Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor:
Os comerciantes da praça de Lisboa abaixo assinados representam a Vossa Excelência que o General em Chefe do Exército francês, Junot, exigiu dos suplicantes um empréstimo forçado de dois milhões de cruzados para as despesas do seu dito exército*. Esta dívida deve ser paga por todos os princípios de razão e de justiça. E com efeito prometeu o mesmo General que o pagamento seria feito pela contribuição de guerra de quarenta milhões, que, por princípio do mais puro despotismo, impuseram a este reino. Agora porém que o General Junot se retira de Lisboa, vencido pelas armas de Sua Majestade Britânica, não trata de realizar o prometido pagamento. Este novo despotismo é singular; e quaisquer que sejam suas convenções militares, ele não pode dispersar-se da necessária solução da convenção feita a este respeito. Da mesma forma [os suplicantes] pretendem que Vossa Excelência faça restituir ao Depósito Público os dinheiros que dele se confiscaram, por isso mesmo que não pertencia ao Estado, mas a eles, suplicantes, aos seus sócios ausentes, às viúvas, órfãos, cativos; não sendo bastante para este pagamento as apólices que [os franceses] substituíram nos cofres, pelo descrédito em que se acham, e [por] não ser dos franceses esta propriedade, requerem ainda que os funcionários civis do exército dêem contas nas competentes administrações dos dinheiros recebidos, a fim de que os suplicantes conheçam as reclamações que têm a fazer; e por último, que se assegurem aos mesmos suplicantes os seus navios, e as cargas destes, que individualmente e por princípios de mera força foram arrestados e sequestrados nos portos marítimos da França.
[seguiam-se quarenta e nove assinaturas].
[Fonte: Copy of the Proceedings upon the Inquiry relative to the Armistice and Convention, &c. made and conclued in Portugal, in August 1808, between The Commanders of the British and French Armies, London, House of Commons Papers, 31st Jannuary 1809, pp. 189-190 (doc. 75)].
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Nota:
* Atrás fizemos uma alusão a este empréstimo (cujo decreto pode ser consultado aqui), que foi uma das primeiras medidas que Junot impôs assim que chegou a Lisboa.