Boletim n.º 14
Lisboa, 15 de Maio de 1808
Faro
O Corregedor Mor dos Algarves escreveu-me, a 11 de Maio, que aquela província desfruta duma grande tranquilidade e que o espírito dos seus habitantes é bom; e que lhe será fácil indicar-me brevemente alguns malévolos que podem desejar a desordem.
Foram encontradas, na costa do mar perto de Albufeira, algumas arcas contendo papéis pertencentes ao governo de Havana.
Estas arcas parecem ter permanecido muitos dias no mar. Fizemo-las secar para transportá-las para Lisboa.
Entre esses papéis estão alguns relativos às comunicações secretas do Príncipe da Paz com a Inglaterra; donde se pode conjecturar, nas circunstâncias actuais, que arribando os escritos como se fosse de propósito, talvez não venham da América; mas sim que foram lançados ao mar na [costa da] Espanha, assegurando-se que abordassem à costa de Portugal; e que chegariam daí ao seu destino.
Foi ao Secretário de Estado, Mr. Hermann, que o Corregedor Mor dos Algarves enviou estas arcas.
[Fonte: António Ferrão, A 1ª invasão francesa : a invasão de Junot vista através dos documentos da Intendência Geral da Polícia, 1807-1808: estudo politico e social, Coimbra: imprensa da Universidade, 1923, p. 346-347; Alberto Iria, A Invasão de Junot no Algarve (Subsídios para a História da Guerra Peninsular), Lisboa, Tip. Inácio Pereira Rosa, 1941, pp. 371-372 (doc. 49). Traduzimos o texto original (em francês) desta última fonte].