Representação ou carta enviada pela Câmara desta cidade de Faro ao Rio de Janeiro a Sua Alteza Real o Príncipe Regente Nosso Senhor
Senhor:
A Câmara da cidade de Faro, Reino do Algarve, prostrada aos Reais pés de Vossa Alteza Real, humildemente representa que, tendo o Povo da mesma cidade e termo, bem como o mais de Povo de todo o Reino observado e religiosamente cumprido tudo quanto por Vossa Alteza Real foi ordenado ao tempo em que a forçosa retirada de Vossa Alteza Real deste Reino nos deixou submergidos num imenso mar de lágrimas, [a] respeito da entrada das tropas francesas neste mesmo Reino, se mostrou na pronta obediência ser, como com efeito é, um Povo leal e fiel; carácter com que tanto se enobrece a Nação portuguesa.
Não querendo pois transgredir o Real Preceito, se sujeitou a sofrer o cruel Governo da Nação francesa, que entrando neste Reino com a inaudita perfídia de nos vir auxiliar contra Inglaterra, nossa íntima aliada, logo se desmascarou, declarando pertencer-lhe este Reino, não por outro título se não o da força e o da mais escandalosa rapina.
Entrou a legislar e a impor horrorosas contribuições; e tantos foram os chefes das tropas francesas que entraram neste Reino, quanto os salteadores que, espalhando-se pelas povoações, só procuraram engrossar a sua rapina e reduzir à miséria e extrema necessidade todo o Povo, bem como o desta cidade e de todo este Reino do Algarve; e tanto que nem as Igrejas, nem a nossa Santa Religião escaparam à mais horrenda profanação e sacrílego atentado.
A Câmara da cidade de Faro, Reino do Algarve, prostrada aos Reais pés de Vossa Alteza Real, humildemente representa que, tendo o Povo da mesma cidade e termo, bem como o mais de Povo de todo o Reino observado e religiosamente cumprido tudo quanto por Vossa Alteza Real foi ordenado ao tempo em que a forçosa retirada de Vossa Alteza Real deste Reino nos deixou submergidos num imenso mar de lágrimas, [a] respeito da entrada das tropas francesas neste mesmo Reino, se mostrou na pronta obediência ser, como com efeito é, um Povo leal e fiel; carácter com que tanto se enobrece a Nação portuguesa.
Não querendo pois transgredir o Real Preceito, se sujeitou a sofrer o cruel Governo da Nação francesa, que entrando neste Reino com a inaudita perfídia de nos vir auxiliar contra Inglaterra, nossa íntima aliada, logo se desmascarou, declarando pertencer-lhe este Reino, não por outro título se não o da força e o da mais escandalosa rapina.
Entrou a legislar e a impor horrorosas contribuições; e tantos foram os chefes das tropas francesas que entraram neste Reino, quanto os salteadores que, espalhando-se pelas povoações, só procuraram engrossar a sua rapina e reduzir à miséria e extrema necessidade todo o Povo, bem como o desta cidade e de todo este Reino do Algarve; e tanto que nem as Igrejas, nem a nossa Santa Religião escaparam à mais horrenda profanação e sacrílego atentado.
A tudo isto se sujeitou este Povo pelo fiel respeito devido ao Real Preceito de Vossa Alteza Real; porém, vendo que esse Usurpador do Universo se arrojava a haver por extinta em Portugal a Real Casa de Bragança, e a querer dar-lhe um Rei de Nação estranha, logo entrou a inflamar-se e projectar nos providentes meios de ser segunda vez restaurado este Reino de Portugal.
Ateando-se com efeito este Santo incêndio nos corações fiéis dos honrados portugueses, lançou-se mão do intento; e no dia dezasseis deste mês de Junho se rebelou o Povo do lugar de Olhão, termo desta dita cidade; o mesmo praticou esta cidade no dia dezanove deste dito mês; e todas as mais cidades e vilas, por efeito de cartas que esta Câmara lhes dirigiu, seguiram logo tão honrável exemplo. Foi novamente proclamada a Rainha Nossa Senhora e Vossa Alteza Real, como Príncipe Regente, por Nosso Legítimo Soberano; foi novamente levantada a Real bandeira; descobertas as suas invencíveis Armas, que eles tinham mandado extinguir; cantando o Te Deum na Sé desta cidade; e em três noites sucessivas foi a mesma iluminada.
O Povo, Senhor, acha-se inflamado, protestando[=declarando], com vozes puras de verdadeiros fiéis e honrados portugueses, defender este Reino e os Sagrados Direitos da Sua Real Coroa, até todos derramarem a última pinga de sangue; firmes na esperança de que o Grande Deus dos Exércitos há de com efeito proteger as Armas portuguesas e cumprir a promessa feita ao Invicto, Memorável e Augusto Rei o Senhor D. Afonso Henriques. Tem-se pedido e conseguido algumas armas da Praça de Gibraltar e de Sevilha, para com elas extinguirmos os franceses que ainda existem neste Reino, e para depois nos defendermos do Comum Inimigo, visto termos sido por ele desarmados; sistema este que o Reino todo de boa vontade abraça, bem como o tem feito este Reino do Algarve.
Porém, Augusto Senhor, só resta a este Reino do Algarve o dinheiro essencialmente necessário para munições de boca e pagamento dos que gloriosamente vão expor as suas vidas pela defesa da Pátria e da Religião. Esta Câmara, em nome de todo este fiel Povo, não pode nem deve recorrer a outrem senão a Vossa Alteza Real, como seu Pai e seu Soberano. Digne-se portanto Vossa Alteza Real ouvir a nossa súplica, que sendo fundada em justíssima causa, pois respeita a Deus e a Vossa Alteza Real, parece ser merecedora da sua Real e Paternal atenção.
Deus guarde a Vossa Alteza Real.
Faro, em Câmara, trinta de Junho de mil oitocentos e oito.
Manuel Herculano de Freitas Azevedo Falcão, Presidente.
João Veloso Manuel Pessanha Cabral
Domingos da Costa Dias e Barros
Ventura da Cruz
João Manuel de Faria Freire
Guilherme José Pergana [sic]
Amaro de Santa Teresa
Manuel da Costa
Ateando-se com efeito este Santo incêndio nos corações fiéis dos honrados portugueses, lançou-se mão do intento; e no dia dezasseis deste mês de Junho se rebelou o Povo do lugar de Olhão, termo desta dita cidade; o mesmo praticou esta cidade no dia dezanove deste dito mês; e todas as mais cidades e vilas, por efeito de cartas que esta Câmara lhes dirigiu, seguiram logo tão honrável exemplo. Foi novamente proclamada a Rainha Nossa Senhora e Vossa Alteza Real, como Príncipe Regente, por Nosso Legítimo Soberano; foi novamente levantada a Real bandeira; descobertas as suas invencíveis Armas, que eles tinham mandado extinguir; cantando o Te Deum na Sé desta cidade; e em três noites sucessivas foi a mesma iluminada.
O Povo, Senhor, acha-se inflamado, protestando[=declarando], com vozes puras de verdadeiros fiéis e honrados portugueses, defender este Reino e os Sagrados Direitos da Sua Real Coroa, até todos derramarem a última pinga de sangue; firmes na esperança de que o Grande Deus dos Exércitos há de com efeito proteger as Armas portuguesas e cumprir a promessa feita ao Invicto, Memorável e Augusto Rei o Senhor D. Afonso Henriques. Tem-se pedido e conseguido algumas armas da Praça de Gibraltar e de Sevilha, para com elas extinguirmos os franceses que ainda existem neste Reino, e para depois nos defendermos do Comum Inimigo, visto termos sido por ele desarmados; sistema este que o Reino todo de boa vontade abraça, bem como o tem feito este Reino do Algarve.
Porém, Augusto Senhor, só resta a este Reino do Algarve o dinheiro essencialmente necessário para munições de boca e pagamento dos que gloriosamente vão expor as suas vidas pela defesa da Pátria e da Religião. Esta Câmara, em nome de todo este fiel Povo, não pode nem deve recorrer a outrem senão a Vossa Alteza Real, como seu Pai e seu Soberano. Digne-se portanto Vossa Alteza Real ouvir a nossa súplica, que sendo fundada em justíssima causa, pois respeita a Deus e a Vossa Alteza Real, parece ser merecedora da sua Real e Paternal atenção.
Deus guarde a Vossa Alteza Real.
Faro, em Câmara, trinta de Junho de mil oitocentos e oito.
Manuel Herculano de Freitas Azevedo Falcão, Presidente.
João Veloso Manuel Pessanha Cabral
Domingos da Costa Dias e Barros
Ventura da Cruz
João Manuel de Faria Freire
Guilherme José Pergana [sic]
Amaro de Santa Teresa
Manuel da Costa