segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Olivença



Praça de Olivença (c. 1700)



Mapa de Portugal incluindo o território perdido de Olivença
Fonte



Ainda hoje se pode ver em mapas oficiais que Portugal não reconhece (embora seja dos poucos casos em que o demonstra) a soberania espanhola sobre os territórios perdidos em 1801. De facto, podem-se ver na página do Instituto Geográfico Português, por exemplo, algumas cartas de Portugal onde as fronteiras com a Espanha na zona de Olivença encontram-se indefinidas... 

Godoy pintado por Goya

Manuel Godoy, Príncipe da Paz
(Goya, 1801)

Este quadro foi encomendado pelo próprio Godoy, logo após a Guerra das Laranjas. Nele se retrata o Príncipe da Paz com um traje de Capitão-General, secundado pelo seu Ajudante de Ordens. A alusão à dita guerra é feita indirectamente, através da bandeira portuguesa disposta em contraponto a Godoy.
O quadro pode ser visto no Museu da Real Academia de Bellas Artes de San Fernando (Madrid), onde ingressou em 1808, junto com outras obras apreendidas no decorrer da prisão de Godoy, depois dos motins provocados em Aranjuez, em Março desse mesmo ano.

 


Circular do Tribunal Supremo de Espanha determinando 
a apreensão de todos os bens, posses, acções e direitos de Godoy 
(22 de Março de 1808)

Uma nota acerca das "invasões francesas". A chamada "guerra das laranjas"


Na verdade, como se pode ver através do Tratado de Fontainebleau, a invasão a Portugal verificada em 1807 servia-se de forças espanholas, devendo-se por isso, em termos mais rigorosos, denominar-se por invasão franco-espanhola.

Uma invasão deste tipo já tinha sido efectuada em 1801, levando pessoas como António João Teixeira Marques a considerar que foi nesse ano que houve a primeira invasão francesa. De facto, ainda que em 1801 as tropas francesas não tenham chegado a entrar em Portugal, o exército espanhol, impelido e forçado precisamente por Napoleão, penetra a fronteira e conquista em poucos dias parte do Alto Alentejo. Tendo à testa o mal afamado Príncipe da Paz, D. Manuel Godoy, privado da corte espanhola com bastante poder de decisão sobre a mesma, ficou este episódio conhecido por Guerra das Laranjas. O número de espanhóis que penetrou no país era cerca do dobro de todos os portugueses que compunham o exército nacional, sendo a resistência destes quase nula.
Em Junho desse ano, burlando Napoleão, Godoy assina em Badajoz uma paz à pressa, na qual se determinava a perda de Olivença, entre outros termos: "Y su Majestad católica conservará en calidad de conquista, para unirlo perpetuamente á sus dominios y vasallos, la plaza de Olivenza, su territorio y pueblos desde el Guadiana; de suerte que este rio sea el limite de los respectivos reinos en aquella parte que únicamente toca al sobredicho territorio de Olivenza" (artigo III do Tratado de Badajoz).
O imperador, assim que sabe do sucedido, decidiu não ratificar o acordo com se tinha estabelecido, julgando que era muito brando para Portugal. Contudo, Olivença tinha sido irremediavelmente perdida neste laranjal, que era ao mesmo tempo um prelúdio do que viria a ocorrer em 1807...



Caricatura inglesa de autoria de Charles Williams (publicada a 22 de Julho de 1801) onde se satiriza Godoy, denominado Príncipe da Paz mas armado até aos dentes, forçando os portugueses a assinarem a paz de uma guerra que tinha ele iniciado...
Tendo como pano de fundo uma fortaleza ardendo, Godoy, protegido por soldados espanhóis prontos para dispararem, obriga dois portugueses a assinarem o tratado de paz que se encontra debaixo do seu pé direito. Ironicamente, a ponta da espada crava o mesmo documento precisamente no sítio em que se encontra o seu título: Príncipe da Paz. Godoy, que empunha dois mosquetes, tem no cinturão quatro pistolas e uma faca atravessando o seu chapéu, diz: “Vá, Senhor, rápido, ou passarei todo o país à espada. Homens, mulheres e crianças, não pouparei ninguém! Recordai que sou o Príncipe da Paz”. Ao que lhe responde um dos portugueses ajoelhados: “Por amor de Deus, detenha esta efusão de sangue, que já bastam três cidades destruídas. Os gritos e choros obrigam-me a... sim, eu o reconheço como sendo o Príncipe da Paz”.

Ascensão de Napoleão Bonaparte

No dia 18 de Brumário do Ano VIII, segundo o calendário revolucionário (ou seja, 9 de Novembro de 1799), o General Napoleão, reputado comandante do Exército francês, entra em Paris e dissolve o Directório, incapaz de governar um país perturbado social e politicamente. Tendo do seu lado a maior parte do exército, Bonaparte auto-proclama-se então Primeiro Cônsul da França, começando assim todo um período que alterá irremediavelmente o curso da história.

Na caricatura ao lado (publicada a 21 de Novembro de 1799), podemos ver uma sátira do inglês James Gillray ao referido Golpe do 18 de Brumário.

Fonte: Wikimedia




No que se refere à política externa, um dos primeiros acordos que fez o Primeiro Cônsul foi com a Espanha, que mantinha uma aliança com a França desde o fim da Guerra do Rossilhão, depois da Paz de Basileia (assinada em 1795). Estes dois países voltam em 1800 e 1801 a assinar uma série de acordos que estarão por trás da chamada Guerra das Laranjas, visto que Portugal não obedecia à determinação de Napoleão ou de Carlos IV para que se fechassem os portos nacionais aos barcos ingleses.


Bonaparte, Primeiro Cônsul (c. 1802)
Litografia de autoria de Belliard e Delpech
Fonte: NYPL

Campanha do Rossilhão (1793-1795) e suas consequências



Em 1793, a França revolucionária, mais radical que nunca, decapita Luís XVI. Depois de quatro anos assistindo passivamente aos avanços dos radicais franceses, a Europa decide intervir. A Espanha, sob a iniciativa de Godoy, tenta vingar o sangue derramado da família real francesa, ligada por matrimónios a muitas casas outras reais europeias. Portugal junta-se à causa, enviando para o Rossilhão (região assinalada a vermelho no mapa abaixo) um corpo de cerca de 5.000 homens liderados por um General inglês, John Forbes Skellater (gravura à direita).

Ainda que num primeiro momento os aliados ganhem terreno, a França acaba por batê-los. Ao fim de dois anos de guerra, sem conhecimento de Portugal ou da Inglaterra, a Espanha opta por acordar a paz com os franceses. Manuel Godoy, que fora quem começara por declarar a guerra, é premiado então, pelo rei espanhol D. Carlos IV, com o título de Príncipe da Paz, apesar da Espanha ter saído bastante prejudicada por tal acordo, assinado em Basileia a 22 de Julho de 1795.
A aliança daqui resultante terá consequências nefastas para Portugal....
A Espanha começa por declarar guerra à Inglaterra a 5 de Outubro de 1796, mas obtém como resposta o bloqueio dos seus portos pelas esquadras navais britânicas. Portugal, apesar de se fazer aparentar como país neutro, vai apoiando e mantendo a sua aliança com a Inglaterra, o que lhe deixa entre a espada e a parede...


Apresentação

Em 1807, a intenção de Napoleão conquistar a Península Ibérica vem perturbar a pacatez de um país à beira-mar plantado.
Os acontecimentos que então se produzem viriam a alterar, directa ou indirectamente, toda a futura vida social e política dos portugueses e espanhóis.

Este blog visa contribuir (com algumas notas soltas, bibliografia, documentos escritos e iconográficos) para se relembrar o que então se passou...

Estejam à vontade para me corrigirem ou darem sugestões:
edgarcavaco@gmail.com