segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A importância do poderio naval no quadro do bloqueio continental

A intenção de Napoleão dominar toda a costa europeia, determinada pelo bloqueio continental e reforçada através dos Tratados de Tilsit, tinha no entanto um forte entrave:
Desde 21 de Outubro de 1805, dia duma humilhante derrota na costa do cabo de Trafalgar (considerada a última das grandes batalhas navais da idade moderna), com muitos dos seus navios destruídos ou capturados, a frota francesa (e a da aliada Espanha) era uma miragem do que havia sido. Como defender então a imensa costa europeia, a fim de se respeitar o bloqueio continental, se o poderio naval britânico era maior? Melhor dizendo, o número de navios de linha ingleses (103) era igual à soma das frotas francesa, espanhola, holandesa e russa, todas juntas. Se Napoleão queria ter vantagem numérica, e assim dominar a costa europeia, era necessário o apossamento dos navios suecos (12), dinamarqueses (20) e portugueses (13).

Fonte: Wikimedia

O domínio marítimo dos britânicos não era nenhuma novidade, como bem demonstra esta caricatura de James Gillray, publicada a 24 de Outubro de 1798, onde se representava um John Bull tragando os navios franceses, de acordo com as grandes vitórias da época de Nelson...


Numa tentativa de acabar com este poderio, Napoleão começa a atacar a Suécia no final de Julho de 1807, ou seja, logo após os Tratados de Tilsit. Algumas possessões suecas perdem-se a favor da França, embora o mesmo não tenha acontecido com a sua frota, que se manteve nos seus mares. Por outro lado, com o fim de destruir as intenções do imperador francês, o governo britânico enviou para Copenhaga uma esquadra que, nos primeiros dias de Setembro de 1807, bombardeou a dita cidade e confiscou a frota naval dinamarquesa.

Restava a frota de Portugal...

Tratados de Tilsit






A 14 de Junho de 1807, Napoleão vencia os russos na batalha de Friedland, depois de 23 horas de combate. Cinco dias depois, o Imperador russo, Alexandre I, decide estabelecer um acordo de paz. Finalmente, após vários dias de conversações, é assinado o Tratado de Tilsit (7 de Julho), onde se determinava o apogeu da política napoleónica.





Encontro dos dois imperadores no meio do rio Neman, onde foi acordado oTratado de Tilsit
(pintura de Adolphe Roehn)
Fonte: Wikipedia




Entre outros termos, previa-se o fim das monarquias ibéricas reinadas pela Casa de Bragança e pelos Bourbons:


Art.º 1º - A Russia tomará posse da Turquia na Europa e levará as suas conquistas pela Ásia dentro até aonde lhe fizer conta.
Art.º 2º - Cessarão de existir as dinastias dos Bourbon em Espanha e dos Bragança em Portugal: um príncipe da família do Imperador Napoleão, será revestido da Coroa destes Reinos.
Art.º 3º - A autoridade temporal do Papa cessará, e Roma com as suas dependências, será unida ao Reino de Itália.
Art.º 4º - A Rússia obriga-se a ajudar a França em conquistar Gibraltar.
Art.º 5º - As cidades de África, a saber: Tunis, Argel, etc, ficarão possuídas pela França, e depois da paz geral, todas as conquistas que a França tiver feito em África durante a guerra, serão dadas como indemnização aos reis de Sardenha e Sicília.
Art.º 6º - Malta será ocupada pelos franceses e a França jamais fará a paz com Inglaterra sem que ela lhe ceda esta Ilha.
Art.º 7º - O Egipto será ocupado pelos franceses. A França, Rússia, Espanha e Itália terão o direito de navegação no Mediterrâneo - todos os outros serão excluídos.
Art.º 8º - Não se declara o seu conteúdo.
Art.º 9º - A Dinamarca será indemnizada no Norte de Alemanha, e nas cidades Hanseáticas se ela ceder a sua Esquadra à França.
Art. 10º - Suas Majestades de França e Rússia, farão um ajuste, pelo qual, nenhuma Potência para o futuro terá direito de fazer navegar embarcações mercantes, excepto mandando-lhes um certo número de navios de guerra.
(in Cristovão Aires de Magalhães Sepulveda, História orgânica e política do Exército Português, Provas, Volume XVII, Invasão de Junot em Portugal, I, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1932, pp. 92-93)

Dois dias depois (9 de Julho) a França assina um outro Tratado de Tilsit com a Prússia, que perde então cerca de metade do seu território, que por sua vez dá origem ao Reino de Westphalie, um dos quatro reinos da Confederação do Reno, espécie de Estado-satélite do Império francês.