quinta-feira, 7 de julho de 2011

Boletim n.º 3 do Exército [francês] de Portugal (7 de Julho de 1808)




Carta da Junta do Porto a D. Domingos António de Sousa Coutinho, embaixador de Portugal em Londres (7 de Julho de 1808)



Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor:

Vou levar à presença de Vossa Excelência o manifesto incluso, do qual Vossa Excelência conhecerá o estado actual deste Reino, das suas operações e a urgentíssima necessidade em que está de ser prontíssimamente socorrido pela Grã-Bretanha. Dele mesmo verá Vossa Excelência também quanta seja a nossa fidelidade e amor ao nosso augusto e legítimo soberano, e qual seja o risco a que nos temos exposto para lhe restaurarmos e restituirmos a sua coroa injustíssimamente usurpada pela tirania francesa.
Julgo que diria demasiado se dissesse mais alguma coisa para interessar a conhecida honra de Vossa Excelência, a fim de promover na respeitável presença de Sua Majestade o Rei da Grã-Bretanha todos os bons ofícios que possam concorrer para levar adiante esta empresa de tanta glória e de tanto interesse para todas as nações da Europa. Nesta confiança espero os socorros de 3 milhões de cruzados, armamento inteiro e guarnições para quarenta mil homens e para oito mil cavalos, três mil barris de pólvora e panos para fardamentos, e além disto alguns navios de bacalhau e outros mantimentos, tudo a crédito, e pelo melhor modo que Vossa Excelência puder concertar com o governo [britânico]. A desorganização completa a que o tirano governo francês reduziu o exército deste país, a dificuldade que se encontra para o poder organizar tão depressa como é urgente para expulsar o exército francês deste reino, me obriga a acrescentar a todas as outras requisições que acabo de fazer a Vossa Excelência, a de um corpo de seis mil homens pelo menos, em que entre alguma cavalaria. A brevidade deste auxílio pode influir muito para o bom êxito desta empresa.
Deus guarde a Vossa Excelência.
Porto, 7 de Julho de 1808.

Bispo, Presidente Governador
Manuel Lopes Loureiro
José Dias de Oliveira
António Mateus Freire de Andrade Coutinho Bandeira
António da Silva Pinto
José de Mello Freire
Luís de Sequeira da Gama Ayala
Francisco Osório da Fonseca

[Fonte: Simão José da Luz Soriano, História da Guerra Civil e do Estabelecimento do Governo Parlamentar em Portugal. Compreendendo a História Diplomática, Militar e Política deste Reino, desde 1777 até 1834 – Segunda Época - Tomo V – Parte I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1893, pp. 58-59]. 

Manifesto da Junta Suprema do Porto à Grã-Bretanha (7 de Julho de 1808)



A nação portuguesa, a mais unida e obediente a seus legítimos soberanos, obedecendo às ordens de seu Augusto e sempre adorado Príncipe, recebeu as tropas francesas como aliadas e pacíficas, e para ser conservada na sagrada religião católica, que sempre professou e há de professar, e também para conservação das suas vidas, fez todos os sacrifícios possíveis à dominação francesa. Os franceses, abusando desta religiosa e voluntária moderação, não se lembrando que a desesperação é perigosa, postergando todos os princípios do governo político, e tendo adoptado por únicas bases do seu império a sedução e a tirania; arrebatados da cega e insaciável ambição que os domina, apertaram e oprimiram os portugueses até ao ponto deles desejarem mais a morte do que a vida. Os portugueses, que deram sempre exemplos de honra e de valor a todo o mundo, poderiam eles por mais tempo suportar o infame jugo de um governo no qual não há religião, nem verdade, nem honra, nem justiça? Os portugueses, ainda na suposição de não poderem sacudir este insuportável jugo, não estimariam eles muito mais morrer com glória do que viver com ignomínia? Enfim chegou o tempo destinado pela Providência divina, fiados na qual os portugueses da cidade do Porto quebraram na manhã do memorável dia 19 de Junho do presente ano de 1808 os pesados grilhões da tirania francesa; libertaram-se e exterminaram para sempre aquele abominável governo; aclamaram novamente o Príncipe do Brasil, seu augusto, sempre amado e legítimo soberano, e tiraram as suas reais armas da obscuridade em que as tinha envolvido o governo francês, fazendo levantar de novo este sagrado estandarte, que sempre foi e há de ser respeitado enquanto durar o mundo.
Logo, na mesma cidade, no real nome do Príncipe do Brasil, foi instituída uma Junta do Supremo Governo, à qual se uniram e subordinaram unanimemente todas as províncias do norte e todas as Câmaras das vilas e cidades, as autoridades legítimas, todos os estados e povos das mencionadas províncias, com o fim único de restaurar a monarquia portuguesa para ser restituída ao seu legítimo soberano, à custa dos seus fiéis, valorosos e honrados vassalos portugueses. A cidade do Porto foi logo guarnecida por muitos milhares de voluntários, intrépidos e honrados combatentes. Nas mais cidades, vilas e lugares, praticou-se o mesmo.
Entretanto, o exército inimigo, governado pelo General Loison, que nesta conjuntura pretendia invadir as províncias do norte de Portugal, forçado pelos portugueses, se retirou fugindo, rapinando e mostrando a sua cobardia na infame vingança que tomou até nos meninos inocentes e nas povoações abertas e desguarnecidas.
A Junta do Supremo Governo já fez pôr em marcha um pé de exército, dirigido à parte ocidental e capital do reino, ainda ocupada e tiranizada pela dominação francesa. Já fez uma nova aliança com o reino da Galiza, para o fim de se expulsar de Portugal e de toda a península o inimigo comum, aliança que se espera garantida pela nossa antiga e fidelíssima aliada a Grã-Bretanha, de quem a Junta do Supremo Governo implora os precisos e convenientes socorros de dinheiro, armamento e munições.
Dado nesta cidade do Porto, pela Junta do Governo Supremo, aos 7 de Julho de 1808.

Bispo, Presidente Governador
Manuel Lopes Loureiro
José Dias de Oliveira
António Mateus Freire de Andrade Coutinho Bandeira
António da Silva Pinto
José de Mello Freire
Luís de Sequeira da Gama Ayala
Francisco Osório da Fonseca

[Fonte: Simão José da Luz Soriano, História da Guerra Civil e do Estabelecimento do Governo Parlamentar em Portugal. Compreendendo a História Diplomática, Militar e Política deste Reino, desde 1777 até 1834 – Segunda Época - Tomo V – Parte I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1893, pp. 59-61]. 

Carta do General Sir Arthur Wellesley a Viscount Castlereagh, secretário de Estado da Guerra (7 de Julho de 1808)



Cork, 7 de Julho de 1808 


Meu caro Senhor: 

Cheguei aqui na noite passada, e vi que o Regimento n.º 20 de Dragões ligeiros e os navios de 3.000 toneladas para transporte da infantaria ainda não chegaram. Todos os cavalos irlandeses incumbidos para puxar a artilharia ainda não chegaram, e não estarão a bordo antes de sábado [9 de Julho]. Proponho esperar até esse dia pelos dragões e pela tonelagem adicional, e se eles todavia não chegarem, partirei com o que está pronto, e o resto seguir-me-á depois.
[…] 
Revendo as as vossas instruções e tendo em conta o estado das circunstâncias na Espanha, de acordo com as últimas informações, antes penso que, logo que tudo parta de Cork, servirei melhor a causa indo pessoalmente à Coruña, e reunir a esquadra no Cabo Finisterra ou no Tejo. 
Tenciono assim ir a bordo num dos navios, e espero estar no ponto de encontro antes das tropas. 
Acreditai em mim, etc. 

Arthur Wellesley 


Carta do Presidente da Junta do Algarve ao Príncipe Regente (7 de Julho de 1808)



Senhor:

Meu Soberano, meu Amo, meu Senhor, eu tenho a maior glória em me achar à testa desta justa restauração, para o que tenho sacrificado o meu descanso, a minha casa, a minha família e a minha vida; se eu sobreviver não desejo outra recompensa mais do que mitigar a minha saudade, que sempre me tem acompanhado desde a desgraçada ausência de Vossa Alteza Real. A causa é tanto nossa como de Vossa Alteza Real, cujas virtudes há de Deus atender, e é por tanto que eu peço a Vossa Alteza Real [que] rogue ao Mesmo Senhor [para que] abençoe as nossas acções[?].
Tenho a honra de me pôr aos pés de Vossa Alteza Real. beijando-lhe com o mais profundo respeito a Sua Real mão.
Faro, 7 de Julho de 1808.

De Vossa Alteza Real
Vassalo mais obediente e Criado muito obrigado,

[Fonte: Adérito Fernandes Vaz, As Navegações dos Olhanenses em Caíque e a 1.ª Invasão Francesa em 1808, no contexto regional e nacional, Olhão, Elos Clube de Olhão, 2008, p. 143 (reprodução fac-símile do manuscrito original)]. 

Notícias de Badajoz relativas a Portugal (7 de Julho de 1808)


Badajoz, 7 de Julho


As praças de Campo Maior e Ouguela entregaram-se às armas do nosso augusto Soberano o sr. D. Fernando VII pelos portugueses que vieram implorar o nosso auxílio. Por este motivo o Capitão-General da Extremadura mandou que se celebrasse uma missa solene de acção de graças a Nosso Senhor, que se executou a 4 de Julho. Foi um espectáculo tão terno como terrível, ver as duas nações prostradas ao pé dos altares, na presença do Nosso Senhor Sacramentado e à vista dos Reais estandartes, a prestar o juramento mútuo de se socorrem e auxiliarem-se com todas as suas forças contra o inimigo comum, correspondendo o povo com vivas e aclamações a este solene juramento.
As povoações do Alentejo, como Évora e suas imediações, Mourão, Monsaraz, e outras, enviaram comissionados a Badajoz para pedir armas, munições e tropas. As ditas povoações desejam com vivas ânsias ser ocupadas pelos nossos exércitos.
D. Andrés Alvarez Guerra, habilitado por esta Suprema Junta para formar um batalhão de infantaria ligeira com o nome de Caçadores da Extremadura, manifestou que pagaria todo o valor do armamento inteiro dos soldados do exército inimigo que passassem para o nosso, bem como uma gratificação de 160 reales; e metade para aqueles que só trouxessem o seu novo armamento.  Dar-se-á farda completa aos que sejam admitidos no seu Regimento. Já vieram de Portugal 166 soldados, que se incorporam no dito corpo.
O exército francês de Lisboa não passa de 16.000 homens. Os seus Generais reuniram-se para tratar dos meios de se escaparem. Nesta reunião houve muitas altercações, das quais resultou ferido o Intendente [Lagarde].


[Fonte: Gazeta Ministerial de Sevilla, n.º 14, 16 de julio de 1808, p. 110-111].