segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Extracto duma carta privada dum militar britânico (22 de Agosto de 1808)



Vimeiro, a 22 milhas de Lisboa, 22 de Agosto.


No dia 17 os nossos bravos camaradas forçaram uma passagem [no alto das montanhas] sustentada por 6.000 franceses, façanha esta que somente podia ser conseguida por tropas britânicas. 
As nossas companhias ligeiras carregaram sobre os franceses, provocando-lhes uma fuga desordenada e uma matança medonha. Não podiam passar mais que dois homens ao mesmo tempo. 
Mal tenho tempo de vos informar duma acção mais gloriosa travada ontem neste lugar. Marchámos para este terreno no passado dia 18, descansámos no dia 20, e no dia 21, por volta das nove da manhã, vimos o inimigo avançar sobre as colinas, no número de cerca de 12 a 15.000 homens. Parte do nosso exército moveu-se em direcção ao mar, e a restante manteve-se nas suas linhas, esperando que o inimigo chegasse, o que este fez do modo mais determinado, impelindo os nossos pontos avançados diante dele.
Por fim, a direita do nosso exército carregou sobre o inimigo, tomando-lhe 16 peças de artilharia, carros [de munições], cavalos, etc. O inimigo pensou cortar a nossa esquerda e carregou com cerca de 5.000 homens, que no entanto foram completamente derrotados com grande matança, e perderam o seu segundo no comando*. O Regimento [britânico] n.º 82 perdeu um Oficial, o Tenente Donkin. Fomos completamente vitoriosos. O inimigo perdeu 4.000 homens; as suas mochilas estavam cheias com os seus saques: dinheiro, prata de igrejas, etc.; tenho um grande cálice, retirado de uma das suas bolsas. Há 14 dias que não tiro a roupa. O inimigo envenenou alguns poços no dia 17, e por este motivo alguns homens foram envenenados. Vi um do Regimento n.º 32 e outro do n.º 6 morrendo em agonia depois de beberem desses poços. 
Adeus! Escrevo-vos sobre o terreno.


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Nota:

* Como se depreende da carta de Wellesley a Harry Burrard sobre a batalha do Vimeiro, constava no exército britânico que Thiébault tivesse sido morto, o que não correspondia de todo à verdade.