domingo, 12 de junho de 2011

Carta do General Spencer ao Secretário de Estado da Guerra da Grã-Bretanha, Visconde Castlereagh (12 de Junho de 1808)



H.M.S. Atlas, barra de Cádis, 12 de Junho de 1808 


Meu Senhor: 

Tenho a grande satisfação em noticiar que os cinco navios de linha e a fragata que compõem a esquadra francesa colocaram-se em posição defensiva no canal que conduz a Caraca, fora do alcance das fortificações de Cádis, recusando atender a quaisquer condições. As embarcações armadas espanholas e as baterias erigidas com o mesmo objectivo na ilha de León e perto do forte Luís, começaram as hostilidades contra os navios franceses às três da tarde do dia 9, e o fogo continuou ininterruptamente em ambos os lados até à noite. Na manhã do dia 10 foram recomeçadas as hostilidades da parte dos espanhóis e continuaram parcialmente até às duas horas da tarde, quando uma bandeira de tréguas foi hasteada pelos franceses; mas como as condições que propuseram eram inadmissíveis, os espanhóis recomeçaram as hostilidades com uma bateria adicional, a leste do forte Luís, que era composta por trinta canhões de vinte e quatro libras. 
O Almirante Purvis e eu próprio desejávamos ter cooperado neste ataque, mas os espanhóis, confiantes nas suas próprias forças, declinaram as nossas ofertas de assistência. 
O Conselho Supremo de Sevilha nomeou comissários, tendo expedido passaportes e uma fragata, na noite passada, para levá-los à Inglaterra, e eles também estão igualmente ansiosos por remeter faluas com despachos para a América do Sul. 
Foram recebidas informações segundo as quais um pequeno corpo francês estava a reunir-se em Tavira, com o objectivo de entrar na Espanha pelo rio Guadiana; fomos requeridos para nos dirigirmos até este corpo, e atacá-los na costa ou esforçarmo-nos para prevenir que continuem na prossecução dos seus planos contra a Espanha. Tenciono consequentemente partir imediatamente para executar este objectivo, logo que tenha a aprovação de Lord Collingwood. 
O Almirante Purvis já destacou três navios de guerra para a boca do Guadiana, e ofereceu quaisquer outras ajudas necessárias, que o Lord Collingnwood tem desde então confirmado. 
Tenho a honra de ser, etc. 

B. Spencer, Major-General 



Carta do General Spencer a Lord Collingwood (12 de Junho de 1808)



H.M.S. Atlas, 12 de Junho de 1808 


Meu Senhor: 

Acabei de ser honrado com a carta de Vossa Senhoria, em resposta à qual rogo que tenhais em consideração a impropriedade do meu corpo tomar uma posição no interior [da Espanha], sujeitando-me a ser chamado a juntar-me ao exército espanhol, talvez em Sevilha, estando o meu corpo mal equipado para uma acção de campo, o que concebo ser muito contrário aos desejos dos ministros de Sua Majestade [Britânica]. 
Estou, portanto, ansioso para dirigir-me à barra de Ayamonte logo que seja possível. 
Tenho a honra de ser, etc. 

B. Spencer, Major-General 

[Fonte: Memoir, written by General Sir Hew Dalrymple, Bart., of his proceedings as connected with the affairs of Spain, and the commencement of the Peninsular War, London, Thomas and William Bone Strand., 1830, p. 229].


Carta de George Canning, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros da Grã-Bretanha, aos enviados da Junta das Astúrias (12 de Junho de 1808)



Secretaria dos Negócios Estrangeiros, 12 de Junho de 1808.




Caros Senhores:


Transmiti ao Rei meu amo a carta que a Junta geral do Principado das Astúrias incumbiu Vossas Senhorias de trazer a Sua Majestade, bem como os poderes com que foram autorizados para pedir em nome da Junta a ajuda de Sua Majestade.
O Rei manda-me assegurar a Vossas Senhorias que Sua Majestade vê com o mais vivo interesse a determinação leal e valorosa do Principado das Astúrias para manter uma contenda pela restauração e independência da Monarquia espanhola contra a usurpação atroz da França.
Deste modo, Sua Majestade está disposta a conceder todo o género de apoio e assistência a um esforço tão magnânimo e digno de elogios.
Conforme a esta disposição, Sua Majestade serviu-se mandar que embarquem sem demora para o porto de Gijón os artigos de socorros militares que Vossas Senhorias detalharam como sendo os mais necessários para já; e deu ordens para que se dirija às costas das Astúrias uma força naval suficiente para protegê-la contra qualquer tentativa que a França possa fazer para introduzir tropas por mar no país. Sua Majestade terá gosto em fazer qualquer esforço posterior em apoio de uma causa tão justa.
O Rei manda-me declarar a Vossas Senhorias que está Sua Majestade pronta a estender o seu apoio a todas as demais partes da Monaquia espanhola que se mostrem animadas do mesmo espírito que os habitantes das Astúrias; e ainda que o seu desejo sincero é renovar os vínculos de amizade que subsistiram por tanto tempo entre as duas nações, e dirigir os seus esforços unidos contra aquela potência que se mostrou não menos inimiga da Espanha que da Grã-Bretanha.
Devo recomendar que não se perda tempo em avisar a Junta geral das Astúrias do modo que se serviu Sua Majestade acolher as proposições que lhe chegaram através de Vossas Senhorias, e participo-lhes que se acha pronta em Portsmouth uma embarcação para conduzir qualquer pessoa que tenham o gosto de enviar com esta comunicação.
Tenho a honra de ser, com a maior consideração, o mais atento e seguro criado de Vossas Senhorias.


George Canning

[Fonte: Demostracion de la lealtad espanola: coleccion de proclamas, bandos, ordenes, discursos, estados de exercito y relaciones de batallas publicadas por las juntas de gobierno o por algunos particulares en las actuales circunstancias - Tomo Segundo, Cádiz, 1808, pp. 21-22; Carta Misiva del Principado de Asturias a S.M. Británica sobre las circunstancias actuales de la España, y la contestacion de este Soberano, Valencia, Joseph de Orga, 1808. Existe uma outra tradução portuguesa publicada por José Accursio das Neves, Historia Geral da Invasão dos Francezes em Portugal, e da Restauração deste Reino - Tomo V, Lisboa, Officina de Simão Thaddeo Ferreira, 1811, pp. 17-19].

Boney at Bayonne blowing a Spanish Bubble, caricatura publicada por Thomas Tegg (12 de Junho de 1808)




Bonaparte em Bayonne enchendo uma bolha espanhola.
Caricatura publicada por Thomas Tegg a 12 de Junho de 1808.


Apesar de termos traduzido literalmente o título desta caricatura, devemos notar que outra tradução possível seria Bonaparte em Bayonne difundindo um rumor espanhol, como que aludindo às notícias que a imprensa napoleónica começou a espalhar a partir daquela cidade (ver em particular uma carta anónima de 8 de Maio de 1808, atrás publicada), antes mesmo da abdicação da família real espanhola. Assim, Napoleão é representado a criar uma enorme bolha (note-se que outro significado de bubble, em inglês, é "embuste"), dentro da qual aparecem, da esquerda para a direita, D. Carlos IV, a sua esposa D. Maria Luísa, D. Fernando VII e Godoy, todos eles (exceptuando a rainha) com as cabeças despojadas. Bonaparte cumprimenta-os com mostras de amizade: Meu bom velho Rei, confiai em mim, venho como um Amigo! Digníssima Rainha, Vossa Majestade nada tende a recear de mim. Ah! O Príncipe das Astúrias, meu Amigo e Irmão! Generosíssimo Príncipe da Paz, vede em mim o vosso Anjo da Guarda. Apesar destas promessas e garantias, Bonaparte está sentado num tambor de guerra, rodeado de três peças de artilharia (uma das quais cheia de espuma de sabão gálica), e munido de diversas balas de amizade. Lançando fogo à bombarda que está à sua frente, Napoleão dispara uma bala/bolha em direcção a Madrid, sob as aparências de uma visita amigável, mas que, ao rebentar, dela irrompem diversos soldados franceses, os quais caiem sobre a capital espanhola. Trata-se duma nítida alusão à repressão dos motins madrilenos de 2 de Maio de 1808, o que aliás coincide com uma outra tradução possível de blowing a bubble: "estoirando/atacando uma efervescência"... 


Pormenor