sábado, 5 de março de 2011

Aviso do Intendente Geral da Polícia, Lucas de Seabra da Silva, sobre as declarações relativas às apreensões de bens e mercadorias inglesas (5 de Março de 1808)



Todos os sequestros e declarações que se mandaram fazer sobre os bens e mercadorias inglesas e sobre créditos pertencentes aos vassalos da Grã-Bretanha, que em consequência das ordens para esse fim expedidas se formalizaram nesta capital e províncias, foram imediatamente remetidos à Secretaria de Estado das Finanças, logo que foram enviados a esta Intendência, sem que na Secretaria dela ficassem outras clarezas[=declarações por escrito] que não fossem as necessárias para constar da expedição das ordens, remessas dos ditos sequestros e declarações. Quando pois, nesse juízo, tenha havido omissão em deixar os traslados que nele deviam ficar, deve Vossa Mercê dirigir-se ou à mesma Secretaria ou a Mr. Lagoy. 
Deus Guarde a Vossa Mercê. 
Lisboa, 5 de Março de 1808. 

Lucas de Seabra da Silva 


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[Fonte: Discursos do Imortal Guilherme Pitt..., pp. 431-432 (compilação de vários textos impressos e manuscritos desta época)].

Carta de Junot a Thiébault (4 de Março de 1808)


Arquivo Histórico Militar, 1.ª div., 14.ª sec., cx. 4, doc. 1

Carta de Napoleão a Junot (4 de Março de 1808)



Paris, 4 de Março de 1808 



Recebi as vossas notícias de 14 de Fevereiro, que me trouxe o meu oficial de ordenanças Tascher. Tudo o que eu percebo de Portugal é que o país não está inteiramente desarmado, observação que não pode de nenhuma maneira chegar à Inglaterra, que supõe que não é prudente fazer um ataque. Não consigo explicar e não encontro razões que sejam a causa pela qual vós ainda não me enviastes as tropas portuguesas, e que, a 15 de Fevereiro, ou seja, dois meses e meio depois da vossa entrada em Portugal, essas tropas ainda se encontrem aí. Há algo de loucura nisso. No meio disto, publicais com ênfase o meu decreto que impõe uma contribuição de cem milhões [de francos]; mas era preciso esperardes que fôsseis senhor do país. Credes sê-lo hoje? Relendo as cartas que vos escrevi desde a vossa entrada em Portugal, vereis que não fizestes nada do que eu desejava. Respondeis-me com belas palavras, mas não fazeis o que desejo. É irritante para mim ver os meus projectos contrariados desta forma. Entrastes em Portugal no dia 1 de Dezembro; no dia 15 de Dezembro, as tropas portuguesas, formadas ou não, deviam ter sido dirigidas em grandes marchas até França, para chegarem a Bayonne entre 15 de Janeiro e 1 de Fevereiro, onde eu as teria feito organizar. Logo depois que essas tropas tivessem partido, eu teria procedido ao desarmamento [do país]. Eis aqui o que se chama tornar-se senhor dum país. Enfim, foi longa a vossa inadvertência, ao deixar as praças-fortes nas mãos de portugueses durante meses inteiros. Eu não sei em que escola é que vos formastes. Na Itália, onde não tenho mais que me louvar dos habitantes, onde sou o seu soberano legítimo, onde as suas tropas são pagas por mim, ainda hoje não deixo as suas praças-fortes nas mãos dos comandantes italianos, estando lá o meu exército. Vós somente projectais a organização; e ela é ridícula nas circunstâncias em que vos encontrais. A primeira coisa a fazer é, sem perda de tempo, dirigir as tropas portuguesas para a França. Infelizmente, isto hoje é já bem tarde. Jamais esperava uma conduta assim tão invulgar. 
Não compreendo nada da má disposição dos vossos acampamentos; é preciso ter as vossas tropas reunidas e ocupar as praças-fortes de Elvas e de Almeida. Não sei o que é que entendeis por “exército português”; quando os ingleses desembarcarem, irão juntar-se a ele, e seriam imbecis se não o fizessem. Não achava que fôsseis tão desprovido de política e de precaução; mas estais numa situação que nunca vi exemplo. Repito-vos a minha ordem para retirardes as minhas tropas de Lisboa; não quero que elas continuem no meio da população de uma cidade enorme, expostas à falta de pão. É preciso abarracá-las em condições sãs e de maneira a tê-las à mão. 

[Fonte: Correspondance de Napoléon Ier - Tome XVI, Paris, Imprimerie Impériale, 1864, pp. 457-458 (n.º 13620)].