[Lourinhã, 24 de Agosto]
No dia 15 do corrente [mês] o Ajudante de Campo da segunda Divisão do Exército português, João da Silveira Pinto de Lacerda, foi encarregado de ir reconhecer as forças do inimigo postado em Rio Maior e Alcobaça. Marchou para o primeiro ponto com 25 soldados de Cavalaria, e sabendo que o Exército francês evacuava aquele posto, e lembrando-se de lhe tomar bagagens, reforçou-se com alguns dos Caçadores Voluntários de Coimbra, e apressando-se, chegou mesmo à retaguarda do inimigo, e lhe tomou 20 bois, 2.500 rações de pão, com 2 pipas de vinho, que conduziu a Leiria, onde se achava naquele dia o Exército português. É digno de notar que o dito Oficial, recolhendo-se com a presa, se portou com tanto sossego de espírito e sangue frio, que em distância somente de duas léguas de uma Divisão francesa de 5.000 homens, e 8 léguas do nosso Exército, fez descansar os soldados, que fizeram seus ranchos, comeram e deram descanso e penso aos cavalos.
No dia 17 o Exército inglês unido com 2.000 portugueses atacou os franceses fortificados no vantajoso posto da Roliça, entre a Lourinhã e Óbidos, e não obstante a forte posição por eles escolhida, foram deslocados à força viva das alturas daquele sítio, defendidas por artilharia, e postos em fugida, perdendo duas peças de artilharia, e perto de 2.000 homens entre mortos, feridos e prisioneiros, compreendidos nestes muitos Oficiais.
No dia 21, estando o Exército combinado entre a Lourinhã e Torres Vedras, no sítio do Vimeiro, foi atacado pelo inimigo, que supunha surpreendê-lo. Foi o ataque recebido com tanta valentia pelo Exército combinado, que o resultado foi perder o inimigo 3.500 homens, mortos, feridos e aprisionados, sendo do número dos últimos 2 Generais, e dos feridos o General Delaborde, 20 peças de artilharia, que ficaram em nosso poder, restando-lhe somente duas. A tropa portuguesa que entrou na acção portou-se com o maior extremo de valor, concorrendo muito para a vitória a Cavalaria, que por duas vezes rompeu a linha do inimigo, o qual depois de fugir vergonhosamente até Torres Vedras, pediu armistício para capitular.
Asseguram os prisioneiros franceses que o General Loison fora morto no conflito. É certo que não foi visto no campo da batalha, donde provavelmente seria retirado pelos franceses, segundo seu costume, para haver mesmo esta dúvida, e não dar aos portugueses este prazer tão justificado.
[Fonte: Minerva Lusitana, n.º 27, 27 de Agosto de 1808].