Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor:
Tenho deixado, na conformidade das insinuações de Vossa Excelência, algumas pequenas forças para conter a guarnição de Peniche, e havendo recomendado aos Oficiais que ali se achavam que fizessem as aparências necessárias para impor ao inimigo, e mesmo que se aproveitassem (na suposição de que o Armistício se romperia) do susto em que se achava aquela guarnição, para a obrigar a capitular, recebi ontem notícias destes Oficiais que a dita guarnição estava disposta a fazê-lo, julgando ser atacados por forças mais superiores; contudo, pela comunicação que me fez o Major Aires Pinto sobre a assinatura da Capitulação concluída por Vossa Excelência, mandei suspender a continuação desta negociação [=capitulação da praça-forte de Peniche], perdendo sem dúvida por isso a ocasião de me apoderar de 300 ou 400 homens de que se compõe aquela guarnição.
Deus guarde a Vossa Excelência.
Quartel-General da Encarnação, 2 de Setembro de 1808.
De Vossa Excelência [o] mais reverente e obrigado servidor,
Bernardim Freire de Andrade
[Fonte: Luís Henrique Pacheco Simões (org.), "Serie chronologica da correspondencia diplomatica militar mais importante do General Bernardim Freire de Andrade, Commandante em Chefe do Exercito Portuguez destinado ao resgate de Lisboa com a Junta Provisional do Governo Supremo estabelecido na cidade do Porto e o Quartel General do Exercito Auxiliar de S. Magestade Britanica em Portugal", in Boletim do Arquivo Histórico Militar - Vol. II, 1931, pp. 3-77, p. 21 (doc. 67). Originalmente, este documento foi publicado em inglês, in Copy of the Proceedings upon the Inquiry relative to the Armistice and Convention, &c. made and conclued in Portugal, in August 1808, between The Commanders of the British and French Armies, London, House of Commons Papers, 31st Jannuary 1809, pp. 202-203 (doc. 101)].