Vimeiro, 22 de Agosto de 1808
Omiti escrever a Vossa Alteza Real até que tivesse que comunicar algo que merecesse a vossa Real atenção; e espero que a acção que as tropas travaram ontem corresponda a tal descrição.
Escrevi ao Coronel Gordon no dia 18, a partir da Lourinhã, e dei-lhe um relato detalhado das ocorrências até àquela data. No dia 19 marchei para o Vimeiro, de forma a garantir uma melhor protecção ao desembarque da brigada do General Anstruther, que esperava que fosse feita na Maceira [Porto Novo]. O General Brigadeiro Anstruther desembarcou durante aquela tarde e durante a noite de 19 para 20, a cerca de oito milhas a norte da Maceira, tendo reunido-se comigo na manhã do dia 20. A minha intenção era marchar, na manhã de 21, pela estrada de Mafra, à volta da esquerda da posição do inimigo em Torres Vedras e na sua retaguarda; e pretendia que a brigada do General Brigadeiro Acland, que apareceu na costa a meio desse dia, desembarcasse na Maceira durante a tarde, e se juntasse ao exército naquela noite. O General Sir Harry Burrard, contudo, chegou à costa da Maceira na tarde do dia 20, e determinou que o exército devia permanecer no Vimeiro até que fosse reforçado pelo corpo de Sir John Moore, que estava a reembarcar na baía do Mondego.
O desembarque da brigada do General Acland efectuou-se durante a tarde e noite do dia 20, tendo juntando-se ao exército por volta das seis da manhã do dia 21.
Durante a noite de 20 para 21 as minhas patrulhas deram-me informações sobre os movimentos do inimigo; mas como éramos bastante inferiores em cavalaria, as minhas patrulhas não puderam ir muito longe, e naturalmente as suas informações eram muito vagas, e não fundadas em bases muito sólidas. Mas pensei que era provável que, se não atacasse o inimigo, ele iria atacar-me; e preparei-me para o conflito ao amanhecer, posicionando a artilharia de calibre 9 e reforçando a minha direita, por onde esperava o ataque, devido à forma como o inimigo tinha patrulhado o alinhamento naquele ponto durante os dias 19 e 20. Contudo, ele apareceu, por volta das oito horas da manhã do dia 21, sobre a esquerda, começando-se então uma acção cujo relatório detalhado é dado na cópia inclusa duma carta que escrevi a Sir Harry Burrard sobre este assunto. Incluo igualmente um plano do terreno, que explicará mais claramente a natureza dos diferentes movimentos feitos pelo inimigo e pelas nossas tropas.
Não posso dizer muito a favor das tropas: a sua bravura e disciplina foram igualmente notáveis; e devo acrescentar que esta foi a única acção onde estive em que tudo se passou tal como foi ordenado, e em que os oficiais encarregados da conduta das tropas não cometeram erro algum. Penso que se a brigada do General Hill e as guardas avançadas tivessem avançado para Torres Vedras, assim que se tornou óbvio que a direita do inimigo seria derrotada pela nossa esquerda, tendo esta aproveitado a sua vantagem, a retirada do inimigo para Torres Vedras seria cortada, e poderíamos estar em Lisboa antes dele; isto, na verdade, se tivesse permanecido algum exército francês em Portugal. Mas Sir Harry Burrard, que já estava neste momento sobre o terreno, continuou a pensar que era mais aconselhável que o exército não saísse do Vimeiro; e o inimigo fez uma boa retirada para Torres Vedras.
Sir Hew Dalrymple chegou esta manhã, e tomou o comando do exército.
Tenho a honra de ser, etc.,
Arthur Wellesley
[Fonte: Lieut. Colonel Gurwood (org.), The Dispatches of Field Marshal the Duke of Wellington, K. G. during his various campaigns in India, Denmark, Portugal, Spain, the Low Countries, and France, from 1799 to 1818 – Volume Fourth, London, John Murray, 1835, pp. 99-100].