Ramalhal, 25 de Agosto de 1808.
Meu caro Senhor:
Desde que vos escrevi pela última vez, estivemos ocupados muito activamente nesta parte, e com algum sucesso.
No passado dia 17, ataquei e derrotei o corpo de Laborde, que consistia em cerca de 6.000 homens, nos arredores da Roliça, a cerca de seis ou sete milhas a sul de Óbidos. No dia seguinte, as tropas francesas comandadas pelo General Junot, pelo General Loison e pelo General Laborde, reuniram-se nos arredores de Torres Vedras, chegando ao número de 12.000 a 14.000 homens. Marchei no mesmo dia em direcção à Lourinhã, para proteger o desembarque duma brigada de infantaria comandada pelo General Anstruther, brigada esta que se reuniu a mim no dia 20 no Vimeiro, perto de Maceira; e reuniu-se-me também outra brigada de infantaria debaixo das ordens do General Acland, bem cedo na manhã do dia 21, brigada esta que tinha desembarcado durante aquela noite.
O exército francês atacou-me na minha posição no Vimeiro, por volta das oito horas da manhã do dia 21; e foi completamente derrotado, com a perda de treze peças de canhão e um vasto número de mortos, feridos e prisioneiros. Sir Harry Burrard, que chegou ao ancoradouro da Maceira [= praia do Porto Novo] na noite do dia 20, desembarcou durante a acção na manhã do dia 21; e se eu não tivesse sido impedido, teria perseguido o inimigo até Torres Vedras naquela noite, e, com toda a probabilidade, a sua totalidade teria sido destruída.
Na manhã do dia 22 chegou Sir Hew Dalrymple; e na tarde veio o General Kellermann com uma proposição para suspender as hostilidades, tendo em vista fazer uma Convenção para a evacuação de Portugal pelos franceses.
No acordo que Sir Hew entrou nesta ocasião, existe um artigo que estipula que os russos poderão usar o porto de Lisboa como um porto neutro, artigo este que alude ao Almirante [Cotton], que recusou consenti-lo; e o General [Dalrymple] escreveu hoje a Junot que a suspensão de armas chegaria ao fim no dia 27 ao meio-dia, a não ser que uma se concordasse, antes desse dia, uma Convenção para a evacuação de Portugal pelos franceses, por mar.
Este é o aspecto geral do estado das circunstâncias aqui. O corpo de Sir John Moore está no ancoradouro da Maceira [=praia do Porto Novo], e penso que está prestes a desembarcar. Para além disto, temos 6.000 tropas portuguesas na Lourinhã; e creio que um destacamento de tropas espanholas e portuguesas está à volta de Santarém e Abrantes.
Contudo, a retirada dos franceses está aberta em direcção a Elvas; e tenho poucas dúvidas que, a não ser que os retiremos de Portugal pelo mar, eles defender-se-ão em Elvas e Almeida, e teremos o prazer de atacar estas praças regularmente, ou de bloqueá-las no Outono. Se conseguirmos afastá-los por mar, será possível levar as nossas tropas para a Espanha sem demora.
Rogo-vos para fornecerdes ao Coronel Doyle aquelas informações desta carta que achardes que lhe serão úteis.
As tropas francesas estão agora reunidos no Cabeço de Montachique, e estendem-se para Mafra. Nós estamos atrás [=a norte] de Torres Vedras, cuja cidade não está ocupada por nenhuma das partes.
Acreditai em mim, etc.,
Arthur Wellesley
[Fonte: Lieut. Colonel Gurwood (org.), The Dispatches of Field Marshal the Duke of Wellington, K. G. during his various campaigns in India, Denmark, Portugal, Spain, the Low Countries, and France, from 1799 to 1818 – Volume Fourth, London, John Murray, 1835, pp. 104-105].
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Nota:
O destinatário desta carta, Sir Charles Stuart, futuro embaixador da Grã-Bretanha no Brasil, estava então na Espanha, na qualidade de agente secreto do Governo britânico (como para o Porto tinha sido enviado o barão von Decken). Aparentemente, Stuart teria desembarcado pouco antes na Galiza, onde chegou a entrar em conversações com a Junta local, dirigindo-se depois para Madrid, onde se encontrará em meados de Setembro.