segunda-feira, 20 de junho de 2011

Carta da Câmara de Faro às demais Câmaras do Reino do Algarve, participando a restauração daquela cidade (20 de Junho de 1808)


Ilustríssimos Senhores, Juiz de Fora, Presidente, Vereadores e [de]mais Oficiais da Câmara, etc.:

No dia 19 do corrente mês, pelas duas horas da tarde, foi proclamado pelo povo desta cidade, por seu Legítimo Soberano o Príncipe Regente de Portugal Nosso Senhor. Arvoraram-se as suas bandeiras e a elas se reuniram os habitantes de todas as classes da mesma cidade e termo para defenderem os direitos do mesmo Soberano, Pátria, vidas e propriedades, contra os esforços do comum inimigo; e como esta causa interessa a todos os fiéis portugueses, razão porque o povo desta cidade e termo, e o Corpo militar, têm rogado e instado a esta Câmara [para que] haja de fazer manifesto a todas as cidades e vilas deste Reino do Algarve [que] queiram fazer comum connosco para repelirmos a força do comum inimigo, e não deixar exposta ao seu furor esta pequena porção de honrados e fiéis portugueses. 
Portanto, rogamos a Vossas Senhorias para que se dignem fazer público ao povo os nossos sentimentos e a nossa situação, e fazer as necessárias participações a todas as autoridades desse termo, para que de comum acordo cooperem connosco e tomem as medidas convenientes para se obter o fim desejado, e isto sem perda alguma de tempo, pois toda a demora poderá ser nociva. 
Deus Guarde a Vossas Senhorias 
Faro, em Câmara de vinte de Junho de 1808. 

Manuel Herculano de Freitas Azevedo Falcão, Presidente 
João Veloso Manuel Pessanha Cabral 
Domingos da Costa Dias e Barros 
Ventura da Cruz 
João Manuel de Faria Freire 
Guilherme José Pargana 
Amaro de Santa Teresa 
Manuel da Costa

[Fonte: Adérito Fernandes Vaz, Olhão da Restauração no tempo e a 1.º Invasão Francesa em 1808, no contexto regional e nacional – 2.º Volume, Olhão, Elos Clube de Olhão, 2009, pp. 72-74 (reprodução fac-símile de uma cópia desta carta)].

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Nota:

Num folheto impresso da época, esta carta era seguida pela seguida nota:
Por efeito desta carta, que foi circular e remetida logo a todas as Câmaras das cidades e vilas deste Reino do Algarve, se pôs logo todo o Povo em massa pronto para repelir o Comum Inimigo, o que assim felizmente se conseguiu, tento todos a glória de novamente aclamarem a Rainha Fidelíssima Nossa Senhora e o Príncipe Regente Nosso Senhor por nosso legítimo Soberano, e segunda vez ser restaurado este fiel Reino do Algarve do poder dos Inimigos rapinadores, que, com manifesta perfídia, entraram neste Reino de Portugal para o roubarem e assolarem, bem como assim o têm praticado em todo ou quase todo o Universo.
[Fonte:
Representação ou carta enviada pela Câmara desta cidade de Faro ao Rio de Janeiro a Sua Alteza Real o Príncipe Regente Nosso Senhor, Faro, Officina de Don Josè Maria Guerrero [sic], s.d. [c. 1808], pp. 5-6].