sábado, 10 de setembro de 2011

Carta da Junta de Beja ao General Dalrymple (10 de Setembro de 1808)





Beja, 10 de Setembro de 1808.



Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Comandante em Chefe do Exército britânico:

A Junta Suprema desta cidade e província, reconhecendo em Vossa Excelência todas as qualidades e virtudes capazes de suportar o carácter duma nação verdadeiramente grande (a generosa Inglaterra), verdadeira amiga do nosso amado Soberano, tem a satisfação de manifestar a Vossa Excelência os nossos sentimentos mais puros de amizade e de gratidão.
Até agora, nenhuma circunstância desconcertou o patriotismo da cidade de Beja ou das povoações dos arredores, que têm todas, como a própria cidade, continuado a ser subordinadas e unidas, para dar a maior prova do seu amor e fidelidade pelo seu legítimo Soberano, em cujo coração habitam as virtudes.
Todos têm conhecimento da assistência que nos foi enviada pela Grande Nação (pelos generosos ingleses) tal como pelos nossos amigos fraternos, os espanhóis.
Portugal mereceu isto; e as três nações unidas protegerão a religião, restaurarão os Soberanos, e aliviarão os sofrimentos do país. E chega agora o tempo dos opressores experienciarem não só o que merecem enquanto inimigos, mas mais ainda enquanto delinquentes. Vossa Excelência sabe que eles não foram simples intrusos, mas que a sua audácia ilimitada lançava-se contra a dignidade da Casa de Bragança, o que feriu os corações dos portugueses, e que somente pode ser curado pela destruição destes inimigos. Começando por ofender a Sua Majestade humana, eles elevaram os seus insultos até mesmo contra a Divina Majestade, cujos altares saquearam. Os portugueses, fiéis cristãos, e a província do Alentejo, provaram ser homens dignos, unidos à Junta Suprema, estando perfeitamente dispostos a derramar a última gota do seu sangue em defesa da sua religião, do seu Soberano e do seu país. O povo de Lisboa é irmão do povo do Alentejo; e ele irá, em companhia com este, procurá a vitória, ou morrer gloriosamente na batalha contra o vil inimigo, ao qual não se pode dar permissão para deixar a capital sem impunidade, quando eles, pelos seus crimes, ofenderam tanto a religião como a humanidade.
A Junta Suprema tem liberdade de sentimentos, estando segura que Vossa Excelência a receberá favoravelmente, pelos ditos sentimentos estarem em consonância com os vossos. Vossa Excelência, que se uniu a nós para vencer, unir-se-á também para punir.
A Junta Suprema é sensível do pouco uso da vida, quando esta não é arriscada durante algum tempo em defesa da nossa religião ou do nosso Rei. Morrer como mártir pela religião ou pelo patriotismo é, em ambos os caso, morrer com glória, quando a ocasião o requer. E requeremos que Vossa Excelência permitir-nos-á tomar uma oportunidade de digna emolução da nação portuguesa.
Esta Junta Suprema ama, no mais alto grau, a nação britânica; e por Vossa Excelência, o seu valoroso General, eles têm a mais alta consideração.


D. João José Mascarenhas de Azevedo.
D. Silvestre dos Santos Chaves.
D. António Joaquim d'Oliveira.
D. Diego da Buenha Sotto, Major.
D. Manuel do Cabo de Arcez.


[Fonte: Copy of the Proceedings upon the Inquiry relative to the Armistice and Convention, &c. made and conclued in Portugal, in August 1808, between The Commanders of the British and French Armies, London, House of Commons Papers, 31st Jannuary 1809, p. 214 (doc. 127)].

Notícias publicadas na Minerva Lusitana (10 de Setembro de 1808)



Lisboa, 10 de Setembro, pelas 5 horas da tarde. 

A Fundição, [o] Arsenal, e dizem também que o Castelo, estão já guarnecidos pelos nossos aliados ingleses; de que já entrou um grande número em Lisboa com o General Beresford. O forte do Exército português ainda está hoje em Mafra; mas assegura-se que fará a sua entrada amanhã.
Quase todos os franceses estão, há dias, abarracados no Terreiro do Paço, Rossio, Campo de Santana [actual Campo dos Mártires da Pátria], e no largo de São Paulo; e começaram já hoje a embarcar.
Ontem apresentaram-se no Quartel-General inglês muitas pessoas constituídas em autoridade, e entre as quais alguns dos Governadores do Reino.
O Tejo não oferece, há muitos anos, mais vistoso e lisonjeiro espectáculo, pelo considerável número de embarcações que têm entrado.

[Fonte: Minerva Lusitana, 12 de Setembro de 1808]. 

Proclamação dos Comissários britânicos (Proby e Beresford) e francês (Kellermann) encarregados da execução da Convenção de 30 de Agosto (10 de Setembro de 1808)



Proclamação dos Comissários britânicos e francês encarregados de fazer executar a Convenção ajustada entre os respectivos Comandantes em Chefe


Para cumprimento das estipulações feitas na Convenção ajustada para a evacuação de Portugal pelo exército francês*, assentámos que toda a qualidade de propriedade confiscada ou usurpada dos vassalos ou outras pessoas residentes em Portugal, ou dos Palácios Reais, Bibliotecas Públicas e Museus, ou de outras pessoas, ainda existente em Portugal, deveria ser restituída. 
Nós, os Comissários encarregados da execução da dita Convenção, visto que Sua Excelência o Comandante em Chefe do Exército francês o tem já feito saber ao seu Exército**, houvemos também por justo e conveniente fazer publicar o mesmo, para instrução de todos os que nisto forem interessados; e para facilitar a restituição ou o recebimento de tais propriedades, julgámos conveniente nomear uma Comissão composta de três pessoas, a saber: o Senhor Tenente-Coronel Trant, o Senhor António Rodrigues de Oliveira, e Mr. Debluir, Comissário de Guerra, que se juntarão no Largo do Loreto n.º 8, os quais são nomeados a fim de receber, inquirir e julgar de todas as reclamações desta natureza; devendo receber a devida execução as suas ordens de restituição de propriedade, seja quem for a pessoa a quem elas forem dirigidas. 
A fim de [as]segurar a conservação dos objectos ou móveis que foram tirados das casas Reais ou públicas, para uso e cómodo de quaisquer Generais, Administradores ou outros indivíduos do Exército francês, declaramos que as pessoas que possuírem propriedades sequestradas ou usurpadas ficam responsáveis por elas, seja qual fora a casa ou lugar para onde ou donde tenham sido removidas. 
Estes mesmos possuidores devem trazer a descrição de todos os móveis, com o nome de seus proprietários, ficando obrigados a todo o seu conteúdo; o que será entregue somente depois da prova legal do direito de propriedade. Os possuidores dos artigos acima mencionados deverão apresentar nesta Comissão uma relação exacta de tudo quanto possam ter em seu poder das referidas propriedades. E todas as pessoas poderão dirigir-se seguramente a este Tribunal.
Julgámos igualmente necessário fazer saber a todos aqueles a quem pertencer, que toda a compra dos artigos tirados de Arsenais públicos ou armazéns desde o dia 30 de Agosto, ou [de] qualquer objecto que legalmente se provar haver sido ilegitimamente vendido ou distraído em qualquer tempo ainda anterior ao dia 30 de Agosto, será nula e de nenhum efeito; e os artigos usurpados e os compradores sujeitos à pena decretada pelas Leis. 
A Comissão empregada para receber as reclamações e facilitar a restituição das propriedades terá as suas sessões em casa do Senhor António Rodrigues de Oliveira, n.º 8 no Largo do Loreto. 
Lisboa, 10 de Setembro de 1808. 

O Comissário francês para a execução do Tratado de 30 de Agosto, 
O General Kellermann. 

W. C. Beresford, Major General 
Proby, Tenente Coronel. 
Comissário britânicos.


[Fonte: Esta proclamação foi publicada originalmente no dia 11 de Setembro, através dum edital que continha tanto a versão original em inglês como a respectiva tradução em português, que acima transcrevemos. Curiosamente, consta na última página (de 3) do edital original que o mesmo tinha sido impresso na Impressão Régia (título que, como já referimos, o Governo francês chefiado por Junot tinha substituído pelo de Impressão Imperial e Real), sendo assim, pelo menos aparentemente, o primeiro documento que foi publicado novamente com o seu antigo título. A referida versão em inglês foi publicada posteriormente in Copy of the Proceedings upon the Inquiry relative to the Armistice and Convention, &c. made and conclued in Portugal, in August 1808, between The Commanders of the British and French Armies, London, House of Commons Papers, 31st Jannuary 1809, p. 195 (doc. 86). Em português, a proclamação foi também publicada no Correio Braziliense, Londres, Outubro de 1808, pp. 408-409; e posteriormente, em pelo menos outras duas fontes: Julio Firmino Judice Biker, Supplemento á Collecção dos Tratados, Convenções, Contratos e Actos Públicos celebrados entre a Corôa de Portugal e as mais Potências desde 1640 - Tomo XVI, Lisboa, Imprensa Nacional, 1878, pp. 241-243 (contém o texto original em inglês e a tradução em português); e Simão José da Luz Soriano, História da Guerra Civil e do Estabelecimento do Governo Parlamentar em Portugal. Compreendendo a História Diplomática, Militar e Política deste Reino, desde 1777 até 1834 – Segunda Época - Tomo V – Parte I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1893, pp. 120-121. Finalmente, devemos mencionar que no Arquivo Histórico Militar encontra-se uma cópia manuscrita deste documento traduzido para o francês (cota: PT AHM/DIV/1/14/162/41)]. 

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Notas:

Deve notar-se que, nesta data, apesar de já terem começado a surgir rumores sobre a Convenção (só depois chamada de Sintra) que os franceses tinham assinado com os britânicos, o grande público ignorava completamente o conteúdo exacto dos artigos da dita convenção, que eram então conhecidos, em toda a sua extensão, por pouquíssimas pessoas (entre as quais se contavam o General Bernardim Freire de Andrade, o seu Ajudante de Ordens, e todos ou pelo menos alguns dos membros da Junta de Governo do Porto. 

*Através das ordens publicadas no dia 6 de Setembro e no dia seguinte

Edital da Junta do Porto sobre a organização do Corpo de Cavalaria da Guarnição do Porto (10 de Setembro de 1808)





Carta do General Bernardim Freire de Andrade ao General Dalrymple (10 de Setembro de 1808)




Quartel-General, Mafra, 10 de Setembro de 1808.



Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor:

Acabo de receber ordens da Junta do Governo Supremo Provisional estabelecida na cidade do Porto, que determinam [que] combine com Vossa Excelência a parte que devo ter na entrada e ocupação de Lisboa, como também sobre a posição e comportamento, tanto do Exército do meu comando, como de todas as mais tropas portuguesas que se acham empregadas em qualquer parte deste Reino, e principalmente das que estão [empregadas] no bloqueio de Almeida; e que em consequência do que ajustar com Vossa Excelência, assim o faça observar pelas sobreditas tropas, expedindo para isso as ordens necessárias. E como tudo isto exige detalhes e combinações que se devem prosseguir sem interrupção, torno a enviar junto a Vossa Excelência o Major Aires Pinto, oficial da minha particular confiança, e a quem encarrego de tratar sobre os mesmos assuntos, e de me comunicar o que se ajustar, para que eu possa expedir as ordens convenientes da forma que pela sobredita Junta de Governo se me determina.
Deus guarde Vossa Excelência.
Quartel-General de Mafra, 10 de Setembro de 1808.
Muito atento e respeitoso servidor,

Bernardim Freire de Andrada [sic].

[Fonte: Luís Henrique Pacheco Simões (org.), "Serie chronologica da correspondencia diplomatica militar mais importante do General Bernardim Freire de Andrade, Commandante em Chefe do Exercito Portuguez destinado ao resgate de Lisboa com a Junta Provisional do Governo Supremo estabelecido na cidade do Porto e o Quartel General do Exercito Auxiliar de S. Magestade Britanica em Portugal", in Boletim do Arquivo Histórico Militar - Vol. II, 1931, pp. 3-77, p. 58 (doc. 101). Este texto foi originalmente publicado em inglês, in Copy of the Proceedings upon the Inquiry relative to the Armistice and Convention, &c. made and conclued in Portugal, in August 1808, between The Commanders of the British and French Armies, London, House of Commons Papers, 31st Jannuary 1809, p. 210 (doc. 117)].

Instruções do General Bernardim Freire de Andrade ao Major Aires Pinto de Sousa (10 de Setembro de 1808)



O Senhor Major Aires Pinto de Sousa Coutinho passará imediatamente ao Quartel-General do Exército inglês, estabelecido em Oeiras, a fim de tratar com o General em Chefe do sobredito Exército, e na conformidade do que se me determina pela Junta do Governo Supremo Provisional estabelecido na cidade do Porto, dos seus objectos:


1.º Combinar a parte que devo ter na entrada e ocupação de Lisboa: sobre este este assunto deve o Sr. Aires Pinto saber que, tendo-me requerido o General em Chefe do Exército inglês um destacamento de três mil homens, que deveria entrar em Lisboa com outro destacamento maior, que comanda o Tenente-General inglês Hope, se mandou reunir este Corpo em Bucelas, aonde deve ficar hoje; que este Corpo, que será comandado pelo Brigadeiro Manuel Pinto Bacelar, se compõe de um Batalhão de Infantaria escolhida dos três Regimentos de Almeida, Penamacor e Bragança, da força de quinhentos homens; de outro Batalhão espanhol de igual força; dos Corpos que comanda o Brigadeiro Marquês de Valladares; de um Batalhão de igual força do Regimento n.º 18, ou 2.º do Porto; de outro de igual força do Corpo do Regimento de Infantaria n.º 21, ou Valença; e de toda a Infantaria da Guarda Real da Polícia, que aqui se tem juntado, e que se mandou logo organizar do mesmo modo que o estava antes de abandonar Lisboa, a fim de poder ser logo empregada, como parece conveniente a todos os respeitos, no mesmo serviço que fazia naquela capital; fazendo-se muito necessário que se mande logo incorporar a este Corpo uns cento e tantos soldados que se farão reunir a Sintra ao Exército inglês, e que ainda ali se conservam. O Corpo de Cavalaria se compõe de toda a Cavalaria da Polícia, que se manda reorganizar do mesmo modo e com as mesmas vistas; de dois esquadrões completos do Regimento de Cavalaria n.º 6; de uma Companhia de Cavalaria espanhola que nos tem acompanhado; e de oitenta cavalos do Exército do Brigadeiro Bacelar; o que fará ao todo uns quatrocentos e tantos cavalos; [e] finalmente de um destacamento de Artilharia, com 2 peças de 6 e 4 de 3. Sobre este objecto há [ade]mais que considerar que este destacamento não deve entrar em Lisboa antes da evacuação do Exército francês; mas que logo que ela se fizer, parece conveniente que o comando militar da cidade de Lisboa se incumba a um General português.


2.º Quanto às participações relativas às guarnições das praças de Almeida, Peniche, Elvas, etc., e sua ocupação, que deve lembrar-se, que todas estas coisas devem ser feitas pelo General em Chefe do Exército inglês e por tropas inglesas, em virtude do que se acha estipulado na Convenção definitiva, e que a nós só nos pode pertencer avisar as tropas que as bloqueiam, do que se acha estipulado; porém, lembra-me a necessidade que há de não retardar a ocupação de Almeida, não só pelo perigo que há de que alguma divisão francesa vinda de Espanha, visto que este país se acha ainda ocupado por eles, se dirija para ali, como pela necessidade que há por este motivo de aprovisionar logo, e guarnecer convenientemente esta praça, que eles hão de deixar no maior abandono, como fazem em toda a parte; não serão precisas grandes forças para esta ocupação, e as mesmas tropas destinadas para esta diligência poderiam servir de escolta à guarnição que, conforme os termos do Tratado, deve ir embarcar no Porto, fazendo-se substituir por tropas portuguesas, que se poderiam pôr ao seu alcance para este efeito, logo que isto se combine e ajuste com o mesmo General em Chefe inglês, como agora se pretende. 


Quartel-General de Mafra, 10 de Setembro de 1808.


Muito atento e respeitoso servidor,

Bernardim Freire de Andrada [sic].


[Fonte: Luís Henrique Pacheco Simões (org.), "Serie chronologica da correspondencia diplomatica militar mais importante do General Bernardim Freire de Andrade, Commandante em Chefe do Exercito Portuguez destinado ao resgate de Lisboa com a Junta Provisional do Governo Supremo estabelecido na cidade do Porto e o Quartel General do Exercito Auxiliar de S. Magestade Britanica em Portugal", in Boletim do Arquivo Histórico Militar - Vol. II, 1931, pp. 3-77, pp. 59-60 (doc. 102)].

Carta do General Bernardim Freire de Andrade ao Almirante Charles Cotton (10 de Setembro de 1808)


Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor:


Não havendo sido requerida a minha concorrência, em qualidade de Comandante em Chefe do Exército português destinado a obrar de acordo com o Exército inglês, para a conclusão do Tratado estipulado entre o General Dalrymple e o General francês Junot, e tendo sobre muitos dos seus artigos feito de ofício as minhas observações, e até protestado solenemente contra muitos deles, como ofensivos da Soberania, independência, segurança e interesses deste Reino, não me restando outro algum meio legal para obstar as contínuas e insuportáveis depredações cometidas pelos franceses, com manifesta violação daquela mesma Capitulação tão vantajosa que propuseram e alcançaram da excessiva generosidade do Comandante em Chefe das tropas britânicas; tenho a honra de rogar a Vossa Excelência [para que] queira ouvir as reclamações que o Juiz do Povo, em nome de toda a população da capital, apresentará a Vossa Excelência, a respeito dos roubos e hostilidades de mil maneiras cometidas pelos franceses, em manifesta infracção do referido Tratado; ficando eu certo em que Vossa Excelência as tomará em consideração, como fazendo nisso um muito particular serviço, assim ao Príncipe Regente meu amo como a este Reino, que certamente não verá sem grande desprazer roubar a capital debaixo da garantia e protecção da bandeira inglesa, cujos generosos auxílios vieram tão gloriosa como poderosamente apoiar os seus esforços por libertar este país do pesado jugo que o oprimia; e para que Vossa Excelência conheça quais foram as minhas protestações, tenho a honra de as remeter a Vossa Excelência por cópia.
Deus guarde a Vossa Excelência muitos anos.
Quartel-General de Mafra, 10 de Setembro de 1808.


O mais reverente e atento servidor,

Bernardim Freire de Andrada [sic].

[Fonte: Luís Henrique Pacheco Simões (org.), "Serie chronologica da correspondencia diplomatica militar mais importante do General Bernardim Freire de Andrade, Commandante em Chefe do Exercito Portuguez destinado ao resgate de Lisboa com a Junta Provisional do Governo Supremo estabelecido na cidade do Porto e o Quartel General do Exercito Auxiliar de S. Magestade Britanica em Portugal", in Boletim do Arquivo Histórico Militar - Vol. II, 1931, pp. 3-77, p. 60 (doc. 103)].

Carta do General Wellesley ao Brigadeiro Manuel Pinto Bacelar (10 de Setembro de 1808)




Lisboa, 10 de Setembro de 1808.


Senhor:


Recebi ordem do Comandante em Chefe do Exército inglês de marcar um lugar no qual podeis tomar [o] vosso terreno na vizinhança das tropas inglesas debaixo do meu comando, que estão em Santo António do Tojal; parece-me que a mais conveniente posição que vos podeis tomar é na vizinhança do Zambujal, com a vossa direita para a parte do rio Trancão.


P.S. O Quartel-Mestre-General do Departamento irá consequentemente para marcar o terreno aonde vos deveis mandar um oficial para o ver.
Eu tenho a honra de ser vosso obediente e mais humilde criado.


Wellesley




Está conforme com o original, 
Agostinho António da Fonseca e Costa,
Sargento mor de Infantaria, Secretário do Exército de Observação.

[Fonte: O texto original desta carta não se encontra na correspondência publicada de Arthur Wellesley, pelo que transcrevemos a tradução publicada por Luís Henrique Pacheco Simões (org.), "Serie chronologica da correspondencia diplomatica militar mais importante do General Bernardim Freire de Andrade, Commandante em Chefe do Exercito Portuguez destinado ao resgate de Lisboa com a Junta Provisional do Governo Supremo estabelecido na cidade do Porto e o Quartel General do Exercito Auxiliar de S. Magestade Britanica em Portugal", in Boletim do Arquivo Histórico Militar - Vol. II, 1931, pp. 3-77, p. 58 (doc. 100)].

Carta do General Wellesley ao General Bernardim Freire de Andrade (10 de Setembro de 1808)



10 de Setembro de 1808.


Senhor:


Tenho a honra de vos informar que, segundo ordem do Comandante em Chefe, determinei que o corpo português comandado pelo Brigadeiro-General Bacelar esteja posicionado no Zambujal, perto de St. António do Tojal, antes da sua marcha para Lisboa.
Tenho a honra de ser o vosso mais obediente e humilde servidor,


Arthur Wellesley

[Fonte: Luís Henrique Pacheco Simões (org.), "Serie chronologica da correspondencia diplomatica militar mais importante do General Bernardim Freire de Andrade, Commandante em Chefe do Exercito Portuguez destinado ao resgate de Lisboa com a Junta Provisional do Governo Supremo estabelecido na cidade do Porto e o Quartel General do Exercito Auxiliar de S. Magestade Britanica em Portugal", in Boletim do Arquivo Histórico Militar - Vol. II, 1931, pp. 3-77, p. 57 (doc. 99)].

Carta do General Wellesley ao General Dalrymple (10 de Setembro de 1808)





Zambujal, 10 de Setembro de 1808.


Senhor:

Tive a honra de receber, durante a noite, a carta que me haveis escrito ontem. Sempre tive a vontade de ser tão útil quanto possa para o oficial sob cujo comando posso estar a servir; e este desejo é apenas limitado pela dúvida que posso ter sobre a minha capacidade para o emprego que me é oferecido. As observações que tenho tomado sobre o estado das circunstâncias na Espanha já me tinham sugerido há algum tempo que era apropriado colocar naquele reino uma pessoa com as características que haveis referido, possuindo plenos poderes, meios de exercê-los em todas as partes da Espanha, e de comunicar e tratar com todas as Juntas de governo locais.
De forma a poder realizar a importante tarefa que lhe é atribuída, esta pessoa deve possuir a confiança de quem o empregue; e, acima de tudo, de forma a poder recomendar, com autoridade, um plano para os espanhóis, tal pessoa deve ser informada dos planos daqueles que o empreguem, e dos meios através dos quais tencionam habilitar a nação espanhola a executar aquele plano que lhes seria proposto.
Não posso certamente considerar-me possuidor de tais vantajosas características, que me poderiam qualificar para a situação que me haveis proposto; e deveis ser o melhor juiz para decidirdes se estais disposto a instruir-me, e se estais inclinado a confiardes em mim, para tudo o que seja necessário dar a minha opinião, de modo a obter qualquer vantagem geral de tal missão. É verdade que poder-se-ia encarregar alguém com vistas e objectivos mais limitados do que aqueles que acima vos aludo, e que são discutidos na carta que me haveis dado a honra de receber da vossa parte; e que poderiam ser limitados a meros ajustes com o General Castaños ou com a comissão militar em Madrid, sobre um plano para a restante parte da campanha. Esta missão, contudo, requererá uma explicação clara e completa dos objectivos e dos meios; e a pessoa que de tal se encarregar deve ter a confiança de quem o empregue, e deve estar segura que o plano que ajustará nestas circunstâncias será posto em execução.
Rogo para me considerardes pronto a ser empregado de qualquer forma que acheis apropriada; e acima indiquei os poderes e instruções que por si só podem, na minha opinião, tornar o emprego de qualquer pessoa, na posição que me haveis oferecido, bastante vantajoso para o exército ou para o país.
Tenho a honra de ser, etc., 


Arthur Wellesley

Notícias publicadas no primeiro número da Gazeta do Rio de Janeiro (10 de Setembro de 1808)



Rio de Janeiro, a 10 de Setembro de 1808.


A Europa devia prever há muito a sorte do Sumo Pontífice, especialmente desde que foi obrigado a ir a Paris e a assinar a Concordata. O Santo Padre viu enfim que nada conseguia pela moderação evangélica que até aqui o caracterizava, e que a causa da religião exigia a nobre resolução que tomou. O capitólio tão celebrado na História não podia escapar por mais tempo aos desígnios do Imperador dos franceses. Roma deve suscitar-lhe muitas lembranças. A divisa do povo italiano acha-se neste verso de Alfieri!

Siam servi si, má servi ognor frémenti. 
[Sejamos servos, sim, mas servos sempre trémulos].

Ainda que estivéssemos preparados para acontecimentos desta natureza, quase que não pensávamos ver derrubar ao mesmo tempo o trono dos Papas, e roubar o da Espanha, a mais antiga Dinastia da Europa. O Governo francês ainda há pouco engodava a Prússia enquanto atacava a Áustria, enganava a Áustria enquanto combatia com a Prússia e Rússia, fazia protestações de amizade a Portugal, e disfarçava com a Espanha enquanto tinha a contender com as principais Potências do Norte, mandava a Rússia invadir a Suécia enquanto se apoderava da Dinamarca; mas agora empreende juntamente a conquista do Indostão, a ocupação da Pérsia, a desmembração do Império Otomano, a invasão da Sicília, da Suécia, da Espanha, a sujeição de Portugal, a usurpação dos bens e privilégios da Igreja, a protecção da América espanhola. Se ainda pudesse haver uma só pessoa que acreditasse de boa fé a doutrina francesa, bastariam estes factos para lhe abrir de todo os olhos; mas a rebelião de Constantinopla, os levantamentos e emigrações continuadas dos leais portugueses, a resistência de todos os espanhóis, cujo carácter sério e persistente é bem conhecido, a magnânima resolução de Sua Santidade, e o procedimento da Casa de Áustria são provas evidentes de que a Europa não crê mais em enganos.
Monitor continua de vez em quando a ameaçar os incrédulos. Não há muito tempo que dizia que brevemente não restaria outro recurso a El-Rei de Suécia senão de ir reinar para alguma parte da América. Se esta frase do Monitor envolvesse alguma insinuação a nosso respeito, responder-se-lhe-ia: "Reinamos na melhor porção da América, e a prova disso são os sábios Actos do Governo do Nosso Amado Soberano. O Príncipe Regente Nosso Senhor imediatamente depois da sua chegada mandou abrir os portos destes seus Domínios ao Livre Comércio de todas as Nações Amigas, e declarou guerra àquela que invadiu aleivosamente o património que transmitiu o primeiro dos nossos Reis à sua Augusta Família Real, na cessão da qual jamais consentirá, e sobre o qual conservará sempre os mesmos direitos que tem ao vasto Império que herdou do Senhor Rei D. Manuel.
Entrou neste porto a 19 do passado [mês] uma fragata inglesa, vinda de Gibraltar, que trouxe as importantes notícias que se seguem. Em Cádis, depois de um renhido fogo das barcas canhoeiras e fortalezas, ficou prisioneira a esquadra francesa com perda de mais de mil homens, entre os quais se comprehendem muitos Oficiais. Murat acha-se cercado no sítio do Bom Retiro [sic]. Todas as províncias da Espanha têm pegado em armas contra a tirania do Perturbador do Género Humano. As tropas francesas, que se acham dispersas, estão na maior consternação. O nosso fiel Aliado El-Rei da Grande [sicBretanha tem prestado todos os socorros aos espanhóis. A Junta do Governo Provisório estabelecida em Sevilha declarou guerra à França, e ajustou um armistício com os Chefes ingleses. Os nossos leais compatriotas manifestam o mesmo espírito, e já recobraram a importante posição de Elvas. O General Junot refugiou-se no Castelo de S. Jorge e dali oferece capitular. A cidade do Porto arvorou a Bandeira portuguesa.
Correu aqui notícia vinda por pedestres de Goiazes [sic], que os franceses, tendo feito um desembarque no Pará com aparências de amizade, o Capitão General os rechaçara completamente, ficando vivos só os prisioneiros; porém, isto ainda merece confirmação.
Igualmente correu voz que um corsário francês desembarcara 20 homens na costa do Pará ou Maranhão para procurar à força mantimentos, e que toda essa gente fora morta, ou feita prisioneira; tendo-se feito à vela o corsário bem embaraçado no porto em que tocaria, pois Caiena se diz bloqueada por duas fragatas inglesas.