Lisboa, 5 de Setembro de 1808.
Meu caro Wellesley:
Envio pelo portador [desta carta] o açúcar que haveis pedido. Cheguei [a Lisboa] ontem, por volta das 10 horas, e comecei a minha missão, que não é nada agradável, nem penso que possa ser muito útil, pois, depois de ter lido a Convenção, mal consigo descobrir porque é que se nomearam Comissários para supervisionarem a plena execução do tratado. A rápida e completa execução à la bonne heure [sic] serve apenas para insistir que os franceses façam e levem consigo o que quer que queiram. Apesar de ter ficado bastante surpreendido quando fui informado dos termos [da Convenção], foi somente quando os li que percebi como aquelas palavras são tão desfavoráveis à nossa causa e à causa geral como parecem. Por aqui, o povo de todas as classes está bastante enfurecido, e este tratado diminuiu muito a sua estima por nós; e ainda que possamos dar pouca importância ao povo, não valia a pena perdemos a sua estima.
Tomei ontem o pequeno-almoço com Junot, mas ele não pareceu ter tido grande simpatia comigo, o que acreditareis que não me partiu o coração. Somente gostaria de ter tido o esboço da Convenção, o qual devia ser melhor composto, caso contrário deveríeis ter rompido com a sua concepção. Ficareis talvez um pouco surpreendido ao serdes informado que as suas tropas nestas redondezas elevam-se a cerca de 19.000 homens, e que ele tem cerca de outros 4.000 nas guarnições do interior. No total embarcarão cerca de 27.000 pessoas, por isso penso que as nossas negociações calam muito bem o nosso próprio exército ou limitam as suas operações a esta Península, o que de outra forma não teríamos meios de conseguir, excepto à la nage [sic].
Provisões e equipamentos de campo deixaram hoje o Tejo para passarem ao vosso corpo. Desconheço quanto tempo permanecereis na vossa posição actual, pois não está aqui nenhum oficial da parte da marinha com o qual se possa comunicar ou tratar do embarque. A primeira divisão dos franceses está pronta, e acabei de escrever a Sir Charles Cotton, a fim dele enviar algum oficial para supervisionar o embarque, e com que possamos comunicar.
Dizei-me se tendes falta de qualquer coisa.
Dizei-me se tendes falta de qualquer coisa.
O vosso mais sincero,
W. C. Beresford
[Fonte: Supplementary Despatches and Memoranda of Field Marshal Arthur, Duke of Wellington, K.G. - Vol. VI, London, John Murray, 1860, pp. 129-130].