As províncias de Trás-os-Montes, Minho e Porto sacudiram o jugo da opressão, e deixando obrar com força ao bem da causa comum, repito o que oralmente tratei com o sr. Corregedor [de Monterrei] e [com o] Administrador da Alfândega de Verín, para fazê-lo presente à Suprema Junta da Galiza.
1.º Que convém muito que Lisboa seja libertada da tropa francesa.
2.º Que para consegui-lo assim será muito conveniente um desembarco em Lisboa.
3.º Que a Galiza deve também requerer este desembarco.
4.º Que logo que não haja tropas francesas em Portugal, esta nação há de socorrer a Espanha com quarenta a cinquenta mil homens.
Chaves, 22 de Junho de 1808.
[Fonte: Archivo Histórico Nacional de España, "Estados de Fuerza de las tropas españolas en Portugal. Documentación relativa a los ejercitos de la provincia de Tras-os Montes, así como a subsistencias y pasaportes de ciudadanos", ES.28079.AHN/5.1.145.4.1.1.57.3//DIVERSOS-COLECCIONES,87,N.27].
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Observações:
Como atrás indicámos, o Coronel Manuel Francisco da Silveira Pinto proclamara a restauração de Vila Real no dia 16 de Junho. Três ou quatro dias depois, soube-se em Vila Real que uma coluna de franceses comandada por Loison marchava em direcção ao Porto, vindo por Lamego. Os portugueses decidiram então tentar obstar a passagem dos franceses, fazendo uma emboscada no alto dos Padrões da Teixeira. Contudo, como não havia tropas organizadas na zona, Silveira partiu para Chaves, vila que tinha munições e pólvora armazenada, e onde já estava formado um pequeno exército duns 150 homens de infantaria de linha (recordemos que aquela vila tinha sido precisamente a primeira localidade portuguesa onde surgiram manifestações populares contra o governo francês).
Já em Chaves, Silveira enviou na tarde do dia 21 um ajudante seu até ao Corregedor de Monterrei e ao Administrador da Alfândega de Verín, a fim de convocá-los para tratarem de "assuntos importantes". Como um dia antes Loison tinha chegado a Lamego, os galegos, receosos de que os transmontanos se retractassem, tentaram impedir que aquelas duas autoridades passassem a fronteira portuguesa, não obstante as mesmas terem decidido fazê-lo.
Enquanto estas não chegavam, partiram de Chaves os referidos 150 militares, com 4 peças de artilharia, munições e pólvora. Silveira ficou para trás, continuando à espera dos referidos Corregedor e Administrador, que só chegaram a Chaves às cinco da tarde do dia 22, já depois de Silveira lhes ter enviado um segundo aviso. A carta acima transcrita resume o resultado daquelas conversações, onde Silveira propôs os citados termos à Junta da Galiza, como base para um futuro acordo formal de cooperação mútua.
Finalmente, resta dizer que esta carta era acompanhada pela seguinte nota de recomendação, escrita provavelmente por uma das duas referidas autoridades galegas, aquando da remessa desta e doutras cartas à Junta da Galiza, junto com um ofício que explicava os acontecimentos a norte do Douro:
Nota: O dito Manuel Francisco da Silveira Pinto era Tenente-Coronel do Regimento de Cavalaria portuguesa n.º 6 e Comandante interino do dito regimento, que tinha deixado o serviço e retirado-se à sua casa de Vila Real, sujeito de distinção e conhecido mérito, por mais razões dispunha no dia de ontem a saída de tropas, munições e armas para atacar a coluna francesa que invade a referida província de Trás-os-Montes, confiando o comando a um filho que tem, capitão; todos os oficiais militares tomavam as suas ordens e deve presumir-se que obra com a faculdade e o acordo das demais autoridades.
Entre outras coisas relativas ao feliz êxito das armas de ambas nações, manifestou verbalmente que, evacuado Portugal de todas as tropas francesas, o auxílio das que oferece no 4.º artigo a favor de Espanha, serão pagas pela sua nação. Um sr. da minha confiança tratará com a Regência já estabelecido no Porto, e por conseguinte está (até que Lisboa esteja livre do jugo) com a que reassumirá em si a soberania em nome do seu legítimo Rei D. João VI.