Ilustríssimos Senhores Presidente e demais oficiais da Câmara:
A Câmara desta vila, recebendo a carta de Vossas Senhorias de vinte do corrente, no dia hoje convocou logo a nobreza e povo da mesma, e todos uniformemente convieram no convite que Vossas Senhorias lhes fazem e se unem aos seus sentimentos por serem tão ajustados à felicidade e amizade que os condecora para com os seus soberanos; porém, como Vossas Senhorias têm a honra de administrarem o Governo económica da capital deste reino, e estão em melhor posição de obterem os meios da defesa comum, todos se louvam em Vossas Senhorias para elegerem estes, e participar-nos as determinações e disposições que tiverem achado convenientes à segurança pública deste reino, a fim de as executarmos na parte que nos respeita. É natural que semelhante resolução fosse tomada sobre medidas com os povos vizinhos e com a capital e reino que nos cerca, e que Vossas Senhorias [a] esta hora tenham participado os seus projectos ao Excelentíssimo Senhor Conde de Castro Marim, a quem Sua Alteza Real tinha confiado o governo deste Reino, para que este correspondendo-se com o Senado da Câmara de Lisboa e com os encarregados pelo mesmo soberano da Regência destes Reinos, nos dê as ordens que mutuamente emanarem das autoridades constituídas para se executarem como convém. Entretanto devem Vossas Senhorias contar com o semestre das vias deste termo, que chegará a quatrocentos mil réis, únicos direitos reais que existem ainda sem se terem remetido para a cabeça da comarca de Lagos, onde se acha há muito tempo o primeiro terço da contribuição de guerra que talvez existirá ainda. Estão feitas as demonstrações necessárias para uma deliberação que tanto satisfaz os portugueses; e como não há receio do inimigo comum por ora nestes sítios, esperamos portanto as disposições e cautelas que Vossas Senhorias tiverem achado aptas a prevenir para o futuro, para nos traçarmos[?] de comum acordo na execução do que por Vossas Senhorias se assentar, e sempre que haja desconfiança de inimigo que possa inquietar-nos Vossas Senhorias nos deverão avisar das notícias que tiverem, o que nós igualmente participaremos a Vossas Senhorias, ou a quem Vossas Senhorias se tiverem votado para nos legar neste Reino.
Deus Guarde a Vossas Senhorias, Vila Nova de Portimão, em Câmara de vinte e dois de Junho de mil oitocentos e oito.
Eu, Teodoro Maria Biquer e Gusmão, Escrivão que o escrevi.
O Juiz de Fora Jerónimo José Carneiro
António José Antunes
José Inácio Bustorf
Miguel de Sousa Prado
José Pedro dos Santos
[Fonte: Adérito Fernandes Vaz, Olhão da Restauração no tempo e a 1.º Invasão Francesa em 1808, no contexto regional e nacional – 2.º Volume, Olhão, Elos Clube de Olhão, 2009, pp. 82-84].