quarta-feira, 13 de julho de 2011

Boletim n.º 4 do Exército [francês] de Portugal (13 de Julho de 1808)




[Fonte: 2.º Supplemento à Gazeta de Lisboa, n.º 27, 14 de Julho de 1808].




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Errata: 

Na 10.ª linha e seguinte da última folha deste boletim, onde se lê "tão cheios de gravidade", deve-se antes ler "tão cheios de generosidade" (correcção feita na Gazeta de Lisboa, n.º 28, 18 de Julho de 1808).

Em relação aos topónimos (algumas vezes completamente desfigurados nas fontes francesas e inglesas), devem ser feitos dois reparos: Serpentina não é mais do que a aldeia de Souro Pires (concelho de Pinhel) [ver a este respeito Adelino Gomes, "A Primeira Invasão - Os Massacres", in jornal Público de 18 de Novembro de 2007]; enquanto que Cortisada é o vale da Cortiçada (não confundir com topónimos semelhantes ou homónimos), situado pouco abaixo da vila da Sertã, perto da Cumeada.

Carta das autoridades, clero, nobreza e povo de Évora à Junta da Extremadura, em resposta a um ofício de D. Federico Moretti, no qual se requeria que a dita cidade se declarasse contra os franceses (13 de Julho de 1808)



Em consequência do ofício que foi dirigido a esta cidade pelo Coronel comandante da praça de Juromenha [D. Federico Moretti], foram juntas todas as Autoridades, Clero, Nobreza e Povo, que resolveram expor a Vossa Excelência que a posição desta cidade e as actuais circunstâncias fazem com que não tenhamos liberdade alguma para darmos uma decisão.
Deus Guarde a Vossa Excelência felizes anos.
Évora, treze de Julho de mil oitocentos e oito.

[Ao] Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Comandante, General e Presidente da Suprema Junta da Extremadura. 

Autoridades: 
Frei Manuel, Arcebispo de Évora 
Jacinto, bispo do Maranhão
Francisco de Paula Leite, Tenente-General da província do Alentejo
Francisco Pereira da Silva, Coronel das Milícias
Francisco Manuel Cousseiro da Costa, Tenente-Coronel comandante da praça
Manuel Ferreira da Costa, Sargento mor das Ordenanças
Joaquim de Sousa e Menezes, Deão
António José de Oliveira, Vigário Geral
O Corregedor da Comarca, José Paulo de Carvalho

Câmara: 
Luís de Macedo Guerreiro Reimão
O Desembargador José Francisco Fernandes Correia 
Juiz de Fora dos Órfãos
Fernando da Silveira Galvão da Gama e Cubellos
Norberto de Sousa Barreto Ramim

Clero: 
O Doutor Sebastião José Barbosa Cordovil, Cónego
O Doutor Magistral Francisco Gonçalves
O Desembargador Manuel de Jesus Lamego
Francisco Pereira Merinho, Reitor do Colégio de São João Evangelista
O Superior de São Domingos, Frei José de São Tomás Simões
Frei Tomé de Santa Maria e Cintra, Guardião

Nobreza: 
Fernando da Silva Telles Galvão, Desembargador aposentado no Porto
João de Mesquita Pimentel e Pavia
Fernando de Mesquita Pimentel e Pavia
Joaquim José Vieira
António Jacinto da Fonseca
António Manuel Vieira de Lacerda
Francisco José Ribeiro
Joaquim José de Soire
Manuel Rodrigues Pinto da Silveira
António José Pastana

Povo: 
Sebastião Rosado Baptista
Nuno José dos Santos, Procurador do Povo
José Gomes de Almeida Negrão, Escrivão do Povo
José Lopes de Orta, Mester do Povo
Jacinto José Mendes
Joaquim José Bernardes
Mester do Povo João Inácio

[Fonte: Frei Manuel do Cenáculo Villas-Boas, Diário - 5.º Códice, fls. 100-100v (disponível para consulta on-line na Biblioteca Digital do Alentejo)].


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Nota:


Como atrás vimos, no dia 21 de Junho D. Federico Moretti tinha ocupado a praça-forte de Juromenha, donde posteriormente viria a enviar algumas cartas e proclamações às povoações dos arredores, apelando à união dos portugueses com os espanhóis contra os franceses. Contudo, o exemplo bem próximo da repressão de Vila Viçosa (no dia 20) parece ter motivado que os portugueses só se começassem a manifestar depois da maior parte do exército francês ter abandonado a região, entre finais de Junho e inícios de Julho, com destino a Lisboa, de acordo com ordens de Junot a Kellermann. À excepção de Elvas, que conservou uma guarnição de cerca de 3.000 homens, diversas povoações aproveitaram esta saída para se começarem a levantar, formando-se Juntas de governo em muitas delas, e instalando-se em algumas pequenos destacamentos de espanhóis: Marvão, Campo Maior, Ouguela, Castelo de Vide, Portalegre, Arronches, Borba, Vila Viçosa, etc., acabando todas estas localidades por se submeter à Junta de Estremoz. 
Apesar de todos estes movimentos, os apelos de Moretti não surtiram efeito nos representantes de Évora, como se percebe pelo documento acima transcrito, que foi sem dúvida um dos principais factores que motivaram Moretti a partir de Juromenha com destino a Évora, no dia 18 de Julho, ao comando de cerca de 1.000 homens, como mais adiante veremos.


Proclamação do Coronel António Hipólito da Costa, comandante do Regimento de Infantaria de Lagos, aos seus camaradas de Monchique (13 de Julho de 1808)




O nosso General e Presidente do Supremo [Governo] da Regência deste Reino do Algarve determinou que se organizassem os Regimentos com 1.600 praças, como tinham no feliz Governo do nosso Augusto Príncipe Regente, visto que está restaurada a nossa Monarquia e em pé as saudáveis leis que faziam a nossa felicidade. É pois chegada a hora, intrépidos e honrados camaradas, de defendermos a pátria, a sagrada religião e o Estado, unindo-nos ao Regimento onde temos a glória de existirem ainda as bandeiras que nós, com toda a felicidade e amor, juramos não desamparar, antes sim derramar todo o nosso sangue em sua defesa, prestando a mais cega obediência aos nossos superiores, base a mais sólida das monarquias e que de uma vez nos fará sacudir o jugo e escravidão em que nos faziam vergonhosamente jazer os malvados franceses. É com a nossa armada, auxiliada pelos nossos amigos e fiéis aliados ingleses e pelos valorosos espanhóis, igualmente sofredores da nossa desgraçada sorte, que poderemos conseguir a independência. Camaradas! Sem perda de tempo concorrei a alistar-vos no nosso Regimento, assim como já o fizeram mais de 700 dos nossos antigos camaradas, além do grande número de voluntários que, com ardor, zelo e patriotismo, correram a procurar a glória de defender a pátria. Para a subsistência de todos se tem providenciado, vencendo cada praça, diariamente, pão, soldo e etapa*, principiando os seus vencimentos no dia em que se me apresentarem ou se apresentarem no Regimento. Eia Camaradas! Com constância e honra corramos a defender os nossos direitos, os sagrados direitos da religião e os da monarquia, decapitando o inimigo comum e colocando e segurando no trono o nosso Augusto Príncipe.
Monchique, 13 de Julho de 1808.

António Hipólito da Costa

[Fonte: Manoel João Paulo Rocha, Monographia - As forças militares de Lagos nas Guerras da Restauração e Peninsular e nas pugnas pela liberdade, Porto, Typographia Universal, 1909, pp. 207-208 (existe uma reedição pela editora Algarve em Foco, com o título Monografia de Lagos)].

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Nota: 

Etape, no original - ração de tropas em marcha.

Plano de um Batalhão de Caçadores (13 de Julho de 1808)



Plano de um Regimento de Infantaria de Linha (13 de Julho de 1808)



Plano de um Regimento de Cavalaria (13 de Julho de 1808)



Instruções da Junta do Governo Supremo do Porto aos Oficiais encarregados da organização e remonta dos Regimentos do norte do país (13 de Julho de 1808)



Edital da Junta do Porto sobre o aumento dos efectivos militares dos distintos corpos do norte do país (13 de Julho de 1808)