sábado, 25 de junho de 2011

Notícias de Coimbra (25 de Junho de 1808)



Coimbra, 25 de Junho.

Tendo alguns particulares desta cidade considerado quanto era importante tomar o forte da Figueira e aprisionar os franceses que ali se achavam de guarnição, tanto para lhe tirar as armas e munições de guerra, de que havia grande falta, como para podermos comunicar com a esquadra inglesa; o Excelentíssimo Senhor Governador desta cidade encarregou a Bernardo António Zagalo, Sargento de Artilharia, e actualmente estudante na Universidade, do comando da expedição que devia ir atacar aquele forte, dando-lhe igualmente ordem para os Ministros e Capitães mores dos lugares intermédios lhe prestarem todo o auxílio de gente que ele pedisse. Na tarde deste dia partiu com efeito aquele Sargento com um destacamento de 40 voluntários, quase todos estudantes.

Carta do Governador de Badajoz ao Capitão General do Exército e Reino da Galiza (25 de Junho de 1808)



Excelentíssimo Senhor:


Um dos vários confidentes que tenho para entender-me com o Almirante inglês Cotton (que se acha bloqueando as costas de Portugal) e com os chefes das nossas tropas desarmadas que se encontram naquele Reino trouxe-me a carta (de que incluo cópia) que me dirige o Cônsul Geral da nossa nação em Lisboa com os nomes falsos de Moreti y Guanche e outra do próprio Almirante (de que também incluo cópia) com proclamações aos portugueses que o mesmo dispôs.
Parecendo-me oportuno que Vossa Excelência se ache informado de tudo, assim como em relação à Junta Suprema de Governo de Sevilha, espero que terá Vossa Excelência a bondade de manifestar-me as suas ideias ou as intenções que queira abraçar sobre os vários pontos de que trata o referido Cônsul, e para o que possa importar para o caso, passo a manifestar a Vossa Excelência o seguinte:
No dia 30 de Maio, proclamou-se nesta cidade [Badajoz] o nosso amado Soberano D. Fernando VII, foi-me conferido o comando da província por aclamação do povo, ademais de corresponder-me pelo meu emprego de Brigadeiro mais antigo que me achava na ocasião na praça, cuja eleição confirmou a Suprema Junta de Sevilha, condecorando-me com o grau de Tenente-General; sem demora criou-se nesta cidade uma Junta de Governo da província, em cuja ocasião apenas chegavam a dois mil homens de tropas regulares os que havia. Acordou-se a criação de um Exército de até vinte mil paisanos, que se está organizando com muito trabalho pela absoluta falta de armas, se bem que estas se estão aguardando de Sevilha. Não obstante o referido, está contido por esta parte até agora o orgulho dos inimigos, que têm uma guarnição muito numerosa na importante praça de Elvas, fronteiriça desta, tendo nós nos apoderado da imediata de Juromenha.
Tenho informações que Vossa Excelência reúne nesse Reino um considerável número de tropas regulares, ademais da paisanagem, suposto o qual se Vossa Excelência intentasse alguma empresa por essa parte e me der oportunos avisos, chamaria a atenção dos inimigos por estes pontos, e avisaria com prontidão e eficácia a Junta Suprema de Sevilha, para que esforçasse as empresas pelo Reino dos Algarves, onde
as nossas armas apoderaram-se já dos fortes da Carrasqueira, Santo António, Castro Marim e Vila Real [de Santo António], que ocupavam os franceses, os quais foram destroçados, retirando-se para os montes o resto que pôde escapar, e ficando já em insurreição o mesmo Reino dos Algarves, segundo aviso que me deu a referida Junta de Sevilha, em data de 23 do corrente*.
Parece-me também a propósito passar a Vossa Excelência cópia de outra carta que recebi do Brigadeiro D. Juan de Henestrosa y Horcasitas, Coronel do Regimento de Caçadores Voluntários de Espanha, a quem comissionei para que se opusesse à entrada dos inimigos nesta província, caso que por ela tentassem para Portugal, depois que abandonaram Córdoba no dia 16 do corrente.
Dirijo esta [carta] a Vossa Excelência através do Governador e Presidente da Junta Governativa de Ciudad Rodrigo, por cujo conduto poderá Vossa Excelência encaminhar-me as suas, pois temos aberta a correspondência por aquele ponto. Tenho a honra com este motivo de oferecer-me à disposição de Vossa Excelência com a melhor vontade.
Deus guarde a Vossa Excelência muitos anos.
Badajoz, 25 de Junho de 1808.

Josef Galluzo [sic]



[Fonte: Archivo Histórico Nacional de España, Comunicaciones entre el general en jefe del ejército de Extremadura, José Galluzo, y el capitán general del ejército de Galicia sobre la situación de las tropas del almirante inglés Cotton en Portugal, cota: ES.28079.AHN/5.1.17.5.4//DIVERSOS-COLECCIONES,129,N.40].


Aviso de Francisco Xavier da Cunha Tourel, secretário do Colégio Patriarcal de Lisboa, ao Arcebispo de Lacedemónia, recomendando a observação da Pastoral do Patriarca de Lisboa (25 de Junho de 1808)




O Excelentíssimo Colégio Sede Patriarcal Vacante, pelos justos motivos que se verificaram na sua respeitável presença, mandou dirigir pela sua Secretaria ao Excelentíssimo Senhor Arcebispo de Lacedemónia o aviso seguinte:

Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor:
Considerando o Excelentíssimo Colégio Sede Vacante serem passados muitos meses depois da exortação pastoral do Eminentíssimo Senhor Cardeal Patriarca Mendonça, de saudosa memória, de 8 de Dezembro de 1807, e não lembrar a muitos indivíduos desta capital e patriarcado o que nela o mesmo Eminentíssimo Prelado pedia e exortava às suas ovelhas, e ser muito conveniente para o sossego público a inteira observância dela, recomenda muito a Vossa Excelência [para quequeira sem perda de tempo mandar a todos os Prelados Regulares e Seculares desta cidade e Patriarcado, [para que] façam lembrar a todos os seus súbditos tão santos e prudentes conselhos, como nela se contém.
Deus Guarde a Vossa Excelência muitos anos.
Secretaria do Excelentíssimo Colégio Sede Vacante, em 25 de Junho de 1808.

Francisco Xavier da Cunha Tourel


[Fonte: Discursos do Imortal Guilherme Pitt..., p. 371].

Caricatura relativa à vanguarda do suposto exército de 12.000 homens da Guarda Imperial, enviado para repressão dos rebeldes espanhóis, conforme notícia publicada na Gazeta de Lisboa de 25 de Junho de 1808









Legenda:


Para castigar Espanha 
São mandados pela posta
Doze mil da forte guarda
Eis [que] aparece a Vanguarda



Notícias publicadas na Gazeta de Lisboa (25 de Junho de 1808)



Lisboa, 25 de Junho


Aqui se acaba de publicar o decreto seguinte, cujo conhecimento interessa a todos os habitantes, porque importa a cada um conformar-se a ele no mais curto prazo. Não é mais que o modo de executar uma medida que estava determinada havia muito tempo, e na qual todos aqueles que têm alguma coisa que perder, devem ver uma nova garantia, assim das suas pessoas como dos seus bens:




Tornamos a dar este decreto, por ter saído incorrecto, conforme o exemplar transcrito no 2.º Suplemento [da Gazeta de Lisboa], n.º 24:




É certo ao que parece que se vai a restabelecer mui prontamente a liberdade de comunicação entre Portugal e Espanha; e que já se avistou uma das divisões do exército de Sua Alteza Imperial o Grão-Duque de Berg entre Plasencia e Coria, ao encaminhar-se para Alcántara
Por outrar parte referem algumas cartas de França que para reprimir mais rapidamente o desvario momentâneo de algumas províncias da Espanha, mandou Sua Majestade o Imperador e Rei que passasse de Paris a Bayonne pela posta o magnífico corpo da Guarda Imperial, composto de mais de 12 mil homens das mais belas e mais aguerridas tropas da Europa, e isso além do corpo de 60 mil homens que chega sucessivamente de Itália pelas fronteiras de Perpignan. 
Não se pode já duvidar de que os rebeldes de Sevilha tenham sido destroçados por uma parte do corpo de exército do General Dupont, o qual se adiantava para aquela cidade*. Entre outras provas citaremos a de que a Junta revolucionária de Sevilha, que se intitula Junta Superior, mandou, depois do combate, depor e prender o General [Pedro Agustín de] Echavarri, que comandava da sua parte. 

[Fonte: 1.º Suplemento à Gazeta de Lisboa, n.º 25, 25 de Junho de 1808]. 

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Nota: 

* Referência à batalha da ponte de Alcolea, travada na manhã de 7 de Junho de 1808, onde cerca de 22.000 espanhóis tentaram travar o passo pela Andaluzia duma divisão de 4.000 homens comandados pelo General Dupont. A emboscada foi um completo fiasco para os espanhóis, que apesar do seu número superior foram obrigados a retirar-se (embora se deva dizer que a grande maioria era composta por populares e não por militares profissionais como os de Dupont). Pouco depois, os franceses entravam vitoriosos em Córdova, que em represália foi brutalmente saqueada durante os três dias seguintes. 
Ver a este respeito Raquel Feria, "Córdoba, 7 de junio de 1808", in Sierra Albarrana, n.º 114, Ano XX, junio-julio 2008, pp. 4-9].


Boletim n.º 1 do Exército [francês] de Portugal (25 de Junho de 1808)




Edital da Junta do Porto ordenando a reorganização dos dois regimentos da cidade e de outros novos (25 de Junho de 1808)






Edital da Junta do Porto sobre o aumento dos soldos e sobre o perdão dos desertores (25 de Junho de 1808)




Acta de vereação da Câmara de Faro (25 de Junho de 1808)



Nesta vereação se determinou [que] se declarasse a resolução que se tomara em outra vereação do dia 20 do corrente, mas [a] qual não se escreveu por não haver tempo, segundo as circunstâncias que ocorriam, na qual se determinou que se escrevessem cartas a todas as Câmaras deste Reino do Algarve, as quais se escreveram para o fim que na mesma se declara, cuja cópia é a seguinte: 




Sendo assinadas as cartas constantes da carta supra [transcrita] pelo Doutor Juiz Presidente, vereadores e [de]mais oficiais deste Senado da Câmara, foram logo remetidas por piquetes aos lugares do seu destino e com efeito, tendo sido bem aceites pelas respectivas Câmaras das cidades e vilas deste Reino do Algarve, logo os povos se rebelaram contra o comum inimigo e se têm unido ao povo desta cidade para o fim que se individuou nas mesmas cartas. E não havendo, etc...... 

Falcão 
Pessanha Cabral 
Barro Cruz 
Sanches 
Guilherme José Pargana 
Amaro de Santa Teresa 

[Fonte: Arquivo Histórico Militar, 1.ª div., 14.ª sec., cx. 186, doc. 24].