Lisboa, 28 de Junho
A proclamação que o Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Duque de Abrantes acaba de fazer publicar, dirigida aos habitantes de diversas povoações de algumas províncias, tem feito a maior comoção nos corações dos bons habitantes desta capital, por lhes manifestar aquela paternal exortação ter havido entre os seus compatriotas quem, esquecendo-se dos mais sagrados deveres da sociedade e da religião, maquinasse traças contra a paz e tranquilidade, que Sua Excelência tanto se tem desvelado por manter, e cuja perturbação só pode ser excitada por pessoas que, esquecidas do que ditam a boa razão e a prudência, se deixam facilmente seduzir de malévolas persuasões que não podem ter outro fim senão o de aproveitar a ocasião da discórdia para fazer a nossa desgraça. Altamente convencidos desta verdade, continuamos a desfrutar aqui os felizes resultados das sábias e luminosas providências que Sua Excelência não cessa de dar em nosso benefício e cujas consequências são a boa harmonia, bela ordem e perfeita tranquilidade de que se goza actualmente nesta capital.
De Taboaço avisam que o 1.º deste mês foi o dia mais assinalado que aquela vila tem visto desde que existe; porquanto o Doutor António José da Fonseca Mimoso Pereira e Guerra, seu actual Juiz de Fora, tendo feito armar mui brilhantemente a Casa da Câmara e Praça, estando aí presentes as 8 Câmaras a que preside, como também o Clero, Nobreza e Povos da sua Jurisdicção, lhes recitou uma eloquente oração, pela qual com o maior entusiasmo fez pública a memorável carta da nossa Deputação junto a Sua Majestade o Imperador e Rei. Recitada que foi, correspondeu todo o auditório com estrondosos vivas ao imortal Napoleão. Consecutivamente houve uma segunda oração, por onde o Doutor António Guedes de Carvalho Rebelo Pinto, em nome do Clero, Nobreza e Povo, nos termos os mais energéticos, agradeceu tão altas mercês ao Supremo dos Soberanos, afiançando-lhe a mais segura fidelidade. Não cessaram os vivas em todo aquele dia, que finalizou com uma iluminação geral.
Ainda que nada saibamos de positivo relativamente aos recentes acontecimentos da Espanha, temos contudo suficiente fundamento para crer que vai ali cessando de lavrar o fogo da discórdia, que apenas se conserva nas províncias onde começara a manifestar-se, nas quais ainda o sustenta o extravagante capricho dos celerados, que temerosos do justo castigo que os espera, se esforçam por demorá-lo quanto lhes seja possível, apesar de terem os que seguem uma tão desatinada mania talvez perdido já, com a vida, as suas casas e família, resultando destas desordens por outra parte a desgraça de cidades e províncias inteiras, a quem um melhor futuro prometia aliás vantagens inestimáveis.
[Fonte: Gazeta de Lisboa, n.º 26, 28 de Junho de 1808].