domingo, 28 de agosto de 2011

Carta do Almirante Charles Cotton ao General Dalrymple (28 de Agosto de 1808)




Hibernia, defronte do Tejo, 28 de Agosto de 1808.


Senhor:

Na minha carta de 27 de Agosto eu vos informei do meu conhecimento da segunda suspensão de hostilidades, e dos meus sentimentos a respeito do tratado em que se ia a entrar com o Comandante em Chefe francês, para a evacuação de Portugal; o Brigadeiro General Beresford, se puder desembarcar, também vos explicará as minhas razões para não aceder ao tratado como ele agora está.
Eu não tenho instruções do Governo sobre esta matéria; porém, se vós tendes lido alguma comunicação confidencial, ou se a tem tido algum dos Generais que novamente chegaram de Inglaterra, por onde conste da vontade do Governo de Sua Majestade de desalojar os franceses de Portugal por tratado, então não posso deixar de conformar-me e sacrificar a minha opinião a essas instruções.
Esperando confiadamente uma conferência em Cascais, como estava proposta, não entrei tão plenamente como o Tenente Coronel Muray nas objecções que me ocorriam a respeito dos artigos da base sobre que o tratado se devia fazer. 
A transportação do saque para a França, que se pode em grande parte encobrir, com a ilimitada permissão de respeitar toda a propriedade individual, nominal, tanto dos franceses como daqueles naturais que quisessem deixar o país para ir com eles, pode ter as piores consequências, tanto para nós como para os leais portugueses a quem viemos assistir. Para nós, porque é um meio de acrescentar alguns milhões ao tesouro de Bonaparte, a tempo em que todos os seus antigos recursos da Espanha lhe estão cortados; e uma perpétua fonte de discórdias com os portugueses, por sofrermos que a sua propriedade seja levada para fora.
A inserção de um artigo relativo à força naval no Tejo, de qualquer descrição, eu espero que vós aproveis; porque os franceses tomaram tudo, e alguns vasos foram preparados por eles. Eu tinha toda a esperança de comunicar com o Almirante [russo] Séniavin, para propôr os termos que ele de mim esperava, relativamente aos navios debaixo do seu comando, e fico-vos obrigado, por havereis tão prontamente concordado comigo na minha objecção ao artigo sétimo. A fortaleza fez parar uma fragata russa que vinha pelo rio abaixo, a qual suponho que trazia o Vice-Almirante Séniavin, ou alguma pessoa autorizada para conferir sobre esta matéria comigo; se o vento não obrigasse a sair ao mar, provavelmente teria ouvido alguma coisa dele. A primeira comunicação deveria vir da parte dele. Um navio de linha e várias fragatas estão chegando à boca do Tejo, para conservar a minha correspondência com Lisboa. Tenho escrito ao Capitão Malcom de que, ao presente, será sumamente perigoso trazer mais transportes para a baía de Lisboa, até que o Tejo esteja aberto, sem que nós estejamos em plena e segura posse de Setúbal.
Tenho a honra de ser, etc.

C. Cotton