No campo, 5 de Setembro de 1808.
Depois de ter chegado ao campo, recebi uma carta do Ajudante General [=Capitão Dalrymple?], escrita na suposição que eu ainda teria a honra de vos ver; mas como tal não acontecerá tão cedo como eu queria, tomo a liberdade de me dirigir a Vossa Excelência por escrito.
O Ajudante General da parte do General [Dalrymple] informou-me que foi simplesmente devido a um mal entendido que as bandeiras inglesas foram arvoradas no forte de S. Julião; que nada disto poderia concordar menos com as suas intenções; e que assim que ele o soube, deu ordem para arriá-las e para serem arvoradas as bandeiras portuguesas. Teria sido certamente melhor que este mal entendido não tivesse ocorrido, mas espero que Vossa Excelência e a Nação portuguesa não verão nisto mais do que um mal entendido. Estou ademais encarregado de comunicar a Vossa Excelência que está actualmente no forte de S. Julião um corpo de artilharia português, o qual tinha estado ao serviço dos franceses. Segundo o teor da carta [do Ajudante General de Dalrymple], parece-me que o General crê que é conveniente mandar retirar esse corpo do forte, mas ao mesmo tempo encarrega-me de pedir a Vossa Excelência que me dê a conhecer as vossas intenções e vontades a este respeito.
Não saberia finalizar sem exprimir a Vossa Excelência quanto me sinto devedor por todas as gratas atenções que me haveis mostrado desde que o meu Corpo está junto ao de Vossa Excelência, e de vos repetir ainda uma vez mais que tenho a honra de ser o servidor mais humilde e muito obrigado de Vossa Excelência,
[Fonte: Esta carta foi escrita originalmente em francês, aparecendo publicada em tradução portuguesa no Correio Braziliense, Londres, Outubro de 1808, pp. 402-403. A transcrição de acima deriva de uma tradução nossa do original francês, disponível in Luís Henrique Pacheco Simões (org.), "Serie chronologica da correspondencia diplomatica militar mais importante do General Bernardim Freire de Andrade, Commandante em Chefe do Exercito Portuguez destinado ao resgate de Lisboa com a Junta Provisional do Governo Supremo estabelecido na cidade do Porto e o Quartel General do Exercito Auxiliar de S. Magestade Britanica em Portugal", in Boletim do Arquivo Histórico Militar - Vol. II, 1931, pp. 3-77, p. 41 (doc. 83)].