segunda-feira, 11 de julho de 2011

Proclamação do Tenente espanhol Sebastián Pizarro aos soldados do antigo 2.º Regimento do Porto (11 de Julho de 1808)



Valerosos Soldados do 2.° Regimento do Porto

Vencer ou morrer é a divisa de todo o nosso Exército; qual deve ser a vossa? A Nação em armas se reúne para defender a causa pública; mas vós, ofendidos pessoal­mente na honra, tendes de unir àquela a causa particu­lar. Outrora assassinados, dispersos e proscritos pela opressão dominante, vós podíeis comparecer sem pejo aos vossos concidadãos; mas agora... Soldados, vós justificareis a conduta do inimigo, se, mais que outro algum Corpo, não souberdes distinguir-vos na presente ocasião. Enquanto lembrarem Caldas, a memória do vosso insulto anexa a elas há-de [se] lembrar também. Diga o mundo embora que ali fostes ultrajados; uma vez que a vossa animosidade corresponda às vantajosas esperanças que a vosso respeito formamos. Três milhões de homens que hão-de observar-vos ou combater a vosso lado, notarão judiciosos os vossos menores movimentos: duas Nações belicosas, nossas aliadas, fazendo a nossa reserva, terão os olhos fitos sobre cada hum de vós. Não basta mostrar coragem, é preciso obrar portentos. Bravos do 2.° Regimento do Porto! É por acções arrojadas e atrevidas que deveis merecer a honra de combater à nossa frente. É escusado recomendar a ordem a quem foi criado nela. Sabeis quanto ela é útil em qualquer ocasião e em qualquer tempo. Se vos confiarem um posto, firmes como muralhas deveis permanecer nele. Se vos derem o sinal do combate, o vosso choque irre­sistível, bem como o raio despedido das nuvens, esma­gará os perversos que ousarem combater-vos. São fracos como a serpe, que precisa de enganos da sua marcha rasteira. Seis mil homens foram mandados só contra o vosso Regimento, e ainda assim, mais do que a força, prevaleceu a inteligência dos cobardes e o seu vil estratagema. Soldados do 2.° Regimento do Porto, qual dentre vós pode esquecer o grito de vingança, que implorarão os vossos irmãos, sacrificados à raiva dos perversos! Qual dentre vós não suspira pelo recobro das suas perdidas bandeiras? Soldados, é preciso recobrá-las para airosamente trazê-las. As Quinas Lusitanas tremulam por toda a parte, e só vós as não trareis? Ora, sois Gente brava e corajosa: o tempo das vinganças é chegado: vinguem-se os vossos irmãos de Armas e o vosso honrado Tenente; e sacrificando aos seus manes os assassinos que desumanamente os ultrajaram, reco­brareis então a vossa glória; e dando que dizer ao mundo inteiro, os que vos virem, admirados das vossas grandes proezas, dirão cheios de transporte, apontando-vos com o dedo: Estes são os Vingadores das Caldas; A escolha do nosso Exército. 
Coimbra, Quartel do Colégio de S. Bento, 11 de Ju­lho de 1808. 

Sebastián Pizarro, Tenente Comandante. 

[Fonte: Artur de Magalhães Basto, "O Porto contra Junot (Conclusão)", in Revista de Estudos Históricos, Faculdade de Letras do Porto, vol. 1, nº. 4, Out.-Dez. 1924, pp. 121-147, pp. 121-122].