Ilustríssimos Senhores Presidente, Vereadores e Oficiais da Câmara da cidade de Faro:
Hoje recebemos o ofício de Vossas Senhorias com data de vinte do corrente, participando-nos a gostosa notícia de que esse povo proclamara por seu legítimo Soberano o Príncipe Regente de Portugal Nosso Senhor, arvorando-se as suas bandeiras, às quais se reuniram os habitantes de todas as classes dessa mesma cidade e termo, para defenderem os direitos do mesmo Soberano, Pátria, vidas e propriedades, contra os esforços do inimigo comum; em consequência, respondemos a Vossas Senhorias que lhes louvamos muito a sua participação e lhes fazemos saber que ontem se determinou este povo a tomar o mesmo partido, e fica tudo pegado em armas para repelir com toda a força o inimigo comum e salvarmo-nos do jugo que tanto nos oprimia; todos nós de comum acordo devemos auxiliar uns aos outros, e nestas circunstâncias representamos a Vossas Senhorias que temos toda a necessidade de armamento e munições de boca, pois tudo o que havia destas classes levaram e destruíram os nossos inimigos. As outras cartas que Vossas Senhorias dirigiram para as Câmaras de Vila Real [de Santo António] e Alcoutim tomaram logo os seus destinos, e aos homens dessa cidade [de Faro] que as conduziram até aqui se lhes mandou dar víveres.
Deus guarde a Vossas Senhorias.
Castro Marim, Câmara de vinte [e] dois dias de Junho de mil oitocentos e oito.
Belchior Drago Valente
António Rodrigues Brabo
Manuel José de Santiago e Castro
[Fonte: Adérito Fernandes Vaz, Olhão da Restauração no tempo e a 1.º Invasão Francesa em 1808, no contexto regional e nacional – 2.º Volume, Olhão, Elos Clube de Olhão, 2009, pp. 86-87].