 16, mas que este os atacou no dia 14; a sua infantaria foi inicialmente batida pelos espanhóis, com a perda de 7.000 homens; mas depois a sua cavalaria carregou sobre a ala esquerda do exército espanhol, que consistia em paisanos de Castela, derrotando-a. 
Fui informado que o exército espanhol, que consistia em 50.000 homens, perdeu cerca de 7.000 homens e duas peças de artilharia; mas que por sua vez tomou e conserva ainda seis peças pertencentes aos franceses. 
Os espanhóis retiraram-se ou nessa noite ou no dia seguinte para Benavente, sobre o [rio] Esla. O pior desta acção é que permitiu aos franceses apropriarem-se de todo o curso do Douro, e, ao obrigar as tropas galegas a retirarem-se de Rioseco, ficou interrompida a comunicação entre esta província e as que estão situadas a sul e a leste. 
Percebi que a Junta ficou muito alarmada quando recebeu a notícia desta derrota, mas os espíritos dos seus membros renovaram-se ontem com a chegada do dinheiro [britânico]; e não vi nos membros da Junta ou nos habitantes desta cidade sintoma algum de alarme ou de dúvidas sobre o seu êxito final. A tomada de Santader pelos franceses não é considerada como um evento de grande importância; e diz-se aqui que um corpo está actualmente em marcha em direcção a Astúrias, para recuperar aquele lugar. 
É impossível transmitir-vos uma ideia do sentimento que aqui prevalece a favor da causa espanhola. A diferença entre quaisquer dois homens é se um é melhor ou pior espanhol, e o melhor espanhol é o que mais sinceramente detesta os franceses. Percebo que realmente não se encontra nenhum francês nesta parte; e estou convencido que, perante qualquer ocorrência, nenhum homem se atreveria agora a mostrar que é amigo dos franceses. 
O sucesso final deve depender dos meios de ataque e defesa dos diferentes destacamentos, cujo número não me é possível apresentar para poder formar uma opinião. Se é verdade que os diversos corpos franceses que acima enumerei foram batidos, é óbvio que Bonaparte não poderá levar a cabo as suas operações na Espanha, a não ser que conte com grandes exércitos; e duvido muito que o país proporcione meios de subsistência para um grande exército, ou se Bonaparte será capaz de suprir os seus abastecimentos a partir da França, sendo as estradas tão más e as comunicações tão difíceis. 
Se isto for verdade, o seu objectivo deve ser tomar posse das províncias a norte, e isto somente pode ser feito invadindo e tomando as Astúrias. Penso assim que o nosso Governo deve prestar uma atenção particular sobre este importante ponto, e esforçar-se por se impor sobre os asturianos, a fim que recebam um corpo das nossas tropas. 
Considero este ponto tão importante, que não estranharia se Bonaparte, percebendo que não pode penetrar por terra, tentasse alcançar as Astúrias por mar; e devo por isso recomendar-vos um reforço da parte da esquadra que está aqui, e deixá-la a navegar entre o Cabo Ortegal e Santander. Em caso de fortes nortadas, poderia vir para aqui. 
Sugeri à Junta para preparar os navios [espanhóis] que estão em Ferrol para este serviço, mas os seus membros disseram que isto iria desviar as suas atenções e os seus meios de outros objectos mais importantes; e que apesar de estarem alertados sobre a importância deste ponto, preferem confiar na assistência que esperam receber da Grã-Bretanha, para qualquer defesa naval que possam pedir. 
É necessário que ajudeis todas as províncias espanholas com dinheiro, armas e munições. Não obstante a recente derrota do exército galego, a Junta não manifestou nenhuma ansiedade para receber a assistência das tropas britânicas; e os seus membros repetiram novamente esta manhã que eles podem pôr qualquer número de homens no campo, se forem acudidos com dinheiro e armas; e penso que esta aversão a receberem o auxílio das tropas britânicas é fundada em grande parte na oposição a se dar o comando das suas tropas aos oficiais britânicos. 
A Junta expressou aqui uma grande vontade de se unir numa Corte geral com as outras províncias; mas para além das dificuldades acarretadas pela adopção desta medida, em virtude das posições dos exércitos franceses, julgo que existem outros entraves, relativos ao desejo que todos os reinos que compõem a Espanha têm em que as Cortes sejam estabelecidas neles mesmos. 
Se os franceses forem obrigados a abandonar Madrid, é provável que esta dificuldade seja superada; mas até lá, ou até que a força do exército francesa seja desviada do centro da Espanha, não sei se não será melhor que cada um dos reinos seja governado pela sua própria Junta. Estou convencido que o zelo e empenho geral de cada uma delas é maior, actualmente, do que aquele que se manifestaria se todo o reino da Espanha estivesse debaixo da direcção de um só corpo. 
Em relação às minhas próprias operações, julgo que Junot tem reunido, como se supõe, 12.000 homens em Lisboa; e os franceses sustentam ainda Almeida e outros pontos de Portugal com 3.000 mais. As três províncias mais a norte de Portugal estão em estado de insurreição, e encontra-se no Porto um exército português, ao qual se reunirão 2.000 homens da tropa espanhola que marcharam da Galiza, e que chegarão lá por volta do dia 24 ou 25. 
A partir das informações que aqui recebi, não posso formar opinião alguma sobre se devo reunir-me com o General Spencer ou não. Ao cruzar-se com o [navio] BrilliantMr. Stuart  foi informado que o General Spencer tinha deixado Cádis, depois dos espanhóis terem tomado posse da esquadra francesa, indo para Ayamonte, na boca do Guadiana, para travar o avanço de um corpo francês que vinha de Portugal para a Andaluzia por essa rota. Aqui nada se sabe sobre este movimento, mas diz-se que 5.000 homens das tropas britânicas estiveram no exército do General Castaños e comportaram-se assinaladamente bem, mas não se sabe em que ocasião e quais eram as tropas. 
Fui informado que está um corpo de 20.000 homens na Extremadura, em Almaraz, sobre o Tejo, que impedirá a comunicação entre Junot e o exército em Madrid, sendo razoavelmente esperado que o número de franceses actualmente em Portugal será o número com que nós iremos lutar. A Junta manifesta uma grande ansiedade em relação às minhas operações em Portugal, e recomendou-me expressamente para não tentar desembarcar em Lisboa ou nas vizinhanças do exército francês. Os seus membros insistem, objectando esta medida, que deste modo eu perderia a vantagem da cooperação das forças espanholas e portuguesas no Porto, que não estarão aptas para se aproximarem de Lisboa antes de ouvirem dizer que eu desembarquei; e recomendam que eu desembarque em Vigo ou no Porto, e leve os aliados comigo para Lisboa. 
É-me impossível decidir isto ou qualquer outra medida sem que conheça melhor o estado das circunstâncias. Não tenho qualquer dúvida do êxito, mesmo sem a assistência do General Spencer ou dos aliados, uma vez que estejamos em terra firme; mas realizar o desembarque em frente dum inimigo é sempre difícil, e estou inclinado a desembarcar a uma certa distância de Lisboa. 
Tenciono procurar a frota [britânica] esta noite e, se não a encontrarmos, deixarei um esquadrão do Capitão Hotham no ponto de encontro, com ordens para Malcolm me seguir, e partirei para o Porto no Crocodile, onde serei capaz de decidir as medidas que irei adoptar. 
Acreditai em mim, etc. 

Arthur Wellesley 


Carta de Lord Castlereagh, secretário de Estado da Guerra, ao General Wellesley (21 de Julho de 1808)



Downing Street, 21 de Julho de 1808 



Senhor: 

No caso de julgardes que pode ser mais vantajoso que as tropas que agora estão partindo da Inglaterra efectuem o desembarque em algum ponto da costa de Portugal a norte do Tejo, sugiro-vos a conveniência de requererdes a Sir Charles Cotton para estacionar um dos seus cruzadores a norte das Berlengas, juntando aquelas informações cuja importância julgueis que deve ser comunicadas ao oficial mais velho ao comando das tropas; e eu notificarei os oficiais que comandam as tropas que partem daqui para que estejam preparados para receber, nesse ponto, uma notificação vossa sobre o actual estado das circunstâncias no Tejo. 
Sou, etc. 

Castlereagh 


Carta do Comandante em Chefe do Exército Inglês ao General Dalrymple (21 de Julho de 1808)



Horse Guards, 21 de Julho de 1808 


Senhor: 

Como Sua Majestade teve a graça de vos nomear para o comando de uma grande divisão do seu exército, que será empregue num serviço particular, tenho que notificar-vos quais são os diversos corpos e os oficiais Generais e do Estado-Maior que compõem este exército, desejando que fareis os melhores esforços para pôr em execução aquelas instruções que recebereis dos ministros de Sua Majestade. 
Ao transmitir-vos uma lista da vossa força, sinto que tenho como dever, tendo em vista dar-vos toda a informação e assistência em meu poder, anexar-lhe um esboço da maneira que me parece ser a mais aconselhável para organizardes o exército em brigadas; contudo, apesar de neste plano ter tido em conta todas as considerações possíveis, todavia quero que percebais plenamente que ele foi feito somente para vos orientardes, no caso de que as circunstâncias da vossa situação o tornem praticável e fácil; e que isto não vos impeça de adoptardes quaisquer outras disposições que possais julgar que são mais convenientes, perante a pressão das dificuldades locais ou de outros tipos. 
O 4.º Batalhão dos Veteranos Reais não está incluído nesta deslocação, porque este corpo destina-se actualmente para a guarnição de Gibraltar; mas é possível que esteja ao vosso alcance tomardes aí um corpo mais útil em vez deste, tendo em conta que este batalhão não é para ficar permanentemente estacionado em Gibraltar, mas para ser eventualmente enviado para a Madeira. 

[O resto desta carta é idêntico ao que foi dirigido pelo mesmo remetente ao Tenente General Arthur Wellesley, a 14 de Junho, a partir de "Corresponder-te-eis comigo sobre todos os assuntos relacionados com o vosso comando"].