quarta-feira, 13 de julho de 2011

Carta das autoridades, clero, nobreza e povo de Évora à Junta da Extremadura, em resposta a um ofício de D. Federico Moretti, no qual se requeria que a dita cidade se declarasse contra os franceses (13 de Julho de 1808)



Em consequência do ofício que foi dirigido a esta cidade pelo Coronel comandante da praça de Juromenha [D. Federico Moretti], foram juntas todas as Autoridades, Clero, Nobreza e Povo, que resolveram expor a Vossa Excelência que a posição desta cidade e as actuais circunstâncias fazem com que não tenhamos liberdade alguma para darmos uma decisão.
Deus Guarde a Vossa Excelência felizes anos.
Évora, treze de Julho de mil oitocentos e oito.

[Ao] Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Comandante, General e Presidente da Suprema Junta da Extremadura. 

Autoridades: 
Frei Manuel, Arcebispo de Évora 
Jacinto, bispo do Maranhão
Francisco de Paula Leite, Tenente-General da província do Alentejo
Francisco Pereira da Silva, Coronel das Milícias
Francisco Manuel Cousseiro da Costa, Tenente-Coronel comandante da praça
Manuel Ferreira da Costa, Sargento mor das Ordenanças
Joaquim de Sousa e Menezes, Deão
António José de Oliveira, Vigário Geral
O Corregedor da Comarca, José Paulo de Carvalho

Câmara: 
Luís de Macedo Guerreiro Reimão
O Desembargador José Francisco Fernandes Correia 
Juiz de Fora dos Órfãos
Fernando da Silveira Galvão da Gama e Cubellos
Norberto de Sousa Barreto Ramim

Clero: 
O Doutor Sebastião José Barbosa Cordovil, Cónego
O Doutor Magistral Francisco Gonçalves
O Desembargador Manuel de Jesus Lamego
Francisco Pereira Merinho, Reitor do Colégio de São João Evangelista
O Superior de São Domingos, Frei José de São Tomás Simões
Frei Tomé de Santa Maria e Cintra, Guardião

Nobreza: 
Fernando da Silva Telles Galvão, Desembargador aposentado no Porto
João de Mesquita Pimentel e Pavia
Fernando de Mesquita Pimentel e Pavia
Joaquim José Vieira
António Jacinto da Fonseca
António Manuel Vieira de Lacerda
Francisco José Ribeiro
Joaquim José de Soire
Manuel Rodrigues Pinto da Silveira
António José Pastana

Povo: 
Sebastião Rosado Baptista
Nuno José dos Santos, Procurador do Povo
José Gomes de Almeida Negrão, Escrivão do Povo
José Lopes de Orta, Mester do Povo
Jacinto José Mendes
Joaquim José Bernardes
Mester do Povo João Inácio

[Fonte: Frei Manuel do Cenáculo Villas-Boas, Diário - 5.º Códice, fls. 100-100v (disponível para consulta on-line na Biblioteca Digital do Alentejo)].


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Nota:


Como atrás vimos, no dia 21 de Junho D. Federico Moretti tinha ocupado a praça-forte de Juromenha, donde posteriormente viria a enviar algumas cartas e proclamações às povoações dos arredores, apelando à união dos portugueses com os espanhóis contra os franceses. Contudo, o exemplo bem próximo da repressão de Vila Viçosa (no dia 20) parece ter motivado que os portugueses só se começassem a manifestar depois da maior parte do exército francês ter abandonado a região, entre finais de Junho e inícios de Julho, com destino a Lisboa, de acordo com ordens de Junot a Kellermann. À excepção de Elvas, que conservou uma guarnição de cerca de 3.000 homens, diversas povoações aproveitaram esta saída para se começarem a levantar, formando-se Juntas de governo em muitas delas, e instalando-se em algumas pequenos destacamentos de espanhóis: Marvão, Campo Maior, Ouguela, Castelo de Vide, Portalegre, Arronches, Borba, Vila Viçosa, etc., acabando todas estas localidades por se submeter à Junta de Estremoz. 
Apesar de todos estes movimentos, os apelos de Moretti não surtiram efeito nos representantes de Évora, como se percebe pelo documento acima transcrito, que foi sem dúvida um dos principais factores que motivaram Moretti a partir de Juromenha com destino a Évora, no dia 18 de Julho, ao comando de cerca de 1.000 homens, como mais adiante veremos.