Muito respeitável e alta nação:
A falta que na presente conjuntura se experimenta neste porto duma decente embarcação, nos priva, com pesar, de fazer apresentar na vossa presença o emissário que para este mesmo fim foi nomeado pela Câmara desta vila, para que de viva voz ele pudesse com mais individuação representar as actuais circunstâncias em que nos achamos, as quais bem podereis conhecer pela inclusa cópia autêntica que nos dimanou da Câmara da cidade de Faro, onde primeiro foi proclamado entre vivas do povo o Príncipe Regente Nosso Senhor, convidando a todas as Câmaras vizinhas a abraçarem o mesmo partido; o que nós com efeito, sem demora, fizemos com a maior satisfação e contentamento, e nos consta ter feito uma grande parte desta província do Alentejo, fiados todos na vossa constante amizade e protecção, a qual particularmente vos imploramos com a possível brevidade; pelo que nos servimos, na falta de emissário nomeado pelas circunstâncias, do mestre Manuel de Jesus, pois nos consta [que] se dirige a esta fortaleza uma porção de tropa francesa, a qual, se não nos socorreis com a vossa protecção, chegará a assassinar todo este povo em vingança da prisão feita aqui ao oficial Sanguinette, Comandante da sua tropa.
Sines, 28 de Junho de 1808.
[seguiam-se as assinaturas dos membros da Câmara, nobreza e clero].
[Fonte: José Accursio das Neves, Historia Geral da Invasão dos Francezes em Portugal, e da Restauração deste Reino - Tomo V, Lisboa, Officina de Simão Thaddeo Ferreira, 1811, pp. 34-35].
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Nota:
Segundo José Acúrsio das Neves, "o mestre Manuel de Jesus, portador desta carta, animou-se a ir à esquadra num barco, e entre outras coisas ia encarregado de pedir que se enviasse uma embarcação inglesa ao porto de Sines, o que conseguiu voltando ele mesmo na fragata Comus, com a [...] resposta do Almirante [Charles Cotton]" [cf. op. cit., p. 35].