sábado, 27 de agosto de 2011

Carta do General Wellesley ao Duque de Richmond, Lord Tenente da Irlanda (27 de Agosto de 1808)






Ramalhal, 27 de Agosto de 1808.



Meu caro Duque

Escrevi-vos depois da batalha do dia 21. No dia 22, chegou Sir Hew Dalrymple pela manhã; e de tarde o General Kellermann veio pedir uma suspensão de hostilidades, para haver tempo para se negociar uma Convenção para os franceses evacuarem Portugal pelo mar. Sir Hew consentiu esta proposta, e quis que eu a assinasse, apesar de eu não a ter negociado ou aprovado.
Este acordo contém muitas estipulações inconvenientes; entre outras, permite que os franceses disponham de quarenta e oito horas depois de serem informados que [a suspensão de armas] chegou ao fim. Igualmente contém uma estipulação em relação aos russos que nunca deveria ter sido admitida; e, noutros aspectos, era censurável pelo seu palavreado francês. Não tenho uma cópia deste acordo. Contudo, as objecções que foram feitas acabaram por ser consideravelmente removidas, quando o Almirante [Charles Cotton] se recusou a consentir as estipulações relativas aos russos, determinando-se então que a suspensão de hostilidades acabará amanhã às 12 horas, a não ser que Murray, que está negociando a Convenção, seja da opinião de que é necessário um período adicional de vinte e quatro horas para realizar a sua tarefa. Estou pronto a marchar ao entardecer, e Sir John Moore marchará amanhã; e, haja Convenção ou não, espero estar em Lisboa no início de Setembro.
Aprovo que se permita que os franceses evacuem o país, pois estou convencido que, se não o fizerem, seremos obrigados a atacar regularmente Elvas, o forte de la Lippe, Almeida, e Peniche, ou a bloquear estas praças, e assim passará o Outono; e é melhor ter 10.000 ou 12.000 franceses adicionais nas fronteiras do norte da Espanha, e o exército inglês na Espanha, do que ter os franceses em Portugal, e os ingleses a bloqueá-los em praças-fortes. Esta necessidade teria sido evitada, se Sir Harry Burrard tivesse ou pudesse ter levado a cabo as operações em Santarém com o corpo de Sir John Moore, as quais lhe recomendei, medidas estas que certamente cortariam a retirada dos franceses para Elvas e Almeida.
Os franceses tiveram uma derrota terrível no dia 21. Não perderam menos, segundo creio, de 4.000 homens; e teriam sido completamente destruídos, se Sir Harry Burrard não me tivesse impedido de os perseguir. Na verdade, desde que chegaram os grandes generais, parece que estamos paralisados, e tudo tem corrido mal.
Estou a arranjar planos feitos para vós sobre ambas as batalhas dos dias 17 e 21, e escrever-vos-ei sobre qualquer coisa que possa acontecer. Aqui entre nós, não estou muito agradado pela forma como as circunstâncias neste país estão a ser conduzidas, e não terei pena de regressar para casa, se o puder fazer com propriedade, em cujo caso ver-vos-ei em breve. Porém, não gosto de querer partir, para que não me seja imputado que não estou disposto a servir onde não comando.
Acreditai em mim, etc., 

Arthur Wellesley

P.S.: Não recebo notícias da Irlanda desde que a deixei. Dai lembranças minhas à Duquesa e Louisa, etc., e a Lady Edward. Lord FitzRoy tem-me sido bastante útil, e hoje emprestei-o a Sir H. Dalrymple, a fim de ir até ao Quartel-General francês.