Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor:
O ofício que acabo de receber de Vossa Excelência, com os papéis que o acompanham, tem sido para mim do maior cuidado; ainda não deve dar muito um negócio de tanta gravidade quando chega ao ponto de se não poder remediar. Eu logo o fui conferir na Junta, e desta conferência resultou o assento que se tomou, e que vai dirigido a Vossa Excelência; e nas actuais circunstâncias, que mais pode Vossa Excelência fazer, nem a Junta? Nem nós podemos exigir mais de Vossa Excelência, nem Vossa Excelência de nós. Não podia ser novo para Vossa Excelência que havendo Exércitos combinados, sempre há desunião e desordem. Queira Vossa Excelência, digo, Nosso Senhor, livrar-nos dos franceses; tudo o mais a que não pudermos acudir e a que não cheguem as nossas forças, Nosso Senhor, de quem a causa é, proverá.
As perguntas de Vossa Excelência vão satisfeitas no modo possível na conjuntura presente, e Vossa Excelência não aumente aos seus actuais trabalhos considerações que o aflijam, e que nada remedeiam.
A inclusa ficou ontem de fora quando se fixou a carta, mas eu na minha quase que dizia o mesmo.
Nosso Senhor assista e dirija a Vossa Excelência em circunstâncias tão atadas, e guarde a Vossa Excelência muitos anos.
Porto, 5 de Setembro de 1808.
De Vossa Excelência amigo muito venerador e obsequioso,
Bispo Presidente e Governador.
[Fonte: Luís Henrique Pacheco Simões (org.), "Serie chronologica da correspondencia diplomatica militar mais importante do General Bernardim Freire de Andrade, Commandante em Chefe do Exercito Portuguez destinado ao resgate de Lisboa com a Junta Provisional do Governo Supremo estabelecido na cidade do Porto e o Quartel General do Exercito Auxiliar de S. Magestade Britanica em Portugal", in Boletim do Arquivo Histórico Militar - Vol. II, 1931, pp. 3-77, pp. 36-37 (doc. 78)].