quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Extracto duma carta do exército comandado pelo General Dalrymple, remetida do Ramalhal a Gibraltar (25 de Agosto de 1808)



No dia 17 Sir Arthur Wellesley foi atacado pelo General Loison, o qual foi batido com poucas baixas. Marchámos então em direcção a Lisboa, e no dia 21 fomos atacados por todas as forças francesas, em número de 13.000 homens, comandadas pelo General Junot. A acção começou às nove e meia, e durou até às doze. Nunca houve vitória mais decisiva. Os franceses perderam cerca de 4.000 homens e todos os seus canhões, à excepção de 2. Tiveram dois Generais mortos, e os Generais Brenier e Pilliet, junto com muitos outros Oficiais de graduação, foram feitos prisioneiros, e enviaram-se para a Inglaterra. 
Na tarde do dia 22, o General Kellermann veio ao nosso campo, com dois Oficiais franceses; ajustou-se uma convenção, e o Coronel Murray, nosso Quartel-Mestre-General, dirigiu-se a Lisboa para avistar-se com Junot. Ajustou-se um armistício no dia 21 [sic]; mas deve terminar-se no dia 28. O Coronel Lake, do Regimento n.º 29, e o Capitão Bradford, do Estado-Maior do General Spencer, foram mortos na acção do dia 17; e o Coronel Tailor, dos Dragões n.º 20, foi morto na acção do dia 21. Estes são os únicos Oficiais de graduação que perdemos. As Brigadas que tiveram a parte principal nestas acções foram as dos Generais Ferguson, Fane, Hill e Anstruther. O Regimento n.º 50 fez prodígios de valor, e no campo de batalha receberam as graças de Sir Arthur Wellesley. 
Sir John Moore tinha chegado com 12.000 homens, e as forças agora ao mando de Sir Hew Dalrymple ascendem a 32.200 homens, exceptuando a artilharia e o Regimento n.º 42, que se esperava que chegasse enquanto se escreveu esta carta. 

[Fonte: Este documento foi publicado originalmente num número extraordinário do periódico Gibraltar Chronicle, datado de 5 de Setembro de 1808, sendo depois traduzido com o título de “Extracto de una carta del Exército baxo el mando de Sir Hugo Dalrimple fecha 25 de Agosto de 1808, de Monramal á 35 millas de Lisboa”, in Demonstracion de la Lealtad Española: Coleccion de proclamas, bandos, ordenes, discursos, estados de exercito, y relaciones de batallas publicadas por las Juntas de Gobierno, ó por algunos particulares en las actuales circunstancias – Tomo Sexto, Cadiz, por D. Manuel Ximenez Carreño, 1809, pp. 88-89].

Notícias sobre as batalhas da Roliça e do Vimeiro (25 de Agosto de 1808)


Notícias enviadas da Lourinhã em data de 25 de Agosto.


No dia 15 deste mês recebeu ordem para marchar o 2.º Batalhão do Regimento n.º 12 ou Infantaria de Chaves, o 2.º Batalhão do Regimento n.º 21 ou Infantaria de Valença, e outros corpos, que ao todo faziam 2.500 homens, os quais foram mandados incorporar-se com o Exército inglês.
Entraram em Óbidos no dia 17, aonde já chegavam as guardas avançadas do Exército francês, com a sua artilharia numa posição de tal modo vantajosa, que bastaria um Exército inferior ao que aí tinham os franceses, para se defender de todo o Exército combinado; mas o furor e valorosa resolução com que a coluna do centro atacou os franceses, e que excede todo o elogio, venceu as grandes dificuldades da localidade, e o fogo da forte bataria dos franceses, apossando-se os ingleses da montanha, e carregando sobre aqueles ora com fogo, ora com arma branca, os quais se retiraram com pressa, mas com ordem.
Passaram novamente os franceses ao monte da Crujeira, donde foram rechaçados até ao cimo da montanha da Cruz da Misericórdia com muita perda, mas ainda em retirada ordenada.
Seguia-se um vale, aonde então a retirada dos franceses começou a fazer-se mui desordenadamente, e em que a sua perda entre mortos, feridos e prisioneiros passou de 560 homens, sendo aí a dos ingleses de 70 mortos e 200 feridos.
A coluna do centro participou de quase toda a glória desta brilhante acção, que durou 7 horas, porque não esperou, para atacar o inimigo, ser sustentada pelas duas colunas dos lados, as quais eram obrigadas a seguir um caminho mais extenso e a chegarem portanto mais tarde ao lugar do ataque.
No dia 21 marchava o Exército combinado entre a montanha de Lourinhã e a montanha de Vimeiro, quando as guardas avançadas se viram de repente atacadas por um forte troço de Cavalaria francesa, e depois deste aparece logo o Exército francês, então já forte de 11 para 12 mil homens, por se lhe ter reunido o corpo de Loison e o de Junot; mas tal foi a valentia e furor com que os ingleses os receberam, que o inimigo se pôs em breve na mais vergonhosa retirada, sendo incessantemente acossado dos ingleses, que lhe fizeram com arma branca principalmente um destroço considerável, deixando então os franceses no campo da batalha acima de 500 mortos, 400 para 500 feridos, 22 peças de artilharia, e 900 prisioneiros, entre os quais é de Laborde e Brenier, ficando Thomiers ferido mortalmente, e perdendo o inimigo as bagagens do Exército inglês, destacando sobre elas uma forte coluna; mas uma outra de portugueses deu tanto de súbito sobre a coluna inimiga, que se lhe frustrara as diligências. A actividade e presteza com que se portou esta coluna do Exército português mereceu ao nosso General em Chefe muito louvor, mandando-lhe significar a sua satisfação pelo bom comportamento.
É muito mais difícil do que à primeira vista parece, o dizer com certeza o número de mortos e feridos de uma e outra parte; e por isso não é de admirar a variedade das diversas relações de ambas as acções; contudo, é fora de dúvida ter sido muito menor a perda dos ingleses nesta acção, que parece ser de 50 homens mortos e 100 feridos, e a dos portugueses de 4 mortos, um extraviado e alguns poucos feridos.
No dia 22 chegou o Exército português e se deram imediatamente as ordens para um ataque geral e decisivo no dia 23; mas o General Junot preferiu capitular, para o que mandou já um dos seus Generais.
No dia 23 se uniu ao Exército inglês um reforço de 13.000 homens, que fazem com o Exército combinado 32.000 homens.
Acaba de dar-se ordem para se porem luminárias nesta vila, o que parece inculcar que está a luta gloriosamente acabada.
Ainda não consta quais sejam os artigos do armistício, e tampouco os da capitulação entre o Exército do General Junot e o Exército combinado; e os que imprudentemente se divulgam, por ventura bem pouco apropriados ao estado de forças dos franceses, não têm nem podem ter outro fundamento mais que a imaginação dos que caprichosamente os estão traçando.

[Fonte: Minerva Lusitana, n.º 28, 27 de Agosto de 1808].


Notícias publicadas na Minerva Lusitana (25 de Agosto de 1808)



Lourinhã, 25 de Agosto


Anteontem, Segunda-feira, um dia depois do grande combate que houve, em que os franceses perderam 4.000 homens, incluíndo 2 Generais e 800 prisioneiros, 21 peças, etc., chegámos a estas alturas da Lourinhã, marchando a meia légua do inimigo, que nos observou. O General inglês nos pôs de cautela para atacarmos o inimigo pela retaguarda, que, segundo parece, queria atacar o exército inglês, o que não efectuou; mas pelo contrário, às 3 horas e meia da tarde mandou ao Quartel-General inglês pedir armistício, que se lhe concedeu.
O inimigo retirou-se e estabeleceu-se na Cabeça de Montachique.
Torres Vedras fica por ora sem ser ocupada, nem por uma, nem por outra tropa.
O Quartel-General inglês está no lugar do Ramalhal.

Ordem da Junta do Porto ao Juiz da Alfândega do Porto (25 de Agosto de 1808)






Edital da Junta do Porto mandando dar execução às sentenças pronunciadas "no tempo do intruso Governo francês" (25 de Agosto de 1808)





Edital da Junta do Porto desviando os fundos destinados ao encanamento do rio Lima para despesas de guerra (25 de Agosto de 1808)






Carta do General Dalrymple ao Tenente-Coronel Murray (25 de Agosto de 1808)



Ramalhal, 25 de Agosto de 1808.



Tenho a honra de incluir uma carta que entregareis ao Comandante em Chefe francêsComo o General Kellermann atribuiu, aparentemente, muita importância ao artigo relativo aos russos, e como tal excede inconveniente e desvantajosamente a obrigação do exército britânico em cumprir o acordo para uma suspensão ilimitada de hostilidadesinformareis Sua Excelência [Junot] que considero que o que acordei chegará ao fim às doze horas do meio-dia do dia 28.
No caso de que Sua Excelência manifeste um desejo de continuar as negociações para uma convenção sobre a base dos restantes artigos do acordo, autorizo-vos a negociá-la e a concluí-la, com aquele oficial que for nomeado pelo Comandante em Chefe do exército francês, sobre os termos especificados no memorando incluso, [convenção esta que será] sujeita à ratificação do Almirante [Cotton] e de mim próprio; e no caso de que acheis que Sua Excelência tem esta disposição em mente, estais autorizado, no caso de entrardes na negociação com estes poderes, a informar o Comandante em Chefe do exército francês de que não farei objecções a uma renovação do acordo para a suspensão de hostilidades para um período definitivo, a fim de permitir que os oficiais empregados concluam as negociações.
Tenho a honra de ser, etc., 

W. H. Dalrymple





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Nota:


Sobre o Tenente-Coronel George Murray, ver a nossa nota à primeira versão da Convenção para evacuação dos franceses de Portugal (de 28 de Agosto).

Carta do General Dalrymple a Junot (25 de Agosto de 1808)



Senhor:

O Almirante que comanda a frota britância nas costas de Portugal não pode concordar na proposição relativa à disposição da frota russa no Tejo, de maneira que se possa discutir sobre a base do artigo sétimo do acordo para a suspensão de hostilidades em que se entrou com Vossa Excelência, com as vistas de ajustar uma convenção para a evacuação de Portugal pelas tropas francesas. Contudo, sinto-me plenamente autorizado para assegurar a Vossa Excelência que a objecção da parte do Almirante inglês não procede de algum desejo de levar à extremidades as vantagens que o estado actual da guerra nesta parte possa oferecer às forças britânicas. O Almirante Cavaleiro Charles Cotton possuía instruções do Governo britânico relativamente à linha de conduta que devia observar a respeito da frota russa no Tejo, e num período em que circunstâncias de uma natureza bem diferente das que agora existem produziam esperanças de que a frota russa estivesse na necessidade de deixar o porto de Lisboa, e o Almirante britânico está pronto agora a entrar numa discussão directa desta matéria com o Almirante [russo] Séniavin, sobre as mesmas bases. A inteira conexão que à tão pouco tempo existia entre o Governo britânico e o da Rússia, assim como o respeito pessoal que o Almirante britânico tem ao Almirante Séniavin, deixa pouca razão para duvidar que haverá uma inteligência bem aceita a ambos, sendo o resultado de uma comunicação entre eles. 
Sou, etc.

Hew Darlymple

[Fonte: Correio Braziliense, Londres, Abril de 1809,pp. 309-310; Simão José da Luz Soriano, História da Guerra Civil e do Estabelecimento do Governo Parlamentar em Portugal. Compreendendo a História Diplomática, Militar e Política deste Reino, desde 1777 até 1834 – Segunda Época - Tomo V – Parte I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1893, p. 111].

Carta do General Wellesley ao Almirante Charles Cotton (25 de Agosto de 1808)




Ramalhal, 25 de Agosto de 1808.



Meu caro Senhor: 

Recebi as vossas cartas do passado dia 22, e fico muito agradecido e altamente lisonjeado pelo gracioso modo como me felicitastes pelos nossos sucessos do dia 17. O sucesso do dia 21 foi mais completo; e o exército francês teria sido completamente derrotado se eu não tivesse sido impedido de seguir o meu golpe tal como queria.
Agradeço-vos muito pelos nomes dos oficiais em Lisboa. 
Na minha opinião, o povo de Lisboa beneficiará se ficar quieto até que estejamos entre eles e o exército francês; em todo o caso, duvido da conveniência de lhes entregar armas. Previa-se que as armas que foram enviadas comigo seriam entregues unicamente se eu estivesse seguro do grande benefício que derivaria do seu uso; e por esta razão sempre declinei entregar algo a não ser às tropas cuja perícia e conhecimento do uso de armas pudessem esperar alguma vantagem. Consequentemente, devo recomendar-vos a não entregardes armas aos habitantes de Lisboa ou aos paisanos de qualquer outra parte do país. É claro que devemos armar as tropas espanholas; mas antes que isto seja feito, será necessário libertá-las.
Concordo completamente com a vossa opinião em relação à frota russa. Não devemos permitir que os franceses interfiram de qualquer modo entre nós e os russos; e apesar de eu ter assinado o acordo para a suspensão de hostilidades conforme a vontade do Comandante em Chefe [Dalrymple], considero que foi um feliz acaso que, devido à vossa interferência, aquele artigo foi riscado; e se a Convenção chegar a ser feita, será sobre uma nova base.
Acreditai em mim, etc., 

Arthur Wellesley


Carta do General Wellesley a Charles Stuart (25 de Agosto de 1808)




Ramalhal, 25 de Agosto de 1808.


Meu caro Senhor:

Desde que vos escrevi pela última vez, estivemos ocupados muito activamente nesta parte, e com algum sucesso.
No passado dia 17, ataquei e derrotei o corpo de Laborde, que consistia em cerca de 6.000 homens, nos arredores da Roliça, a cerca de seis ou sete milhas a sul de Óbidos. No dia seguinte, as tropas francesas comandadas pelo General Junot, pelo General Loison e pelo General Laborde, reuniram-se nos arredores de Torres Vedras, chegando ao número de 12.000 a 14.000 homens. Marchei no mesmo dia em direcção à Lourinhã, para proteger o desembarque duma brigada de infantaria comandada pelo General Anstruther, brigada esta que se reuniu a mim no dia 20 no Vimeiro, perto de Maceira; e reuniu-se-me também outra brigada de infantaria debaixo das ordens do General Acland, bem cedo na manhã do dia 21, brigada esta que tinha desembarcado durante aquela noite.
O exército francês atacou-me na minha posição no Vimeiro, por volta das oito horas da manhã do dia 21; e foi completamente derrotado, com a perda de treze peças de canhão e um vasto número de mortos, feridos e prisioneiros. Sir Harry Burrard, que chegou ao ancoradouro da Maceira [= praia do Porto Novo] na noite do dia 20, desembarcou durante a acção na manhã do dia 21; e se eu não tivesse sido impedido, teria perseguido o inimigo até Torres Vedras naquela noite, e, com toda a probabilidade, a sua totalidade teria sido destruída.
Na manhã do dia 22 chegou Sir Hew Dalrymple; e na tarde veio o General Kellermann com uma proposição para suspender as hostilidades, tendo em vista fazer uma Convenção para a evacuação de Portugal pelos franceses.
No acordo que Sir Hew entrou nesta ocasião, existe um artigo que estipula que os russos poderão usar o porto de Lisboa como um porto neutro, artigo este que alude ao Almirante [Cotton], que recusou consenti-lo; e o General [Dalrymple] escreveu hoje a Junot que a suspensão de armas chegaria ao fim no dia 27 ao meio-dia, a não ser que uma se concordasse, antes desse dia, uma Convenção para a evacuação de Portugal pelos franceses, por mar. 
Este é o aspecto geral do estado das circunstâncias aqui. O corpo de Sir John Moore está no ancoradouro da Maceira [=praia do Porto Novo], e penso que está prestes a desembarcar. Para além disto, temos 6.000 tropas portuguesas na Lourinhã; e creio que um destacamento de tropas espanholas e portuguesas está à volta de Santarém e Abrantes.
Contudo, a retirada dos franceses está aberta em direcção a Elvas; e tenho poucas dúvidas que, a não ser que os retiremos de Portugal pelo mar, eles defender-se-ão em Elvas e Almeida, e teremos o prazer de atacar estas praças regularmente, ou de bloqueá-las no Outono. Se conseguirmos afastá-los por mar, será possível levar as nossas tropas para a Espanha sem demora. 
Rogo-vos para fornecerdes ao Coronel Doyle aquelas informações desta carta que achardes que lhe serão úteis.
As tropas francesas estão agora reunidos no Cabeço de Montachique, e estendem-se para Mafra. Nós estamos atrás [=a norte] de Torres Vedras, cuja cidade não está ocupada por nenhuma das partes.
Acreditai em mim, etc.,

Arthur Wellesley




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Nota: 


O destinatário desta carta, Sir Charles Stuart, futuro embaixador da Grã-Bretanha no Brasil, estava então na Espanha, na qualidade de agente secreto do Governo britânico (como para o Porto tinha sido enviado o barão von Decken). Aparentemente, Stuart teria desembarcado pouco antes na Galiza, onde chegou a entrar em conversações com a Junta local, dirigindo-se depois para Madrid, onde se encontrará em meados de Setembro.

Enseada da Maceira, segundo William Bradford




Enseada da Maceira
[actualmente conhecida como praia do Porto Novo]



A frota com as tropas comandadas pelo Tenente-General Sir Harry Burrard* ancorou em mar aberto, diante desta enseada, no dia 25 de Agosto de 1808.
Enquanto ponto de desembarque, a única vantagem que surgia deste lugar era a sua contiguidade com o campo do Ramalhal, onde o exército [britânico] tinha ocupado uma posição depois da acção do dia 21. Em relação à ancoragem dos transportes e à protecção dos barcos na aproximação à costa, [este lugar] não possuía qualquer superioridade, e, tal como toda a extensão da costa desde o Douro ao Tejo, estava exposto aos ventos de oeste e à arrebentação do Atlântico.
Pouco depois da frota surgir no horizonte, enviaram-se carros para esta enseada para serem abastecidos de provisões, os quais permaneceram durante dois dias na praia, antes de qualquer barco ter podido aventurar-se até à costa. Por fim, o tempo tornou-se mais favorável, a arrebentação diminuiu, e o desembarque começou, mas não foi concluído sem riscos consideráveis e algumas perdas.
O rio da Maceira [Alcabrichel] dá o seu nome a esta enseada, e é aqui, quando está caudaloso pelas chuvas de inverno, que encontra uma passagem para o oceano. No Verão, mal se percebe a sua corrente, e como tem pouco caudal para passar através dos bancos de areia grossa que a arrebentação formou, termina numa pequena lagoa, e desaparece gradualmente na areia.
Os primeiros exemplos de habitações portuguesas encontram-se numa aldeola [Maceira] por onde passa a estrada, a qual se encontra a uma milha e meia do mar e à mesma distância do Vimeiro. Esta [última] aldeia, que fica directamente a leste da enseada, consiste em cerca de cem casas construídas sobre uma colina, numa região parcialmente cultivada, abundante de matas de pinheiros, das quais a resina da esteva e da murta formam a vegetação rasteira e proporcionam a fragrância mais agradável.

[Fonte da gravura e do texto: Sketches of the Country, Character and Costume in Portugal and Spain, made during the Campaign, and on the Route of the British Army in 1808 and 1809. Engraved and Coloured from the drawings by the Rev. William Bradford, A.B. of St. John's College, Oxford, Chaplain of Brigade to the Expedition. With incidental illustration, and appropriate descriptions of each subject, London, Printed by William Savage, 1809, p. 1. Existe uma outra edição, de 1810, que pode ser descarregada a partir daqui].


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Nota: 


* Por "tropas comandadas pelo Tenente-General Sir Harry Burrard" deve-se entender o corpo de John Moore. Como já trás referimos, Sir Harry Burrard tinha-se destacado da frota que transportava este corpo à altura do cabo Finisterra, chegando na noite de 20 de Agosto à enseada da Maceira ou praia do Porto Novo, embora só tivesse desembarcado na tarde seguinte. 

Ofício do General Bernardim Freire de Andrade ao Bispo do Porto, sobre o armistício do dia 22 (25 de Agosto de 1808)



Senhor: 



Tendo cessado os motivos que me prendiam em Leiria, e que vejo com todo o reconhecimento e satisfação haverem merecido a aprovação de Vossa Alteza Real, continuei sem perda de tempo a marcha para Alcobaça e Caldas, e daqui a Óbidos, onde a falta de subsistências me obrigou a alguma demora. E como tivesse ali recebido um aviso do General Wellesley, participando-me que no caso de não poder seguir no dia 21 a marcha do Exército britânico, que se dirigia pela estrada de Mafra, esperasse então que o inimigo, como parece provável, se adiantasse na direcção para Lisboa, e que só depois verificasse a junção do nosso Exército com o de Sua Majestade Britância, por isso me demorei no Domingo [21 de Agosto] em Óbidos. Aconteceu porém que nesse mesmo dia foram os franceses atacar o Exército inglês, que [este] o não esperava, nem eu o podia presumir, estando a 4 léguas de distância, o que não impediu aos nossos aliados e à tropa portuguesa que dantes se lhe unira, que muito se distinguiu na acção, obterem uma muito assinalada vitória.
No dia seguinte marchei para este Quartel [da Lourinhã], que me tinha sido designado pelo General inglês, e apenas chegado me avisa de que era novamente atacado, e que marchasse a recair sobre a sua retaguarda. Marchei, com efeito; mas tendo mandado um oficial ao Quartel-General, quando estava a meia légua de distância, voltou este dizendo-me que o General desejava que eu ficasse junto à Lourinhã, e que os Esquadrões que tinham dado alarme eram os que acompanhavam o General Kellermann, que vinha como Parlamentário, e com quem o General ficava fechado. Por um Ajudante de Ordens meu me mandou o novo General em Chefe [Dalrymple] dizer que necessitava de conferir comigo no dia 23 no novo Quartel-General do Ramalhal, junto de Torres [Vedras], pela uma hora da tarde. Fui e me leu a cópia da Convenção que na véspera se tinha estipulado com os franceses; fiz as minhas reflexões; pedi [que] se me mandasse uma cópia, e retirei-me. 
Logo que aqui cheguei, recebi a carta e cópia da transacção de que remeto a Vossa Alteza Real as cópias juntas. Fiz passar em consequência imediatamente ao Quartel-General [britânico] o Major Aires Pinto de Sousa, para apresentar ali com toda a franqueza e dignidade as observações que me pareceram oportunas e indispensáveis nas presentes circunstâncias, para prevenir a má inteligência que se poderia dar a alguns artigos, e abrir caminho a quaisquer explicações convenientes, assim nas conferências preliminares como na definitiva, que vão tratar os chefes dos dois Exércitos em sentido puramente militar. Parece neste momento que a justiça das minhas reflexões, a habilidade do agente [Aires Pinto de Sousa], a boa fé do General Dalrymple e as rectas intenções do Ministério britânico conspiram de acordo a preparar-nos um futuro agradável; pelo menos, Senhor posso [as]segurar a Vossa Alteza Real que as respostas que já recebi do Major Aires Pinto me dão todo o motivo para assim o esperar*.
Quartel-General da Lourinhã, 25 de Agosto de 1808**.

Bernardim Freire de Andrada [sic].

[Fonte: Luís Henrique Pacheco Simões (org.), "Serie chronologica da correspondencia diplomatica militar mais importante do General Bernardim Freire de Andrade, Commandante em Chefe do Exercito Portuguez destinado ao resgate de Lisboa com a Junta Provisional do Governo Supremo estabelecido na cidade do Porto e o Quartel General do Exercito Auxiliar de S. Magestade Britanica em Portugal", in Boletim do Arquivo Histórico Militar - Vol. I, Lisboa, 1930, pp. 153-227, pp. 201-202 (doc. 34). Existem pelo menos outras duas transcrições deste documento, publicados por 
Julio Firmino Judice Biker, Supplemento á Collecção dos Tratados, Convenções, Contratos e Actos Públicos celebrados entre a Corôa de Portugal e as mais Potências desde 1640 - Tomo XVI, Lisboa, Imprensa Nacional, 1878, pp. 74-75; e por Simão José da Luz Soriano, História da Guerra Civil e do Estabelecimento do Governo Parlamentar em Portugal. Compreendendo a História Diplomática, Militar e Política deste Reino, desde 1777 até 1834 – Segunda Época - Tomo V – Parte I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1893, pp. 212-213].

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Nota: 

Ver a primeira e a segunda carta que o Major Aires Pinto de Sousa enviou ao General Bernardim Freire de Andrade no dia 24 de Agosto.


** Devemos esclarecer que este documento aparece datado de 24 de Agosto na transcrição publicada no citado volume do Boletim do Arquivo Histórico Militar, mas a sua datação correcta é 25 de Agosto, como aparece em ambas as outras duas transcrições referidas, e como se poderá ver na carta que dois dias depois Bernardim Freire de Andrade viria a escrever ao mesmo Bispo do Porto.
Este documento seria um dos vários que a Junta do Porto viria a enviar a D. Domingos de Sousa Coutinho, embaixador de Portugal em Londres, o qual por sua vez os reenviou, no dia 3 de Setembro, a George Canning, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros do Governo britânico