Quartel-General do Ramalhal, 24 de Agosto de 1808
Senhor:
Tive a honra de receber a vossa carta do passado dia 18, e surpreendeu-me perceber que o Bispo do Porto tomou o Governo de Portugal nas suas mãos, por ser esta uma medida de considerável delicadeza e importância, que de modo algum consigo compreender como se pode ter realizado.
Não consigo determinar por agora que passos devem ser dados em consequência deste acontecimento, sobretudo sem o ter comunicado a Sir Charles Cotton, que, contudo, conforme penso (e não só eu) não aprovará completamente o forte passo que haveis tomado, ao recomendar ao Bispo para reter uma autoridade que não posso julgar como conferida pela voz unânime da nação portuguesa. E tenho que requerer que, de futuro, não utilizareis uma linguagem que possa ser interpretada como sendo a expressão dos sentimentos do Governo de Sua Majestade, ou a dos Oficiais Comandantes em Chefe do exército e da marinha britânica, sem terdes recebido autoridade e instruções distintas para o fazer, de forma a que depois não se venha invocar que a Grã-Bretanha acabou por decidir medidas diferentes e até opostas.
H. W. Dalrymple
[Fonte: Memoir, written by General Sir Hew Dalrymple, Bart., of his proceedings as connected with the affairs of Spain, and the commencement of the Peninsular War, London, Thomas and William Bone Strand., 1830, pp. 291-292].