Lisboa, a bordo do Tuerdoi, 21 de Agosto - 2 de Setembro de 1808*.
Senhor Almirante:
Em aditamento à minha carta oficial relativa à convenção que vós me propusestes, tenho a honra de vos representar as circunstâncias que me prometiam toda a segurança neste porto de Lisboa.
A esquadra russa debaixo das minha ordens entrou no Tejo obrigada da mais violenta tempestade, nos princípios do mês de Novembro passado, para buscar refúgio e para se reparar num porto amigo e aliado. Sua Alteza Real o Príncipe Regente dispensou a favor desta esquadra, na restrição que as leis e os tratados punham à entrada simultânea no porto de Lisboa de mais de seis navios de guerra de uma mesma nação; e Sua Alteza Real, manifestando-me a mim e à oficialidade da esquadra da maneira a mais solene os seus sentimentos para com o seu amigo e aliado o Imperador da Rússia, prometeu à sua esquadra todos os socorros que lhe pudesse fornecer o porto da capital.
A ausência de Sua Alteza, a ocupação de Portugal e do porto de Lisboa pelos exércitos franceses, não mudam a situação em que deve ser considerada a esquadra russa, desde o momento em que a bandeira portuguesa for de novo arvorada em Lisboa, como ela já se acha arvorada em algumas províncias de Portugal.
Ainda quando a situação das coisas e negociações entre a Rússia e a Inglaterra seja tal que o Comandante da frota de Sua Majestade Britânica julgue, segundo as suas instruções, que não pode deixar voltar para o Báltico a esquadra russa que está no Tejo, daí não se segue que ela deva ser inquietada no porto de um príncipe amigo do seu Soberano.
A minha conduta durante uma estada de dez meses em Lisboa, a minha constante recusação em não tomar a menor parte nas medidas hostis que me propuseram, particularmente no dia 12-24 de Agosto passado*, quando o General Kellermann veio a meu bordo, da parte do General em Chefe Junot, para me obrigar a cooperar com as tropas francesas na ocupação dos fortes e defesa de Lisboa; todos estes motivos deviam manter-me na firme persuasão em que estou, que V.ª Ex.ª atenderá às circunstâncias acima mencionadas, e que a neutralidade que me pertence será guardada à minha esquadra enquanto ela estiver no Tejo.
Tenho a honra de ser, etc.
De Séniavin
[Fonte: Correio Braziliense, Londres, Abril de 1809, pp. 316-317].
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Nota:
* Sobre as duas diferentes datas ver a explicação dada numa nota a uma anterior carta do mesmo remetente ao mesmo destinatário.