Downing Street, 6 de Julho de 1808
Senhor,
Receberam-se e entregaram-se ao Rei os vossos ofícios das datas referidas na margem [2 de Junho e 4 de Junho]; e por este meio transmito-vos a aprovação de Sua Majestade [Britânica] pela linha da conduta que ponderadamente haveis tomado nas vossas comunicações com o General Castaños, e por terdes enviado o corpo do Major-General Spencer para a barra de Cádis.
O discurso e as ordens de Sua Majestade em Conselho, que vos transmito separadamente, revelar-vos-ão plenamente os sentimentos de Sua Majestade em relação aos esforços patrióticos da nação espanhola. Torna-se evidente que se este espírito nobre (que irrompeu e que parece ser universal nas províncias da Espanha) puder ser mantido durante um tempo considerável, ocorrerão os resultados mais benéficos, não só para a própria Espanha, mas também para a Europa e para o mundo. Se, pelo contrário, os esforços forem apenas momentâneos e definhem ou acabem em conflito ou num mau sucesso, a sujeição não só da Espanha mas de toda a Europa poderá ser irrevogavelmente estabelecida, durante um longo período de tempo. Espero, portanto, que não descurareis os meios ao vosso alcance para encorajardes os espíritos e auxiliardes os esforços da nação espanhola, e igualmente para tomardes qualquer oportunidade que seja para expressardes os desejos desinteressados da Grã-Bretanha a favor dos espanhóis, tal como a determinação de Sua Majestade em proporcionar-lhes quaisquer meios de assistência que estejam ao seu alcance.
Aproveito esta oportunidade para vos informar que foram dadas ordens ao Tenente-General Sir Arthur Wellesley para partir de Cork, com um corpo de perto de 10.000 homens, que se reunirão na foz do Tejo; onde se espera, de acordo com os avisos recebidos da parte do Vice-Almirante Sir Charles Cotton, que a sua expedição será executada com um sucesso imediato. Foram-lhe dadas instruções para enviar [ordens] para Cádis, para o corpo debaixo do comando do Major-General Spencer [reunir-se igualmente na foz do Tejo], a não ser que este esteja sendo empregue naquela parte, executando um objecto de grandes consequências para a causa comum. Ele terá, por suposto, o cuidado de vos comunicar os seus procedimentos.
Na minha carta separada desejo que transmitais o estado dos acontecimentos mais recentes na Espanha a Sir John Stewart [sic], na Sicília, e a Sir Alexander Ball, em Malta; e espero que não descurareis qualquer ocasião para os informardes, sobretudo o primeiro, acerca do progresso dos acontecimentos; e fareis o mesmo em relação a Lord Collingwood.
Escrevo-vos desta forma de acordo com as informações recebidas da parte do Major-General Spencer, enviadas da barra de Cádis a 6 de Junho; naquele tempo, estavam a ser feitas preparações para se tomar posse da esquadra francesa; e os nossos Comandantes esperavam a ratificação, pela parte da Junta de Sevilha, das condições propostas por eles para a sua cooperação. Tudo leva a crer, através dos ofícios do Almirante [Purvis] e do General [Spencer], que as suas proposições foram aceites na maior parte, e que as forças de Sua Majestade [Britânica] estão a agir em aliança com a Junta de Sevilha.
A prontidão com que os comerciantes de Gibraltar fizeram um empréstimo para auxílio do exército espanhol comandado pelo General Castaños proporcionou muita satisfação a Sua Majestade.
Tenho a honra de ser, etc.,
Castlereagh
[Fonte: Memoir, written by General Sir Hew Dalrymple, Bart., of his proceedings as connected with the affairs of Spain, and the commencement of the Peninsular War, London, Thomas and William Boone, Strand, 1830, pp. 245-247].
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Nota:
Dalrymple receberia esta carta no dia 27 de Julho, juntamente com várias cópias das ordens do Rei da Grã-Bretanha sobre o fim das hostilidades contra a Espanha. Como referiu na sua citada apologia (pp. 47), a cópia desta carta que se viria a apresentar na Comissão de Inquérito sobre a Convenção de Sintra omitiu o trecho por nós sublinhado. O segundo parágrafo sublinhado, em particular, demonstra, segundo Dalrymple, que a confiança que o ministério da guerra do governo britânico tinha até então depositado em si começara a transferir-se para Purvis e Spencer. Cf. Copy of the Proceedings upon the Inquiry relative to the Armistice and Convention, &c. made and conclued in Portugal, in August 1808, between The Commanders of the British and French Armies, London, House of Commons Papers, 31st Jannuary 1809, p. 134 (doc. 19)].