D. Josef de Giron, vogal da Junta de Ayamonte, tendo sabido que estavam muito poucos franceses em Vila Real [de Santo António] e Castro Marim, comunicou esta notícia ao comandante General D. Ignacio Fonnegra e à Junta [de Ayamonte], que se formou às 7 horas da manhã do dia 21. Questionou-se durante algum tempo se se devia atacar o inimigo, pois não havia ordem desta Suprema Junta [de Sevilha] para o efeito. [Contudo,] as representações do General comandante começaram a fazer ruir esta indecisão; e tendo-se observado ao mesmo tempo que chegavam tropas [francesas] a Vila Real num barco que, depois de as desembarcar, voltava pelo rio acima (donde tinha vindo), Fonnegra ordenou ao comandante das lanchas para que enviasse um ou dois oficiais com os seus botes para deter o barco e impedir o desembarque de mais reforços.
Pouco tempo depois da execução desta ordem, apresentou-se na Junta [de Ayamonte] um oficial da Marinha, dizendo: Senhores, não percamos tempo. Os oficiais que foram nos botes arvoraram a bandeira espanhola na bateria da Carrasqueira. O Comandante mandou tocar imediatamente a generala e sair para Vila Real e Castro Marim; e efectuou o seu desembarque com a protecção da divisão de lanchas ao comando do seu comandante D. Francisco Escalera. Na bateria da Altura estavam reunidos cerca de 60 soldados portugueses que dispararam alguns tiros. Fonnegra enviou ali um oficial com 100 soldados da marinha, e aqueles se entregaram. O Coronel português [José] Lopes de Sousa pediu esta gente para reforçar Tavira e Faro. As baterias da Carrasqueira e do Cemitério foram inutilizadas pelas tripulações das nossas lanchas, a bordo das quais se embarcaram todas as suas munições e apetrechos. Os franceses tinham saído na noite anterior de Vila Real para Tavira.
D. Pedro Gil, Capitão de guerrilha, dirigiu-se num bote para Castro Marim, com 4 homens do seu grupo. Ao aproximar-se à praça, um oficial português que estava num falucho gritou-lhe para que não saltasse para a terra, porque vinha entrando na povoação uma companhia de franceses. Apesar disto, efectuou o desembarque, apoderou-se da bateria do Registo, deixando nela D. Josef Valera, Alferes de Fragata, comandante dum falucho canhoneiro que se lhe tinha reunido, tomou depois a fortaleza [sic] de S. António, e sabendo que a companhia francesa de setenta homens fugia da povoação, perseguiu-a sem a conseguir alcançar. Subiu depois ao castelo, que lhe foi entregue, e deixou-o em poder do Sargento mor da província de Badajoz, com 40 homens do seu mando, passando a render o forte de S. Sebastião, único que restava. As baterias que podem ofender Ayamonte foram destruídas; e a instâncias dos portugueses foram conservadas as que lhes podiam servir para se defenderem dos franceses. Estes tinham reforçado as quatro baterias de Vila Real com 54 peças de artilharia, um morteiro e um obus. Todas estas peças foram enterradas e as baterias desfeitas; trabalho a que concorreram com igual zelo as tropas de artilharia e as de mar. Esta empresa teve como resultados a tranquilização da população de Ayamonte, antes exposta a uma invasão, e o restabelecimento da comunicação do Guadiana.
Os Oficiais de marinha que começaram as gloriosas operações deste dia, apoderando-se das baterias de Vila Real [de Santo António], são os Alferes de fragata D. Joaquin Ruiz, D. Juan María de Miguel e D. Gabriel Cláudio Sequeira; e em geral, o Comandante, Oficiais e Tropa de marinha do posto de Ayamonte manifestaram um zelo e patriotismo digno do reconhecimento público, tal como o Comandante, Oficiais e as Tropas de terra.
[Fonte: Gazeta Ministerial de Sevilla, n.º 16 en la Imprenta de la viuda de Hidalgo y Sobrino, 23 de julio de 1808, pp. 121-123].