Tuerdoi, em Lisboa, 21 de Agosto - 2 de Setembro de 1808*.
Senhor Almirante:
Pelas instruções datadas de 17-29 do mês passado, que destes ao Capitão L. W. Halsted, e de que ele me deixou ontem cópia, vejo, com grande mágoa, e não sem admiração, que vós não podeis considerar como neutro o porto de Lisboa, nem na situação actual, nem depois que as tropas francesas o tiverem evacuado; mas vejo ao mesmo tempo, com satisfação, as considerações que vós expondes, e que me fariam esperar igualmente que as relações de paz e amizade entre a minha nação e a vossa poderiam bem depressa ser reestabelecidas, se não fossem acompanhadas de dois artigos que dizem respeito à esquadra do meu Augustíssimo Soberano, e pelos quais vós me propondes:
1. Que eu vos entregue esta esquadra, com todo o seu aparelho e munições, no estado em que ela se acha, a fim de que ela seja enviada à Inglaterra, para ser lá guardada, como em depósito, para depois ser reentregue a Sua Majestade o Imperador [russo], dentro em seis meses, depois da conclusão da paz; e que nós seremos transportados em navios de guerra ou outros vasos convenientes à custa de Sua Majestade Britânica.
2. Que eu, com todos os oficiais, marinheiros e gente de embarque debaixo das minhas ordens, voltemos para a Rússia sem nenhuma condição nem estipulação relativamente ao nosso serviço futuro, e que nós seremos transportados para ali por navios de guerra ou outros vasos convenientes, à custa de Sua Majestade Britânica.
O Capitão Halsted me declarou ao mesmo tempo, da vossa parte, que a bandeira de Sua Majestade Imperial [russa] ficaria arvorada e não se arrearia antes de que os capitães e equipagem deixassem os seus respectivos vasos. Sensível, portanto, a todas as considerações e sentimentos expostos de vossa parte, e guiado pelos princípios de honra e de lealdade, assim como pelo zelo o mais inviolável pelos interesses do serviço do meu Augustíssimo Soberano, consinto em aceder às vossas proposições, por uma convenção formal, com a condição, porém, que esta convenção não será nem poderá ser valiosa, senão no caso de que a bandeira inglesa seja arvorada nas fortalezas, e que o porto de Lisboa seja reconhecido como um porto pertencente a Sua Majestade Britânica.
Em consequência do que autorizo de minha parte ao Capitão de 1.ª classe Schettinge, e ao Secretário da Legação de Sass, que terão a honra de vos entregar esta [carta], para que possam tratar sobre os artigos da convenção, cuja ratificação, em devida forma e em duas cópias, será assinada por Vossa Excelência e por mim.
Tenho a honra de ser, etc.
De Séniavin
[Fonte: Correio Braziliense, Londres, Abril de 1809, pp. 315-316].
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Nota:
* Sobre as duas diferentes datas ver a explicação dada numa nota a uma anterior carta do mesmo remetente ao mesmo destinatário.